segunda-feira, 29 de agosto de 2011

em setembro será outro tempo


Persistência da Memória - Salvador Dali

ora sou a mais paciente das criaturas humanas, ora sequer abro os olhos, porque não quero nem ver a luz do dia. essa contradição em permanência que sou se chama em parte saudade. ando com saudades desmedidas, especialmente de mim, estou impaciente com o tempo que não passa, e voa ao mesmo tempo. 
além da ambiguidade que é senhora dos meus dias. e como se não fosse suficiente ainda estou vivendo um tempo que não é mais meu. esse tempo desconhecido, disforme, mole, escorregadio, fugindo pelos dedos, subtraindo as horas, uma subjetividade do tempo carregado de incompreensões. hermético. orgânico. caótico. imperativo. inegociável. cheio de abstrações e enigmas.e que me dá uma sentença clara, direta: já passa do momento do desfecho, chega de deslocamentos! não permita que o tempo arruíne os projetos, os sentimentos; que desaqueça a alma, desmonte-o, surpreenda-o. encha o vazio de sentidos, aspire a nova brisa e renove todos os sonhos... as coisas boas se vão suavemente, mas sempre retornam repletas de possibilidades.
ainda bem que logo, logo vai entrar setembro, outro tempo, outros projetos, outras nascentes, outras gentes,  e muitas boas novas entrarão juntas nos campos,  plantaremos e colheremos, outras, e mais sementes para novas messes.

certas canções e situações são inesquecíveis, sol de primavera - beto guedes, faz parte desses momentos.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

"a linha e o linho"

imagem colhida na internet

tenho cócegas nos dedos
que me obrigam a fazer ranhuras

a rabiscar
a experimentar
outras texturas

tenho cócegas nos dedos
que me obrigam a dedilhar as notas

sair do limbo

escrever um poema sinfônico
traçar uma rota

tenho cócegas nos dedos
que me obrigam  a trançar linhas

- as tuas, as minhas -
tocar no linho
deslizar nos dias

e reinventar um mundo!
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III - VIII - MMXI

O Dimas lapidou a poesia trançando algumas linhas do linho, sofisticando-a:

Vinde, versos, vinde!
Rimas, fala, canto.
Na boca, um poema, um brinde,
Língua que lambe encanto.

Faz, refaz e desfaz,
Vai e reinventa o mundo.
Semeia o chão fecundo,
Que brotam palavras de paz.



Dimas Lins
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advinhem? o óbvio ululante: a linha e o linho - gilberto gil

sábado, 13 de agosto de 2011

ontem à noite no porteño

imagem recolhida na internet

escrever tem um quê de insondável
tem um quê de determinismo
tem um quê de filosófico
tem um quê de metafísico
escrever, escrever
gêneros textuais

definição, explosão, metáfora, alegria
fodere no baixo latim
numa sexta atemporal
pedras, estradas, pontes, sementeiras num canto da cidade
interligados e conf(id)luentes
rios do mundo que desembocam no Recife

entre mesas e cadeiras
luzes artificiais
o fogo da poesia numa chama de vela
que mesa alegre era aquela?
de João Cabral a Mário Faustino
de Drummond a Ítalo Calvino

de Manuel Bandeira a Mia Couto
António Lobo Antunes e Fernando Sabino
mas não parou por aí
uma partícula e era prosa
quando penso em América do Sul
nunca lembro Vargas Llosa

concordância ancestral
extraídas das entranhas da terra
transformando em ouro os metais vis
lóg filosofal
perpetuada por um poeta genial

outras feras também estavam lá
em rosa pura e lírio
Cecília e Clarice
contrárias e complementares
entre as linhas, as costuras da emoção
uma é feitiçaria e a outra magia, ambas: poesia

quando publicamos a obra já não nos pertence
Graciliano Ramos presença indispensável
sentimento, sangue e carne tudo transformado em arte
Osman Lins nos arrebata, Nove, Novena
Avalovara e um  palindrômico emblema
Guimarães, ah o Rosa quem não já se enveredou pelo Grandes Sertões...?

Alice Ruiz e Paulo Leminski
não poderiam se ausentar
concisão e objetividade em meio ao desejo
na passagem em potencial
da interface virtual para o sabor do real
vai, vai e temos um haikai

Galeano e Cortázar
foram se instalar entre abraços
fantásticas palavras-pontes
Mafalda do Quino também estava lá
mas não há como sobre O Muro ficar
numa mesa de poetas, sonhos desdobrados de dentro da bolsa

a melancolia também é matéria no ar:
Sartre pode me explicar
a confissão que se ouve
pelo canto da boca
ladeada de delicadezas
sementeiras que brota(m)vam  vida

sua inspiração está na lida cotidiana
como o mestre do nordeste
Patativa do Assaré
meus versos é como semente
que nasce arriba do chão
mas sempre bebendo na fonte do coração

nos encontros marcados pela vida
nunca se sabe onde vai dar
isso foi só o começo desse nosso estradar
uma rede de afetos
começou a se formar
interligados pela escrita
inesgotável fonte de amar!

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Olinda, XII - VIII - MMXI

Para Magna, Josias, Dimas e Fabiana, obrigada pela alegria de ontem!

Lena, Ducaldo e Edjane, um agradecimento para lá de especial (e um pedido de perdão) por aturarem uma gente tagarela e ávida por poesia, e excesso de alegria. vocês são parceiros dessa festa! 
Também estavam presentes nas palavras, no carinho e na admiração, Ana Cláudia, Samarone, Naire e Silvinha.

Belchior, Ypê

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

poeminha sem título

imagem retirada da internet


em pouso
repousadas entre as pernas
estendidas sobre o corpo

essas mãos que nada dizem
nada fazem
nem afagam

e afundam
como desejos
que não podem ser ditos

proibidos
pássaros aprisionados
entre o choro e o riso

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XXX - VII - MMXI
monica salmaso, canto em qualquer canto - ná ozzetti e itamar assumpção - sem mais delongas, a voz e a interpretação dela dispensam comentários. curtam!

se desejarem, podem escutá-la com a ná, com o itamar, com a regina machado, com a valéria oliveira, com o ney matogrosso... (http://www.radio.uol.com.br/#/album/ney-matogrosso/canto-em-qualquer-canto/13030)

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

... e naquela noite no elevador

imagem retirada da internet

não se importavam com o frio, nem tampouco com os riscos que corriam. ela sabia apenas que o queria, sim ela o queria, e naquele instante. o clima sentido na balada, há pouco tempo atrás, quando dançaram colados à meia-luz, o corpo teso dele, o tremor dela, a mistura dos cheiros, a música, a voz... estarem agora a sós no elevador, atiçara por fim a explosão de sentimentos vividos naquele lugar abarrotado de pessoas, nas poucas horas em que lá estiveram.
com os olhos cheios de lascívia fixos nos dele, aproximou-se, e com as pontas dos dedos, de forma suave, desenhou seu rosto, detendo-se nos lábios, contornou-os… em seguida encostou todo o corpo contra o dele, de modo que não havia nenhum impedimento entre eles, beijou-o na boca, e com a língua lambia seus lábios, de maneira ávida e gulosa, de forma ininterrupta, estava arrebatada de desejos. ele em estado de choque -  deslumbrado e ao mesmo tempo -, paralisado com a ousadia daquela mulher, mas seu corpo inteiro denunciava o ápice do tesão e tensão em que ele também se encontrava: as pupilas dilatadas, sangue queimando por dentro, o coração dando pancadas no peito… já era dela prisioneiro, desejava-a, sua pele branca e macia, olhos perspicazes numa tonalidade que o confundia. dona de uma boca sensual, lábios carnudos pintados com um batom vermelho, inalava desejo; um cheiro de cio, tomava conta do ambiente, e a mistura do odor do corpo dela com a fragrância do perfume que usava – uma mescla de fougère com cardamono – enlouqueciam-no.
ela ria diabolicamente; ele estático, tragado pela vontade de tocá-la, apalpar suas carnes macias, e pelo medo de serem flagrados. ela irresponsavelmente brincava com os botões do elevador, o queria ali, naquele exíguo, frio, impessoal e perigoso ambiente - de certo modo, saber que poderiam ser interrompidos a qualquer momento pela chegada inesperada de alguém, estimulava-a e aumentava a libido, o desejo. explosão à toda! enroscava nele as suas pernas alternadamente; que por sua vez segurava-na pelas costas, e prendia-na com a força do próprio corpo, e firme puxava-na para cima dele; num volteio rápido, prendeu-na contra a parede do elevador; com uma mão, apertava sua anca, com a outra desatava seu casaco e seu vestido vermelho; ficou extasiado quando se deparou com um par de seios generosos, duros como alabastro e biquinhos rosa, mergulhou dentro da blusa; gemendo, louco de paixão sugava-lhe os mamilos; sua mão descia e tocava o sexo dela, túrgido, quente e úmido… um estado de fúria tomou conta de ambos, então ela apressou-se a desabotoar a camisa dele, e acariciou-lhe o dorso, a necessidade de senti-lo em sua pulsão era imperativa. enquanto suas mãos trêmulas desapertavam o zíper da calça dele, se esfregava, se oferecia, sem pudores ou limites, não resistindo à sua boca, beijou-o de forma a engoli-lo, depois desceu docemente até ao pescoço e deu um chupão faminto, deixando sua marca, alternava os beijos e chupões; quando finalmente ele implorara entre murmúrios e palavras inaudíveis que ela descesse e o abocanhasse rijo. ela solta uma gargalhada, e morde os lábios dele, quando vê um filete de sangue escorrendo no cantinho da sua boca, abre a porta do elevador e sai caminhando sem olhar para trás… certificara-se do desejo poderoso que  les deux nutriam um pelo o outro; e sabia sem se virar, que ele estava lá, à porta do elevador, petrificado, semi-despido em estado de alumbramento. não tinha dúvida, aquele homem já era dela.


massive attack - dissolved girl

b17

Os cães não ladraram  os anjos adormeceram  a lua se escondeu. Dina Salústio em   Apanhar é ruim demais imagem colhida na internet, d...