É isso, junte-se a nós, que o mundo seja tomado por "loucos" e sonhadores, vamos refletir e sentir ao som e no tom de Imagine - John Winston Lennon.
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Eu sou, tu és, ele/a é:
É isso, junte-se a nós, que o mundo seja tomado por "loucos" e sonhadores, vamos refletir e sentir ao som e no tom de Imagine - John Winston Lennon.
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
Ah, João...
Lenine, Nine, Lê, não importa como eu o chamo, mas sempre o chamo para estar comigo e embalar-me e nessa hora tão "capibaribenha" nação, escuto, A Balada do Cachorro Louco - Lenine, Lula Queiroga e Chico Neves: "eu não alimento nada duvidoso..." cantemos!
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Salomé
cortinas esvoaçantes
e cheio de graça
no ar perfume de damasco
(des)coberta por sete véus
flutuando como uma garça
despertando desejos
brilho sorrateiro no olhar
nas veias calor e fogo
em transe: um ritual
feitiço e desejo carnal
continua seu jogo
de beleza e maldade
sagrado e profano
no palco da sensualidade
erótica e insolente
provoca despudoramente
cobiça e poder
trama de alcova
a fé que salvaguarda
o beijo que foi negado
a rejeição sentida
não quer de ti só a cabeça
numa salva de prata
quer-te coração
corpo pensamento ação e pulsão
sua vida!
A imagem que me vinha, enquanto postava esses versos, era da Shakira, cantando e dançando:
Whenever Wherever...
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
Essa (in)condicional humana
O meu nervo ótico
Minha veia ética
Meu olhar estético
Minha lucidez etílica
Essa vertente estática
Esse ser aflito
Essa diáspora de mim
Ambigüidade sem fim
Esse fogo de Iansã
A saudade corrosiva
Racionalidade ostensiva
Esse tanto conflito
Sem pecado sem perdão
Vazante e vazão
Essa fé quântica
Confusão dos sentidos
Invasão pré-cambriana
Esse poder restrito
Mundo atroz, ora indulgente
Pérfido, feroz
Prodigioso em inesperações
Incompreensíveis tentações
Saudade lava incandescente
Esse tão infinito
Ar em movimento
Essa tempestade interior
Raios trovões ventania
Esse rio caudaloso
Das lágrimas derramadas, enchente
Esse cogito
Esse cotidiano que engole
Essa rotina que consome, absorve
Saudade que arrebata
A dicotomia nas entranhas:
Paixão ou razão
Esse interdito
Essa (in)condicional humana...
A canção que invade esse momento e esse sentimento, não poderia ser outra senão essa aí, aperto o repeat e escuto seguidamente. Uma sugestão: quem não viu o documentário sobre eles, não sabe o que está perdendo, é bár-ba-ro, de facto!
domingo, 8 de novembro de 2009
Outono
Vivo meu equinócio à revelia da vontade de Zênite, dias e noites se completam sempre com as mesmas vulgares ocorrências: nuvens serenas de poeiras, ventos leves, plumas airosas, alguns meros pontos de luz à risca dos olhos, embore admire o espetáculo monocromático das folhas secas que vagueiam perdidas entre bosques, praças e avenidas com árvores solitárias despidas de suas vestes. A íris a confundir-se com as cores indiferentes, frias e distantes do outono, estação do ano que quase me paralisa de tão bela que é, respiro devagar e cuidadosamente para não ser tragada pelo ocre das alamedas, caminho lentamente, mãos no bolso do casaco, com frio - esse fiel companheiro -, acompanho com o olhar o vai e vem das folhas que se soltam dos galhos como idéias porosas, e o pensamento em semi-círculos, dando volteios acrobáticos em torno de imensas saudades.
As pessoas passam por mim cerradas em seus próprios devaneios, suas lembranças, quem sabe suas dores, servindo de grades que impedem aproximações e o tempo gesta sentidos e sentimentos vastos em mim, disfarço-me em sombras como quem se esgueira por entre as folhagens densas dos jardins que sequer conheço, invento-me flores e cores, numa inútil tentativa de sobressair da multidão terracota que passa apressadamente à minha volta.
E nessa meditação sem fim, o vento arranca de mim, a última lembrança tua, quantas palavras sepultaste nesse dorido silêncio, nós que rompemos barreiras, destruímos abismos, clareamos cegueiras, hasteamos bandeiras; nós que fomos uma só tribo, barro, água, betume, azeite, sal; carvão, a nossa descoberta do fogo; cobre, cobalto, chumbo, zinco; lápis-lázuli, carbono, cádmio, crómio, titânio, mercúrio, hematite, todos os pigmentos em mescla, resultavam na nossa cor: amor-terra!
Ainda nas cavernas falávamos um idioma só, bebíamos em um só cântaro, cantávamos sinfonias com ardor. Fizemos dos nossos sonhos plantas imorredouras, costuramos os dias com a linha do horizonte, equilibrando a ilusão, num ponto eqüidistante, e nesse espaço itinerante, nossos já desfigurados semblantes, no orvalho da lonjura, são meros figurantes desse outono infinito.
Então vesti meu vestido mais bonito, aquele de cor encarnada, bordado de esperança, busquei um ponto do céu, enrolei num pedacinho de papel, salpiquei a doçura do mel e enviei no vento, vaticinei em solfejo: quando contemplares as estrelas, taciturno, ou em enlevo, aquela que se destaca entre todas, a mais brilhante, com total vicejo, sou eu lhe mandando um beijo. Inda diante do peso do que longe vai, do que tão longe está, a alma pesa como a luz, pensamento transfigurado, deixo teu sorriso guardado, calcinado, na caixinha do meu coração. Tento subverter os sonhos que me circundam, carrego-os com passos lentos, entre gestos e rituais, esses pequenos sinais, dilemas, que inevitavelmente terminam em poemas.
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
As malvadezas dessa vida…*
O gordinho mais querido
Esse é o gordinho Naná, meu melhor amigo. Desde 2000, quando voltei ao Recife, esbarramos um no outro e a amizade surgiu como um jardim sem dono. Quando fui morar no Poço, nossas idéias se combinaram. Torcemos pelo mesmo clube, o Santa Cruz, gostamos de coisas parecidas, de ações com a comunidade, adoramos o mesmo boteco, o de Seu Vital. Moramos na mesma rua, a Visconde de Araguaya, ao lado da igreja.
Naná sempre está de Komby. É seu ganha pão. Vive levando gente. Um dia, resolveu levar a criançada para a escola, e virou um belo projeto, que envolveu toda a comunidade. Tenho mais horas nos bancos daquela Komby do que muito motorista do Recife. É um privilégio ser amigo de Naná.
Muitas vezes tenho uma idéia, e quando vou falar, ele diz:
“Bicho, estou com uma idéia…”
É a mesma.
Quando morava no Poço, cansei de receber almoço pela janela. Perdi a conta dos cafés da manhã juntos, depois de levarmos a meninada ao Nilo Pereira, fazendo adivinhação e cantando a música do “Arubu tá com fome”, invenção de Maraí.
Naná tem uma pedagogia própria, que é a minha há muitos anos. A “Pedagogia da Cola”. Se um menino dá trabalho, ao invés de dar carões e coisas do tipo, ele acha que é preciso “colar”. Conversar, escutar, dar atenção. Sempre deu certo.
Nos falamos religiosamente todos os dias por telefone. Só para escutar a voz do outro. Quando ele liga, sempre respondo:
“Diz aí, Montanha, qual é a tua?”
Ele diz onde está e pergunta qual é a minha.
Sim, eu só o chamo de Montanha, desde que nos conhecemos. Ele parece mesmo uma montanha de coisas boas, de carinho, cuidado. Por onde passa, Naná deixa alegria e saudades. Uma das pessoas mais generosas que conheço. É sempre ele que chega e diz que alguém está precisando de ajuda. É sempre ele quem vê o lado bom das coisas.
Certa vez, Naná teve um grande acidente, ficou entre a vida e a morte, internado vários meses na Restauração. Foi um milagre ter sobrevivido. Uma vez ele me contou. Teresa, sua esposa, pensou que ele não escaparia.
“Depois disso, bicho, eu vivo cada dia como se fosse o último. Não tenho mais tempo de ficar pensando em coisa ruim. A vida é boa demais para a gente reclamar”.
Ontem de madrugada, roubaram a Komby do meu querido amigo. Essas malvadezas da vida. Se o ladrão conhecesse Naná, iria devolver na próxima madrugada, com um bilhetinho pedindo desculpas. Como disse há pouco meu amigo Magro Valadares, que já fez matéria com Naná, “podiam roubar a Komby de todo mundo nessa cidade, menos a de Naná”.
Todos estamos mobilizados, divulgando (a placa é KGZ 3021), mas vai ser difícil. Levaram o veículo que estava estacionado numa ruela do Poço, defronte à casa dele. Tudo indica ter sido encomendada. Uma malvadeza encomendada.
Peço ajuda aos meus leitores. Até se aprumar, Naná vai ficar um tempo sem trabalho, e precisa tocar a vida. A coisa mais triste da vida é ver aquele gordinho sem aquele largo sorriso. Dói no coração. Eu mesmo vou fazer tudo para ajudá-lo. Se eu tivesse dinheiro nesta vida, o que eu faria mesmo era dar uma Komby novinha para ele, hoje mesmo.
Quem puder dar uma pequena ajuda, vai a conta:
Evaldo Gomes de Moura
Banco Itaú
Conta Poupança 22907-0
Agência 1594
Andréa Ferraz e Marcelo Barreto estão fazendo um documentário com Naná. Tinham parado, por falta de tempo. Tomara que agora retomem. Naná merece.
Agradeço muito a quem ajudar.
PS. Quem quiser ajudar de outra forma, sem ser com dinheiro na conta, pode ligar para ele – 8773.3934. Ele vai abrir um largo sorriso, garanto.
domingo, 11 de outubro de 2009
Cabo Verde nha cretcheu
Ao amanhecer embarcamos numa pequena aeronave (confesso que tive medo, mas a emoção de estar em África, em Cabo Verde, superava meus temores), estava completa, dois times de futebol embarcaram, iam participar de um importante jogo em Santo Antão - até fui ao estádio torcer pelo “meu” time santoantonense, momento em que já se previa como seria o São João, durante o intervalo da partida, assistimos a uma apresentação de “colá Son Jon”-, e que delícia, assim que alçamos vôo, fomos cumprimentados pelo comandante: em crioulo, depois em português, inglês e francês. Sempre opto pela janela, não gosto de conversar durante os vôos, isso me tira a liberdade de silenciar, mesmo estando com nhá Cretcheu, fiquei com o rosto colado na janela da pequena aeronave, olhando estarrecida a beleza daquela circunferência alaranjada que disparava raios por toda a extensão do céu e do Oceano Atlântico, era o sol que despontava dentre as nuvens e nos brindava com sua cor viva...
Em São Vicente, passeamos por Mindelo como quem estava a abrir as janelas do céu, reencontramos Elterzinho, à beira da praia da Laginha e colocamos a conversa em dia, falamos dos projetos, dos sonhos, das vivências no Porto e da saudade que ele sentia de todos e de tudo... Fomos caminhando até o mercado da cidade (eu particularmente adoro os mercados, acho que lá está a vida da cidade).
E do meio do oceano eis que surge um ilhéu, o Ilhéu dos Pássaros, e feito criança que está a descobrir o mundo, percebo uma casinha no topo do acidente geográfico e além de fotografar, faço mil perguntas sobre as condições de morada naquele inóspito lugar...
domingo, 27 de setembro de 2009
Um certo Corcel...
de olhar perscrutador
capaz de tudo tragar numa piscada
expressão potente
orgulhoso independente
com uma maciez nas passadas
sempre atento ao derredor
carrega com orgulho e altivez
sua origem sagrada
do mundo não tem receio nem temor
defende e ataca com a mesma rapidez
de elegante porte
e pele reluzente
indomável e rebelde
dele emanam: poder, brio
mas fica preso por um fio
diante da sua donzela apaixonada!
Vamos ouvir mais um pouco da diversidade musical caboverdiana, Danae e os Novos Crioulos, cantando, Bu Rosto... Curtam! Quantos porquês e "paraquês" nessa música... Cantarolo junto: "hummm, nha cretcheu, onde bo sta..."
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Situações
Uma noite em claro em qualquer aeroporto ou "estación de autobús”, dá tempo de ver, sentir e viver muitas coisas. Algumas situações vividas num intervalo de 0:30h às 8:00h, em Barcelona.
Situação um: - Buona notte, vá bene?
Levantei o olhar do livro e deparei com um sujeito sorridente, e doido para puxar um papo, e de muita má vontade, respondi: buona notte! Baixei o olhar e continuei com a leitura do meu livro, que de tão interessante, devorei-o quase todo no voo a Barcelona, deixando umas páginas para me fazerem companhia durante a longa noite que viria.
O rapaz era insistente, de pé diante de mim, sem parecer querer perceber que eu estava ocupada e envolvida na minha leitura, pergunta:
- Sapere dove si há uma macchina per il café?
Olhei com cara de poucos amigos e respondi que sim, ao fundo do corredor. Ele não se deu por satisfeito e me ofereceu um café. Olhei em volta, o saguão estava animado, gente para lá e para cá, não senti perigo no ar, e a idéia do café não pareceu tão absurda assim, como de início pensei.
Dirigimo-nos à máquina, ele insistia em me convidar e como não sabia mexer naquilo direito, ficou para mim tal ação.
Sentamo-nos e ele contou-me a sua história. Chamava-se Edouard, era senegalês, estava na Europa há dez anos, tinha 34, duas filhas, três caminhões (esse era o eu inventário) e seu plano era montar uma empresa de transportes. A rota do traslado dos automóveis, era pelo Marrocos... Contou todo o percurso para chegar à Dakar. Estava indo à Marselha, havia sido transferido da Itália, e estava feliz, ia receber um salário maior. Era chegado a sua hora de ir, ele agradeceu pelo papo e antes de ir-se, disse: - mademoisele, nécessaire je n´ai pas à dire, d´autres semblent à Sofia Loren; le sourire, la bouche, la couleur de la peau, les cheveux, le regard. Pardon de parler em français, je ne comprends pas le portugais, espagnol ou anglais.
E eu lhe falei que o estava compreendendo, mas que eu discordava quanto a parte sobre a Sofia Loren (embora o elogio tenha me agradado, é claro!). O curioso é que não é a primeira vez, que aqui me falam isso... E pensei no apelo, na adulação, quando se deseja algo. E para encerrar a questão de vez, emendei: my boyfriend does not think too...
Situação dois: - Bueños días!
Pensei com meus botões, de novo não, quase 8h da matina, e uma noite em claro, não quero outro papo e lenga-lengas corriqueiros em salas de esperas. Mas o sujeito não desistiu e encarou minha cara feia de sono, cansaço e de poucos amigos. Com um tíquete nas mãos, perguntou-me: - es española? Respondi com má vontade: - no! Uma resposta seca e quase inaudível. E ele era corajoso: - vás a Cartàgena? Outra vez um, no! Mas isso era pouco, porque ele, de novo: - mira, chica, yo tengo un billete, péro necesito cambiar para otra hora y otra fecha, aún que yo haga la compensación de la diferencia....
- Perdona, péro yo no te entiendo, se hablares despacio quien sabe puedo dicer alguna cosa, y yo consiga le ayudar?? Ele olhou-me começou tudo outra vez. Claro que eu o estava entendendo, só não queria papo. Naquele ínterim, passou um segurança, eu o chamei e lhe expus a situação, e lá se foram os dois em “seus eus ovais”...
Situação três: - Por favor, esto autobús vá al aeropuerto Costa Brava? Era eu esbaforida, depois de chegar atrasada. E o jovem me olha e responde no bom e velho português do Brasil: não sei, só sei que estou aqui desde às 9h esperando um ônibus que me leve à Girona. Eu feliz: - ah, brasileiro de onde? Ele: ah, brasileira? Nem parece, nem tem sotaque (o jovem foi generoso, admito), nem jeito. Eu sou de Mato Grosso, e você? Respondi de onde era, agradeci e então a conversa fluiu solta. Ele perguntou o que eu estava fazendo aqui, há quanto tempo vivia, essas curiosidades básicas, quando encontramos um compatriota e estamos longe de casa há bem mais de uma semana. Aí foi a minha vez de perguntar: e você o que faz? Ele tranquilamente me olha nos olhos e responde: puto! Quase num murmúrio, e eu perguntei de novo que era para não ter dúvidas, e ele deu uma risada gostosa, e falou com calma e em claro tom: sou puto! Eu sou transformista, vivo disso aqui, estava cansado da vida difícil, quase miserável que eu tinha no Brasil, estou ilegal, e desde fevereiro; deu um tapinha na mala que estava descansando aos seus pés e disse que ali estava a menina que ele era, mostrou-me fotos das suas performances, contou da casa que tinha em Alicante, falou dos seus clientes e suas vontades; que homens de determinada nacionalidade gostava disso; de outra nacionalidade, daquilo; de um cliente alemão masoquista; mas a sua paixão era um árabe... Todavia ele gostava mais dos clientes que lhe pagavam para maquiá-los como mulheres; ou para usarem as suas coisas, assim, não lhe tocavam, e que ele cobrava por tudo... Contou-me que em uma ocasião foi difícil convencer um cliente que queria ir ao banco usando um vestido, e de braços dados com ele; que não pegava bem ele ir a tal instituição, daquela maneira.
Ele necessitava pedir algumas informações e perguntou se eu poderia fazê-lo, uma vez que não sabia falar bem o idioma. Tudo bem, eu respondi que perguntava. E seguimos conversando. Minha hora de ir, ele agradeceu-me por ouvi-lo e não ter tido nenhum preconceito. E a viagem até Girona foi em estado de letargia e reflexão, da noite que não dormi, das necessidades de sobrevivência e das escolhas que muitas vezes são frutos das nossas circunstâncias...
Para esse momento, trago Lobão, e essa é a música: Essa Noite Não!
A-d-o-r-o!
terça-feira, 1 de setembro de 2009
E eu que pensava que só meu olho (te) via
E eu que pensava que só o meu olho (te) via
é mais além:
é corpo
alma
coração
riso
canção
poesia!
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
O Equívoco
o Equívoco estava lá
jogou fora o buquê
sem explicação ou porquê
de estarrecimentos
encheu a igreja
de inveja muitas mulheres
de sussurros o ar
disse não à hipocrisia
pensou na vida que não queria
nos sonhos que não viveria
na história que não escreveria
descalçou os sapatos
e caminhou sozinha
vestida de noiva
cantarolando feliz
pela via da liberdade!
Vamos cantar juntos: Liane Foly - Au fur et à mesure...
"Je t'écris des mots purs/J'ai gommé les ratures/Et là sur le papier/J'ai effacé tes fautes/Au fur et à mesure/C'est pas d'la grande écriture/Juste un peu de lecture/Quelques instants volés/Qui se sont envolés/ (...)/J'ai effacé mes fautes/
Au fur et à mesure
Au fur et à mesure
Au fur et à mesure
Au fur et à mesure...
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
Gazela
O ritmo que nos envolve
nas espumas essenciais
que anunciam os caminhos
fatais
de vão em vão
o precipício
no afã que nos engole
quando tu felino
a espreitar-me tua presa
sem pressa
espera
e me caça
como a uma gazela acossada
aprisionada
o meu cheiro a te guiar
predador
vaguei desertos
a buscar-te água e alimento
no teu movimento
no teu tempo
te fazes pantera
teu tiro certeiro
e eu em cativeiro
cativada!
A música? Ah, escuta só:
domingo, 26 de julho de 2009
quarta-feira, 15 de julho de 2009
A vida na rotunda, na avenida...
(imagem colhida na internet)
A vida não passa sem nos trazer reflexões, ou nos deixar estarrecidos diante dos acontecimentos, que para alguns pode ser banal demais até. O que não é o meu caso, não sei se para o bem ou para o bom; para o mau, ou mal; mas certas situações me deixam estupefacta e pensativa.
Caminhando pela margem da rotunda da Boa Vista, apressada, porque o vento frio, apesar do sol, parece lâmina a cortar-me a carne, em mim na carne, a minha carne (nessas horas me pergunto como o ser humano pode ser tão adaptável assim?)… Não percebi de imediato a discussão que se dava ali entre duas mulheres. Escutei vozes alteradas mas não percebi de onde vinham concretamente, até que uma senhora (devia beirar os 60 anos), meio descompensada, partiu pra cima de outra (esta já passava dos 70 anos, seguramente), e as duas começaram a esbofetearem-se no meio da rua, para os transeuntes surpresos e surpreendidos como eu, a ação das senhoras, deixou-nos sem ação, porque parecia uma cena de um filme de quinta categoria (referenciado por mim) que se passava em câmera lenta…
Um garoto assustado, choramingava e dizia à sua mãe:
- Vamos, mamãe, vamos!
- Vamos filho, vamos!
- Alguém aí, faça alguma coisa, pá! Eu estou com uma criança e está assustada!
- Toda a gente só dá uma vista d’ olhos e nada fazem?
E ninguém fazia nada, enquanto isso as duas mulheres puxavam os cabelos uma da outra, falavam coisas sem nexo aos ouvidos de quem não as conheciam, chutavam ora o ar; ora a perna uma da outra. De repente, num golpe de sorte (?), a mais jovem estapeou a cara da mais velha, e o sangue jorrou, imagino que as unhas atingiram um vaso sanguíneo, e por ser um local mais sensível, começou a sangrar de imediato. As duas então deitaram ao chão.
- Deixa meu pai em paz, um senhor de 83 anos, têm filhos e netos!
- O que estás a dizer?
- Não sabes? Ah, sabes sim, sei que sabes! Quer aproveitar-se do meu pai, deixe-o em paz e vá cuidar da sua vida, ora pois! Vou mostrar-te do que sou capaz!
-Nada sei! Não sei do que estás a dizer!
Isso pronunciado entre os dentes, com um ódio que saltava das pupilas dilatadas dos seus olhos. A situação já se tornara impossível, até que quatro homens, certamente os mais corajosos e sensatos dentre todos os presentes, não suportaram mais ver aquela fábula deprimente, e tomaram uma atitude: foram separar as senhoras raivosas e cheias de infelicidade. Percebam: quatro homens fortes, tenazes e destemidos, tiveram dificuldade para impedir que as duas senhoras continuassem aquele triste espetáculo de agressão e violência. Não se dando por satisfeita, a mais jovem, mordeu a mão de um dos cavalheiros que a desvencilhava da senhora mais idosa, que por sua vez, puxava-lhe os cabelos a quase trazer o couro cabeludo entre os dedos…
Quando deu por si, e saiu do seu transe de ira, a mais jovem, notou enfim que não teria mais como dar vazão à sua destemperança, de um salto levantou-se, ajeitou a saia; o casaco; os cabelos; e saiu resmungando algo incompreensível. Enquanto a mais velha, lívida e transparente, limpava o sangue do seu rosto, sem emitir um sinal de emoçao (nunca vi tanta frieza diante de um ataque de fúria), ficou rente à parede, silenciosa. Alguns polícias chegaram e eu já estava a dobrar a Av. de França…
E fui andando até o Carvalhido, pensando, porque eu precisava pensar. Em mim, nelas, e em tudo que eu presenciara, além de coisas que não presencio, ou das que vejo e também emudeço.
Parece um enredo de alguma peça do Nélson Rodrigues (que por sinal, tem uma peça dele em cartaz aqui), mas não é, ou é, a vida real, latejando, pulsando e rompendo ódios e sentimentos outros guardados até a explosão. Um micro-mundo, que avança violento sobre outro, pela ação corrupta, impaciente e baseada no descontrole, na vitória do não diálogo, que não cede, não concede e nem busca uma negociação, um porquê, simplesmente agride. Será que a agressora tem algum distúrbio de personalidade; prediposição natural (?) à violência; desconfiança; competição? O que há no subjacente dessa história de agressividade, que jamais saberemos? Uma amostragem do macro-mundo, onde se perdeu completamente a via da comunicação, da negociação, e eclodem as guerras, as atrocidades imperialistas… Fiquei pensativa sobre o mundo.
E escuto o João Pedro Pais: Um Resto De Tudo, vamos escutar a canção do gajo e reflitamos sobre nós e o mundo que estamos a construir...
domingo, 28 de junho de 2009
Azul-mirtilo
sentir é um não sei-o-quê
quase sabendo
que explode por dentro
resvalando cá fora
construindo perguntas
espargindo inferências
trazendo interrogações
afirmando emoções
sentir até o que não se pode
à revelia do tempo
sentir não querendo
fora de hora
o que devasta um coração
olhos fundos (des)atentos
choro raso de saudade
o que se passa aí
transborda aqui
sem alarde alarido
ouvindo-te: canção
pudesse ser eu a ter o mundo
o riso
a alegria
dar-te-ia:
um céu azul todo dia
de uma cor azul só tua
na azulidão do infinito firmamento
dos mares e oceanos
desfaria os turvos momentos
acenderia luzeiros
cuidados e desvelos
mundo encantado
de um azul-mirtilo
que quero para ti...
Bsote bem oia a Nanci Vieira, te canta "Lus"?
quarta-feira, 10 de junho de 2009
Veneza...!
Enquanto esperávamos o ônibus que nos levaria do aeroporto Marco Polo, deambulei sobre o navegante croata-veneziano, no/o que ele sentia, quando atravessava a infinidade de canais e saía para desbravar e percorrer mundos, até chegar à Rota da Seda; o encontro com Kublai Khan (o neto de Gengis Khan). Eu nem de longe ouso invocar o espírito do grande navegador, conquistador, narrador de histórias, tão elogiado n´O A Descrição do Mundo (algum tempo depois: As Viagens de Marco Polo), as glórias, as conquistas, recheadas de detalhes riquíssimos e emoções incomuns. Mas tão somente externar o brilho de minh' alma quando estive lá: Veneza!
Pensamentos furtivos confundiam-se com a realidade, agora já no waterbus que nos levaria ao hostal, em Giudecca. Viajar para Veneza, é um destino insólito, completamente diferente de tudo, de todas as cidades que já visitei aqui na Europa... Só dei por mim que estava a chover, quando o vento frio, e as gotas de chuva começaram a incomodar.
As casas coloridas que ladeam os canais (sem o excesso de cores berrantes) parecem tramas de ouro a comporem outras paisagens, nas ruas dos (seis) bairros centrais, algumas de pedras, os velhos candelabros, lampiões acesos, os vários jardins, os jasmins perfumando o ar emprestam mais do que uma atmosfera mediavalesca, mas um romantismo incomparável. A cidade transcende qualquer definição; a cidade promove e provoca os encontros, o amor! Não há lugar mais apaixonante que Veneza, não há!
Uma cidade que em pleno século XXI, um dos destinos mais procurados do mundo, com toda a tecnologia da pós-mordenidade, e os pormenores de uma "cultura babélica” têm características marcantes e vivas do século X, data desta época, as gôndolas e provavelmente o mais conhecido símbolo da cidade, além das máscaras.
A melhor forma de se encontrar em Veneza, é perder-se nela, ainda que disponhemos de mapas, é quase impossível (no meu caso é impossível mesmo, porque sou desorientadinha, e não há mapa que me salve, e claro, perdemo-nos!) não perder o prumo, quando embranhamos por aquelas ruelas interligadas por pontes, escadarias, casas com varandas e flores esparramadas em toda a extensão, parece que estamos em canais gêmeos, onde circulam toda a vida da cidade, mas não é verdade, isso é a deixa para a perdição e encontração.... Porque apesar do charme das gôndolas, dos barcos-taxis, dos vaporettos, Veneza é pra ser vivida, degustada, engolida, descoberta, sentida, a pé, só então que nos livramos de certo modo, do fluxo surreal e absurdo de turistas, só então as bucólicas e românticas ruas, surgem... E então nos deparamos com outra Veneza.
Surpresa grata, ao chegar, nas proximidades da Praça São Marcos, ouço os acordes de piano e me aproximo, a pianista executava Brasileirinho, então fiquei ali compenetrada e feliz, sentindo a música. Ao final, aplaudi-a: bravo! Bravo! Um sorriso definitivamente é o melhor cartão para alguém, ela agradeceu e entao percebeu que eu era brasileira, foi a deixa para ela tocar, “Garota de Ipanema” e “Aquarela do Brasil”, uma delicadeza só. Seguimos rumo à Praça de São Marcos, enfim... Seguramente a praça mais famosa do mundo; à primeira, à segunda, à terceira e à todas às vistas, a imagem é quase um desmaio, “parece um grande salão de mármore com galerias em todo o seu redor”, naturalmente que a economia capitalista está presente, em todos os lados, há cafés, lojas, bares, o comércio é variado e caro. Prepare-se para gastar, Veneza consegue ser mais cara ainda que Paris, sim senhora! Um "dos mais famosos e frequentados bares pelos endinheirados é o Harri´s Bar, o dito, foi frequentado por personalidades como Ernest Hemingway, Thomas Mann, George Sand " , entre outros.
Extasiamento quando saindo do Grande Canal em direcção ao Rialto, passamos diante da casa de Marco Polo. Confeso-lhes que à ida à Veneza, valeram cada um dos euros gastos; ter visitado a Praça de S. Marcos com a sua Basílica, Torre do Relógio, Campanário, Palácio Ducal, Ponte dos Suspiros, Ponte de Rialto, Igreja dos Santi Giovanni e Paolo, Igreja Il Redentore, Basílica de Santa Maria della Salute (e outras igrejas não tão famosas assim, em Giudecca), e o que mais se-lhe-nos apetecer. Andar a pé, misturar-se com aquela multidão ensandecida de todos os lugares do mundo, nas mais variadas línguas, é sem dúvida a melhor maneira de curtir e entrar na alma da cidade, da mais linda cidade do mundo (ao lado do Rio de Janeiro). Diluirmo-nos nas águas da cidade....
(Ponte do Rialto)
Espalhamo-nos pela cidade, misturamo-nos com as pessoas, descobrimos a vida que pulsa, que brota e que transpira e que passa em Veneza. Participei na fotografia de família de um casamento que acontecia na Praça de São Marcos, sem ser convidada, naturalmente, quando dei por mim, já estava na fita.
Sentamos em num café em Rialto e ficamos observando o trânsito das embarcações nos canais, um engarrafamento, em verdade. Depois, fomos a uma trattoria e nos deliciamos com uma pasta, de sobremesa, sorvete de pistachio, nham, adoro!
Uma caminhada até à Bienal de Veneza,
(Bienal de Veneza)
e quando não resistimos mais ao cansaço, sentamo-nos numa fonte, num centro de um mercado, e fomos comer morangos, vendidos ali mesmo, em copos descartáveis...
E ainda mais uma vez, fiquei a pensar em Marco Polo, e recuperei o diálogo entre ele e Khan, no livro do Italo Calvino, As Cidades Invisíveis:
«Marco Polo descreve uma ponte, pedra a pedra.
- Mas qual é a pedra que sustém a ponte? - pergunta Kublai Khan.
- A ponte não é sustida por esta ou aquela pedra - responde Marco,
- mas sim pela linha do arco que elas formam. Kublai Khan permanece silencioso, refletindo. Depois acrescenta:
- Porque me falas das pedras? É só o arco que me importa. Polo responde:
- Sem pedras não há o arco.»
E esse poste de ferro, aí embaixo? Nada não, é para matar as minhas saudades do meu Recife. Mas essa imagem, é Veneza, embora pareça com o Recife.
A música? Poderia ser outra? Venecia sin tí, com o Aznavour...
b17
Os cães não ladraram os anjos adormeceram a lua se escondeu. Dina Salústio em Apanhar é ruim demais imagem colhida na internet, d...
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(imagem recolhida da net) Enquanto atravesso meus temporais não sabes dos meus ais das minhas solidões dos meus sins, meus nãos nossos olho...