domingo, 14 de dezembro de 2008

Paris...!


As luzes brilhavam, e eu extasiada admirava o que via. Entre emocionada e deslumbrada, um frio percorrendo a espinha, lágrimas silenciosas desciam pela face... Um filme pela memória, uma volta no tempo, há quanto, eu esperava por esse momento? Enfim chegou... Ali não havia sorriso mais feliz que o meu.
A saída do aeroporto Charles de Gaulle foi permeada por pensamentos, enquanto o trem percorria o caminho e me levava rumo ao coração de Paris (e o meu em festa), e ao hostal, uma certa tensão no ar. Quando saí do metrô, “tipos esquisitos” beiravam os arredores da estação, mas a experiência alertava-me para o cuidado, e fiquei atenta, enquanto não me senti segura, não relaxei. Em Paris estava muito frio, e isso me faz tomar mais cuidado, afinal os passos são mais rápidos, o olhar mais cabisbaixo e a coluna fica mais vergada...
...Eu estava em Paris. Repetia silenciosamente: estou em Paris! A cidade do meu imaginário, o lugar dos meus sonhos de pré-adolescência. Sem jamais ter ido lá antes, via com clareza algumas paisagens e monumentos. Paris, tão cantada e decantada por poetas e cantores. Quantas vezes foi ficcionalizada, filmada e serviu de palco de revoltas furiosas, revoluções, passeatas, reivindicações e amores avassaladores...? Fez e é História; desde quando Paris, a cidade das luzes, me habitava? E me alimentava esse sonho de um dia estar nela, tanto quanto ela estava em mim?
Mas a hora era inapropriada para algo além dos pensamentos, o Montmartre me pareceu familiar, e o tempo permitiu-nos apenas deixar a bagagem e procurar algum lugar onde pudéssemos comer algo e tomar um café...
Paris vestira-se de dourado para nos receber, as folhas das árvores eram de um amarelo ouro, a confundirem-se com a íris dos meus olhos, que de cor-de-cajá, passara a outonal.
Ah, como lamento a minha limitação, como eu queria dizer belezas sobre a mais bela cidade do mundo? Não sou capaz, mas o que aqui deixo são as emoções que essa cidade me causou na alma...
A chegada ao Palais du Louvre não foi tão logo, afinal, queria passar no Centro Pompidou, mas à medida que eu me paroximava da Quadra do Louvre, criava alma nova e asas nos pés, o coração era só felicidade: Musée du Louvre! Entre o rio Sena e a Rue de Rivoli, o seu pátio central, ocupado agora pela pirâmide de vidro, diante dela, não me contive e outra vez (sou chorona que é uma beleza), as lágrimas me acudiam para não me engasgar com o nó na garganta... Saí disparada olhando tudo, captando tudo, cada detalhe do prédio do museu... E, e meus olhos adquiriam brilho novo, a boca rasgada de contentamento. Já havia planejado o que queria ver, afinal, em menos de uma semana não dá pra ver nem a metade do Louvre. Óquei, ingressos comprados, mapa na mão, hora de realizar mais um sonho... Tá ali, ali! O caminho para a Monalisa, entre ela e eu, a escadaria Darú, eu não andava, mas voava para avistar a Vitória de Samotrácia, emocionada, admirada a contemplá-la... Não sei quanto tempo fiquei quieta ali, parada diante de algo que esperei por tanto tempo... Onde quer que se olhe, numerosas obras-primas dos grandes artistas europeus como Ticiano, Rembrandt, Michelangelo, Jacques-Louis David, Vermeer, Bosch, Jan van Eyck, Rubens, Van der Weyden, Frans Post, Van Dyck, Brueghel, Lucas van Leyden, Giotto, Fra Angelico, El Greco, Goya, Velásquez e tantos mais... Numa das maiores mostras do mundo da arte e cultura humanas... Hora de continuar o passeio, destino: Monalisa: mas ali está...! Ela, e eu, trêmula diante daquele pequeno (em diâmetro, uma tábua de álamo, um pouco entortada e milhões de rachaduras de tinta e verniz já ressecados) quadro, uma corda a separá-lo dos visitantes, segurança até os dentes, e eu ali, arrebatada, em oração, contemplativa e o choro já não mais contido...
Mal me refazia duma emoção, era tomada por outras, diante da Vénus de Milo, não foi diferente, o silêncio era de fato entrecortado pelo choro que fluía leve, livre, entontecido... Não era fácil conter-me e não contive-me, minha preocupação primeira foi sentir, e senti!
Saí pelo museu feito uma criança que ganha antecipadamente seu presente de natal esperado a vida inteira. Por onde olhava, andava, havia o que se ver: enormes coleções de artefatos do Egito Antigo,
da Civilização Greco-romana, Etrusca, Artes Decorativas e Aplicadas, Gravuras e Desenhos, Esculturas, Arte Islâmica, Antigüidades do Oriente Próximo, e...!
Rumamos para a Torre Eiffel, não sem antes me calar quando vislumbrei um pedaço do Arco do Triunfo, o olhar deslumbrado sobre o Museu de Rodin, o Pantheon... Muita coisa para um olho tão pequeno e uma alma ilimitada... Na Torre, mais emoção com uma pausa para um lanche, nos jardins que ladeam a avenida que leva à ela. Outro forte momento... Ali estava, exuberante, iluminada, cores azuis por toda ela, esplendorosa!
Dia seguinte, apesar de muito cansada, mas com uma energia vinda dos céus, porque adorava caminhar pela urbe, e assim aprendê-la.
Destinos: Sacré Coeur e Notre Dame de Paris. A brancura do Sagrado Coração é uma visão inefável, uma das mais belas vistas, Paris sob meus pés, descobrir sem pressa o Montmartre e observar o conjunto arquitetônico descansava meus olhos da imponência da própria cidade... Andar pelos boulevards, avenidas, ruas e pontes, enchia-me duma liberdade jamais imaginada. Era muito mais prazeroso andar a pé do que tomar um metrô, ônibus ou taxi. Queria viver o ar que ela emanava, queria entrar naquela atmosfera, e o fiz. A chegada à Notre Dame, com uma pausa na Praça da Bastilha (claro que outra vez a História está ali... Refiz todo o processo da Queda da Bastilha), espasmos de emoção me perseguiram durante todo o tempo em que estive na cidade. O Rio Sena serpenteando-a toda, a beleza das pontes não era compromtida pelo gris do cimento armado. Seguia como quem jamais houvera visto qualquer tipo de beleza, porque não há, a minha concepção de belo agora se dá antes e depois de Paris.
... Parada diante da exuberante Catedral Gótica mais importante do mundo, sentia-me tão pequena e tão grande ao mesmo tempo. Fiquei fantasiando o Quasímodo e a Esmeralda se embrenhando pelos recantos, portas, labirintos da Catedral... Acorda, querida! Adentre a igreja e vá se deliciar com a arquitetura e a beleza desse monumento.
À noite, hora de caminhar pela av Champs Elyseés, que iluminada para o natal, ganha ainda mais um aspecto irrefutável de magia... Enquanto flanava pela avenida, o riso iluminava a cara, olhava tudo como se acabasse de sair de uma cegueira inexplicável. Ao final da avenida, na Place Etóile, a confluência de várias ruas e o Arco do Triunfo no centro: deslumbrante! Saí como louca circulando e fotografando todas as faces do Arco.
A cidade encanta pela beleza, e está em todos os recantos, bares, cafés, na sua arquitetura, exuberante, imponente, por todos o lados, suas perspectivas urbanas e suas avenidas, enche as nossas vistas de uma beleza descomunal, sem falar nos seus vários museus e monumentos. Um encantamento que nunca acaba... E oferece a todos, toda forma de poesia.
Por um momento senti-me em meio às manifestações do maio de 68 (“alguns filósofos e historiadores afirmaram que essa rebelião foi o acontecimento revolucionário mais importante do século XX, por que não se deveu a uma camada restrita da população, como trabalhadores ou minorias, mas a uma insurreição popular que superou barreiras étnicas, culturais, de idade e de classe”).
Mas Paris também têm o outro lado da moeda, conflitos sociais de toda ordem, causados pelas divergências raciais, étnicas. Os imigrantes cada vez mais qualificados, já não interessam à cidade, filhos e netos desses imigrantes que têm dupla cidadania, não encontram espaço na cidade, são sobrantes, diante da configuração do mercado de trabalho. Por outro lado também, não desejam voltar ao país de origem dos seus familiares porque também já não são de outro lugar, que não aquele que não os querem lá. Qualquer um é um concorrente para os poucos postos de trabalho.
Tanto na Torre, quanto nos metrôs, ruas e outros monumentos, os policiais estavam lá armados até à quinta geração, sempre em número igual ou superior a três, atentos e olhando o derredor como se qualquer um fosse um inimigo em potencial. Muita tensão, no ar e nas ruas, era tangível. Vidros estilhaçados nos metrôs, gente deitada nas ruas, trânsito caótico, muitos condutores de veículos mal educados, desrespeitando a faixa de pedestre, uma batalha desigual entre pessoas e automóveis. O que desmistifica certos estereótipos com relaçao às cidades européias. Tao “normal” como qualquer grande centro.
Mas à parte dos problemas e tensões, Paris é um lugar que se deve ir, voltarei mais vezes e com mais calma, quero viver outros momentos lá e visitar outros lugares que não pude visitar em funçao do exíguo tempo. Paris está incrustrada em minha alma!
E cantarolava baixinho:
"Et si tu n'existais pas,/ Dis-moi pourquoi j'existerais./ Pour traîner dans un monde sans toi,/ Sans espoir et sans regrets./ Et si tu n'existais pas,/ J'essaierais d'inventer l'amour,/ Comme un peintre qui voit sous ses doigts/ Naître les couleurs du jour./ Et qui n'en revient pas./ Et si tu n'existais pas,/ Dis-moi pour qui j'existerais./ Des passantes endormies dans mes bras/ Que je n'aimerais jamais..."

**Et si tu n'existais pas:
( Pierre Delanoé, Claude Lemesle )
Com o Joe Dassin...
Mas qualque canção que queiras em Paris, pode...
** Com a devida ajuda da minha amiga francesa, Annie Lacour, porque eu não conseguia lembrar toda a música e a deficiência no idioma não colabora também. Annie, merci beaucoup, mademoiselle!


terça-feira, 11 de novembro de 2008

Dos tempo(rai)s idos...

(imagem recolhida da net)

Enquanto atravesso meus temporais
não sabes dos meus ais
das minhas solidões
dos meus sins, meus nãos

nossos olhos ainda que dentro sejam
por ora não estão
onde ninho
sinto-me pássaro pequeninho

voando alto com a minha dor
dor imensa de saudade
dor intensa
ah, que maldade

daquelas dores inteiras
que quem foi chorou
quem ficou também
e recomponho asneiras

na voz do vento
ouço o eco do meu riso
o farfalhar de alguns sonhos
e engulo o tempo

exijo dos céus alguma satisfação
até quando ficarei
sem água, sem vinho, sem pão
o azeite da vida?

ah que idéia tão partida
descrever uma despedida
que nem se concretizou
e o tempo é de feridas

ele passa e eu passo sem ele...


Que ironia, eu sempre me proclamei livre (e sou até certo ponto), mas agora sou prisioneira do tempo. Cadê o tempo? Alguém sabe, alguém viu? Não me sobra quase nada e já estamos nas preliminares natalinas... Esse textículo em forma de poema é de tempos idos, idos.... Mais um “da séria série”: Memórias da Boca.


E escuto sem cessar a Suzana Salles: Valsa dos Olhos Costurados (Lincoln Antônio e Marcelo Mota Monteiro), sintam-na:


“Os meus olhos costurados lado a lado/ Te olham dentro, pelo avesso/ No começo a noite cálida além/ A graça dessa dança/ A tez de cera sob a lua baça/ Um brinde à treva que hoje vem valsar/ Queda em meu lugar/ Neste salão nunca mais trançar os pés/ E ver que o mundo é manco e gira e tomba/ Pra que eu alce mais/... No começo a noite cálida além/... E vem costurar o meu no teu olhar/ O fio da dor/ Que a vida nunca mais há de desenredar”

http://cliquemusic.uol.com.br/artistas/artistas.asp


terça-feira, 28 de outubro de 2008

Quero

(imagem da web)


Quero:
a deselegância da pressa
amar sem promessa
o frêmito do desejo
mergulhar no teu beijo

tua língua ardente
tua vontade pungente
ser teu banquete
ser tua vontade e deleite

ser o fogo que te queima
ser a água que te sacia
ser a tua fome de todo dia
ser teu delírio e tua fantasia

ser tua pista de pouso
ser tua loucura e tua magia
ser teu destino e tua harmonia
ser teu riso e tua alegria

ser a volúpia que te agoniza
a nudez que te catequiza
ser teu vício e desvario
ser tuas esquinas e escadarias

ser teu caminho guardado do mundo
o silêncio das madrugadas
a leveza dos teus passos
revestir-me em teus abraços

tuas mãos por toda minha extensão
tua boca em meu abismo
bebericando meu licor
teus olhos tontos a contar o ardor

ser a causa e o prenúncio
da tua dilatação e teu crescente
esfregar-me em tua pele reluzente
grunhir fêmea ardente

... E engolir teus espasmos!


Tem uma manauara que se chama Eliana Printes e eu gosto imenso da voz dela, além dos novos arranjos que ela faz à velhas canções, de todo modo, descubram, dou-lhes uma pequena amostra:

Morda minha língua (Péri), com a Eliana Printes

“O que é que tá passando pela sua cabeça?/ O que é que tá pegando pra você entender?/ O que você ouviu você agora esqueça/ Mesmo que pareça que vai desaprender/ Arranje outra maneira de tratar do assunto/ Deixe de manha, deixe da abstração/ Não pense na parte, pense no conjunto/ Não caia no buraco da desatenção/ Fale minha língua, morda minha língua/ Pra você aprender tem que experimentar/ Fale minha língua, morda minha língua/ Pra nossa gramática se misturar...”

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

poeMinha!

(imagem recolhida da net)


Desde cedo, desde sempre
doce era a sede que tive
dos lábios e beijos teus

desde sempre, desde então
longa foi a espera dos passeios sem destino
eterno desatino de segurar tua mão

desde cedo, desde o começo
mesmo de olhos vendados
me vira(vas) do avesso

desde sempre, a qualquer hora
teu riso, me ilumina (va) sem demora
tua face, minha face, os nossos momentos

desde agora ao romper da aurora
sou gaivota barco quilha
líquida mar escorrendo

minha língua percorrendo
percursos até a tua virilha
minha boca fim de noite pausando então

gestuais rituais emoção
encantado ribombante o coração
atravessando mil milhas

meu leque tua escolha
nossa raiz, matriz
assinado em folha

teu cetro entre pernas
a me fazer rainha
e tu aos meus ouvidos murmurando

... minha, minha, pra sempre minha!


A canção, Abre Aspas (Nô Stopa/Marcelo Bucoff), continua a minha poética:


se eu fosse um poeta
e entortasse a minha linha reta
você me daria um ponto?
ponto de interrogação
se eu pusesse meus enfeites
o prazer do meu deleite
você me daria um ponto?
ponto de interrogação

abre aspas e me leva nos meus versos que são seus
abrevia a minha história
se o mundo anda tão depressa
eu não tenho pressa, vou perder a hora
vou perder o sono,vou passar em claro
claro que eu não vou passar em branco

abre aspas e me empresta os seus olhos de ateu
alivia a minha história
se o mundo anda em linha reta
eu ando em linha torta, eu ando do meu jeito
vou andar à toa, vou ficar na proa
cansei de ser marujo raso
vou andar à toa vou ficar na boa
se o mundo espera então eu faço.


terça-feira, 7 de outubro de 2008

Mantra

(imagem recolhida da net)



A composição do nosso universo, cosmogonia
Teu(s) permanente(s) movimento(s)
Regendo-nos, bela sinfonia
Alimentando-nos desejos
Que inesgotáveis, jamais nos sacia

Como um mantra teu nome vivo em minha boca
Nós dois, nossa consagração
Somos: o sol, o relâmpago, o fogo e o fluxo da água
Além estamos, mudras
Flor de lótus, eterna transfiguração

Teus braços minhas residências ruras
Meu lugar de pertença
Nossos beijos, minha sentença
A entrega, absolvição
Seu cajado em ritual, libertação

Nossa quarta verdade nobre
Mente corpo coração
Anelando desejos e sentidos
sons, aromas, sabores, sensações
O caminho do meio, nossa superação

Tua incursão em meus veios
Estrada natural paisagens que teu veludo olhar acaricia
Pausando com os lábios
Passeando a língua nos meus seios
Meu corpo tua moradia




Ah, na última hora meti nos meus porta-cedês, uns do Francisco José Itamar de Assumpção, naturalmente o lucro é todo meu… Escutem e dobrem suas fichas, muito pertinente à algumas relações, mundos afora… Ouçam e curtam:

Olho no Olho – Itamar Assumpção e Vange Milliet

“…Outdoor raio fax ligado bom mesmo é rosto colado/ Cartão postal é bacana mas bom mesmo é ter você na minha cama/ Mensagem não é consolo bom mesmo é ali olho no olho/ … / No berro pombo correio seja celular ou meio/ Painel faixa ou mural bom mesmo é o ato carnal/ … / Poema escrito na roupa/ Bom mesmo é boca na boca/ … / Por átomos ou carro de bois/ Bom mesmo é orgasmo à dois/ … / Bilhete carta recado um bip sempre ocupado/ … / Bom mesmo é rosto colado…”

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Porque hoje, quero a palavra interdita aqui

(imagem da net)


Hoje, quero rasgar minhas vestes de seda
Despir-me das palavras doces
Não ouvir a canção que o vento me trouxe

Quero deixar à mostra
A minha branca tez
Inventar uma sisuda face, e palidez

Quero sentir solidão
Ter desertos e aridez
Atar-me por um fio e não achar o chão

Quero a fome de quem não tem manjares
Em minhas abundantes águas, escassez
Hoje, eu quero cinza em meus poentes lilases

Quero a desesperança
Minguar um par nessa dança
Hoje, eu quero perder a razão

Quero altares sem devotos
Que os servos de Hirão
Os servos de Salomão

E todos que hão de vir
Sejam-lhes folhas brancas, desvalidas
Todo o ouro de Ofir

Porque hoje, quero a palavra interdita aqui.



Nham! Hoje, acordei cantarolando o Faraco, nem precisa dizer o porquê eu adoro a voz dele e as composições. Entra aí, escolhe e curte: http://musicoteca.blogspot.com/2007/02/mrcio-faraco.html
E como sou excessiva, a letra vai na íntegra, porque o Faraco merece, porque eu sou pela diversidade, porque eu gosto de todas as gentes, porque eu adoro as pessoas, cada uma com seus jeitos, formas, cores, saberes, sentires, falares e amores no mundo.

"Pensava que o mundo era meu, / Estava muito enganado / Ele é de um americano, / Americano soldado / Que quer um mundo fundido, / Fácil de ser governado / Que possa ser destruído e assim ser preservado / Vamos viver acuados nessa democracia / Os telefones grampeados pelos agentes da C.I.A / O nosso amor será segredo de estado / Se não for proibido, se não for censurado / Já tem funk no carnaval / E a Barra só fala inglês / Tudo isso broke my heart / Because I love my português / O que vai ser da gente tomando cerveja quente / Comendo feijão de lata, chutando bola oval? / Oh, my friend, por que queres um mundo igual / Se a riqueza está no fato de tudo ser diferente?"
Mundo Oval - Márcio Faraco.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Pergaméne

(imagem colhida da net)

Quando em branco eu era
Eva
Despida de folhas e pecados
Matéria
Bruta, prima

Nuances naturais
A volatilidade da fala
Segredos
Tabuletas de argila
De pedra

Papiro
Pergaminho
Pergaméne, pergamena
Velino (torvelinho)
Manuscritos

Volumen, códex (nossos)
Gustavus, Alexandrinus, Sinaiticus
Eu: teu texto Massorético
Septuaginta
Teu Palimpsesto

Quando me desenhas de novo
Deixas tuas riscas
Linhas intermediárias
Da primeira palavra
A transversal

Todos os sentidos
Expressos, diversos, extensos
Sedentos
Onde antes havia incerteza textual
Corrigimos, anotamos, preparamos

Quando me tocas
Nos meus mistérios
'Umlauts'
Pontos duplos,
Triplos

Fazes-me a tua escrita
Leitura sagrada, eterna
Teu recitatio
E é com o peso da tua prensa
Da tua lâmina

Que a nossa mistura
Se faz homogenea
Em mim já dissolvida
Nós em meio às nossas águas
Voluptas

E o prazer com que nos inscreve
Letra uncial, carmesim
Descrevendo em todos os espaços
Retendo cada pedaço
Da tua pele em mim

Construindo mais e novos contextos
Histórias, memórias
De ruídos distantes e presentes
Nosso livro caligrafado em ouro
Capa de marfim


É certo e não há como negar e nem vou negar. Ando numa seqüência jazz, mas como me furtar disso? Se todo dia necessito d´Ella? A voz aveludada, forte, marcante, inesquecível, única… Que canta pra nós, I ´m Beginning to see the light (Duke Ellington, D. George, Johnny Hodges, Harry James). Ouçam:

“I never cared much for moonlit skies/ I never wink back at fireflies/ But now that the stars are in your eyes/ I'm beginning to see the light/ I never went in for afterglow/ Or candlelight on the mistletoe/ But now when you turn the lamp down low/ I'm beginning to see the light […]
Then you came and caused a spark/ That's a four-alarm fire now/ I never made love by lantern-shine/ I never saw rainbows in my wine/ But now that your lips are burning mine/ I'm beginning to see the light”

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Quando fui labirinto

(imagem da net)


Quando fui labirinto
Pelas tramas do destino
E em devaneios
Tu vinhas a mim
Despido do tempo
Entregue
Vulnerável
Adentro
Lentamente
Eternamente
Nu enfim...

Quando hoje entregues
Tu vens e eu vou
(Entremeados)
E as horas deslizam
Suaves, suores, sabores, saberes
Entorpecimento e despertar
De todos os sentidos
Tuas mãos tateando minha geografia
Tua boca percorrendo a minha fenda
Meus vales de carne
E sem fronteiras me acaricia...

Na passagem
Neons em sol
Luz dourada na janela
Quando te cobres comigo
Eu deitada sobre ti
Enlaças-me pela cintura
Nessa fusão
Nossos corpos em comunhão
O desejo satisfeito
Sem jamais chegar ao fim
Apenas tu possuis-me assim...

Nessa nossa apoteose
De nunca mais se ir embora
Porque já não é(s)
Nem somos mais só um sonho
Absorvidos
Perdidos (e encontrados)
Eu: a outra metade de ti próprio
À parte de ti, que procuravas (Tulirupi)
Tu: minha parte indissolúvel
Um dentro do outro
Ritmados pelas águas
Nossas peles mesma temperatura
Igual textura
A pressão do teu quadril em meu ventre
E tua espuma branca escorrendo
Do meu entre...


Embalados de, com e por amor, mas sempre com outras músicas compondo nosso cenário.

Dizem que ele economizava nas notas e improvisava com sentimento... Teoria à parte, estou absolutamente tomada por ele, Chesney Henry Baker Jr. Qual a canção? This is always (Gordon / Warren).


Escuta aqui, em respeitoso e absoluto silêncio, e vá por onde, como e com quem quiser....

http://www.lastfm.com.br/music/Chet+Baker/_/This+is+Always?autostart

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Da música...

(imagem recolhida da net)

Como peças
Instrumentos musicais
Ragas Escalas Tessituras Formas
O que está mais presente
O que é ornamental
Melodias de subir
(aarohanam)
Melodias de descer
(avarohanam)
Melodias de permanecer
(aparohanam)
Improvisações
Infinitas variações...

Cinco, dez, vinte e cinco
Teclas pretas do piano
Nossa freqüência
Nosso timbre
Mil tons mil sons
Modulação
Tuas cordas esticadas
Vibrantes
Ativadas
Rumam
Ao meu clavicórdio
Nas nuances dos teus toques
Flutuação...

Quando no claustro
Executas teu solo
As terças não seriam justas
Se tu amor meu
Afinado e afinador
Não encurtasse uma ou mais quintas
Para chegar às nossas oitavas perfeitas
E no intervalo das notas
Transe, espasmos
Tocadas em várias tonalidades
Nosso ritual
Meus sustenidos
Teus bemóis
Nosso bequadro
Organologia
Nós: mesmo ritmo, mesma SINF(T)ONIA...

O que me extasia no momento: Concerto para piano nº 2, em Fá Menor, opus 21. Ouçam....

De quem?


"Chopin era um gênio de enlevo universal. Sua música conquista as mais distintas audiências. Quando as primeiras notas de Chopin soam por entre o salão de concerto, há um feliz suspiro de reconhecimento. Todo os homens e mulheres do mundo conhecem sua música. Eles amam isso. Eles são movidos por isso. No entanto, não é uma "música romântica", no sentido byroniano. Não conta histórias ou quadros pintados. É expressiva e pessoal, mas ainda assim um arte pura. Mesmo nesta era atômica abstrata, onde a emoção não está na moda, Chopin perdura. Sua música é a linguagem universal da comunicação humana. Quando eu toco Chopin eu sei que falo diretamente para os corações das pessoas!"

Arthur Rubinstein

Não há o que acrescentar, apenas sentir. Sintam também.


sexta-feira, 4 de julho de 2008

Do equilíbrio...

(imagem recolhida na internet)

Não é () na palavra
Que buscamos a força mágica
Do amor que nos rege
Compomos um destino
Meu riso aflora
Ante o teu sorriso de menino
Co-ta-par-te!
Do sagrado no mundo
Nada é acessório
ilusório
Temos o imprevisto
o calculado
presente
passado
Concatenação
Contraponto das linhas
Que costuram o coração
Borda(n)do em sentimentos
Ouro
Aço
Uno
Múltiplo
Aerólitos
Estrelas
Desde a pré-história
Sabíamos:
Quem somos
O quê
Como
Porquê
Quanto
queremos.
E quando o afastamento
A vida no sombrio distanciamento
Lanças no peito
Chamas, labaredas
Entorpecimento
Quando o regresso
Sol da tarde na janela
Ofereço-te meu regaço
Aninha-me em teus braços
Nesse equilíbrio
Harmonia
A eternidade não bastaria
Pra te cantar melodias
Sensações envolventes
Novas e familiares simultaneamente
Da tua garganta
Até então silente
Um sussurro, um grito:
Amo-te,
Eternamente!


Tenho fases de releituras, como agora, estou mergulhada vertiginosamente, em Avalovara – Osman Lins, deu pra sacar, não?

E Benny Goodman, Body And Soul, compondo o cenário. Uma minúscula mostra aqui:

http://www.lastfm.com.br/music/Benny+Goodman/_/Body+and+Soul




terça-feira, 24 de junho de 2008

Da leveza...

(imagem da web)
O espetáculo do mundo
Nosso
Ora em movimento
Ora estático
Êxtase
O ritmo dos corpos
Do pulso
Voragem
Coração
Ágil
Impetuoso
À opacidade do mundo:
Luz, cor, calor, sabor
Arrazoar de amor
Anteparo dos olhares
Medusas
Perseu
Meu
Que caminha em nuvens
No vento
Que arranca veloz
Mordaças de pedra
E cavalga
caValgamos
No Pégaso
Pego o azul
Leveza
Me (e) leva
Contempla-me
E como ninfa
Enfeito-me
De câmulos, corais
Meus olhos
Teus olhos
Dois brilhantes
Espelho
Em ti meu reflexo
Leveza
Me (e) leva
Noutros espaços
(teus braços)
Noutro universo
(meus versos)
Noutra lógica
Que não se dissolve
Como vapor condensado
Algodão doce
E adoça
O nosso céu
da Boca
Todo dia.

P.S.
A minha obviedade é santa, relendo Italo Calvino: Sei proposte per il prossimo millennio, nem preciso dizer a origem da intertextualidade, pois não?
O que ouvimos? Não, não é nenhum dos estilos que compõem o forró. Nesse dia de São João escutamos: A Love Supreme, John Coltrane, McCoy Tyner (piano), Jimmy Garrison (baixo) e Elvin Jones (bateria). 39:36min de puro êxtase. Vá às nuvens, ou ao céu...

segunda-feira, 26 de maio de 2008

"Por um fio"

(imagem colhida na internet)

Nos vários eus de uma flor
Um desenho, um amor
Dos tantos movimentos
Muitas composições
Desambiguação
Harmônicos sons
Diversos tons
Afinada sonata
Intensa exposição
Desenvolvimento sedução
Ton sur ton
Recapitulação...

De cada um extraía
Intensidade
Emoção
Quando em conflito dor
Espiral e confusão
Passos acima do chão
Mergulhava em turbilhão
Esfacelava-se em mil pedaços
Vivia um silêncio ao contrário
Temor conflito pudor
Vastos... Fartos
Que universo tão sedutor

E nessa sinfonia
Cada voz.. Homofonia
Contraponto... Contradição
Que tão minuciosa trama
Tecido em filigrana... Fiado tão sutil
Que costurava vertigens
Corda & Violino
Bordando indefinição
Despertando um mundo
Nesse insensato coração
Por não encontrar saída
... Deixa no ar esta canção!

Estou assim, num tempo Wisnik de ser, entre outros seres que escuto...

Por um fio (José Miguel Wisnik e Paulo Neves)

"Por um fio eu me parto em dois/ Aceito o que a sorte dispôs/ No meu caminho/ Vejo a vida, a morte e o depois/ Não vou viver jamais sozinho/ Porque sou dois/ Sou mais que dois/ Sou muitos fios/ Que vão se tecendo/ Com a voz do outro em mim/ E quem canta não sabe o fim/ Com medo e alegria/ Ele anda por um fio."


quarta-feira, 14 de maio de 2008

Um vestido na parede

(imagem: keith card)


Sentia-se Cinderela
Antes da meia-noite
Achava-se a mais bela

Ora em fantasia
Ora em alegria
Ora em agonia

Ao acordar o dia
O labor a despia
Enfeitada de melancolia

Só lhe restava o vestido
Pendurado na parede
dos seus sonhos.
P.S.
*Maricotinha, uma homenagem para o seu vestido cor do arco-íris...!


Som e Fúria - José Miguel Wisnik e Paulo Neves.

Ouvir o José Miguel Wisnik é acalantar minha alma.
"Dura vida/ Mais que o sol/ Mais que o tempo/ Mais que o sonho/ Dura durante infinita em som e fúria/ Teu propósito/ É durar/ Na lembrança/ De ti mesma/ E a doçura/ Só de uns olhos/Conta mais que o tempo todo das estrelas."

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Três Faces

(imagem da net)


Como bicho
Em pleno cio
Pelo
Crina
Ventre
Sexo
Cavalgada
Nas estrelas
Desatino
Luxúria
Desejo
Gozo
Santa
Pura
Puta
Messalina
Mulher
ou
Menina

Mas tua língua em meu corpo
Alimento em nossos dias
Minha pele
Tua textura
Meu cheiro
Tua loucura
Minhas águas
Tua secura
Tua avidez
Minha fartura
Meu gemido
O chamado
Tua canção
Meu cântico
Sedução
Vértices
Tridimensão

Como pássaros
Em
Pleno(s)
Vôo(s)
Sem roteiro
Pontual
Nosso encontro
Seminal
Nossa busca
Eternizada
Mumúrios
Uivos
Evocação

No espaço
Das três faces:

Amor
Cumplicidade
Realização!


Joe Cocker nos (en)canta: You and I... Foi feita pra nós, foi!

"Here we are on earth together/ It's you and I/ God has made us fall in love, it's true/I've really found someone like you/ Will it say the love you feel for me, will it say/That you will be by my side/ To see me through/ Until my life is through/ Well, in my mind, we can conquer the world (...) In love, you and I, you and I, you and I"

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Insensatez & Liberdade

(imagem da net)


A tua alegria me acorrentou
A insegurança
insensatez
Libertou.




O que eu escuto? Aqui, ó:
Adoro a voz doce da Ceumar.

Galope Razante - Zé Ramalho-1978:
A sombra que me move/ Também me ilumina/ Me leve nos cabelos/ Me lave na piscina/ De cada ponto claro/ Cometa que cai no mar/ De cada cor diferente/ Que tente me clarear/ É noite que vai chegar [...] Debaixo de sete quedas/ Querendo me levantar/ Debaixo de teus cabelos/ A fonte de se banhar/ É ouro que vai pingar/ Na prata do camelô/ É noite do meu amor... Também vale conferir com a Amelinha e o Zé.


quarta-feira, 30 de abril de 2008

O Pedido

(imagem recolhida na web)




Nesse lugar que é teu
Onde (nos) fizeste chegar
Porque neste percurso
Não temeste naufragar


Reconheço-te:

em cada fundura da minh ' alma
em cada toque
no silêncio
Reconheço-te em cada olhar

O que um dia foi
Indecisos amores
Ausentes pudores
Intensos profundos mares a desbravar

Em noites de tormentas
Negras nuvens a espreitar
Intensidade raios trovões
Chuvas a despencar

E quando no cais ancorava
Céu azul se anunciava
Meu coração entoava
Canções de extasiar

Tu dentro de mim

Festas protagonizar

Eu em tua rainha
Me coroar.

E todos os dias canto essa música pra ele:

Vim, vim, vim/Eu vim, oi/Vim, vim, vim,/Eu vim.../Atravessei o mar/Vim trazer enfeite/Me vesti rainha/E dançar a festa [...] Atendi teu pedido e vim.../Atendi teu pedido e vim.../Atendi teu pedido e vim.../Atendi teu pedido e vim...

Como se chama essa música? Pedido - Junio Barreto e Jam Silva - Lindamente cantada pela Roberta Sá, que tem muito tempo pela frente pra mostrar o quanto sabe cantar.

Confere aqui:
http://www.robertasa.com.br/index_pt.html



sexta-feira, 18 de abril de 2008

O QUE VOCE FAZ PARA ACABAR COM O ANALFABETISMO NO BRASIL?



Dos meus pais sempre sofri influência direta em tudo, para além, muito além da genética... Uma das grandes preocupaçõe deles sempre foi o de nos proporcionar o melhor, de acordo com as suas posses...
E para isso contrataram uma professora do centro urbano mais próximo da nossa fazenda e a sala de aula era equipada com as "ferramentas tecnológicas" da época: quadro negro, gizes coloridos, cartilhas, tabuadas, papéis, réguas, cadernos, lápis coloridos, grafites, cartolinas, apagadores, cola, tesouras, revistas "Cláudias", jornais.... E uma palmatória! Que eu sempre escondia e deixava a professorinha nervosa... Eu tinha horror à essa prática violenta e autoritária, mas fazia parte do contexto.

- Mas camarada Jota Jota, deixa todos os outros coordenadores escolherem sua área de atuação, como sei que ninguém vai querer mesmo a Região 4, que é canavial a dentro, os Engenhos são sempre renegados... Se alguém quiser, aí vamos ter que acordar...

- Camarada V.C., embora eu particularmente preferisse que você assumisse a área dos Engenhos, não sei se isso será de fato o melhor pra você. Sabes das dificuldades das estradas, no inverno é impossível fazer qualquer formação, visita ou o que seja! Depois os horários são quase sempre noturnos, depois que os trabalhadores e trabalhadoras voltam do eito. E daqui pra Olinda, demora tempo, além do tempo pra chegar nos engenhos, as reuniões, as formações... Quando chegares em casa, lá se vão pra bem 01:00h...

- Tás me desconhecendo, camarada? Eu lá sou de correr da luta? Não abro mão dos "meus" engenhos (tenho uma relação de posse com os espaços aula/espaços educativos).

- Então tá! Os engenhos são seus.
- E o sonho da justiça social é nossos e fazê-lo acontecer, também.

Foi o que eu escolhi fazer na vida, pra vida: Educação Popular e Educação de Jovens e Adultos, seja nos espaços formais, seja nos não-formais, desde que seja com essas gentes.

Uma educação pautada nos movimentos populares, de resistência, uma educação como instrumento de mudanças, educação como elemento primordial e fundamental para o processo organizativo das massas incluídas de forma perversa na sociedade, educação para a classe trabalhadora, educação como um processo e ferramenta essencial de construção de cidadania, muitas vezes subtraída por quem está no poder e deveria garantir esse direito: "É dever do Estado brasileiro garantir a todos os cidadãos o ensino fundamental gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria" - Artigo 208, inciso I, da Constituição Federal de 1988.

Mas para mim, para a cidadã, a mulher, a mãe, a profissional, a amiga, a filha, a esposa, a aluna, esse compromisso não é só do Estado Brasil, é também uma responsabilidade nossa, de quem não está na esfera do poder público, mas temos poder tanto quanto. Embora as autoridades brasileiras devam mobilizar esforços, aplicar os recursos financeiros e honrar sua existência, para eliminar o analfabetismo e tornar universal o ensino.

Trabalhar com Educação Popular e Educação de Jovens e Adultos, é mais que uma realização profissional, é o sentido o significado e a significância da minha existência, é o "meu estar sendo no mundo". É com esse trabalho que ajudo a construir identidades, relações desses sujeitos com o mundo do trabalho, da cultura, com a perspectiva de contribuir para um mundo melhor, mais justo, mais humano, mais eqüitativo e mais feliz.

Só quem trabalha com as gentes da cana-de-açúcar e participa dessa realidade, sabe o quão dura e nada doce, ela é. A exploração do homem pelo homem não é apenas um jargão político-histórico-social, é algo real e doloroso; tanto para quem vive essa relação de subserviência, sujeição, semi-escravidão; como para quem não aceita essa exploração secular, como eu e tantos (as) outros (as) companheiros (as) de luta. Na Zona da Mata de Pernambuco, poucas coisas mudaram. A terrível realidade da cana não é só mote de novela de uma poderosa rede de tv no Brasil não, é vida real; gerações são exploradas sem nenhuma perspectiva de mudanças, a caldeira em chamas não queima apenas a cana, mas a vida, o futuro de homens e mulheres que têm seus direitos subtraídos por pessoas que são esclarecidas (pasmem!), um ciclo desumano. Além de comprometer a capacidade de uso da terra, tornando-a mais pobre a cada colheita da cana....

... E tenho um pedido em particular para os (as) educadores (as) do nosso país: vamos nos comprometer "com a construção de outras relações econômicas, políticas, institucionais, interpessoais, emocionais e cognitivas" (especial menção ao meu Mestre Joao Francisco de Souza, entre outras atividades, era professor da UFPE, e coordenador do NUPEP - Núcleo de Pesquisa e Extensão em Educação Popular e Educação de Jovens e Adultos, da Universidade Federal de Pernambuco, com quem tive o privilégio de trabalhar e com ele aprender muito), e foi assassinado na noite de 27 de março, em Camaçari, quando ia fazer uma Formação.

Por enquanto saí dos espaços-aula-formações, porque estou num outro projeto, vim aprofundar minhas pesquisas, aqui, em três anos e meio, retorno para o meu país, para os canaviais, para a Zona da Mata Sul/Norte do meu Pernambuco, para as minhas minhas gentes, as minhas cores, os meus sabores...
A influência começou lá na fazenda dos meus pais, e ao longo da minha vida fui sofrendo outras, e ao optar por Educação Popular e Educação de Jovens e Adultos, demonstro a minha escolha para toda a vida, não concebo uma educação indiferente às necessidades dos (as) educandos (as), que por um motivo ou outro estão, estavam e poderão estar fora dos processos educativos, sejam eles formais ou não. É uma escolha política. A minha escolha político-pedagógica.

Educação Básica para quem precisar e desejar; "Educação Básica para as maiorias das populações rurais e urbanas de nossas sociedades pluriculturais, que desejam se transformar em multiculturais por meio da interculturalidade, para que a sua transculturação seja uma transfiguração do humano da humanidade e da natureza, e todas e todos nos tornemos mais ricos, material e simbolicamente." (SOUZA, 2004).

Sim, eu tenho o nefelibatismo em mim. Mas talvez seja o meu mote.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Teu corpo esse altar sagrado

(imagem colhida na internet)


Quando entras em mim
e arranha-me por dentro
com tua gula e insaciedade
insanidade
E recobre-me com teus beijos
candura
loucura
A saborear-me a fruta vermelha
madura
Intumescida inflada
Não existe em mim:
pedaço que não se entregue
que não se deflagre
se declare
Na sintonia da tua impetuosidade
Dilacerando num toque
A barreira da fímbria
Entre nós interposta
Minha língua a devorar teu corpo
A navegar em teu barco
Emergir e explodir em teu mastro
Tuas mãos a prender-me às ancas
Eu enloquecida em nossa dança
Tu a alimentar-me desejos
nos teus
em fúria
Teu corpo uma extensão da minha contextura
Nele inscrevo as marcas da nossa paixão
Mordidas deglutição
Ranhuras de tesão
Olhar adentro
na alma
na carne quente
fusão
Nós um no outro
Desabados satisfeitos
Em todas as dimensões
Com a voz macia a me dizer
(e outra vez me enlouquecer)

:
"Teu corpo é meu templo sagrado
é ele o altar onde me ajoelho
tua excitação, teu sumo
teu vinho
minha embriaguês
teu cheiro
minha lucidez
tua pele branca
translúcida
tua maciez
convite à minha rigidez
revelando tua altivez
Teu corpo, esse altar sagrado
onde cultuo a minha sensatez".

Com a Ella Fitzgerald, cantando: My Happiness,

"Evening shadows make me blue/ When each weary day is through/ How I long to be/ with you/ My happiness/ Every day I reminisce/ Dreaming of your tender kiss/ Always thinking how I miss/ My happiness/ A million years it seems/ Have gone by since we shared our dreams/ But I'll hold you again/ Ther'll be no blue memories then/ Whether skies are gray or blue/ Any place on earth will do/ Just as long as I'm with you/ My happiness..."

quinta-feira, 27 de março de 2008

Subjacente

(imagem colhida na web)

Quando no subjacente
Germina
Explodindo em mil sementes
Atravessando as dores
Oceanos
Mares
Estrelas incandescentes
Nas madrugadas ardentes
Dos dias indolentes
Agora ausentes
Das intensas manhãs
Espantadas na janela
Do quarto
Da alma
Pintando rascunhos
Em tinta vermelho-sangue
Correndo em cada artéria
Saltando em cada veia
Escorrendo pelo veio
Pontuando o caminho
Atravessando desertos
Dias sim, dias não
Ora claro, ora nublado
Sol incerto
Num reino de inexatidão
Então peço ao vento que passa
Que a estação de silêncio
Finde
E a festa das palavras
De fóssil
Incrustada
Em paredes desenhadas
pontas de cobre
Cinzéis
De novo em mim se refaça
Poemas, declarações
Belas canções de (a)mar
Na hora do vendaVal
Maria Ana Bárbara
Glória Carolina Júlia
Docemente embalar...


(Sem elas sou sempre inverno)


domingo, 16 de março de 2008

E por ser madrugada

(imagem da web)



... E como em qualquer madrugada
Minha boca colada à tua
Teus dedos
Vestindo a minha pele nua
Margeando o percurso
Com a barba malfeita
Marcando o caminho
Extraindo da flor
da pele
dos poros
desejo o (a) tesão
o gozo e a paixão
gemidos, arrepios, arranhão
corpos em convulsão.

... E quando por fim desabas
Dentro de mim desaguas
Nessa explosão que cala
Um silêncio que fala
No arfar do peito que embala
Uma bela canção no ar
nós em riso a desabrochar
sem a penumbra luminar
no contorno dos lábios
certificar
No brilho intenso do olhar
Tu a me abraçar
Eu em ti a me aninhar
O dia pedindo pra chegar
Na próxima madrugada
O ritual (re)começar...


E Ne me quitte pas (Jacques Brel), com a Nina Simone...
Ne me quitte pas/ Il faut oublier/ Tout peut s'oublier/ Qui s'enfuit déjà/ Oublier le temps/ Des malentendus/ Et le temps perdu/ A savoir comment/ Oublier ces heures/ Qui tuaient parfois/ A coups de pourquoi/ Le coeur du bonheur/ Ne me quitte pas/ Ne me quitte pas/ Ne me quitte pas/ Ne me quitte pas...
Preciso dizer mais?

quarta-feira, 5 de março de 2008

À exaustão

(imagem colhida na internet)


Quando brota(s) paixão
Olhar(es) intenso(s)
Tentação
Me entrego inteira
Tua
Lua e sol em comunhão


Quando em castanho e profundo olhar
Toca-me sem nada perguntar
Faço-me indolente
Sem passado, futuro ou presente
Um no outro indefinidamente
Amor em (de) todos os poros a pulsar


Quando emerges plural
Em todas as intensões
Me desvelo nua
Nós, a desatar nós
Engolimo-nos num só trago
À exaustão...

domingo, 17 de fevereiro de 2008

É em ti que eu me enlaço

(imagem colhida da net)


... E quando acorda o dia
É em ti que me enlaço
É do teu lado que eu me (re)faço
Juntos, no mesmo (es)pa(ço)sso.

... E a vida a nos sorrir sem embaraço.


domingo, 3 de fevereiro de 2008

Quando de ti me ausento

quando de ti me ausento
por ofício labor:
sofrimento!

quando em ti me enrosco
por saudade ócio:
encantamento!

quando de ti me afasto
um minuto um tempo:
nefasto!

quando de ti vagueio
um instante qualquer tempo:
esperneio!

quando em ti me alimento
deleite alegria:
quem disse que essa fome sacia?

domingo, 20 de janeiro de 2008

(des)Memória.

(imagem recolhida na net)


Ela insistia em nao ver a face que se recobria
Dia e noite, noite e dia
Um após o outro

Em mil se distorcia
Duas mil vezes iludia

Lágrimas difusas
Juras confusas
Insídia teatro

Obtuso.

Pedia uma coisa
Outras lhe foram dadas
Pôs-lhe aos pés a vida
Renegou-a.

Obrigou-a a romper com os sonhos
Confrontou-a
Sangrou-a.
Não há nada mais que se possa ver.
Fazer.

Recolher.

Catar memórias
Histórias
Banalizadas
Jogadas ao chão
Guardanapo de papel

Solidão.


Tirada do fundo do baú. O tempo perdeu-se na memória. Ah, que doce mistério é viver.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Há nas madrugadas...

(imagem colhida na internet)

Há nas madrugadas mais que risos (im)previsíveis
Mais que a boêmia notívaga
O vago do dia
Nosso amor sem pressa
Um brilho nos olhos que reluz
Há tua perna entre as minhas
... E a nossa alegria

Há nas madrugadas vôos rasantes
Encontros desencontros reencontros
Amados amantes
Fantasias que não envelhecem
Desejos insanos profanos
Há o teu peito arfante
... A realidade dos sonhos conjugados bem antes

Há nas madrugadas o latido de um cão
A penumbra do quarto
Meu seio em tuas mãos
Nossas roupas espalhadas pelo chão
... E nós um só corpo liquefação



Quem sabe isso quer dizer amor? Milton Nascimento...



b17

Os cães não ladraram  os anjos adormeceram  a lua se escondeu. Dina Salústio em   Apanhar é ruim demais imagem colhida na internet, d...