terça-feira, 19 de abril de 2011

esse silêncio


imagem recolhida da internet

naquela noite queria apenas sentir
já se cansara de viver anestesiada
não sentir mais dor
nada a despertava daquela catarse
nem espinhos, nem rosa
nem os pingos de chuva
que gotejavam pela vidraça da janela
nada mais a tocava, nada

queria sentir qualquer coisa
queria ser qualquer coisa
queria ouvir qualquer coisa
um barulho ao longe
uma música de amor
um sax do Chet
uma canção da Piaf
um tango de Gardel

ah, esse silêncio que maltrata
que a obriga escutar-se
a esconder-se
a desfiar as lembranças
e as dores
como as miçangas arrebentadas de um terço
que se alojam em um canto da gaveta
que ninguém abre mais...

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XVIII - IV - MMXI

Almost Blue - Elvis Costello - com Chet Baker, sem mais palavras, apenas sinta.

sábado, 16 de abril de 2011

Carta Aberta às Mães e Pais

Carta Aberta às Mães e Pais


Diante de uma semana tão complicada e difícil, um grupo de mães escreveu uma carta. Não temos a intenção ou pretensão de saber ou entender ou resolver a gravidade de tudo o que aconteceu. A dor nos levou a pensar em plantar uma semente de amor. Porque só o amor salva e precisamos ter uma fé inabalável nesta verdade absoluta.

O presente, um dia foi uma criança.

As crianças são o futuro.

Carta Aberta às Mães e Pais

Aproveitamos o sentimento de indignação e tristeza que nos abalou nos últimos dias para convoca-los para uma mobilização pelo futuro das nossas crianças. A tragédia absurda ocorrida na escola em Realengo (Rio de Janeiro) é resultado de uma estrutura complexa que tem regido nossa vida em sociedade. O problema vai muito além de um sujeito qualquer decidir invadir uma escola e atirar em crianças. Armas não nascem em árvores.

A coisa está feia: choramos por essas crianças, mas não podemos nos deixar abater pelo medo, nem nos submeter aos valores deturpados que têm regido nossa sociedade propiciando esse tipo de crime. Não vamos apenas chorar e reclamar: vamos assumir nossa responsabilidade, refletir, trocar ideias e compartilhar planos de ação por um futuro melhor. Então, mães e pais, como realizar uma revolução que seja capaz de mudar esses valores sociais inadequados?

Vamos agir, fazer barulho, promover mudanças!Acreditamos na mudança a longo prazo. Precisamos começar a investir nas novas gerações: a esperança está na infância. Vamos fazer nossa parte: ensinar nossos filhos pra que façam a deles.

Se desejamos alcançar uma paz real no mundo,

temos de começar pelas crianças. Gandhi

O que estamos fazendo com a infância de nossas crianças?

Com frequência pais e mães passam o dia longe dos filhos porque precisam trabalhar para manter a dinâmica do consumo desenfreado. Terceirizam os cuidados e a educação deles a pessoas cujos valores pessoais pensam conhecer e que não são os valores familiares. Acabamos dedicando pouco tempo de qualidade, quando eles mais precisam da convivência familiar. Assim, como é possível orientar, entender, detectar e reverter tanta influência externa a que estão expostos na nossa longa ausência? Estamos educando ou estamos nos enganando?

O que vemos hoje são crianças massacradas e hiperestimuladas a serem adultos competitivos desde a pré-escola. Estão constantemente expostos à padronização, competição, preconceito, discriminação, humilhação, bullying, violência, erotização precoce, consumo desenfreado, culto ao corpo, etc.

O estímulo ao consumo desenfreado é uma das maiores causas da insatisfação compulsiva de nossa sociedade e de tantos casos de depressão e episódios de violência. Daí o desejo de consumo ser a maior causa de crime entre jovens. O ter superou o ser. Isso porque a aparência é mais importante do que o caráter. Precisamos ensinar nossos filhos que a felicidade não está no que possuímos, mas no que somos. Afinal, somos o exemplo e eles repetem tudo o que fazemos e o modo como nos comportamos. E o que ensinamos a nossos filhos sobre o consumo? Como nos comportamos como consumidores? Onde levamos nossos filhos para passear com mais frequência? Em shoppings?

Quanto tempo nossos filhos passam na frente da TV? 10 desenhos por dia são 5 horas em frente à TV sentados, sem se movimentar, sem se exercitar, sendo bombardeados por mensagens nem sempre educativas e por publicidade mentirosa que incentiva o consumo desde cedo, inclusive de alimentos nada saudáveis. Mais tempo do que passam na escola ou mesmo conosco que somos seus pais!

Porque os brinquedos voltados para os meninos são geralmente incentivadores do comportamento violento como armas, guerras, monstros, luta? A masculinidade devia ser representada pela violência? Será que isso não contribui para a banalização da violência desde a infância? Quando o atirador entrou na escola com armas em punho, as crianças acharam que ele estava brincando.

Nós cidadãos precisamos apoiar ações em que acreditamos e cobrar do Estado sua implementação, como o controle de armas, segurança nas escolas, mudança na legislação penal, etc. Mas acima de qualquer coisa precisamos de pessoas melhores. Isso inclui educação formal e apoio emocional desde a infância. É hora de pensar nos filhos que queremos deixar para o mundo, para que eles possam começar a vida fazendo seu melhor. Criança precisa brincar para se desenvolver de forma sadia. É na brincadeira que elas se descobrem como indivíduos e aprendem a se relacionar com o mundo.

Nós pais precisamos dedicar mais tempo de convivência com nossos filhos e estar atentos aos sinais que mostram se estão indo bem ou não. Colocamos os filhos no mundo e somos responsáveis por eles! Eles precisam se sentir amados e amparados. Vamos orientá-los para que eles sejam médicos por amor não por status, que sejam políticos para melhorar a sociedade não por poder, funcionários públicos por competência e não pela estabilidade, juízes justos, advogados e jornalistas comprometidos com a verdade e a ética, enfim!

Precisamos cobrar mais responsabilidade das escolas que precisam se preocupar mais em educar de verdade e para um futuro de paz. Chega de escolas que tratam alunos como clientes.

Não temos mais tempo a perder. Ou todos nós, cedo ou tarde, faremos parte da estatística da violência. Convidamos todos a começar hoje. Sabemos que não é fácil. E alguma coisa nessa vida é?

Vamos olhar com mais atenção para nossos filhos, vamos ser pais mais presentes, vamos cobrar mais da sociedade que nos ajude a preparar crianças melhores para um mundo melhor!

Nossa proposta aqui é de união e ação para promover uma verdadeira mudança social. A mudança do medo para o AMOR, do individualismo para a FRATERNIDADE e para a EMPATIA, da violência para a GENTILEZA e a PAZ.

terça-feira, 12 de abril de 2011

celeste

imagem colhida na internet

era mais do que azul no céu
de tão cerúleo
misturaram-se com as nuvens
e foram brincar por aí

agora serão saudades
e nunca mais falarão azul
hão de dar novas formas
em nuvens

já não se preocuparão com a sorte
e em todos o que existe agora
é só esse rasgo, esse corte
e esse blues!


para todos que se foram violentamente no massacre de realengo.

Lula Côrtes - Desengano

domingo, 3 de abril de 2011

já não me basto


imagem colhida na internet


mesmo que seja uma nova ilusão
quimera, impulsão
(nossos) infinitos desejos
já não me basto
com paixão recebo

tua íris, cores oscilantes
entre o mel e o sol
inesperadamente me capturam
de jusante a montante
tragam minha embriaguês

teu corpo
arte da escultura
esculpido com exuberância
um peculiar cheiro de cobre
em monumental pujança

e há essa tua boca
e a tua língua estrangeira
seta veloz
que transpôs continentes
porque voraz

já não obedece barreiras
desabrochando-me sorrisos
e cerejeiras
misto de paz e alegria
faz-se tão presente

desconhecemos lonjuras
impossibilidades, tristuras
e tão suavemente
se aloja docemente
em minhas funduras

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I - II - MMXI

Não tem jeito, só dá Miles Davis - Mystery

b17

Os cães não ladraram  os anjos adormeceram  a lua se escondeu. Dina Salústio em   Apanhar é ruim demais imagem colhida na internet, d...