entre insana e serena entre risos e lágrimas entre ruídos e demasiado silêncio estratagemas estratégias ariadne de teseu distante tensão tentação intenção novelo de lã nós (a) sem desatar (em soturnos labirintos a caminhar) do amor enraizado extremado externado ora exilado punhal no centro fincado
entre o destino desenhado e o desatino inesperado ouro rosa sangue marfim coração dilacerado uma sangria sem fim eu confesso: aos poucos em fios solitários gritos ora sussuros ora bramidos liberta (o) a dor da distancia que se (me) faz entorpecida
entre a matéria trêmula a letargia das horas entre o tempo e a história lembranças gratas (grassam na memória) da pele da alma tu meu cristal da aurora entre sobre dentro que num passado obstante fora apenas palavras que se fez e se faz carne eu confesso: és meu verbo mais constante não sai de mim um só instante tome minha boca em versos tome meu corpo em prosa tome meu desejo rosa
... e me leve ao teu (ao nosso) infinito!
Ah! Nada como ouvir a boa música brasileira. Volume máximo e me deixo envolver pelo ritmo, pela poesia e pela música do Cordel do Fogo Encantado.
Tarragona me parece uma cidade triste, velha - e é, é a mais antiga cidade de Hispânia - cansada, com sua monocromática cor, desbotada. Até as árvores são ocre. A cor que predomina é a terracota; dizem que é por causa do frio, impede de entrar nas casas e nos congelar. Não funciona muito bem pra mim, porque mesmo bem agasalhada, sinto um frio imenso, daqueles de congelar a alma. Vai ver é isso, ando com a alma gelada, até adpatar com tudo, já vai estar na hora de voltar. Tenho adquirido novos (ou retomado velhos) hábitos, caminhar a esmo pelas cidades. Foi assim em Granada, e é assim em Tárraco. Deparo-me com coisas curiosas e grandiosidades jamais pensadas. Ontem à noite fui à Tárraco Romana, saí caminhando por uma dessas calles bem largas que tem na cidade, subi, desci rua, um estirão só, e quando absorta, levantei o olhar, deparei-me com uma imensa muralha de pedra, em pleno centro da cidade. Pasmei, era uma construção romana do século II, atravessei pela greta, e do outro lado, vislumbrei uma urbe, passado e presente convivendo harmoniosamente, por onde meus olhos passeavam, eu via o passado (da cidade e o meu), e uma sensação de conforto me aqueceu. Era como se eu tivesse encontrado naquelas pedras seculares e fortes, a minha própria fortaleza. Como se um quê de indestrutível me circundasse (e circula, meus sonhos são indestruíveis), e nada naquele momento me faria sofrer. Aqui, tem muito de arqueológico, até a matiz das folhas das árvores, são num tom areia, a impressão que se tem é que não há um motivo para colorir, a natureza colabora para o monocromatismo local. (E há a sinfonia dos pombos, até seu arrulhar é melancólico, uma canção duma nota só. Tristes pombos. Que sem descanso algum cantam o dia inteiro para mim, na copa das árvores desbotadas que beiram a quadra de esporte, da escola ao lado da residência). Na volta, andei pela Rambla Nueva observando as luzes e as imagens que se formavam; as construções antigas placidamente convivendo com o moderno; parei numa loja de conveniências e comprei um saca-rolha e chocolates. É, dei pra comer chocolate agora, ando adoçando a minha vida da maneira que posso, porque o doce que me alimenta não se encontra na Europa. Mas estou preparada para tudo (mesmo?), não excluo quase nada, nem o mais enigmático, o não compreensível, estou me dando todas as possibilidades que eu possa me dar (excetuando trair meus sentimentos e as pessoas que eu amo), em dimensões maiores e menores, quero conhecer todas as paisagens da janela, quero movimentar-me nos espaços infinitos que criei, quero manter-me corajosa diante de tudo que parecer estranho, suportar todas as minhas tristezas, e não deixar fugir as coisas quietas. Porque essas são a minha bússola, o meu rumo. É essa quietude que me ordena, que me conforta, e que me mantêm ereta. Elas são a certeza que alimenta meu sorriso e dá brilho a cor amarelo-cajá da minha iris. Por enquanto, apenas conto e vivo todas as manhãs que se iniciam e o entardecer que anuncia o momento de encontrá-las e ratificar nosso inquebrabantável elo. Mas ainda tenho que viver as noites frias e os ventos (como lâminas cortantes) que sopram pelas árvores e a saudade crucial que me faz vagar entre as estrelas, na imensidão...
Olhei pela janela do avião, mas não podia tocar nas nuvens, as mais variadas formas. Senti-me tão pequenina e tão grande ao mesmo tempo, vagando e divagando ali, olhando aquela imensidão azul, salpicada de pontos brancos, com a sensação de primievo... Um céu grandioso e único... De repente, das nuvens se fez um rio, olhava lá embaixo e vi o Tejo. A sensação de sobrevoar o Tejo foi bem solitária. É isso, vivi uma solidão olhando o Tejo, os barquinhos e seus pescadores. Chovia em Lisboa, e nem me dei conta, a não ser quando um pingo de chuva que caiu do teto do ônibus molhou minha vizinha de cadeira, e essa fez um comentário. E foi quando saí do transe e compreendi que não estava mais no Recife (Em Lisboa, desembarca-se do avião, toma-se um ônibus, circula-se pelo aeroporto, e chega-se no aeroporto???? ). - Estás sozinha? - Sim. - É a sua primeira vez? - Sim. - Qual o país de destino? - Espanha. - Vais a trabalho? - Não. Vou estudar. - Ah! Sim? - Doutorado. - Bem, boa viagem! - Obrigada. Carimbada no formulário de imigração. Subi à sala de embarque. Lisboa, de longe me parece uma cidade bonita, mas não desejei sair do aeroporto e passear por ela. Fiquei 7h10min., no saguão esperando a hora de embarcar para o próximo destino; enquanto isso passeava, olhava as vitrinas. Decidi comer algo, pedi uma fanta laranja, uma Ambrósia e depois um “pingado”, é um pingo mesmo de café no fundo da xícara e esse pingo, custa a bagatela de 1,15 € (com esse valor eu compro no mínimo dois pacotes de café solúvel, no Brasil), local cheio de fumantes, não há diferenciação, fumante ou não, o ambiente é o mesmo. Haja fumaça de cigarros, o número de fumantes na Europa é absurdo. Deve ser a solidão. Bengala para a solidão é um cigarro na mão. Entediada até a raiz dos loiros cabelos, finalmente hora de embarcar pra Barcelona. Pedi pra fazer uma conexão larga, mas não tão larga assim. Com os vôos atrasados desde o Recife, cheguei em Barça, faltando exatamente 40 min para tomar o outro vôo. Desci feito bala, saí disparada pelo saguão e não encontrava meu portão de embarque. Já era noite. O primeiro guichê que avistei, foi de uma empresa alemã: - Perdona, ayudame¿ Yo no estoy mirando el painel de llegada e salida dos vôos, puedes apuntarme¿¿ Segui o braço que a moça levantou. E não é que o painel estava exatamente atrás de mim? Agora faltavam menos de 40 min. Nova correria até o portão 42. Ufa! Em menos de dez minutos embarcava pra Granada. A sensação foi a pior possível. Chorei. Ali, sentada, quieta, em silêncio. Me senti tão desamparada. Estava deixando pra trás pessoas e coisas importantes, aquietava meu coração dizendo: não chora, não estás indo à imolação (era exatamente o sentimento, sacrifício). A despedida no aeroporto no Recife, os amigos, elas com os olhos vermelhos, lacrimejantes, e nos braços a me dizerem, força! Aceitei a minha sorte e suportei (até quando eu não sei). Passou tudo na tela da minha memória. Um tremor percorria-me a espinha dorsal, aquele avião da Spanair sacolejava muito, e tive medo. Mas a sensação de acolhimento que senti ao chegar no aeroporto Federico García Lorca, naquela distante e fria noite de outubro, nas presenças da Adri, Zé e Joãozinho, também compõem meus instantes de tenura. Sou só saudades!
O Blog Ninho d´Aninha mandou, eu tenho juízo esporadicamente, obedeço.
Passo-a-passo:
1ª) Pegar um livro próximo; 2ª) Abra-o na página 161; 3ª) Procurar a 5ª frase completa; 4ª) Postar essa frase em seu blog; 5ª) Não escolher a melhor frase nem o melhor livro; 6ª) Repassar para outros 5 blogs.
Isso é um meme, ignorava tal cousa. Segundo dizem, os memes são sagrados. E eu tenho muito respeito pelo sagrado, profano, tanto quanto pelo pagão.
'Coincidentemente' (?) estou relendo o livro, ¿En qué creen los que no creen?, Umberto Eco e Carlo Maria Martini. Por estar no meu criado-mudo, obviamente é o primeiro que meu braço e minha vista alcançam (alcançaram). Essa é uma das minhas neuras, reler livros, além de ampliar a compreensão, me acalma os sentidos. E estou a me apropriar do idioma, daí a leitura em espanhol.
Cumprindo o ritual, ou o meme, eis a 5ª frase: "Pero no me gustaría dar lugar a malas interpretaciones, como si yo quisiera hacer hincapié únicamente sobre lo que es obligatorio, sobre lo que es justo hacer o no hacer."
Pois bem, o livro trata de um diálogo entre um representante da cultura laica - Umberto Eco, e um cardeal da igreja católica, que aos 17 anos ingressou na Companhia de Jesus - Carlo Maria Martini.
O que me encanta é o respeito de ambos pelas diferenças e de como tratam a ética e seus fundamentos; a liberdade dialética - sem os excessos comumente encontrados entre os que defendem a ferro e fogo, seus pensamentos -; debatem alguns valores e as questões do homem/mulher contemporâneo(s); a vida humana e a tecnologia; as limitações; o 'novo Apocalipse do ano 2000'; e o sentido da fé tanto para os que crêem, como para os que não crêem. O livro conta ainda com a intervenção dos filósofos: Emanuele Severino e Manlio Sgalambro; dos periodistas: Eugenio Scalfari e Indro Montanelli; dos políticos: Vittorio Foa e Claudio Martelli.
Um belo livro, repleto de respeito às diferenças e aos pensamentos divergentes. Além de provocar em quem o lê, grandes e preciosas reflexões. Vamos à leitura!
Dando continuidade à 'corrente' meme, envio aos seguintes blogs:
As Noites Insones, Além do que se lê, Criar é resistir, Intensa Fenix e Sórdidas.
...E quando o dia acorda Teu corpo enrolado no meu Almas que se fundiram No espaço preciso da ardente espera A paixão intensa, sonho, quimera Rutila em mil nuanças: primavera. É teu sorriso matutino que revela Os momentos dos mistérios passados Os vivos desejos (agora) celebrados: cabelos emaranhados, pés entrelaçados, corpos nus abraçados, saciados...
E além de nós, não desejo mais nada.
“Ah vem cá meu menino/ Pinta e borda comigo/ Me revista me excita/ Me deixa mais bonita/ [...] Vem cá meu menino [...] Do jeito que imagino [...] Deixa eu causar inveja/ Deixa eu causar remorsos/ Nos meus, nos seus, nos nossos/ Ah vem cá meu menino...” Mudança Dos Ventos: Ivan Lins e Vítor Martins, enquanto cá escrevo, cantarolo junto com a Nana Caymmi essa bela canção.
"... Pensou se a natureza não vivia prenha do mundo, e se a noite não era uma gravidez imensa... Mas naquele fim de manhã, até mesmo a várzea e o canavial nela fincado, em vez de mar começou a lhe parecer um enorme bicho com o ventre engravidado..."
Do livro, Os Cassacos, de Maximiano Campos. Páginas: 124, 151.
Como a natureza é fêmea... E Ana de Amsterdam (Chico Buarque e Ruy Guerra) 'não sai de mim, não sai de mim, não sai'. Cantarolo-a. Quase num murmúrio.
A lentidão de todos os sentidos Juntos somos ponte rio e mar Coração acelerado
Canção de amar.
Ao amor que me encontrou e encantou. Como tatuagem ficará pra sempre em mim. Bethânia faz o fundo musical, na letra do Chico Buarque e do Ruy Guerra: Tatuagem.
Renovados em sonhos e esperanças De algo que um dia quase se perdeu De olhar castanho brilho Como espelho refulgente O reflexo iluminado (o amor e os lados) Como são Dois encantados...
Em ferro fogo brasa Bala punhal de prata Riscados em toda textura Da carne no corpo matéria Nada anulou a candura (não sabem mais viver separados) São Só ternura.
O cerne permaneceu intacto...
Doce destino enfim Doissonhos que agora são um Duas vidas atadas um gesto (reescreveram uma história de felicidade passageiros da eternidade) Tu a chama que queima em mim.
A viagem sem volta Que fazes ao íntimo do meu ser Eu teu altar sagrado (quando me chamas assim já não sou mais eu quem está em mim) Ninho dos teus desejos Minha pele A tessitura perfeita Para receber teus beijos Carmim.
Não há trago que sacie Tanto desejo assim ‘Pois de ti sou tradutor’ Conheço cada nuança(sua) de cor (És o meu universo) Vejo-te em mim: poesia, prosa e verso Vem de ti meu sentimento mais profundo Que soubestes me dar sem pedir O maior amor desse mundo.
E como fundo musical, advinha? Nem que seja só uma vez... O Amor (me) (en)canta:
Em noites como essa Que resgatamos memórias E confessamos segredos Pontilhamos o enredo Reescrevemos nossa história E desenhamos um novo mundo De nada tenho medo
Em noites como essa Que tua entrega anuncia Com qual intensidade sentia Tanto amor que nem sabia O quanto MEU és Que longe de mim Tudo Nada valeria
Em noites como essa Quando o sol dorme E velas meu sono Veste-se Meu dono
E Aninha-se em meu sonho
Em noites como essa Que me contas, Arcano De pensamento em pensamento Que por não saber sentir Os aromas e sabores Palavras e seus sons Palato em confusão A sete chaves no peito Deixou trancado
O coração
Em noites como essa Que me sorri a contar Dum tempo que já foi Em que tudo era só Dor resto e solidão Abandona-se Declara-se MEU E deixa-se assim ficar Aconchegado em meu colo Porto seguro de o seu eterno atracar.
Nada podeis. Contra o amor nada e nem ninguém podeis.
Enfrentaram as chuvas, os ventos, as pancadas, as tempestades. E o sol por fim lhes sorriu. Dum céu azul em risco anil Que dourava as manhãs e E em vivo escarlate (D)escrevia as tardes Paradoxalmente do antagonismo Que os uniu.
Amam-se. Isso é fato. Desejam-se. Isso é fato.
Enfrentaram.
Encontraram-se. Renderam-se.
Conceberam o infinito Escreveram seus versos mais bonitos Mergulharam em doce mar Oceanos a desbravar Cântico de sereia a entoar (enfeitiçado se entremear) Para num doce remanso desaguar Sebes caramanchões cercas-vivas Flores de maio A vida enfeitar.
Estou tomada pela voz, pela interpretação, pela emoção da Camen McRae, a música é Here, There And Everywhere (Paul McCartney e John Lennon), mas experimentem ouvir com a Carmen, experimentem...“To lead a better life... Need my love to be here... Here, making each day of the year... Changing my life with a wave of her hand... Nobody can deny that there's something there... There, running my hands through her hair... Both of us thinking how good it can be... Someone is speaking but she doesn't know he's there... I want her everywhere... and if she's beside me I know I need never care... But to love her is to need her... Everywhere, knowing that love is to share... each one believing that love never dies... watching her eyes and hoping I'm always there... I want her everywhere... and if she's beside me I know I need never care... But to love her is to need her...”
Às vezes eu te amo. Às vezes eu te odeio. E essa dualidade causa um redemoinho. No entreabrir da boca e dos olhos, tudo se evapora, e na asséptica brancura do papel os sentimentos e os versos arrebentam. Arrebento-me. Você que é a minha poesia, se faz e me faz; se fez e me fez em risos, riscos e rabiscos: na pele, no tempo. O que a materialidade da palavra pode dizer por mim, por nós? Em todas as instâncias, entrâncias e reentrâncias teu verbo se faz em mim, carne. Em mim na carne. Em minha (tua) carne. Sempre sedenta de ti serei, como na primeira água que bebi, e do sabor não esqueci; nossas duas águas confluindo num movimento de/em celebração restituindo-nos do estado pedra, para a fruição. Não é de mim que o mundo sai, não é em mim que desemboca o mundo, mas de ti, em ti que me decifrou. Não mais indagues os meus olhares, é para te eternizar em minha íris, em minhas curvas, em meus seios, em meu sexo. Multiplicas-me a cada dia, e em todos eles não me vejo menos que tua; não tenho passado, não tenho presente, futuro não terei se subtrair-me o alicerce das tuas pernas, teu olhar castanho e teus abraços que me acolhem quando busco-te refúgio meu, ainda que as linhas teimem em dizer não. Se mil palavras num murmúrio minha boca confessar, nenhuma outra será senão o tanto de amor que eu tenho pra te dar.
“I keep on fallin’... In and out... With you... Sometimes I love ya... Sometimes you make me blue... Sometimes I feel good At times I feel used... Lovin' you darlin’... Makes me so confused...” Alícia Keys conseguiu traduzir o que não tenho condições de dizer...
Enquanto pelos olhos: a gula a beleza e a verdade (e cunho na pele tanto desejo) Divido-me entre a vontade e a saudade...
Enquanto vejo nascer a crença e a fé Flagelo-me. Espero-te.
Como fogo ateado crepitando ao vento Em mil centelhas Faísco.
Ainda que tão longe, Sonhamos Tua presença se faz viva.
É viva. Vivo. Vives.
Num grito pontiagudo Vocifero Meu canto
De ti. Em ti. Por ti.
Restando em mim O amanhã. O porvir.
O teu vôo Por mim. Para mim. Em mim
... A explodir tuas sementes.
“Depois de ter você...Para que querer saber que horas são? Se é noite ou faz calor...Se estamos no verão... Se o sol virá ou não... Ou pra que é quer serve uma canção como essa? Depois de ter voce poetas para quê? Os deuses, as dúvidas? Para que amendoeiras pelas ruas? Para que servem as ruas? Depois de ter você...” A explosão se completa com essa música que agora também mora em mim: Depois de ter você: Adriana Calcanhotto
Quando em sorrisos se mostra Rasgos de emoções a envolvem Como lua vazia à espera de encher-se Ele vem e preenche-lhe todos os espaços...
Tudo que existe nela está explícito Ele do nada, por nada lhe desentranha: O beijo, os segredos, o gozo e os desejos. Num rasgo, num recorte, pára o tempo,
E contemplam-se... E provocam-se... Por uma janela do mundo E criaram, recriaram o seu. Vencidos, vencedores
Há algo de irreversível no ar Há uma promessa nova no ar Há desenho de futuro no ar Há o tempo presente e basta
Bastam-se. Naquele infinitesimal segundo Uma paralisia n'alma Plenos, profundos. São dois e são uno
Não é primeira emoção Não é a última Mas sonham com o porvir ... Ele cita uma canção “Escuto Chico, Construção”
Acaso, Coincidência? Destino? Não! É aproximação.
... Caminhos percebidos desde o arco do sol.
Fácil, muito fácil... Por nós, por tudo, ouço Construção. Um verbo que me acompanha até a eternidade...
“Amou daquela vez como se fosse a última... E atravessou a rua com seu passo tímido... Subiu a construção como se fosse máquina... Ergueu no patamar quatro paredes sólidas... Tijolo com tijolo num desenho mágico... Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago... Dançou e gargalhou como se ouvisse música... E tropeçou no céu como se fosse um bêbado... E flutuou no ar como se fosse um pássaro... Bebeu e soluçou como se fosse máquina... Dançou e gargalhou como se fosse o próximo... E tropeçou no céu como se ouvisse música...”
Enquanto contas do frio Da dor, da solidão (mas não falas das lágrimas que sei)
Mostro as que tenho e Rasgo em mil pedaços Essa tormenta que me causas
... E os lábios ressecados Pela fria ausência dos teus Toco-os com teus imaginários dedos
Enquanto regride criança Ao colo da mãe E finge uma alegria que conforta Emudeço emoção
... E conto o tempo ... E cato sonhos E os dias se vão.
Minha companhia dessa hora além dos sentidos teus, todos; Lizz Wright me consola: Hit The Ground - "Hit the ground, babe... It´s alright now... Hit the ground babe... Take your veil down... See your eyes in mine... Leave the rest behind... Hit the ground babe... Cause I want to love you now... Hit the ground, babe... I said is alright now... Hit the ground babe… You´re gonna make it somehow... Babe, why so lonely?..."
Nada a declarar, apenas a escutar… Escuto sem parar essa canção...
....O lugar era escuro, um tanto lúgubre, fumaça de cigarros, cheiro de uísque de terceira, um pardieiro meio fétido... Uma atmosfera marginal... Casais dançavam sem sair do lugar, acariciavam-se, “naquela escuridão ninguém observava mãos ousadas, procurando ninho”, não se importavam com o fato de estarem sendo observados pelas pessoas... No balcão, homens e mulheres desacompanhados perdidos em seus pensamentos, mergulhados em suas solidões e em seus restos, bebiam tequila, cubra-libre, margarita* e alguns drinques coloridos. Uma radiola de ficha emitia a canção, Soy Infeliz – Lola Beltrán. Ela bebericava uma dose de dry Martini [não queria ficar de porre, apenas degustar com vagar, se perder e se achar em suas lembranças], e fumava uma cigarrilha [Davidoff], alheia ao derredor... Imersa nas lembranças... Desde a noite em que se fizera dele mulher, até a fatídica tarde em que o encontrara aos beijos com outra...Um surdo furor lhe envolveu, é acometida por um ódio mortal, apaga a cigarrilha nas coxas roliças e brancas, e deixa cunhada a marca da raiva, uma lembrança em carne, brasa e dor... Num salto, põe-se de pé... E vai sozinha, à pista de danças daquele féerie... E como se uma entidade, estranhamente tomasse conta do seu corpo, começa a dançar... Movimentos frenéticos e sensuais, um sorriso entre misterioso e irônico, se instala em sua boca... Suas mãos parecem ter vida própria, acaricia o pescoço, o vão dos seios, com o corpo meio desnudo oferece-se aos olhos de quem quiser vê-la. Os cabelos longos, esvoaçantes, como em cascatas caíam sobre seus ombros. Os quadris num requebro diabólico convidavam aos jogos eróticos. O corpo explodia em desejos, o suor escorria, e ela lambia-o, gotículas salgadas no canto dos lábios... Era só luxúria naquele momento. Úmida entre as pernas, cada vez mais aumentava a vontade de meter as mãos debaixo da saia, encontrar a carne palpitante, desejosa, e acariciar-se... Ainda que por cima da calcinha minúscula, branca, de renda francesa... Ria, e crispava as unhas bem feitas, pintadas de esmalte vermelho, no próprio dorso... Abraçando-se, como se, se bastasse. Em segundos toda a sua vida é revista como num filme... Como que por encanto, sente a presença de alguém, abre os olhos e depara-se com ele. Ele! Parado à sua frente, encaminhando-se, em sua direção com o andar de um leopardo, a diminuir o espaço de sua presa. Ele, o predador.
E ela revia os momentos passados, tremia e ficava mais excitada, ao pensar em seus corpos nus, entrelaçados. A boca estava seca, entreaberta, arfava, ofegava... Ela acendia, ficava em brasa, na presença do seu homem. Àquele homem sabia explorar cada cantinho, cada recôndito de seu corpo. Como um especialista, uma técnica invejável, conseguia laçá-la ao mais alto céu do prazer. Era habilidoso, experiente, vivido, calejado na arte de proporcionar prazer. Não podia negar. Aquele cafajeste era tudo o que ela precisava. Viciara-se nele. Sua droga mais pesada. Quem ousou mudar a música? Cúmbia Villera – Yerba Brava. Na radiola de fichas... E ele... Bailando e rindo desavergonhadamente em sua direção, motivo suficiente para entrar em conflito e sair do torpor, do transe. No fio da navalha caminhava: entre o amor e o desejo; a raiva e as lembranças. Ela chegara a um ponto crítico, já havia tentado de tudo para abandoná-lo, esquecê-lo. Inútil. Ela o amava. Simplesmente o amava. A simples aproximação dele, somente uns poucos centímetros de distância, causava-lhe àquele entorpecimento juvenil, àquela inundação de sentimentos que a enlouquecia, daquela loucura toda que a envolvia, a amedrontava, e àquela confusão monstruosa que vivera quando o encontrara aos beijos com outra. Era avassalador. Ele a envolvia sem tocá-la. Tocava-a com os olhos, com os demais sentidos. E se perguntava quem errou mais? Por que não fora até ele e a moça e questionara tal cena? Isso não importava agora. Só sentia a presença imponente dele. O que importava o beijo dado, n’ outra? Sabia que sem ele não sobreviveria. Mais que atração, mais que paixão, amava-o verdadeiramente em qualquer situação. Sentia em cada fibra do seu ser que era ela que ele queria. Beijar outra fora um acaso fortuito. Porque a mulher, a mulher escolhida para a cama, para todos os lugares e dias, era ela. Os olhos, o corpo dele confessava que... Isso... Foi o instinto machista. O desejo primitivo de beijar uma fêmea que o levara a experimentar os lábios de outra. Pé de ouvido, sussurros, palavras baixas porque os corações estavam próximos e o mundo fundia-se em desejos. Eles serenos como quem se perde e se acha, encontravam-se nos beijos gulosos dados no centro do salão. O corpo esbelto dela ligava-se ao dele, como um amálgama, eram um só. Entravam de novo no ritmo do que era certo, do que os mantinham juntos. O mundo já não mais existia, beijavam-se, abraçavam-se, tocavam-se, desejavam-se, usufruiam-se; suspiravam, gemiam, deliravam. Reencontraram-se. Ela reencontrara o seu homem. Ele, a sua mulher. Mais que expectantes, eram braços em repouso, aguardando que chegasse a hora de sumirem dali e deitarem-se sem nada, sem nenhuma barreira entre eles. Os abraços não mais bastavam, precisavam sentir-se. Dentro. Entre. Sobre. Corpo entrelaçado entregue à paixão que os dominavam. E renasceriam para sempre assim, um no outro.
Enquanto brincava com as palavras e os desejos, ouvia seguidamente as canções: Soy Infeliz, da mexicana Lola Beltrán e Cúmbia Villera – Yerba Brava...
SOY INFELIZ - Lola Beltran
“Soy infeliz porque se que no me quieres para que mas insistir... Vive feliz si el amor que tu me diste para siempre resenti... Soy infeliz porque se que no me quieres, piensas que morir... Que me sirvan otra trago con dinero yo los pago pa' calmar este surfrir... Vive feliz en tu mundo de ilusiones... No pienses mas en tu amor y tus traiciones...”
Entre tantos erros passados presentes Haverá futuro? Um dia E é como se nada existisse Nem o antes nem o depois Apenas o [re] encontro Novo engano?
Mas nos olhos um olhar novo Novamente Transita entre indecente comovente E volta o desejo antigo Ardente [in] tangível Desenhando o percurso Por entre as retinas castanhas Olhar difuso confuso Arfante peito entrega avisa convida
A emaranharem-se nos pelos Pernas Desejos Um Parte do outro que partiu Um à parte No mapa que se percorre O tempo voa corre E não segreda a ausência...
... E a fina alça da camisola de seda Preta [Mais despia do que cobria] Escorregava macia E à mostra A translúcida palidez de um ombro nu Convidava indolente A engolir despudoradamente Com cobiça O seio exposto ali...
Nina Simone, quem mais? Enquanto nos engolimos, a Nina nos embala... Eternamente. The Other Woman : “The other woman finds time to manicure her nails… The other woman is perfect where her rival fails… And she´s never seen with pin curls in her hair… The other woman enchantes her clothes with french perfume… The other woman keeps fresh cut flowers in each room… There are never toys thats scattered everywhere…”
Tu: em riste, rígido, tensão Invade portas, mares Somos um só: tesão...
Ando sorrindo ao vento, entre ficar na fímbria, no beiral, portal, janela... Lancei-me ao mar desconhecido... E nada como uma bela canção pra acompanhar essa inusitada navegação... Pra um sambista encantador, uma música que já é nossa, nossa cara:
Pressentimento: Elton Medeiros e Hermínio Belo de Carvalho, ando escutando-a com a Roberta Sá...
“Ai ardido peito... Queira entender o meu segredo... Queira pousar em seu destino... E depois morrer de teu amor... Ai mais quem virá... Me pergunto a toda hora... E a esposta é o silêncio... Que atravessa a madrugada... Vem meu novo amor... Vou deixar a casa aberta... Já escuto os teus passos... Procurando o meu abrigo... Vem que o sol raiou... Os jardins estão florindo... Tudo faz pressentimento... Que esse é o tempo ansiado de se ter felicidade.”
Mergulhar nas chamas das tuas palavras Labaredas que engolem: A confiança, a cumplicidade e a saudade...
Enquanto essas três frases se formavam em mim, comecei a escutar e a cantar incessantemente, Valsa Verde [1931], Lourenço da Fonseca Ferreira - Mestre Capiba - e Ferreyra dos Santos... Interpretada de forma magistral por Paulinho da Viola, e Raphael Rabello ao violão... Linda, linda, linda!
“Não sei bem quem és... Mas sei que entraste em meu olhar... Como na sombra, entra uma réstia, de excelsa luz, pelos meus olhos tristes nunca percebida... Não sei quem és e te recordo, e te desejo tanto, pra ilusão de minha vida... Não sei bem quem és... Mas sei que entraste em meu olhar, como na sombra, entra uma réstia, de excelsa luz que o meu sonho de amor, de verde iluminou, depois, o anseio que em mim ficou... E a minha vida desde então, se transformou pela ilusão do teu olhar... Foste a quimera que fugiu... Deixando em mim como um perfume, de um amor cruel... Que, no meu tristonho coração, fez palpitar a canção verde, dessa ilusão que eu quis compor, pensando em ti, pensando em ti, no meu amor, sim no nosso amor...”
Perdida! Eis-me completamente perdida, mas não são nos emaranhados vicinais da grande metrópole... Perdida dentro dos sentidos que me extasiam e me deixam infantilmente encantada. Que belo e inexplorado complexo é o coração. Tão capaz de mudar sentimentos e o fluxo dos pensamentos... Sem ter planejado, tenho um alvo. Por ter planejado, tenho um alvo, aqui à minha frente. Olhar atento às leituras: do livro, do derredor, da minha alma – exposta na minha íris – do sorriso irresistível no canto da boca. E ele. Aqui em mim; eu, nele; nós, em nós. Há fronteiras, mas não é [e é] ao mesmo tempo, tangível. Extraordinário sentir, existir... Somos duas ilhas, interligadas por pontes e fios (in) visíveis que nos conduzem, seguram, unem, prendem, seduzem. Caminhantes, cada um em seu passo, compasso; ao encontro, ao lado, em direção. Coração. Belos mosaicos, vários fragmentos, miríades sem-fim; ora fortes, ora explosão. Tudo à flor da pele, olhares, sabores, texturas, toques, odores, desejos, suores. Caminhantes rumo ao inesperado... ... E o olhar? Os olhares... Capturadores, aprisionadores e as palavras... Palavras? Buscamo-nos e todos os códigos entram em desuso... O que nos rege: a emoção e a entrega, cega....
Volto e meia, volto ao Wisnik pra não esquecer como sou, sobretudo quem sou... Enquanto cá estou escrevendo essas prosaicas linhas, reescrevo minhas emoções com a canção do Mestre José Miguel Wisnik: Mais Simples...
"É sobre-humano amar... 'cê sabe muito bem... É sobre-humano amar sentir doer... Gozar... Ser feliz... Vê que sou eu quem te diz... Não fique triste assim... É soberano e está em ti querer até... Muito mais... A vida leva e traz... A vida faz e refaz... Será que quer achar... Sua expressão mais simples... Mas deixa tudo e me chama... eu gosto de te ter... Como se já não fosse a coisa mais... Humana... Esquecer... É sobre-humano viver... E como não seria?... Sinto que fiz esta canção em parceria... Com você...”
E me aperta pra si Toma meu seio esquerdo e o engole Com gula Contorço-me serpente Entrego-me amante E faço-me tua Docemente...
Quando me abraça desejo Em riste espada Com o olhar indagas Por que não me entrego tua Amada Quando o sou Ora certeza, ora vaga Deslizo em teu corpo Senhora Tu: minha tranqüila morada.
A música é da Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Brown, no entanto, desde que me foi presenteada - apresentada, não sai de mim, ouço-a incansavelmente, e cada frase, nos diz em particular e o infinito que nos tornamos...
“Eis o melhor e o pior de mim... O meu termômetro, o meu quilate... Vem cara, me retrate... Não é impossível... Eu não sou difícil de ler... Faça sua parte... Eu sou daqui e não sou de Marte... Vem, cara, me repara... Não vê, tá na cara, sou porta-bandeira de mim... Só não se perca ao entrar... No meu infinito particular... Em alguns instantes... Sou pequenina e também gigante... Vem cara, se declara... O mundo é portátil... Pra quem não tem nada a esconder... Olha minha cara... É só mistério, não tem segredo... Vem cá, não tenha medo... A água é potável... Daqui você pode beber... Só não se perca ao entrar... No meu infinito particular...”
... E ele veio Permanece ebanamente entranhado Quando aperta a saudade Vôo nas asas da poesia E... Estendo o braço a tocá-lo!
Enquanto matava a saudade, e o cristalizava dentro de mim, uma canção se fazia presente: Angel Of The Morning [C. Taylor], docemente cantada pela Nina Simone, e todo o sentimento mais uma vez [e sempre] redivivo...
“There'll be no strings to bind you hands… Not if my love can bind your heart…And theres no need to take a stand… For it was i who chose to start…I see no reason to take me home… I'm old enough to face the dawn…Just call me angel of the morning (angel)... Just touch my cheek before you leave me (baby)...”
Dia de chuva Gotas d ‘ água Em musicalidade: Minh ' alma
Dia de chuva Assisto em quietude Cair em minh ' alma Pingos de saudade
Dia de chuva Minh ' alma Sonha amiúde Que meu abraço seja teu regaço
Dia de chuva Silêncio no olhar Para em minh ' alma O espaço-tempo-ausência logo findar
Dia de chuva Minh ' alma calada tenta desvendar Entre o cinza e o preto Uma cor para o nosso mundo alegrar
Dia de chuva Minh ' alma reflete na vidraça Imagens de esperança Que a volta traga a bonança
Dia de chuva Minh’ alma sussurra com mansidão Tu, para a eternidade Guardado em meu coração!
Desde ontem chove em minha cidade... Adoro dias chuvosos, faço coisas como: ler, ouvir músicas, ou simplesmente ficar quietinha sob as cobertas... E de pronto, como as gotas que batiam nas vidraças das janelas do meu quarto, esse poeminha, escorreu pelas pontas do meu dedo... E veio parar aqui...
E uma música do Bonfá me acompanhava: “Eu quero olhar ao meu redor... E ver além do que meus olhos podem ver... Além do céu além do mar... E ter certeza de que vou te encontrar... Olha pra mim... Nosso rumo certo fica em outra direção... Há tempos eu sei que eu não sei viver sem teu carinho... Não me deixe esquecer de todas nossas vidas sempre juntos... E o futuro é aprender a ler aquilo que não está escrito... São pequenos sinais nas nuvens nas estrelas... Quanta coisa amor vimos se perder... E quantas coisas encontramos pra alegrar o coração..."
Um dia que poderia ser simples Acordar com o barulho do telefone tocando Responder Sentir as mensagens Laços que se firmariam
Braços que acolheriam Mãos se tocariam Explosões inevitáveis Na pele se dariam Em ondas ficariam
Mas onde está agora A intensidade que os envolvia(m) O sentimento que nutriam Rebentação na memória Em que grotão perdeu-se
O despertar entre os loiros fios de cabelos Corpos nus entrelaçados Tocar a maciez da pele Lençóis espalhados ao chão O dia azul lá fora E o mundo em gozo cá dentro
Entremeados em si Alojados Por que vêm agora Tantas lembranças num repente Quando triste está um mundo E tudo agora é tão longe...?
O terreno por mais que se conheça Tem sempre um desconhecido À revelia da nossa vontade Melhor cedo que jamais... Por assim o ser: ceder, ceder, ceder... E deixar o amor morrer.
Rabiscando essas linhas ao som de Maybe Tomorrow – Stereophonics... O pensamento vagando por aí, até cansar... Domir... Amanhã talvez seja outro dia?
“I've been down and I'm wondering why… These little black clouds keep walking around with me, with me… Waste time and I'd rather be high… Think I'll walk me outside and buy a rainbow smile but be free, be all free… So maybe tomorrow… I'll find my way home… So maybe tomorrow… I'll find my way home…”
Entre incertezas e silêncios Cala-me Cala-te Renega-me...
E como galhos secos Postos ao fogo Crepita em labaredas A ausência...
É lenha em brasa É carne em sangue É saudade que arde É folha que voa...
Das cinzas fazem-se histórias Rabiscadas na pele O coração que se entregara afoito Agora clama misericórdia e morte...
À toa na escuridão Permanece um sonho Pé ante pé Rodeando a noite e a solidão...
Quantas vezes mais A morte perseguirá Flor quando quiser ser flor Chão quando quiser ser chão Não quando quiser ser não Caminho quando quiser caminhar Sonho quando quiser sonhar Flor pisoteada, ali, a um palmo da mão....
Escuto Cartola desde cedo... E Labaredas [Cartola e Herminio Bello de Carvalho] repetidamente.... “Vou me desacovardar dizendo não... A um coração que fez só desagasalhar... Quem o abrigou... Profanou, sem se importar... E destruiu, sem mais pensar... O essencial de mim... Me atiçando um fogo em mim... Mas pode um incêndio alastrar-se ao coração...Que as labaredas nem vão sequer provocar um só perdão... Quantas pedras não terá para atirar de novo em mim?... Me subestimar, prá quê? Não vou! ... E quando o remorso invadir seu sono, então... Meu coração não vai nem sequer se vergar à sua dor... Debelar o incêndio vai ser impossível só porque... Quem brincou com o fogo foi Você.” Sei o que sinto, por quem sinto e porquê sinto... Uma saudade que corrói... Algo tão fora de compasso...
Caminhando pelo mundo e ouvindo a canção One for My Baby [R. Williams] cantada pela Dianne Reeves... Nossa! Toda a trilha sonora do filme [Good Night, and Good Luck] é perfeita e ainda tem a voz dela... Di-vi-na!
“It's quarter to three… There's no one in the place… Except you and me… So set em' up Joe… I got a little story… You oughta know… We're drinkin' my friend… To the end of a brief episosde… “
Cansada de tanto viver Farta de tanto morrer Avara em seus afetos Aborrecida com o amargo Ocre Êxtases da vida Despede-se Como flores machucadas Após tempestades...
Os tais jogos dos sentidos Palavras Rimas Canções Semântica Imprecisões Parecem agora grinaldas Jogadas sobre lápides...
A alegria diária Virou estrela que cai do céu no escuro da noite E nesse manto negror Perde-se no mar...
Era deleite ou dor? O coração sem sentido Ferido de morte Uma sorte [ ? ] inesperada Indaga em balbucios...
Sem vocábulos versos Canção do desafeto Acordes sombrios Sua explícita delicadeza A paixão no rosto Nos gestos O olhar diluído Perdeu-se na voragem do mundo...
Deixando na Boca Uma mistura de sabores: Mel, sangue, vinho, A lembrança do beijo perdido E o grito de saudade...
Perdi a noção do tempo, e das vezes tantas que escuto a mesma canção: A Taste Of Honey [ Bobby Scott e Ric Marlow ], cantada pela Lizz Wrigth... Perdi algo hoje... O lamento de não reencontrá-lo, grito aqui... Expurgo uma dor que eu não sabia, mas desconfiava... A chuva logo passará , e o sol me acenará outra vez no [do] céu...
"Cold winds may blow... Over icy seas... I'll take with me... The warmth... A taste of honey... A taste much sweeter than wine... I'll leave behind… My heart to wear… And may it ever… Remind you of ... A taste of honey… A taste much sweeter… Than wine… I will return… I will return… I'll come back… For the honey… And you..."
Qual a explicação desta agitação, não sei Apenas sei que respiramos a primavera do universo Desse universo Que criam, e recriam Os seres em encantamento...
Que universo é esse alumiado de estrelas, astros E constante risos, não sei Desse riso Que estampa flores E refaz amores...
Que riso é esse que sugere lascivos deleites, embriaguez Longos e desejados suspiros Gozo interminável Insensatez Herança de mil nações Dos erros todos os perdões Entre nossos olhares Toda amplidão Um mundo em comunhão Eternizando nas linhas da emoção [M]Eu O mundo que necessitas: Sol, estrelas, lua e canções...
Enquanto me transportava e transbordava nesse poemeu, escutava Careless Love [Bessie Smith] , que me corta inteira, pela Bessie, e agora por Madeleine Peyroux , cuja voz tem um timbre que lembra muito Billie Holiday... E o pensamento longe, longe voa... Quem sabe sobre o Atlântico?
Elzi, mui grata pela apresentação... ;-))
Careless Love - “Love, oh love, oh careless love… You' ve fly though my head like wine… You've wrecked the life… Of many a poor girl…And you nearly spoiled this life of mine… Love, oh love, oh careless love… In your clutches of desire… You've made me break a many true vow… Then you set my very soul on fire…”
Na alma a sensação de leveza... Que se alastra por todo o corpo... Sinto-me livre! Leve como uma pluma... Como se eu não tivesse passado, e não sei sobre o futuro. Sou o hoje, como se apenas o agora, me outorga a vida, o direito de viver... Tenho o mundo em minhas mãos, como se ao imaginar algo, ele se materializará tão logo eu o queira. Um poder que não é humano. Algo que transcende a matéria, algo que não me pertence[pertencia], mas agora é meu. Um infinito e possibilidades. Como se não existissem tramas obscuras, como se não houvesse o mal... Um momento [e]terno em palavras, doçuras, canduras, sorrisos, descobertas e maravilhamentos...
Um movimento circular, que não tem começo e nem fim... Apenas se/me move e me [e]leva em direção ao mar, ao céu azul, ao cosmos... Sem amanhãs, sem talvez... Como se fosse um reflexo do divino... Como se o espelho dessa noite eterna, fosse para sempre o que sinto agora... Algo, algo que se desloca sem pisar o chão, em várias direções, sem um exercício brusco, um ser multiforme, multicolor, carregando na mesma face o sonho e a sombra; o dia e a noite; o sol e a lua; o doce e o amargo; a prisão e a liberdade; a ficção e a realidade; fogo e água; o salto e a queda; o medo e a segurança; o perdão anulando toda sentença passada... Todas as dores, expostas nas crateras da alma e do corpo, todos os punhais que um dia sangraram-me o peito, tudo que era atroz, feroz, raivoso transformou-se em glória e gozo. Como se um alquímico de mim se apoderasse à revelia da minha vontade... E a guerreira que outrora comandou batalhas, que conquistou fama e medalhas... Que se ergueu contra o mundo e erigiu muralhas, deixasse atrás de si o peso do mundo, de um mundo que a aprisionou na masmorra de uma angústia que agora não existe mais... Como o alívio que acompanha um novo amanhecer... Uma esperança temporã, uma aceitação alegre do que o destino sempre ofertou... Como o encerramento de um tempo que não há de existir mais... A carne esquecendo seus pesares e extasiando-se diante de um mundo novo, um ‘admirável mundo novo’ que se preparava para mim... Mas não na esfera do terreno, do humano... Mas tudo traçado como um filigrana, lá no plano do divino... Como se os dias de cores rosa-pálidos fossem serenamente substituídos por vermelho-escarlate e azuis - Monet... Tudo ficou pra trás... Tudo me disse adeus... Absolve-me das trevas de um tempo morto, dessas tais dores, um verde-vida, com a variedade de suas cores e enfeita o meu jardim, fazendo brotar as mais belas flores... Sinto-me a própria Pandora, mas sem o ódio, sem os rancores, sem tarefas impossíveis a serem cobradas, mas focada na esperança e na ressurreição. Sinto-me renascida, talvez seja o que sintetize meus sentimentos de agora... Interessante os meandros da vida, enquanto tento traduzir meus sentimentos em palavras, escuto Pandora – Cocteau Twins, e a suavidade da voz da vocalista Liz Frasier, parece cantar, parece dizer, dizer por mim, nesses “arranjos etéreos e celestiais”, o que eu estou sentindo e não consigo expressar...
“(I'm in love with hers)… Our room, a hot and big and kick and lie a boogie adaga dab yo… (I'm in the lights with him)… I feel I'm cheating night and shudder…
Quando te vestes de meu imperador Eu tua imperatriz e senhora de todos os sentidos E desperta em mim todos os desejos contidos Tuas mãos magicamente a contornarem as minhas curvas Percebemos sem pudor Que todo o meu corpo é um poema em que jamais foi escrito Tão belos versos de amor...
Quando te vestes de meu rei Eu tua soberana rainha Na vasta noite nossa sublime cúmplice E te embrenhas em meus seios Engolimos todos os anseios Somos os que sonham Sonhos vãos que nunca se dissipam com as manhãs E nascemos a cada pôr-do-sol como um veio...
Quando tu Teseu Eu Ariadne A passar o fio e a espada às tuas mãos Que eu centro do teu universo Conclamo-te em desejos e lábios murmurantes Que seja o tempo mero expectador Do labirinto que agora nos rodeia Que não percamos nosso secreto cosmos Nem deixemos ao léu As estrelas que me destes Para brilharem eternas nos olhos meus...
Sempre estarei revestida do som de Led Zeppelin: Since I've Been Loving You, deliciosamente... Após o vôo rasante, protegida por teus braços aconchegantes e confiáveis... Talvez tenha sido a mais saborosa água de coco que jamais tomei em toda minha vida... Apesar da fumaça dos cigarros, que me trouxe[ram] tanta náusea... Pouco importou... Estávamos juntos isso nos basta... E bastou.
Since I've Been Loving You - Led Zeppelin"Working from seven to eleven every night… It really makes life a drag, I don't think that's right.. I've really, really been the best of fools, I did what I could… 'Cause I love you, baby, How I love you, darling, How I love you, baby…“
Quando chegas, e sobes desavisadamente Me cegas... Já não sou eu quem me governa Mas o desejo em mim
Empertigo-me da razão Que em nada me auxilia E em louco descompasso O ressoar do coração
Fabrico coragem polidez Invento artifícios Como a desviar dos olhos A fingida sisudez
Inútil tal estratagema Com argúcia e delicadeza Mergulho sutileza Constatas o brilho de estrelas a fugir dos olhos meus
Em tua imprecisa oralidade Mas sempre uma bela paisagem A querer que adivinhem Fantasia e a realidade
Somos perto longe Um sonho inesperado A fincar em doçuras, versos O que não pode mais ser calado
E como hera viçosa em muros Com desalinho natural Solto, presenteio-lhe a selva Para seu deleitar madrigal
Ante o temor da simples lembrança Trazendo em cada fio o medo Do embrenhar-se em sua mata E mostrar sua pujança
É muito mais o desejo de afogar-se Na sua maciez selvática E perder-se dias e noites Sem nunca ter um sentido o fim
A deixarem de lado por vez Esquivas astúcias momentos De certo que estão bem próximos No mesmo movimento
Em duas, três, mil faces se cercam O lugar em que se encontraram A vida já não morava E o amor de tristeza morria
Já não são apenas palavras São olhares impregnados Da mesma pura essência Que os fazem vasos flores doçuras e querença
Sem se buscarem se encontraram Nas curvas da imprudência Dispersos em luzes noturnas A provocarem insolências
E o que era cinza se [des] fez Imprevisível compasso Clarividência lume Azuis, vermelhos, regaço.
Estou [sou] num momento Zeppelineana, desde a semana passada que ouço a minha banda de rock preferida: Led Zeppelin... Dentre tantas músicas que me fazem, refazem, e me acompanham desde a adolescência, Stairway to Heaven – Led Zeppelin, ocupa uma lugar especialíssimo em minha história de vida... Mas hoje, ela tem um motivo novo, e refez-se soberana como sempre foi, senhora de minhas emoções... Talvez hoje, ela me traga de novo, um novo brilho aos olhos [meus], faróis de estrelas, a seguirem teu olhar, teu coração e pontuarem com delicadeza uma leve pulsação, e lhe darem de presente, uma paisagem com um dia e uma nova cara: um sonho em vermelho...
É esse clássico, essa imortal canção que ouço agora, enquanto escrevo esses sentimentos que me provocas... Obrigada pela versão por mim desconhecida...
“There´s a lady who´s sure all that glitter is gold… And she´s buying a stairway to heaven… And when she gets there she knows if the store are closed… With a word she can get what she came for…"
Em minha superfície, plana Tateio silenciosamente E toco teu instrumento que me procura Em mares, silente navegante...
Minhas mãos desconcertadas Prendem-te Com a argúcia dos meus dedos E minha Boca...
Em sofreguidão Com o desejo latente E precisão astuta Penetra-me...
Então te vejo como sempre foi: Meu Humildemente me coloco como sempre fui: Tua...
Em delírios e delícias nos retemos Entre línguas beijos falo sexo Permanecemos Retinas em ouro dilatamos...
Em mim te guardo Estandarte em festa E tua letra escarlate Em minhas paredes te inscreves...
Agora sem brumas e incertezas Desabas Alimentando todas as promessas De um sonho que nascera inusitado...
E nesse gozo incontido Além muito além dos sentidos Sem temor, esquiva O verbo se faz em nós vida...
Tua vogal de espuma Deságua Fonte inesgotável Dos desejos tanto[s], que se [re] faz [em] em nós...
Enquanto rabiscava esse sentimento, escutava What is And What Should Never Be - Led Zeppelin, que há tanto mora em mim, e nos renova em sonhos, prosa, versos e desejos... Ainda tenho o sabor dos teus beijos e teu olhar perdido, a escutar as canções que são sempre as mesmas: as nossas...
“And if I say to you tomorrow… Take my hand, child, come with me...It's to a castle I will take you, where what's to be, they say will be…Catch the wind, see us spin, sail away, leave today, way up high in the sky… But the wind won't blow, you really shouldn't go, it only goes to show That you will be mine, by takin' our time…”