quarta-feira, 9 de maio de 2007

Olinda, uma cidade singular...


Essa cidade é de fato singular… Não foi apenas uma linda situação para se fundar uma vila...
Abro a minha angular e viajo em suas idiossincrasias, Olinda é ao mesmo tempo provinciana e cosmopolita; moderna e retrógrada, por onde andamos vislumbramos a céu aberto, a história viva... Todos os caminhos nos levam ao passado e de pronto nos deixam de volta ao presente e sinalizam para o futuro.
Caminhando por suas ruas, a sensação que me dá é que ela parou no tempo: o “passeio público” calçado por paralelepípedos, ladeiras seculares, igrejas espargidas por toda a cidade, velhos sobrados coloniais, jardins em cada casa, uma profusão de jasmins e outros cheiros... E quantos sonhos? Quantas bicas? Quantas lendas?
Dizem que num sobrado, ali na Rua de São Bento, logo depois do Mercado da Ribeira, cujas paredes são revestidas de azulejos portugueses, há uma mulher emparedada... Eu não passo sozinha à noite nesse trecho, de jeito nenhum... Nessa hora eu tenho medo.
Que a casa vermelha, na lateral da Igreja de São Pedro, era a morada de veraneio de Maurício de Nassau... O príncipe alemão sequer pôs os pés na cidade, nem mesmo quando ordenou que lhes saqueassem e atiçassem fogo sobretudo, em quase todas as igrejas, apenas duas não tiveram essa triste sorte, e uma delas por servir de Quartel General, ao invasor holandês, a Igrejinha do Monte, lá em cima de uma de suas Sete Colinas, aonde a vista se perde por entre palmeiras, arbustos e céu azul... Lá tem o melhor licor de jenipapo que provei... E quem não conhece o sabor dos “biscoitos das freiras”?
Ao lado do farol, no Amaro Branco, ruelas com casinhas caiadas de branco, flamboyants vermelhos enfeitando seus terraços, penso em Grécia e suas paradisíacas ilhas...
Descendo a Ladeira de São Francisco, sempre uma pausa para renovar a íris, lá no corte do horizonte, o mar e o céu se encontram e me encantam... Olhar atento à direita, no número cento e pouco, o atelier de João Câmara, um oi e um aceno compõem o êxtase... Ele adora olhar o mar com uma luneta, já olhamos essa paisagem juntos.
Olinda, é mais que uma cidade, é um estado de espírito... Sempre azul e em harmonia com o mundo... Com o nosso mundo interior... Aqui fico em paz com tudo, recarrego minha esperança...
Hoje foi dia de procissão de Santo Antonio e lá, os sectários de tão humilde santo, dentre eles, eu... Seguíamos o andor, decorado com a pureza do lírio, e todos nós envolvidos num ato de contrição e preces... Em minha retina, as imagens vão sendo registradas, uma a uma... Crianças, senhoras, senhores, gente simples, cuja esperança única, é fazer do Santo seu depositário e intercessor diante de Cristo... Porque nos homens ninguém acredita mais...
É uma volta ao passado, à mais bela memória da infância, onde os sonhos eram apenas sonhados, e sequer sabia que nem todos se realizariam... E que ao longo da minha jornada, eu trocaria alguns, descartaria outros... É um momento pleno de maravilhamento e encontro comigo mesma, porque a cada passo, eu pensava no tanto que realizei e no tanto que ainda há por realizar, e um mundo se descortinando à minha frente... Embora meu pensamento voe além-mar... Além atlântico... Lá... Aonde ele vai chegar...
Um sorriso me enfeita a face, volto pra casa cantarolando... A procissão, o passado, o futuro, os sonhos, tornaram-se ínfimos, prescindidos pela lembrança do teu sorriso e dos teus olhos embevecidos por nós dois... Ontem, nos tragamos pelos olhos... E sei que aí aonde estás, os dias são mornos e sem graça, e em teu palato um sabor apenas tu reconheces e desejas... Recomeçamos a contagem para a tua volta...

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