segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

vá ser feliz em 2012!

"Já que é preciso aceitar a vida, que seja então corajosamente".
Lygia Fagundes Telles

figura: balthus

Diante do hiato proposto pela vida, nada mais precisa ser dito, apenas sentido e  entendido. Ponto e basta! Os elementos, as condições são oferecidas, explicitamente oferecidas, mas a desatenção, a tibieza e a covardia, fingem não entender. E o que ocorre a partir de então é uma busca inócua para explicar o desnecessário, o óbvio. A vida está aí, pulsando, quente, vibrante, convidando, convidativa, e cada um em sua amargura e armadura finge que não vê, desiste de viver, de viver a plenitude, sem as buRRocracias, os conflitos e arranjos capengas, as costuras infelizes que solapam as relações. O tempo urge, e não há ensaio para vida, nesse palco, não há replay. Não se desgaste, não perca tempo investindo no que sabes, não frutificará. 
Ser feliz é um exercício diário tanto quanto ser infeliz, escolha o que é saudável, sorria mais, queira para si a alegria do amor, do amor que constrói, que faz crescer, do amor que estimula, que faz avançar. Desse amor que nem os contos de fadas são capazes de prever, mas que encontras nos lugares mais inesperados... Viva, viva sem perder tempo com relações falidas, com situações inexplicáveis. O tempo perdido é irrecuperável!
Se tiveste a felicidade de encontrar alguém que o compreenda e que o ame, e que tu o compreendas e o ames também, vai enfim ser feliz, as convenções sociais são algemas que impedem apenas a sua felicidade e não de quem as impõe, pensa nisso! E se circunstacialmente calhar de encontrares uma aeromoça no seu caminho - mera ficção, não me responsabilizo pelo real em sua vida -,  voe até o infinito com ela, seja feliz e a prática do desapego que começaste bem antes, será a base para viver essa felicidade que lhe foi inesperadamente apresentada. Não esqueças que és mais um/a "na multidão incontável de metades" que andam "pelo mundo, à procura da sua outra parte, fragmentos de um uno incompleto, carente de sua unidade e de um fechamento". Quando calhar de encontrares o "duplo do seu uno, a forma original dos seres inteiros", não titubeie e agarre-o com força e não solte nunca mais, porque esse prazer do re-encontro e a felicidade, será(ão) de vocês!
faça um ano novo de verdade, vá ser feliz em 2012!

sinherê - edu lobo e gianfrancesco guarnieri, com maria bethania

domingo, 11 de dezembro de 2011

só por hoje

 "Se eu ainda tivesse ilusões,
que não tenho, a maior de todas seria esta:
 fazer de mim mesmo um poema".
mulher sentada - ismael nery

só por hoje eu queria não ter passado
nem futuro
só esse presente

só por hoje eu queria furar todos os meus cercos
esquecer todos os meus conceitos
implodir as minhas blindagens

só por hoje eu queria que esses reflexos de luz(es)
nunca mais saíssem da minha retina
que saltássemos esse precipício

tenho calhas (e precipitações) ao longo do corpo
e quero o seu mergulho dentro de mim
vem beber o atlântico que deságuo

vem colher a flor que eu guardei
aquela que eu lhe mostrei
quando nos encontramos no meio do nada

e quase nada nos dissemos
mas nos desejamos, sabemos
vamos saciar essa(e) - poema fome

nem que seja só por hoje!


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XXII - XI - MMXI

marisa monte - infinito particular, dela, arnaldo antunes e carlinhos brown

domingo, 4 de dezembro de 2011

a colecionadora de adeus(es)*

"...Não somos os mesmos, mas sabemos mais uns dos outros.
E é por esse motivo que dizer adeus se torna complicado!
Digamos então que nada se perderá. Pelo menos dentro da gente..."
João Guimarães Rosa
Niña delante de la chimenea - Balthus

Penélope era uma criatura ímpar, se diferenciava em cada detalhe das demais mulheres. De uma invulgaridade até então desconhecida, tudo nela era inaugural. Cada gesto, cada suspiro, cada passo e situação tinham o caráter de primeira vez.
Diferentemente da maioria das outras mulheres, Penélope fazia uma coleção sui-generis: colecionava adeus(es), sim, ela guardava todos os adeus(es) sofridos ao longo da vida, cada adeus recebido ia para a caixa de porta-adeus(es). Tinha o cuidado de etiquetá-los, e deitá-los carinhosamente naquela caixinha de madeira, com ébano incrustado no tampo, para que não se diluíssem entre si e se perdessem na corrente do esquecimento. Achava que lembrar ajudaria-na a não cometer os mesmos erros, que nada mais se repetiria. E jamais esquecia o que lhe faziam. Inventariar suas tragédias, era uma forma de ausentar-se de si mesma, saía da posição de protagonista para expectadora, naquele teatro que sempre fora a sua simplória existência.
Mas havia um adeus em especial, aquele, aquele que ela jamais gostaria de ter recebido, trocava toda a sua coleção por um não-adeus dele.
Estava como sempre estivera, inerte e pálida, quando o viu, Ulisses surgiu do nada como uma aparição, não se assustara porque no processo em curso, já não se surpreendia com nada, e a inesperada chegada daquele homem não se configurava um grande acontecimento. Estava imóvel diante do que chamava de autopoiesis, imersa em suas dores, suas perdas e suas solidões, por onde quer que olhasse, só se deparava com seus restos. Tudo era deserto e destruição. Aquela presença inopinada não a demoveu da sua imobilidade e alheamento, para quem fechara a porta do inferno e sobrevivera aos tantos dilúvios, nada lhe dizia alguma coisa. Já não diferenciava luz e sombra; calor e frio; sol e chuva; fome e sede. Penélope estava tão anestesiada que desconhecia coisas e valores tais como: "prudência, justiça, fortaleza, temperança, fé, esperança e caridade", muito menos amor. Dizia que isso de amor era invenção do ócio, de alguma mente desocupada e em conluio com o inominável. Se acreditasse em destino diria que o seu era o pior dos piores. Que havia nascido para o lamento e o suplício. Achava-se a maior de todas as vítimas, até gostava de viver enclausurada nesse seu conforto entorpecido, nessa pele de sofredora.
Ulisses nada precisava dizer, porque qualquer movimento era como se já tivessem vivido desde os tempos mais remotos, numa ancestralidade (in)comum, eram o espelho um do outro; os olhares se complementavam, e a vida tinha um sabor até então jamais experimentado. Sem o mínimo esforço, conseguia dela todos os seus segredos, confessava-se a ele, como quem desejava expiar todos os seus pecados (que nem existiam).
Ela tivera tudo e perdera tudo, quando Ulisses veio, e quando foi embora, após dizer-lhe calmamente, como se estivesse anunciando o princípio do mundo: "amo-te"! E saiu sem olhar para trás, com seus passos largos, mãos nos bolsos, assoviando, e sumiu engolido pela neblina daquela madrugada, que Penélope odeia até hoje! Entendeu que aquela confissão fora o grito de liberdade dele, e o aprisionamento dela, essa declaração tornou-a cativa da esperança, coisa  que ela jurara nunca mais ter. Além de afastá-la de qualquer outra relação que porventura, ela ainda desejasse experimentar. Declama nos palcos da vida, que qualquer pessoa só é verdadeiramente livre, quando está destituída de qualquer tipo de paixão. Segundo ela, aprendeu com o Bertrand Russell, e que já nem sabe mais no que acredita. E nem tenciona creditar mais nada à nada.
Todas as madrugadas ela fica em vigília, atenta aos movimentos e sussuros do vento, esperando, quem sabe, algum milagre acontecer, caso acreditasse em milagres. E quando ela se descuida do esquecimento, vai ao espelho e torrenciais lágrimas  lhe escapam dos globos  oculares e borram toda a maquiagem, escorrendo como um veio d´água, preto, pela face, e lhe deixa com o nariz vermelho e os olhos molhados e brilhantes. E ela tem ojeriza a espelhos, porque diante deles, não pode negar quem é, ou quem deixou de ser; ali ela está despida de qualquer mentira ou desculpas, está nua diante de si mesma e todo o sentimento que ainda existe por e para Ulisses, um estúpido que materializou-se do nada e desmaterializou-se também do nada. Mas que ainda respira em seu peito. Que coração absurdo e bobo é o dela! Embora ciente de que romper esse  laço é preciso, já não sabe mais sobre precisão. Não obstante, mais que tudo é  preciso prosseguir, só existe essa (é a única) saída.
Desde então, Penélope odeia o amor entre um homem e uma mulher (esse amor sexualizado, carnal) e seus desdobramentos, tanto quanto as madrugadas. E até hoje ela tece a teia que a libertará de todos os adeus(es) sofridos. E se afoga (e se afaga) nas taças de vinho que eles bebiam diariamente.
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Olinda, XXX - XI - MMXI


*
"no 
'Aurélio' traz a flexão em "adeuses", já o 'Houaiss' não".


da cassia eller (e paulinho moska) que canta, com fabão:  nada vai mudar isso

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

olhar poente

"Vivo de esboços não acabados e vacilantes.
Mas equilibro-me como posso..."
Clarice Lispector


figura: ismael nery

quando meu olhar ausente
se põe
espichado sobre o poente

sua presença
se faz em ondas intermitentes
uma lágrima furtiva

cai disfarçadamente
faço uma prece
pungente:

"frees me father
this pain before
recalcitrant and unforgiving"

e fecho as cortinas da nova - mente!

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Olinda, XIII - X- MMXI


chico buarque canta,  sobre todas as coisas, dele e do edu lobo

terça-feira, 22 de novembro de 2011

não-espera

"Esta linguagem é pura. No meio está uma fogueira
e a eternidade das mãos".

eye in eye - edward munch

o melhor de esperar por quem não vem
é saber que quem não vem
nunca vai chegar

mesa posta
pão quente com manteiga
as flores e o mel

bolo, jornal e poesia
sol raiando na janela
a vida que se debruça  no portal

e quem não vem
não sabe dessa espera
dessa expectativa dela

seus olhos de ressaca
observam o dia que já vai ao longe
sol a pino na retina

iris dentro da iris
porque ele reflete nela
e só ela sabe que o espera

e ele
ele não sabe nada da sua história
mas sabe bebê-la com os olhos

XI - MMXI

luiz tatit - capitu

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

algumas consideraçoes sobre a fliporto

Se alguém tinha alguma dúvida sobre a importância e a  magnitude do evento, pode enfiar a viola no saco, a Fliporto é um sucesso, os números estão aqui,  para quem gosta disso! Entretanto "Pernambuco têm uma coisa que em nenhuma outra terra tem" (será?), e nao é apenas frevo, meu bem, é também literatura! A feira homenageou o sociólogo pernambucano, Gilberto Freyre (sim aquele de Casa Grande & Senzala).
Foi bonito ver a população (e claro os olindenses), o povo, prestigiando o evento, para mim isso é a grande força, que não se compõe apenas das "autoridades" políticas e dos grandes autores que dela participaram, ao todo foram 46 debatedores (entre jornalistas, escritrores, escritoras), sim, são importantes,  longe de mim negar isso, mas a presença das gentes de Olinda, do Recife, de Pernambuco, de outros estados e países, foi o maior ganho!
imagem colhida na internet
Mas por que Fliporto se a festa nao é mais em Porto de Galinhas? De acordo com os organizadores, a mudança do nome seria um componente complicador (e em "time que está ganhando, o se mexe", grifo meu). Óquei, era, foi, e já não é mais, algumas edições se deram apenas para escritores convidados, sem a presença das pessoas fora do ofício  de escrever (um absurdo, eu diria!), e a sacada de "transformá-la" em aberta para o grande público foi genial, tanto quanto transferi-la para Olinda, um exemplo de lucidez. Uma vez que o acesso à cidade, é bem mais fácil, e o local escolhido para a sua realização, a Colina do Carmo, não poderia ter sido mais perfeito
Emocionante perceber a meninada interessada, participando nas contações de histórias, na tenda Fliporto Criança, ou nos jogos matemáticos, Malba Tahan também foi homenageado na grande festa literária, Fliporto Nova Geração (para novos e jovens autores), EcoFliporto, Cine Fliporto, Fliporto Gastronomia e Fliporto Digital. Mas confesso que senti falta de uma sessão destinada à música e à  fotografia (uma Fliporto Música, e Fliporto Fotografia), mas aí é querer demais, e é a minha vontade e não dos idealizadores...

Por onde se andava, a participação da comunidade era intensa, um espetáculo! O que coloca por terra a idiotice mítica de que o Brasil nao é um país de leitores, nao é uma ova! Um fato interessante me chamou a atenção (aliás nao fui a única a perceber isso, um amigo também comentou comigo) as crianças faziam questão de participar ao seu modo, carregando um prospecto sobre a feira, um livro, um cartaz, o que fosse, qualquer coisa que dissesse, que estivera naquela comemoração, a Fliporto passou a ter um sentido para elas.

Grandes nomes passaram por lá, mas não posso deixar de mencionar a mesa que de fato pegou fogo, pois se tratava de autores e experiências sobre Cuba,  um deabte entre Fernando Morais ("A Ilha" e "Os Últimos Soldados da Guerra Fria"), Samarone Lima ("Viagem ao Crepúsculo", com relançamento de nova edição mais ampliada e outras imagens, para breve) e Leandro Nardoch (Guia Politicamente Incorreto da América Latina), onde três visoes distintas da ilha de Fidel, se confrontavam, "a América Latina: para além do bem e do mal". Só faltou chamarem os bombeiros para apagarem o incêndio. podem conferi-la:
imagem colhida na internet
Samarone Lima, Vandeck Santiago (mediador), Fernando Morais e Leandro Narloch

Os três jornalistas, "com posições bastante adversas, promoveram uma das mais polêmicas mesas de debate durante a VII Fliporto. A escolha dos convidados não se deu por acaso: todos possuem uma relação estreita com o continente, principalmente, com a ilha de Cuba". 

"A presença de nomes como Joumana Haddad", autora do livro, Eu matei Sherazade; Tariq Ali (escritor, jornalista, cineasta e militante paquistanês), "que não economizou palavras ao tratar da relação das grandes potências  ocidentais e o mundo árabe", quando foi apresentado ao público, pelo jornalista Silio Boccanera, no painel "Paquistão-Afeganistão - equívocos na guerra ao terror". Tarik, é um incansável "crítico dos sistemas neo-liberais que" promovem e "priorizam o poderio econômico em detrimento de sociedades democráticas"; Abdel Bari Atwan, "considerado um dos 50 árabes mais influentes do mundo, e que entrevistou longamente Osama Bin Laden", com coerencia e sensatez, "deixou de lado ideologias e paixões, Abdel frisou a importância da “Primavera Árabe” para a evolução política da região, sobretudo no que tange a democracia. “Sem dúvida, essa é uma das melhores coisas que aconteceu nos últimos 100 anos no mundo árabe, que estava impregnado de corrupção e ditadura, além de estar extremamente atrasado", deram à esta edição o caráter de a "mais política da história da festa". 
Deletei-me com o painel no qual participou Alice Ruiz, onde falou sobre a sua estreitíssima relação com o haikai, a poesia em letras de músicas, a poesia poesia, e suas parcerias entre outros, com José Miguel Wisnik, Alzira Espíndola,  Zélia Duncan e o saudoso "Nego Dito",Itamar Assumpção. Discorreu um pouco sobre o seu processo de criação, a estética do haikai, além da sua relaçao com seu companheiro Paulo Leminski (que era também haikaísta), e destilou doçuras e delicadezas.

Em algumas obras, Gilberto Freyre faz referência à árvore, ela também foi estrela da festa. Convém informar que fora do continente africano, é no Recife (e na Austrália), que se encontram o maior número de baobás, apesar da árvore existir também em ourtros países americanos, e nada como uma feira de literatura e arte para "plantar" uma consciência ecológica nas pessoas, e a importância dos baobás.
Podes apreciar um resumo da ópera aqui.
Infelizmente nem tudo  são flores, "bebê" (aliás, Cristiane Torloni, também compareceu à festa de literatura, dentre outros famosos globais), alguns mediadores, sinceramente, eclipsaram o brilho da festa, para a próxima prestar atenção em quem convida para tal função.

Alguns autores que participaram da feira: 
Deepak Chopra (abertura): “Cura, transformação e consciência”;
Frei Betto, em conversa com Bia Corrêa do Lago:“O processo da criação literária”;

Derek Walcott, Prêmio Nobel de Literatura, conferência: “O Viajante Afortunado – uma noite de poesia com Derek Walcott"; 
Silio Boccanera, em conversa com Geneton Moraes Neto:“Terrorismo real e fictício, antes e depois do 11 de setembro”;
Mamede Jarouche, Ioram Melcer e Edwin Williamson, com mediação de Rogério Pereira:“As 1001 noites (d)e Jorge Luis Borges".
E como ninguém é de ferro, no encerramento, fomos tomar uma gelada, para aliviar o calor.  Essa é por você também, Rui Pires!


meu amado Itamar Assumpção e Naná Vasconcelos - Fim de Festa


sábado, 12 de novembro de 2011

depois da fliporto eu volto!


eu juro, quando acabar a Fliporto, eu volto! i promise!

estou fora do ar  temporariamente... fui consumir literatura, respirar literatura!
semana que vem, visitá-los-ei, com todo carinho. e deixarei minhas inferencias...
por esses dias, estarei ausente. acabei de chegar de lá, estivemos com a viza maialene, adri, zé e joao antonio, estou feliz, a quem  interessar possa! entre uma cerveja e outra, rememoramos muito as nossas aventuras pelo velho continente, especialmente nossa vida em granada e no porto!
hasta la vista, babies!

fiquem com o meu amor, chico buarque de holanda de olinda do brasil e do mundo -  até segunda feira

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

uma quase ciranda drummondiana & o novo sementeiras

o esquema acima é uma suprema tentativa de contar como essa ciranda quase drummondiana começou...

a ana cláudia conhecia o dimas, e o geó que se conheciam entre si.
a val só conhecia a ana. que conhecia a magna, e a luna, de blogues
que também conheciam o geó e o dimas a partir da mesma ferramenta
e o geó conhecia a val por indicação da ana
que também a indicou ao dimas
comentários daqui, comentários dali
56 emails  - contados pela magna - depois
uns telefonemas por ali
o desejo manifesto de trocar a virtualidade por algo mais palpável

e hora da ciranda rodar
e em agosto com muito gosto o encontro aconteceu
e o encanto prevaleceu
e rodou a poesia
e a rede se formou
a amizade se firmou
numa 'pressa natural'
porque o amor não pode esperar
da generosidade brotaram belezas
subjetividades, individualidades
desses e dessas gauches na vida
um coletivo esborrando dialogicidades
se fartam no sementeiras da maga
da mágica magna

que escreve lirismo, que destila belezas, e oferece remanso nesse sementeiras que ora se-vos-lhes apresento, e convido-lhes para refestelarem-se e colherem frutos tenros, e confiáveis que ela nos doa de maneira tão generosa e abundante: http://sementeiras.com.br/

nessa seara, estão o torcedor coral, o blog do perrusi, e ainda vem mais coisa bacana por aí... toda essa excelência de layout fica por conta do  grande artista e poeta, dimas lins.

chico buarque canta flor da idade - dele e do paulo pontes

sábado, 29 de outubro de 2011

"as tentações de santo antonio"

"A palavra sangra
seu cântico de pó. Peixe
de sombra
mordendo as estrelas".
Casimiro de Abreu

As tentações de Santo Antão (detalhe) - Hyeronimus Bosch


não era abstrata
a tentação tinha forma
tinha fome
nome e ondulações

quanto mais se impunha distância
mais a tentação se aproximava
quedas abissais
profanação do templo

no tempo enquadrado
naquela gaiola de loucos
ruptura de acordos
louca tentação

no ardor do pecado
a (des)construção do caos
chamas e paixão
numa insana ode à tentação

a noite resistia
em meio à tanta desordem se sabia -
mas ainda assim o sol se abria
o dia amanhecia

e
no centro inviolável do incendio
se jogou um oceano de lucidez
e a tentação, a tentação

esse pecado mortal
essa labareda que brota
do centro da terra
lava de vulcão

incendiou um coração
que desatinou de vez
em estado de alucinação
ainda quis agarrar-se à tentação

mas foi engolido
pelo feixe de luz
enquanto voava com o peixe
que mordia as estrelas
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XXII - X- MMII
Tomei a liberdade de trazer o pensamento do Guma, no belo comentário-poema que ele fez aqui; assim como o  Dimas que também deixou seu belíssimo contributo, adoro esse exercício de intertextualidade:

Esse oceano de lucidez,
Tenho não,
Quem dera.

De onde estou,
Porque deixei de ter mar,
Aquele a quem confessava pecados originais,

Fico entregue às emoções,
mergulho fundo nesse poema
e me vejo do avesso,

massa de água
em constante movimentação,
tocando
lá ao fundo
no céu

onde vagueia um peixe
engolindo estrelas
e ganhando luz própria

Guma Kimbanda
......

Não há tentação sem pecado,
Dor sem saudade,
Noite sem lua.

Não há sede sem água,
Ódio sem mágoa,
Praça sem rua.

Não há como não ter desejo
Diante de tua pele nua.

Dimas Lins
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eric clapton - old love


sexta-feira, 21 de outubro de 2011

não 'deu no new york times'

                                                                                       "Não me falou em amor. Essa palavra de luxo".
Adélia Prado

Reclining woman in a white chemise - Ernst Ludwig Kirchner

... tenho raiva desses amores fajutos
que não dão no New York Times
que não valem qualquer notinha de jornal
ordinária

nem mesmo uma de rodapé
nem poema de dor

nem serenata na madrugada
esses amores efêmeros
que relegam à solidão
sobejos de insatisfação

restos de ilusão
náufragos da dureza implacável

do cotidiano sem graça
da frieza de uma decisão
que se nutrem na própria sozinhez
alternando a lucidez alheia

impondo a ferocidade da distância
essa que nenhum sentimento alcança

e decreta a morte
da esperança
que nem dá
no New York Times

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Olinda, X - X - MMXI

pink floyd - time

b17

Os cães não ladraram  os anjos adormeceram  a lua se escondeu. Dina Salústio em   Apanhar é ruim demais imagem colhida na internet, d...