quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Sentir*

(imagem recolhida na internet)

um sentimento sacralizado
que prende e agoniza
em sua dubiedade, liberta e escraviza
- e nutre a existência -

que anula a realidade
provoca inquietude
alimenta vicissitudes
- mas não foge dele -

tudo ter
quase tudo ter
e não ter
- mas cristaliza -

esse sentimento demais
a cada dia mais
reverberando o grau de desejo
- mas subverte a ordem
-

quantas vezes se ouviu o silêncio
quantas vezes soprou o vento sul
quantas vezes girassóis floriram na janela
- apesar da paisagem inóspita -

cíclico
variantes (e variáveis)
flecha do tempo
- tiro certeiro -

esse sentimento ancestral
que movimenta espaços
derramando-se
- mas ignorado -

ser e mundo
revelando segredos
esgueirando-se
- mas fiel ao hermetismo -

silenciosa presença
quase sempre noturna
e uma saudade profunda
- mas contrapõe-se à vida -

*Especialmente para você, que me deu tanto, que me deu tudo. Inclusive essa (e outras) música(s)... E pelo nosso tempo.


Nei Lisboa - Pra te Lembrar. Precisa dizer mais? Cantemos: "Que que eu vou fazer pra te esquecer?/ Sempre que já nem me lembro/ Lembras pra mim/ Cada sonho teu me abraça ao acordar/ Como um anjo lindo..."

domingo, 15 de agosto de 2010

Flor de Cactus

(imagem recolhida da internet)

como dói
essa dor certeira
essa que insiste
e resiste
alheia
ao bramido

essa dor que rasga
mas não se vê o talho
queima sem lume
sangra mas não escorre
silêncio mortal

... mas ainda restam
a saudade
que se instala sorrateira
o percurso mental
a autopoiesis

e essa memória sempre-viva
feito flor de cactus
insistindo em brotar
na terra que já secou
em adiantada estiagem

e afiados espinhos...


Fátima Guedes - Flor de ir Embora... Oiçamos-na!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Contingência

(imagem recolhida na internet)

não era um ensaio de vida
um recorte incomum
de um tempo suspenso no ar
havia sempre um sol resplandecente
jogando seus raios no mar


intensidade e harmonia
entre cumplicidades e poesias
risos rasgados na boca
tanta esperança no olhar
uma cartografia da alegria


eis que por uma contingência
deu-se o imponderável
algo difícil de imaginar
transliteração
de uma existência para outra


e as palavras outrora tingidas de amor
caíram no esquecimento
desbotaram de saudades
sentidas, magoadas
com o silêncio absurdo da ausência


Tão Só - Pimp´s, do cedê: Nha Alma Já Revelá, mais música com a qualidade caboverdiana. Simplesmente amo essa música! Gosto do tom melancólico da voz do Dany, emprestado à canção. Só eu sei o que essa música causa em mim, só eu sei! Sintam-na, ouçam-na também com os poros. Uma pena que a maioria aqui não perceba o crioulo... Conheçam mais do Pimps aqui.


domingo, 8 de agosto de 2010

"Love Hurts"

(imagem colhida na internet)


é porque o sentimento pesa dentro do peito

e o coração petrificado de amor

nem bate nem apanha

entorpecido já não sente mais dor


Qual é a música desse momento? Só dá ela: Love Hurts Boudleaux Bryant/Felice Bryant-na inesquecível interpretação do Nazareth.




segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Presentes

(imagem recolhida da internet)



à alegria: um vermelho intenso para contornar lábios que sorriem

à esperança: um azul ultramarino e a travessia dos oceanos

às manhãs: dias brancos em searas seguras

aos sonhos: um arco-íris com potes de ouro ao final

aos dias chuvosos: lápis de gizes em tonalidades gris e sépias para circularem afinidades

às noites escuras: estrelas em amarelo ouro e cometas pratas para tecerem bordados de encantar

à solidão: um violino pigmentado pela garança e uma sinfonia de Chopin

à desumanidade: um canteiro de rosas de todas as cores e o livro Palomar, do Italo Calvino, para amolecer espíritos de pedras

aos desbotados: o cerúleo, a safira, a água-marinha e o mirtilo eternizados nas telas de Jan Vermeer

aos esquecidos: todo o registro fotográfico daquilo que foi uma vida e estar junto fazia sentido

aos atrasados: um relógio de bolso sem ponteiros para nunca perderem a hora

aos sedentos: água de flores guardadas em alguidá

aos amargurados: trufas recheadas de contentamento

aos que perderam a fé: a delicadeza de um filme do Jacques Tati

aos perdidos: a linha do horizonte para trazerem o que ficou distante

aos encontros: fogos de artifícios em explosão de cores como se fosse a paleta de Ticiano

para os dias de sol: uma rede em ocre e terracota para embalar pensamentos

às desavenças: chuvas de pétalas de flores construindo palavras de abraçar

aos desamores: licor de anis para tirar o gosto acerbo da alma

à saudade: o silêncio dos claustros, entrecortado vez por outra pelo vento suave a chamar cretcheu

aos reencontros: as 4 Estações de Vivaldi, nos jardins do Palácio de Cristal

aos afectos: o matiz castanho-sereno da estabilidade e do conforto seguro

à felicidade: uma caixinha de música, na tonalidade magenta, com uma bailarina dançando no espelho

à paixão: o fogo e sabor de um resfolegante beijo

ao amor: o brilho infinito que emoldura o meu olhar quando te vejo!




A manauara de voz linda, Eliana Printes, traz-nos sua bela interpretação da canção, Presentes - Kléber Albuquerque - cantemos juntos!



b17

Os cães não ladraram  os anjos adormeceram  a lua se escondeu. Dina Salústio em   Apanhar é ruim demais imagem colhida na internet, d...