"Dor de ver-te
amor morto
Dor de amar-te
morto amor
Dor a morte
dor o amor
Dorme".
Alexandre O´Neill in Poesia Completas, Elegia. p. 159
recuerdo - frida kahlo
tem palavra que fere
que rasga a carne e sangra
eviscera o peito
deixando-o vazio, oco, inerte sem reação
tem palavra que sibila
como serpente preparando o bote
quando farfalha sobre as folhas
arrastando-se em direção à presa
tem palavra que queima
como fogo crepitando na mata seca
e se dispersa com o vento
deixando seu lastro de destruição
tem palavra que é certeira
mortal, anunciada pelo estampido do tiro
que vai no âmago
e deixa agonizando sem vida um coração
(tem palavra que é letal e jamais deveria ser dita!)
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E o querido amigo e generoso poeta Filipe Campos Melo:
A multiplicação das palavras na desordem da razão
construindo mundos
destruindo memórias
vagando o corpo
escritas
sentidas
impronunciadas
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E parceria poética também rende excelentes frutos com a Piedade:
tem palavra que fere, e há por vezes o silêncio
que rasga a carne e sangra, mansamente
eviscera o peito dilacerado
deixando-o vazio, oco, inerte sem reação
com um esgar de dor, caindo em borbotões
pelo chão- encerado- da paixão já sem brilho
nem fulgor.
tem palavra que sibila, que lança veneno
como serpente preparando o bote
ofegante de raiva e lume queimando
quando farfalha sobre as folhas
arrastando-se em direção à presa
sufocando, o verde já sem viço e sem perdão.
tem palavra que queima e fere
como fogo crepitando na mata seca
alastrando tudo em seu redor
e se dispersa com o vento desvairado
deixando seu lastro de destruição
árido e calcinado, vazio de contrição.
tem palavra que é certeira, com mira apontada
mortal, anunciada pelo estampido do tiro seco
que vai no âmago e na fúria descontrolada
e deixa agonizando sem vida um coração
que jaz inerte dentro de um corpo
que só merecia perdão.
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Olinda, XXII - VIII - MMXIII
antónio zambujo, a casa fechada