terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Eu sou, tu és, ele/a é:

Gustav Klimt - A Árvore da Vida (imagem colhida da internet)

índia branca negra profana santa mãe mulher menina amada amante amável imagem som cor movimento um livro na estante na mão peito bunda boca cerebral visceral animal paisagem da janela sertão flor no jardim chuva rio que transborda ponte que se rasga gata borralheira Cinderela operária música silvando no vento vida tempo racional passional corrosiva acidez doçura do mel amargor do fel o riso e a dor a fome e o alimento ‘entre o sim e o não estou talvez’ Maria Iansã Nanan Ogum São Jorge cavalgando na lua menor abandonada na rua a verba sem rima o ceticismo da sina nordestina brasileira latino-americana italiana caboverdiana o céu azul um manto de estrelas a lua cheia o sol que incendeia a cegueira a ilusão o olho que vê a claridade a escuridão a luz a sombra o dia a noite a desrazão o sal da pele o corte na alma a ferida que sangra o bálsamo que derrama a falta de sorte a morte na esquina a bala sem rumo a mão que açoita que acarinha que vota que escolhe que acolhe o mundo a esperança somos a mudança a árvore da vida!

Que em 2010 sejamos os protagonistas das mudanças que queremos e merecemos. Vamos fazer diferente, vamos fazer a diferença com implicação e consciência. Desejo todo mundo feliz no ano que vem!

É isso, junte-se a nós, que o mundo seja tomado por "loucos" e sonhadores, vamos refletir e sentir ao som e no tom de Imagine - John Winston Lennon.







sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Ah, João...

João Cabral e eu contemplávamos o "cão sem plumas"

Só sendo coisa de signo mesmo, cabra, capricórnio, equilibrar-se no pico das montanhas e como elas também “aprender a comer pedras”, que as educaram. João, elas não são apenas idéias, ou, 'legítimas representantes de uma força sertaneja e do solo pedroso da região', elas são o excesso de todas as faltas e carências, até as pessoas estão se tornando pedras, sequer destilam uma “palavra seda”, ou uma palavra mais doce, rapadura. E sem a ternura, não restará um dia, 'pedra sobre pedra'. Estão todos petrificados, a vida virou uma coisa tão banal e deu lugar à morte que é noticiada todo dia no jornal, há muito não se morre de morte morrida, agora a moda feia é morrer mais de morte matada, essa 'antes dos vinte', por causa de uma tal emboscada social. João mata-se por nada, por um tênis, por um trancilim de prata, principalmente por uma coisa que se chama desigualdade, seja no canavial ou na cidade. O tempo é cheio de faltas: de respeito, de comida, de ética, de igualdade, de justiça e até de chuvas. Que falta faz um falar mais... Sertanejo? Uma palavra mais temperada, mais fruta-da-terra, com aquele sabor cajá, graviola ou mangaba? Nem sequer as palavras bóiam num papel, nem em um copo com água ardente, limão e mel. O que bóia cada vez mais, João, são corpos que um dia sonharam em ser pessoas, Capibaribe acima, Capibaribe abaixo. Outro dia mesmo eu estava observando uns polícias com arma(s) nas mãos empunhando, e pela Rua do Sol, tão escaldante, correndo, atrás de crianças, que numa dessas barruadas da vida, sem querer se enroscaram na bolsa de uma senhora e caíram de roupa e tudo dentro do Capibaribe, e foram nadando, nadando, até a bala dos polícias se perderem, eles estavam cheios de medo, eram dois desamparados da vida e fiquei torcendo pelas crianças tão desmilingüidas, porque a fome, essa impiedosa, atravessava seus estômagos; e se embrenharam no rio, como se fossem 'cães sem plumas', e apareceram um tempinho depois lá do outro lado da ponte, que pontuava a linha do horizonte perdido por elas. Acho que nem jogar feijão na panela, eles sabem, porque não tem feijão, quanto mais palavras no papel, para eles tudo 'é oco, como o eco', nem sabem o que é 'flor, abelha; nem azul, nem cor-de-rosa', só da água suja, fétida do Caapiuar-y-be na altura da Rua da Aurora e que vai descendo, descendo, o rio, que, algumas vezes encheu e transbordou, ‘porque estava cansado de ser comprimido pelas margens’, assim como as crianças e as pessoas estão cansadas de serem marginalizadas, de serem lamas, caranguejos, ostras e estigmas com seus 'olhares-de-peixes-mortos', brilhantes como uma ‘lâmina só faca’, que lhe dão abundantemente ferro e balas. Ao menos plantaram flamboyants vermelhos ao longo de uma das margens do Capibara-ybe e seus galhos magros quase cor de lama, vez por outra dão sombra para os quase-humanos que sobrevivem da/na lama desse caudaloso rio, essa capivara líquida. Ah, João...

Lenine, Nine, Lê, não importa como eu o chamo, mas sempre o chamo para estar comigo e embalar-me e nessa hora tão "capibaribenha" nação, escuto, A Balada do Cachorro Louco - Lenine, Lula Queiroga e Chico Neves: "eu não alimento nada duvidoso..." cantemos!

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Salomé

(imagem recolhida na internet)


ambiente em cor púrpura-dourada
cortinas esvoaçantes
gestual esquivo
e cheio de graça

no ar perfume de damasco
(des)coberta por sete véus
flutuando como uma garça
despertando desejos

brilho sorrateiro no olhar
nas veias calor e fogo
em transe: um ritual
feitiço e desejo carnal

continua seu jogo
de beleza e maldade
sagrado e profano
no palco da sensualidade

erótica e insolente
provoca despudoramente
cobiça e poder
trama de alcova

a fé que salvaguarda
o beijo que foi negado
a rejeição sentida
não quer de ti só a cabeça

numa salva de prata
quer-te coração
corpo pensamento ação e pulsão
sua vida!


A imagem que me vinha, enquanto postava esses versos, era da Shakira, cantando e dançando:
Whenever Wherever...


quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Essa (in)condicional humana

(imagem colhida na internet)

O meu nervo ótico
Minha veia ética
Meu olhar estético
Minha lucidez etílica
Essa vertente estática

Esse ser aflito

Essa diáspora de mim
Ambigüidade sem fim
Esse fogo de Iansã
A saudade corrosiva
Racionalidade ostensiva

Esse tanto conflito

Sem pecado sem perdão
Vazante e vazão
Essa fé quântica
Confusão dos sentidos
Invasão pré-cambriana

Esse poder restrito

Mundo atroz, ora indulgente
Pérfido, feroz
Prodigioso em inesperações
Incompreensíveis tentações
Saudade lava incandescente

Esse tão infinito

Ar em movimento
Essa tempestade interior
Raios trovões ventania
Esse rio caudaloso
Das lágrimas derramadas, enchente

Esse cogito

Esse cotidiano que engole
Essa rotina que consome, absorve
Saudade que arrebata
A dicotomia nas entranhas:
Paixão ou razão

Esse interdito

Essa (in)condicional humana...



A canção que invade esse momento e esse sentimento, não poderia ser outra senão essa aí, aperto o repeat e escuto seguidamente. Uma sugestão: quem não viu o documentário sobre eles, não sabe o que está perdendo, é bár-ba-ro, de facto!

domingo, 8 de novembro de 2009

Outono

(imagem recolhida da net)

Vivo meu equinócio à revelia da vontade de Zênite, dias e noites se completam sempre com as mesmas vulgares ocorrências: nuvens serenas de poeiras, ventos leves, plumas airosas, alguns meros pontos de luz à risca dos olhos, embore admire o espetáculo monocromático das folhas secas que vagueiam perdidas entre bosques, praças e avenidas com árvores solitárias despidas de suas vestes. A íris a confundir-se com as cores indiferentes, frias e distantes do outono, estação do ano que quase me paralisa de tão bela que é, respiro devagar e cuidadosamente para não ser tragada pelo ocre das alamedas, caminho lentamente, mãos no bolso do casaco, com frio - esse fiel companheiro -, acompanho com o olhar o vai e vem das folhas que se soltam dos galhos como idéias porosas, e o pensamento em semi-círculos, dando volteios acrobáticos em torno de imensas saudades.

As pessoas passam por mim cerradas em seus próprios devaneios, suas lembranças, quem sabe suas dores, servindo de grades que impedem aproximações e o tempo gesta sentidos e sentimentos vastos em mim, disfarço-me em sombras como quem se esgueira por entre as folhagens densas dos jardins que sequer conheço, invento-me flores e cores, numa inútil tentativa de sobressair da multidão terracota que passa apressadamente à minha volta.

E nessa meditação sem fim, o vento arranca de mim, a última lembrança tua, quantas palavras sepultaste nesse dorido silêncio, nós que rompemos barreiras, destruímos abismos, clareamos cegueiras, hasteamos bandeiras; nós que fomos uma só tribo, barro, água, betume, azeite, sal; carvão, a nossa descoberta do fogo; cobre, cobalto, chumbo, zinco; lápis-lázuli, carbono, cádmio, crómio, titânio, mercúrio, hematite, todos os pigmentos em mescla, resultavam na nossa cor: amor-terra!

Ainda nas cavernas falávamos um idioma só, bebíamos em um só cântaro, cantávamos sinfonias com ardor. Fizemos dos nossos sonhos plantas imorredouras, costuramos os dias com a linha do horizonte, equilibrando a ilusão, num ponto eqüidistante, e nesse espaço itinerante, nossos já desfigurados semblantes, no orvalho da lonjura, são meros figurantes desse outono infinito.

Então vesti meu vestido mais bonito, aquele de cor encarnada, bordado de esperança, busquei um ponto do céu, enrolei num pedacinho de papel, salpiquei a doçura do mel e enviei no vento, vaticinei em solfejo: quando contemplares as estrelas, taciturno, ou em enlevo, aquela que se destaca entre todas, a mais brilhante, com total vicejo, sou eu lhe mandando um beijo. Inda diante do peso do que longe vai, do que tão longe está, a alma pesa como a luz, pensamento transfigurado, deixo teu sorriso guardado, calcinado, na caixinha do meu coração. Tento subverter os sonhos que me circundam, carrego-os com passos lentos, entre gestos e rituais, esses pequenos sinais, dilemas, que inevitavelmente terminam em poemas.

Quem me acompanha? Chet Baker, Autumn in New York... Vamos sentir!

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

As malvadezas dessa vida…*

O gordinho mais querido


Esse é o gordinho Naná, meu melhor amigo. Desde 2000, quando voltei ao Recife, esbarramos um no outro e a amizade surgiu como um jardim sem dono. Quando fui morar no Poço, nossas idéias se combinaram. Torcemos pelo mesmo clube, o Santa Cruz, gostamos de coisas parecidas, de ações com a comunidade, adoramos o mesmo boteco, o de Seu Vital. Moramos na mesma rua, a Visconde de Araguaya, ao lado da igreja.

Naná sempre está de Komby. É seu ganha pão. Vive levando gente. Um dia, resolveu levar a criançada para a escola, e virou um belo projeto, que envolveu toda a comunidade. Tenho mais horas nos bancos daquela Komby do que muito motorista do Recife. É um privilégio ser amigo de Naná.

Muitas vezes tenho uma idéia, e quando vou falar, ele diz:

“Bicho, estou com uma idéia…”

É a mesma.

Quando morava no Poço, cansei de receber almoço pela janela. Perdi a conta dos cafés da manhã juntos, depois de levarmos a meninada ao Nilo Pereira, fazendo adivinhação e cantando a música do “Arubu tá com fome”, invenção de Maraí.

Naná tem uma pedagogia própria, que é a minha há muitos anos. A “Pedagogia da Cola”. Se um menino dá trabalho, ao invés de dar carões e coisas do tipo, ele acha que é preciso “colar”. Conversar, escutar, dar atenção. Sempre deu certo.

Nos falamos religiosamente todos os dias por telefone. Só para escutar a voz do outro. Quando ele liga, sempre respondo:

“Diz aí, Montanha, qual é a tua?”

Ele diz onde está e pergunta qual é a minha.

Sim, eu só o chamo de Montanha, desde que nos conhecemos. Ele parece mesmo uma montanha de coisas boas, de carinho, cuidado. Por onde passa, Naná deixa alegria e saudades. Uma das pessoas mais generosas que conheço. É sempre ele que chega e diz que alguém está precisando de ajuda. É sempre ele quem vê o lado bom das coisas.

Certa vez, Naná teve um grande acidente, ficou entre a vida e a morte, internado vários meses na Restauração. Foi um milagre ter sobrevivido. Uma vez ele me contou. Teresa, sua esposa, pensou que ele não escaparia.

“Depois disso, bicho, eu vivo cada dia como se fosse o último. Não tenho mais tempo de ficar pensando em coisa ruim. A vida é boa demais para a gente reclamar”.

Ontem de madrugada, roubaram a Komby do meu querido amigo. Essas malvadezas da vida. Se o ladrão conhecesse Naná, iria devolver na próxima madrugada, com um bilhetinho pedindo desculpas. Como disse há pouco meu amigo Magro Valadares, que já fez matéria com Naná, “podiam roubar a Komby de todo mundo nessa cidade, menos a de Naná”.

Todos estamos mobilizados, divulgando (a placa é KGZ 3021), mas vai ser difícil. Levaram o veículo que estava estacionado numa ruela do Poço, defronte à casa dele. Tudo indica ter sido encomendada. Uma malvadeza encomendada.

Peço ajuda aos meus leitores. Até se aprumar, Naná vai ficar um tempo sem trabalho, e precisa tocar a vida. A coisa mais triste da vida é ver aquele gordinho sem aquele largo sorriso. Dói no coração. Eu mesmo vou fazer tudo para ajudá-lo. Se eu tivesse dinheiro nesta vida, o que eu faria mesmo era dar uma Komby novinha para ele, hoje mesmo.

Quem puder dar uma pequena ajuda, vai a conta:

Evaldo Gomes de Moura

Banco Itaú

Conta Poupança 22907-0

Agência 1594

Andréa Ferraz e Marcelo Barreto estão fazendo um documentário com Naná. Tinham parado, por falta de tempo. Tomara que agora retomem. Naná merece.

Agradeço muito a quem ajudar.

PS. Quem quiser ajudar de outra forma, sem ser com dinheiro na conta, pode ligar para ele – 8773.3934. Ele vai abrir um largo sorriso, garanto.


*Texto copiado daqui:


Pessoas como o Naná, é que mudam o mundo e deixam a vida mais humana, e as pessoas mais humanizadas. Qualquer ajuda é bem vinda, sempre! Obrigada!

domingo, 11 de outubro de 2009

Cabo Verde nha cretcheu

Mindelo, deslumbrada com a cor do mar

Em Lisboa já se percebia a diferença, não apenas na cor da pele da maioria dos passageiros, mas especialmente pelo sotaque e pela língua falada. O crioulo tem uma sonoridade ímpar, é canção e afeto em forma de comunicação, é por si uma língua carinhosa... A viagem transcorreu tranqüila, eu estava muito ansiosa e ao mesmo tempo sonolenta e ficávamos revezando o colo, ora eu deitava em nhá cretcheu, ora era ele no meu... O céu estava bem estrelado, entretanto em algum ponto as nuvens estavam carregadas e eu via os relâmpagos e isso me enchia de medo, e encostada nele eu adormeci de novo... Até que num desses momentos de despertar preguiçosamente, avistei luzes lá em baixo e eufórica falei: ali está, chegamos a Cabo Verde, e foi tão esfuziante essa manifestação que praticamente despertei todos os passageiros (vergonha danada!), e ele entre gozo e riso disse-me: - mas como? Só se passaram 2h de vôo, miúda, e são mais de 4h, estamos é sobrevoando as Canárias! Envergonhada enfiei-me em seus braços e ficamos assim até quando o sono nos pegou outra vez e finalmente, finalmente aterrisamos na ilha de Santiago, mas precisamente na cidade da Praia, capital de Cabo Verde (conheço apenas dois arquipélagos, mas esse é deslumbrante, talvez o lugar mais paradisíaco que meus olhos já viram). Preparamo-nos para a longa noite que viria, afinal, estávamos apenas começando nosso périplo (tomamos um táxi no Porto, de lá um avião para Lisboa, depois outro para Santiago, mais um para São Vicente, outro táxi, e finalmente a barca para Santo Antão, nhá ilha por escolha).
Porto Grande, Mindelo - São Vicente


Ao amanhecer embarcamos numa pequena aeronave (confesso que tive medo, mas a emoção de estar em África, em Cabo Verde, superava meus temores), estava completa, dois times de futebol embarcaram, iam participar de um importante jogo em Santo Antão - até fui ao estádio torcer pelo “meu” time santoantonense, momento em que já se previa como seria o São João, durante o intervalo da partida, assistimos a uma apresentação de “colá Son Jon”-, e que delícia, assim que alçamos vôo, fomos cumprimentados pelo comandante: em crioulo, depois em português, inglês e francês. Sempre opto pela janela, não gosto de conversar durante os vôos, isso me tira a liberdade de silenciar, mesmo estando com nhá Cretcheu, fiquei com o rosto colado na janela da pequena aeronave, olhando estarrecida a beleza daquela circunferência alaranjada que disparava raios por toda a extensão do céu e do Oceano Atlântico, era o sol que despontava dentre as nuvens e nos brindava com sua cor viva...
Em São Vicente, passeamos por Mindelo como quem estava a abrir as janelas do céu, reencontramos Elterzinho, à beira da praia da Laginha e colocamos a conversa em dia, falamos dos projetos, dos sonhos, das vivências no Porto e da saudade que ele sentia de todos e de tudo... Fomos caminhando até o mercado da cidade (eu particularmente adoro os mercados, acho que lá está a vida da cidade).

cavalas salgadas e secando ao sol

Hora de almoçar, dessa vez o encontro foi com o Augusto (amigo de longa data de nhá cretcheu e de toda a família), saboreamos peixe com legumes, prato típico da gastronomia local, depois um café, engolido às pressas, afinal era hora de pegarmos a barca, ou então só no dia seguinte poderíamos viajar a Porto Novo, e estávamos doidos para aportar em Santo Antão... O balanço da barca não me causa enjôos, e fiquei deslumbrada com a paisagem, enquanto nos afastávamos de São Vicente, via a cidade noutra perspectiva, observando a baía do Porto Grande e a longa faixa litorânea que margeava-na, emoldurando com o azul do mar, esse belo quadro natural... As águas são de um azul intenso, entrecortadas por ondas tão brancas que mais parecem nuvens espelhadas do céu... Quase uma hora de travessia no Atlântico e os pensamentos carregados livres pelo vento que bailoçavam meus cabelos, eu estava na África, pensava feliz, Cabo Verde, Cabo Verde dos meus sonhos, da Cesária Évora, de Ildo Lobo, de Tito Paris, de Paulino Vieira, dos Ferro e Gaita... Cabo Verde, que já nos havíamos adotado pelos laços do amor.
E do meio do oceano eis que surge um ilhéu, o Ilhéu dos Pássaros, e feito criança que está a descobrir o mundo, percebo uma casinha no topo do acidente geográfico e além de fotografar, faço mil perguntas sobre as condições de morada naquele inóspito lugar...
Ilhéu dos Pássaros

E o tempo passava preguiçoso, em Cabo Verde, o tempo tem outro tempo, temos tempo para fazermos o que desejarmos, não somos engolidos pela pressa das grandes e barulhentas cidades... Alá, ali está Porto Novo, e as lágrimas me acodem, choro em silêncio, emocionada, essa pequenina cidade é imensa em meu coração, Porto Novo que eu já conhecia há tanto tempo sem jamais ter lá estado, agora estava a se materializar diante de mim, com suas casas cor-de-rosa, e árvores serpenteando a faixa costeira... Ao aproximar-nos vejo mais casinhas, na cor cinza (construções em fase de acabamento), e o coração dispara, desço da barca saltitando sem me dar conta da altura da rampa, e perdi-me entre as pessoas que saíam da barca com suas malas, bagagens & sonhos...
Uma das primeiras imagens de Porto Novo
A interação com a família foi tão instantânea e natural que parecia que nos conhecíamos há décadas e senti-me acolhida, acarinhada, aquela era (e é) a minha família também, minha família caboverdiana. A farra dos presentes é superada pela emoção e alegria do encontro, milhões de risos e perguntas e desde então a casa estava sempre cheia, a família é imensa, até aprender o nome de toda a gente, já estávamos a voltar... Como eu, são todos muito musicais, a música não pára, é um elemento marcante na família, numa dessas noites estreladas, as crianças a brincarem na rua – sim, em Cabo Verde, criança é criança e brinca na rua e vive seus mistérios e descobertas – e em pouco tempo, uma festa acontecia, porque o ritmo que estava a tocar era o funaná e é impossível ficarmos estáticos e indiferentes a ele, e a família numerosa já festejava a vida, todos dançando e a alegria tomava conta do ambiente, a música é uma forma de festejar, agradecer e saudar à vida...
Ganhei essa árvore de presente
Cabo Verde em absolutamente nada lembra a Europa, é de fato outro mundo, lá não existe apenas a natureza “exótica”, não no sentido de estranho ou ádvena, mas de beleza incomum, incomparável. Não existe uma arquitetura que ostente o poder imperialista, mas a beleza que emerge das coisas simples, da delicadeza humana, em Cabo Verde há o que não existe mais em quase nenhum outro lugar do planeta: a humanidade, a solidariedade, a fraternidade, a irmandade. Em Cabo Verde percebe-se o forte sentido da família, do amor que une, que cuida e que ajuda. Há o respeito pelos mais velhos, escuta-se a sabedoria dos antigos; tios cuidam dos sobrinhos; primos ajudam-se entre si; avós têm seu lugar de destaque; netos cuidam e são cuidados; as famílias são numerosas e quase que invariavelmente uma pessoa une as famílias, porque o laço consangüíneo se não é entre todos, é de um que é do outro, que por sua vez veio daquela outra família e acabam sendo todos familiares uns dos outros, acho que nem mesmo a antropologia ou sociologia da família explicaria isso...

Amei essa imagem parecia uma cena de filme
Um país incrível, com uma história incrível de resistência, de luta, de sobrevivência, não apenas em função da natureza inóspita e muito seca, como também o uso da língua crioula, que foi uma forma de comunicarem-se, desde o século XV, para que o branco português não compreendesse o que se passava. Como todos os países dos PALOP (Países Africanos com Língua Oficial Portuguesa), Cabo Verde tornou-se independente (!!!!!!!!!!!!!!) de Portugal, na década de 70 – “Em Cabo Verde é constituído um Governo de transição, composto por caboverdianos e portugueses. A 30 de Junho de 1975 foi eleita uma Assembléia Constituinte, esta Assembléia proclamou a Independência da República de Cabo Verde a 5 de Julho de 1975” - destaque para o grande herói nacional, Amílcar Cabral.
Conjunto de casas na Av. Amílcar Cabral
Fiquei alumbrada durante todo o percurso desde Porto Novo até chegarmos em Paul, uma das aldeias de Santo Antão, de um lado a terracota das montanhas e do outro, o azul do mar, e eu ali em meio a mais bela natureza que já visitei. Comecei a dar gritinhos de encantamento desde Janela (uma das tantas povoaçõs do concelho do Paul),
As montanhas de Cabo Verde - Paul - Santo Antão

as casinhas dependuradas nas montanhas e o mar a chicotear as encostas, os coqueiros, os pés de papaias e o canavial subindo e descendo as montanhas e aqui acolá, despontavam flores vermelhas colorindo o verde das folhagens e o marrom das montanhas.

Paisagem de encher os olhos

O arquipélago de Cabo Verde é de origem vulcânica, e é constituído por 10 ilhas: Boa Vista, Brava, Maio, Sal, São Nicolau, Fogo, Santo Antão (minha ilha), Santiago, São Vicente e Santa Luzia (esta não é habitada). Fomos visitar parte da família, conheci Nhá Chica, Nhá Rosa, tio Júlio, e tantos primos que me confundi, hora de comer pouco, porque em cada casa que chegávamos, tínhamos que comer (acho que engordei uns 20kg), não comer seria um acinte....
Enamoramento explícito pelas montnhas de Cabo Verde

E era um descobrimento fascinante subir e percorrer as montanhas em Paul, e deparar-me com aquela beleza absurda de natureza semivirgem. Nas pequenas localidades, as crianças quando passavam por nós, cumprimentavam-me em francês (ensino obrigatório das escolas, ao lado do inglês), e depois comentavam admiradas entre elas, ora em crioulo, ora em português: “mas ela é tão branquinha!”, e eu ria divertida...
Filomena mostrando a plantação de inhame
Estar em Cabo Verde era estar num pedacinho do Brasil, não pelo Brazilim, típico da ilha de São Vicente - onde se deu um importante movimento literário, chamado Claridade, “movimento de emancipação cultural, social e política da sociedade caboverdiana”- um carnaval que se assemelha ao do Brasil, considerando as dimensões dos dois países, claro; ou pela seca que assola lá tanto quanto cá, o clima e solo parecidos com o nordeste brasileiro; mas especialmente pela paixão que o povo caboverdiano tem pelo Brasil, quando descobriam minha nacionalidade o sorriso e a satisfação ficavam maior que o rosto e o coração, e nos chama/vam de país-irmão, é de uma emoção e de uma lindeza que enchia meu coração de orgulho e emoção; mas é preciso que o povo do Brasil saiba mais de Cabo Verde, ao menos uns 50% do tanto que eles sabem de nós. É uma paixão explícita nas camisas da seleção brasileira (quase a totalidade do povo caboverdiano tem uma camisa da canarinha), nas sandálias havaianas com a bandeira do Brasil, nas lojas de roupas (a maioria comprada diretamente em Fortaleza), nas novelas ou nos noticiários das emissoras de tv´s brasileiras, o Brasil é muito querido naquelas fantásticas Ilhas Crioulas...
Canavial nas montanhas
Passar o Son Jon em Cabo Verde tinha muitos significados para nós, era a necessidade de ver a vida crescer e mudar a história, era a ruptura e a construção de outra fase, de um ciclo mais maduro da vida, hora de trocar as imagens emocionais e psicológicas, e dar vazão à plenitude daquele momento em que a vida se manifestava em suas múltiplas dimensões. Era buscar a imagem de São João Batista (de acordo com a crença local, neste ano, o harmatão estava insuportável – e estava mesmo -, porque alguém foi cozinhar em uma das capelinhas da via crúcis, do santo em tela, e incendiou o telhado de palha e São João, insatisfeito, mandou o vento mais forte e mais quente, até que recuperassem a casinha),
Procissão de "Son Jon" Batista
e de quebra ganhei o harmatão, sim, vivi o famoso vento do deserto, com sua temperatura quente e as correntes de areia que nos chegavam do Saara; o som do lestada que embalava nossas noites de céu salpicado de estrelas e reuniões familiares no quintal da casa ou na porta da frente, compartilhando com todos a boa roda de prosa e os causos contados pelos membros da família, e o suco gelado de “tambarindo”, oferecido pela vizinha; era comer no desejum matinal a saborosa cachupa (o principal prato da culinária caboverdiano, feito à base de feijões, milhos, carnes e legumes), carinhosamente feita por Filomena (além do amor e do carinho que sentimos uma pela outra), doce de papaia (idem), os pontches (de coco, de mel, de mancarra, de chocolate, de manga, de morango, feitos com grogue – bebida alcoólica extraída da cana-de-açúcar, semelhante à nossa cachaça – e frutas). A hospitalidade da Iaia, o carinho da Rosa, da Cinda, da Guta, da Júlia, do Tony, dos irmãos de nhá cretcheu e de todas as primas e primos.
Grogue, bebida alcoólica extraida da cana-de-açúcar
O tempo estava muito seco e insuportavelmente quente, a proposta era de irmos até Ribeira das Patas, buscar a imagem do santo e acompanhar a procissão até a capela no centro da cidade. Confesso que não fomos, porque não tivemos condições, o tempo não ajudava e fiquei entristecida com meu despreparo. Decidimos que iríamos até à altura do cemitério e seguiríamos com os demais até a igrejinha que todos os anos recebe a imagem do Santo Padroeiro de Porto Novo, assim fizemos, percorremos toda a av. Amílcar Cabral (a principal da cidade), mais de 30º de temperatura, um sol tórrido, o batuque dos tambores, pessoas de todas as idades pagando promessas, outros renovando, ou fazendo pedidos pela primeira vez, é um misto de religiosidade com festa profana, quando dançam o colá, a cidade fervilha, e no caminho ofertam comidas e grogue para suportar o trajeto que é longo e difícil, em função do calor absurdo... A romaria emociona, porque a fé dessa gente é tangível e inquebrantável, muito semelhante ao nordestino...

Recriação das aldeias do interior da ilha de Santo Antão
A cultura caboverdiana é caracterizada pela mistura, pela mescla de elementos da cultura portuguesa e africana, de acordo com os estudiosos não se trata de uma soma, mas sim, “duas culturas que convivem” entre si, “resultando em um terceiro produto, totalmente novo, em função de um intercâmbio iniciado há mais de 500 anos”. Graças a posição estratégica do arquipélago, durante os “descobrimentos” e as Grandes Navegações, tornou-se um “ponto de escala obrigatório para navios que se deslocavam de e para o atlântico sul”. Servindo também de entreposto comercial quando os navios portugueses iam para o Brasil, naturalmente.
A água do mar com a temperatura quentinha
Além da música, com os mais diversos ritmos: funaná, morna coladera, batuque, kizomba, ou zouk (que é também de Angola), Cabo Verde tem destaque nos seus poetas: Eugénio Tavares, Corsino Fortes, João Vário (pseudônimo do neurocirurgião João Manuel Varela), Manuel Lopes, Baltasar Lopes, Ovídio Martins, Sérgio Frusoni, Onésimo Silveira e Mesquita Lima, entre outros.
Jogando bola com a meninada, cheia de estilo
Sonhei e vivi Cabo Verde, e desse sonho lindamente realizado, ficou a certeza (e o desejo) que voltarei tantas vezes mais eu possa, deixei um pedaço de mim lá, e trouxe outra metade em mim, comigo.

Dedico esse texto carinhosamente às seguintes pessoas: Nelson, Misselene, Zuleica, Iva, meu pequeno príncipe Diogo, Marta, Lito, Zé, Jovem, Maria João, Monalisa, Eloísa, Jorge, Liliana, Franciso, Fatú, Rafaela, To, o pequeno Gonçalo, e o Jota, além das citadas nele.
Quem me conhece já sabe que a música não poderia ser outra que não a do Paulino Viera, Prece Di Um Fidjo.
Porque eu amo essa música e foi a que meu coração e minha boca cantaram, quando cheguei em Santo Antão. Cantemos juntos:

Alô alô Cabo Verde alô/ Terra pôbre ma chei d'vivença/ Uvi ess prêce dum fidjo di bô/ K'ta bem longe ma ka ta esquece bô/ Dia ta bai/ Dia ta bem/ Tempo ta passa/ Mi sempre longe, d'nha tirrinha/ Ma mi m'tem fé, sim m'tem fé,/ De ba vivê la/ Nimque ê nhas ultmé dia/ La m'cré oia/Nem ké sô mas um vez/ Passaj d'ône, carnaval, sanjon,/ M'crê vivê junte ma nha pôve/ Dança cola batê pé na tchon/ La tud'cose ê mas sabe/Tud'cose ê mas doce/ La é um sabura...


domingo, 27 de setembro de 2009

Um certo Corcel...

(imagem recolhida da net)


de olhar perscrutador
capaz de tudo tragar numa piscada
expressão potente
orgulhoso independente

com uma maciez nas passadas
sempre atento ao derredor
carrega com orgulho e altivez
sua origem sagrada

do mundo não tem receio nem temor
defende e ataca com a mesma rapidez
de elegante porte
e pele reluzente

indomável e rebelde
dele emanam: poder, brio
mas fica preso por um fio
diante da sua donzela apaixonada!

Vamos ouvir mais um pouco da diversidade musical caboverdiana, Danae e os Novos Crioulos, cantando, Bu Rosto... Curtam! Quantos porquês e "paraquês" nessa música... Cantarolo junto: "hummm, nha cretcheu, onde bo sta..."

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Situações

(imagem recolhida na intenet)

Uma noite em claro em qualquer aeroporto ou "estación de autobús”, dá tempo de ver, sentir e viver muitas coisas. Algumas situações vividas num intervalo de 0:30h às 8:00h, em Barcelona.
Situação um:
- Buona notte, vá bene?
Levantei o olhar do livro e deparei com um sujeito sorridente, e doido para puxar um papo, e de muita má vontade, respondi: buona notte! Baixei o olhar e continuei com a leitura do meu livro, que de tão interessante, devorei-o quase todo no voo a Barcelona, deixando umas páginas para me fazerem companhia durante a longa noite que viria.
O rapaz era insistente, de pé diante de mim, sem parecer querer perceber que eu estava ocupada e envolvida na minha leitura, pergunta:
- Sapere dove si há uma macchina per il café?
Olhei com cara de poucos amigos e respondi que sim, ao fundo do corredor. Ele não se deu por satisfeito e me ofereceu um café. Olhei em volta, o saguão estava animado, gente para lá e para cá, não senti perigo no ar, e a idéia do café não pareceu tão absurda assim, como de início pensei.
Dirigimo-nos à máquina, ele insistia em me convidar e como não sabia mexer naquilo direito, ficou para mim tal ação.

Sentamo-nos e ele contou-me a sua história. Chamava-se Edouard, era senegalês, estava na Europa há dez anos, tinha 34, duas filhas, três caminhões (esse era o eu inventário) e seu plano era montar uma empresa de transportes. A rota do traslado dos automóveis, era pelo Marrocos... Contou todo o percurso para chegar à Dakar. Estava indo à Marselha, havia sido transferido da Itália, e estava feliz, ia receber um salário maior. Era chegado a sua hora de ir, ele agradeceu pelo papo e antes de ir-se, disse: - mademoisele, nécessaire je n´ai pas à dire, d´autres semblent à Sofia Loren; le sourire, la bouche, la couleur de la peau, les cheveux, le regard. Pardon de parler em français, je ne comprends pas le portugais, espagnol ou anglais.
E eu lhe falei que o estava compreendendo, mas que eu discordava quanto a parte sobre a Sofia Loren (embora o elogio tenha me agradado, é claro!). O curioso é que não é a primeira vez, que aqui me falam isso... E pensei no apelo, na adulação, quando se deseja algo. E para encerrar a questão de vez, emendei: my boyfriend does not think too...

Situação dois:
- Bueños días!
Pensei com meus botões, de novo não, quase 8h da matina, e uma noite em claro, não quero outro papo e lenga-lengas corriqueiros em salas de esperas. Mas o sujeito não desistiu e encarou minha cara feia de sono, cansaço e de poucos amigos. Com um tíquete nas mãos, perguntou-me: - es española? Respondi com má vontade: - no! Uma resposta seca e quase inaudível. E ele era corajoso: - vás a Cartàgena? Outra vez um, no! Mas isso era pouco, porque ele, de novo: - mira, chica, yo tengo un billete, péro necesito cambiar para otra hora y otra fecha, aún que yo haga la compensación de la diferencia....
- Perdona, péro yo no te entiendo, se hablares despacio quien sabe puedo dicer alguna cosa, y yo consiga le ayudar?? Ele olhou-me começou tudo outra vez. Claro que eu o estava entendendo, só não queria papo. Naquele ínterim, passou um segurança, eu o chamei e lhe expus a situação, e lá se foram os dois em “seus eus ovais”...

Situação três:
- Por favor, esto autobús vá al aeropuerto Costa Brava? Era eu esbaforida, depois de chegar atrasada. E o jovem me olha e responde no bom e velho português do Brasil: não sei, só sei que estou aqui desde às 9h esperando um ônibus que me leve à Girona. Eu feliz: - ah, brasileiro de onde? Ele: ah, brasileira? Nem parece, nem tem sotaque (o jovem foi generoso, admito), nem jeito. Eu sou de Mato Grosso, e você? Respondi de onde era, agradeci e então a conversa fluiu solta. Ele perguntou o que eu estava fazendo aqui, há quanto tempo vivia, essas curiosidades básicas, quando encontramos um compatriota e estamos longe de casa há bem mais de uma semana. Aí foi a minha vez de perguntar: e você o que faz? Ele tranquilamente me olha nos olhos e responde: puto! Quase num murmúrio, e eu perguntei de novo que era para não ter dúvidas, e ele deu uma risada gostosa, e falou com calma e em claro tom: sou puto! Eu sou transformista, vivo disso aqui, estava cansado da vida difícil, quase miserável que eu tinha no Brasil, estou ilegal, e desde fevereiro; deu um tapinha na mala que estava descansando aos seus pés e disse que ali estava a menina que ele era, mostrou-me fotos das suas performances, contou da casa que tinha em Alicante, falou dos seus clientes e suas vontades; que homens de determinada nacionalidade gostava disso; de outra nacionalidade, daquilo; de um cliente alemão masoquista; mas a sua paixão era um árabe... Todavia ele gostava mais dos clientes que lhe pagavam para maquiá-los como mulheres; ou para usarem as suas coisas, assim, não lhe tocavam, e que ele cobrava por tudo... Contou-me que em uma ocasião foi difícil convencer um cliente que queria ir ao banco usando um vestido, e de braços dados com ele; que não pegava bem ele ir a tal instituição, daquela maneira.

Ele necessitava pedir algumas informações e perguntou se eu poderia fazê-lo, uma vez que não sabia falar bem o idioma. Tudo bem, eu respondi que perguntava. E seguimos conversando. Minha hora de ir, ele agradeceu-me por ouvi-lo e não ter tido nenhum preconceito. E a viagem até Girona foi em estado de letargia e reflexão, da noite que não dormi, das necessidades de sobrevivência e das escolhas que muitas vezes são frutos das nossas circunstâncias...

Para esse momento, trago Lobão, e essa é a música: Essa Noite Não!
A-d-o-r-o!

terça-feira, 1 de setembro de 2009

E eu que pensava que só meu olho (te) via

(imagem colhida na internet)


E eu que pensava que só o meu olho (te) via
é mais além:
é corpo
alma
coração
riso
canção
poesia!


Naturalmente que eu poderia escolher essa música cantada por uma infinidade de vozes excelentes, etecétera e tal, ocorre que eu queria com a voz doce e linda dessa moça igualmente linda, que desde que escutei-a cantar, tem estado entre as minhas recentes "descobertas" das maravilhosas vozes brasileiras, e ela tem a vida inteira para provar que é uma excelente cantora, se alguém duvidar. Curtam a Verônica Ferriani cantando: Rosa


sexta-feira, 14 de agosto de 2009

O Equívoco

(imagem recolhida da net)

... Olhou para o altar
o Equívoco estava lá
jogou fora o buquê
sem explicação ou porquê

de estarrecimentos
encheu a igreja
de inveja muitas mulheres
de sussurros o ar

disse não à hipocrisia

pensou na vida que não queria
nos sonhos que não viveria
na história que não escreveria
descalçou os sapatos

e caminhou sozinha
vestida de noiva
cantarolando feliz
pela via da liberdade!


Vamos cantar juntos: Liane Foly - Au fur et à mesure...

"Je t'écris des mots purs/J'ai gommé les ratures/Et là sur le papier/J'ai effacé tes fautes/Au fur et à mesure/C'est pas d'la grande écriture/Juste un peu de lecture/Quelques instants volés/Qui se sont envolés/ (...)/J'ai effacé mes fautes/

Au fur et à mesure
Au fur et à mesure
Au fur et à mesure
Au fur et à mesure
Au fur et à mesure...
......

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Gazela


(imagem recolhida na internet)


O ritmo que nos envolve
nas espumas essenciais
que anunciam os caminhos

fatais
de vão em vão
o precipício

no afã que nos engole
quando tu felino
a espreitar-me tua presa

sem pressa
espera
e me caça

como a uma gazela acossada
aprisionada
o meu cheiro a te guiar

predador
vaguei desertos
a buscar-te água e alimento

no teu movimento
no teu tempo
te fazes pantera

teu tiro certeiro
e eu em cativeiro
cativada!



A música? Ah, escuta só:

domingo, 26 de julho de 2009

Desliga a música...

imagem: lilya corneli


Faz-me um favor:

desliga a música

hoje

quero escutar apenas os meus sonhos!


Mas apesar do apelo ao silêncio, desde ontem, cantarolo e ouço: Take a Look At me Now, Phil Collins... Porque é essa a música do meu silêncio!




quarta-feira, 15 de julho de 2009

A vida na rotunda, na avenida...

(imagem colhida na internet)


A vida não passa sem nos trazer reflexões, ou nos deixar estarrecidos diante dos acontecimentos, que para alguns pode ser banal demais até. O que não é o meu caso, não sei se para o bem ou para o bom; para o mau, ou mal; mas certas situações me deixam estupefacta e pensativa.

Caminhando pela margem da rotunda da Boa Vista, apressada, porque o vento frio, apesar do sol, parece lâmina a cortar-me a carne, em mim na carne, a minha carne (nessas horas me pergunto como o ser humano pode ser tão adaptável assim?)… Não percebi de imediato a discussão que se dava ali entre duas mulheres. Escutei vozes alteradas mas não percebi de onde vinham concretamente, até que uma senhora (devia beirar os 60 anos), meio descompensada, partiu pra cima de outra (esta já passava dos 70 anos, seguramente), e as duas começaram a esbofetearem-se no meio da rua, para os transeuntes surpresos e surpreendidos como eu, a ação das senhoras, deixou-nos sem ação, porque parecia uma cena de um filme de quinta categoria (referenciado por mim) que se passava em câmera lenta…

Um garoto assustado, choramingava e dizia à sua mãe:

- Vamos, mamãe, vamos!

- Vamos filho, vamos!

- Alguém aí, faça alguma coisa, pá! Eu estou com uma criança e está assustada!

- Toda a gente só dá uma vista d’ olhos e nada fazem?

E ninguém fazia nada, enquanto isso as duas mulheres puxavam os cabelos uma da outra, falavam coisas sem nexo aos ouvidos de quem não as conheciam, chutavam ora o ar; ora a perna uma da outra. De repente, num golpe de sorte (?), a mais jovem estapeou a cara da mais velha, e o sangue jorrou, imagino que as unhas atingiram um vaso sanguíneo, e por ser um local mais sensível, começou a sangrar de imediato. As duas então deitaram ao chão.

- Deixa meu pai em paz, um senhor de 83 anos, têm filhos e netos!

- O que estás a dizer?

- Não sabes? Ah, sabes sim, sei que sabes! Quer aproveitar-se do meu pai, deixe-o em paz e vá cuidar da sua vida, ora pois! Vou mostrar-te do que sou capaz!

-Nada sei! Não sei do que estás a dizer!

Isso pronunciado entre os dentes, com um ódio que saltava das pupilas dilatadas dos seus olhos. A situação já se tornara impossível, até que quatro homens, certamente os mais corajosos e sensatos dentre todos os presentes, não suportaram mais ver aquela fábula deprimente, e tomaram uma atitude: foram separar as senhoras raivosas e cheias de infelicidade. Percebam: quatro homens fortes, tenazes e destemidos, tiveram dificuldade para impedir que as duas senhoras continuassem aquele triste espetáculo de agressão e violência. Não se dando por satisfeita, a mais jovem, mordeu a mão de um dos cavalheiros que a desvencilhava da senhora mais idosa, que por sua vez, puxava-lhe os cabelos a quase trazer o couro cabeludo entre os dedos…

Quando deu por si, e saiu do seu transe de ira, a mais jovem, notou enfim que não teria mais como dar vazão à sua destemperança, de um salto levantou-se, ajeitou a saia; o casaco; os cabelos; e saiu resmungando algo incompreensível. Enquanto a mais velha, lívida e transparente, limpava o sangue do seu rosto, sem emitir um sinal de emoçao (nunca vi tanta frieza diante de um ataque de fúria), ficou rente à parede, silenciosa. Alguns polícias chegaram e eu já estava a dobrar a Av. de França…

E fui andando até o Carvalhido, pensando, porque eu precisava pensar. Em mim, nelas, e em tudo que eu presenciara, além de coisas que não presencio, ou das que vejo e também emudeço.

Parece um enredo de alguma peça do Nélson Rodrigues (que por sinal, tem uma peça dele em cartaz aqui), mas não é, ou é, a vida real, latejando, pulsando e rompendo ódios e sentimentos outros guardados até a explosão. Um micro-mundo, que avança violento sobre outro, pela ação corrupta, impaciente e baseada no descontrole, na vitória do não diálogo, que não cede, não concede e nem busca uma negociação, um porquê, simplesmente agride. Será que a agressora tem algum distúrbio de personalidade; prediposição natural (?) à violência; desconfiança; competição? O que há no subjacente dessa história de agressividade, que jamais saberemos? Uma amostragem do macro-mundo, onde se perdeu completamente a via da comunicação, da negociação, e eclodem as guerras, as atrocidades imperialistas… Fiquei pensativa sobre o mundo.


E escuto o João Pedro Pais: Um Resto De Tudo, vamos escutar a canção do gajo e reflitamos sobre nós e o mundo que estamos a construir...



domingo, 28 de junho de 2009

Azul-mirtilo

(imagem recolhida da net)



sentir é um não sei-o-quê

quase sabendo

que explode por dentro

resvalando cá fora

construindo perguntas

espargindo inferências

trazendo interrogações

afirmando emoções

sentir até o que não se pode

à revelia do tempo

sentir não querendo

fora de hora

o que devasta um coração

olhos fundos (des)atentos

choro raso de saudade

o que se passa aí

transborda aqui

sem alarde alarido

ouvindo-te: canção

pudesse ser eu a ter o mundo

o riso

a alegria

dar-te-ia:

um céu azul todo dia

de uma cor azul só tua

na azulidão do infinito firmamento

dos mares e oceanos

desfaria os turvos momentos

acenderia luzeiros

cuidados e desvelos

mundo encantado

de um azul-mirtilo

que quero para ti...



Bsote bem oia a Nanci Vieira, te canta "Lus"?






quarta-feira, 10 de junho de 2009

Veneza...!

«Se tivesse de procurar uma palavra que substituísse "música" poderia pensar em "Veneza".»

Friedrich Nietzsche



(à espera do waterbus)

A cidade parecia ter acabado de ter as lanternas acesas por algum anjo que a queria deslumbrante para me receber, e eu, alumbrada, com o nariz esmagado contra a janelinha do avião, olhava os pontos salpicados de luz lá embaixo demarcando o espaço... Pena que era noite e não pude ver o plano urbanístico de cima, com a luz do sol a refletir no Adriático e mergulhar na sua imensidão e me encontrar sereia em algum ponto ou porto...

Enquanto esperávamos o ônibus que nos levaria do aeroporto Marco Polo, deambulei sobre o navegante croata-veneziano, no/o que ele sentia, quando atravessava a infinidade de canais e saía para desbravar e percorrer mundos, até chegar à Rota da Seda; o encontro com Kublai Khan (o neto de Gengis Khan). Eu nem de longe ouso invocar o espírito do grande navegador, conquistador, narrador de histórias, tão elogiado n´O A Descrição do Mundo (algum tempo depois: As Viagens de Marco Polo), as glórias, as conquistas, recheadas de detalhes riquíssimos e emoções incomuns. Mas tão somente externar o brilho de minh' alma quando estive lá: Veneza!


(as gôndolas)

Pensamentos furtivos confundiam-se com a realidade, agora já no waterbus que nos levaria ao hostal, em Giudecca. Viajar para Veneza, é um destino insólito, completamente diferente de tudo, de todas as cidades que já visitei aqui na Europa... Só dei por mim que estava a chover, quando o vento frio, e as gotas de chuva começaram a incomodar.

A beleza das pontes, por mais simples que sejam, tornam os canais em autênticos espelhos d´águas, onde refletem as edificações antigas; os raios da lua e os nosos olhos brilhantes. As gôndolas, sempre na cor negra - uma lei datada de 1562, oficializou a obrigatoriedade, dizem que foi o sinal de luto, em função da peste negra que dizimou milhares de venezianos; há quem discorde e diga que foi em função da cidade ter sido conquistada por outra nação; e há quem fique com as duas versões - com assentos revestidos de tecido de veludo, vermelho, deslizam suave, e as águas batendo contra as paredes de palácios seculares, sempre com um casal apaixonado a bordo, ainda que seja ao cair da tarde. E as águas vão criando movimentos e desenhos, a cada remada do gondoleiro, a cada gôndola que cruza a outra. Quanto para se ver nessa cidade, quanto romantismo impregnado na aura, no mar e nas ruas...
As casas coloridas que ladeam os canais (sem o excesso de cores berrantes) parecem tramas de ouro a comporem outras paisagens, nas ruas dos (seis) bairros centrais, algumas de pedras, os velhos candelabros, lampiões acesos, os vários jardins, os jasmins perfumando o ar emprestam mais do que uma atmosfera mediavalesca, mas um romantismo incomparável. A cidade transcende qualquer definição; a cidade promove e provoca os encontros, o amor! Não há lugar mais apaixonante que Veneza, não há!

Hora de descansar, tomar um banho, comer algo e esperar o dia seguinte, com sorte teríamos sol... Uhu! Olha o sol ali, gente! Que belíssima composição: sol, céu azul, nuvens brancas, as gôndolas, as pontes, o Adriático e nosso des-lum-bra-men-to! Atravessar o Grande Canal e olhar para a imensidão de belezas ali, não é um fato comum, ao menos para mim: aportar nas proximidades da Praça de São Marcos, o “estacionamento de gôndolas”, os charmosos rapazes, com bíceps definidos, robustos, de calças pretas, camisas listradas em preto e branco, chapéu preto com fita, a tentarem te convencer que és um tonto se não desembolsares 80 € por um passeio de 40 min, ocasião em que eles te mostrarão todo o encanto da cidade...!

(Ponte dos Suspiros)

Ali, ali, olha, a Ponte dos Suspiros (construída em 1602), Dios Mio! Que lindinha, pequenina, branca... Nas proximidades da Piazza San Marco. Essa ponte, liga o Palácio Ducale à Prisão Nove, segundo historiadores, foi o primeiro edifício no mundo construído com a intençao de ser uma prisão, era por ela que os acusados pela Inquisição do Estado, seguiam para julgamento . Segundo a lenda tem esse nome porque “em tempos remotos, os prisioneiros (atravessando-a) suspiravam na ocasião de ver pela última vez o mundo externo.” E ali estava eu, minha pessoa a caminhar pelas ruas, vielas da Rainha do Adriático, lugar que serviu de palco de tantas histórias (e ainda serve), de filmes, quantos foram realizados ali: Anônimo Veneziano (Enrico Maria Salerno - 1970); Morte em Veneza (Luchino Visconti - 1971); A Little Romance (George Roy Hill - 1979); Todos dizem Eu te Amo (Woody Allen - 1996) e quantos mais?

Passear em Veneza é um constante reencontrar-se e deslumbrar-se com a arte, com a arquitetura e paisagem única de uma das mais belas cidades do mundo. A Praça de São Marcos toma-nos o fôlego, é necessário respirarmos fundo e nos refazermos com calma para poder prosseguir às descobertas em cada uma das ruas; as mais de 400 pontes; numa cidade que foi construída em 118 ilhas, um espanto em números e em sua natureza única, em sua composição renascentista; em suas praças; museus; palácios; igrejas; mercados e naturalmente seus canais. Veneza é impactante, ninguém fica indiferente à ela, ninguém! É um museu a céu aberto, ao ar livre, quase 100% dos seus prédios são qualificados pelo Patrimônio Artístico e Cultural da Humanidade.

(Palácio Ducal)

Uma cidade que em pleno século XXI, um dos destinos mais procurados do mundo, com toda a tecnologia da pós-mordenidade, e os pormenores de uma "cultura babélica” têm características marcantes e vivas do século X, data desta época, as gôndolas e provavelmente o mais conhecido símbolo da cidade, além das máscaras.

A melhor forma de se encontrar em Veneza, é perder-se nela, ainda que disponhemos de mapas, é quase impossível (no meu caso é impossível mesmo, porque sou desorientadinha, e não há mapa que me salve, e claro, perdemo-nos!) não perder o prumo, quando embranhamos por aquelas ruelas interligadas por pontes, escadarias, casas com varandas e flores esparramadas em toda a extensão, parece que estamos em canais gêmeos, onde circulam toda a vida da cidade, mas não é verdade, isso é a deixa para a perdição e encontração.... Porque apesar do charme das gôndolas, dos barcos-taxis, dos vaporettos, Veneza é pra ser vivida, degustada, engolida, descoberta, sentida, a pé, só então que nos livramos de certo modo, do fluxo surreal e absurdo de turistas, só então as bucólicas e românticas ruas, surgem... E então nos deparamos com outra Veneza.

(a caminho do Rialto)

Surpresa grata, ao chegar, nas proximidades da Praça São Marcos, ouço os acordes de piano e me aproximo, a pianista executava Brasileirinho, então fiquei ali compenetrada e feliz, sentindo a música. Ao final, aplaudi-a: bravo! Bravo! Um sorriso definitivamente é o melhor cartão para alguém, ela agradeceu e entao percebeu que eu era brasileira, foi a deixa para ela tocar, “Garota de Ipanema” e “Aquarela do Brasil”, uma delicadeza só. Seguimos rumo à Praça de São Marcos, enfim... Seguramente a praça mais famosa do mundo; à primeira, à segunda, à terceira e à todas às vistas, a imagem é quase um desmaio, “parece um grande salão de mármore com galerias em todo o seu redor”, naturalmente que a economia capitalista está presente, em todos os lados, há cafés, lojas, bares, o comércio é variado e caro. Prepare-se para gastar, Veneza consegue ser mais cara ainda que Paris, sim senhora! Um "dos mais famosos e frequentados bares pelos endinheirados é o Harri´s Bar, o dito, foi frequentado por personalidades como Ernest Hemingway, Thomas Mann, George Sand " , entre outros.

Não encontro um adjetivo à altura para descrever a praça que meus olhos agora capturam, fui engolida por ela, saí de dentro de mim, ajudada pelas lágrimas, é. Quando eu me emociono assim diante de algo bonito, seja humano ou inumano, eu desabo no choro, é a minha voz da emoção. Explanar tecnicamente sobre o valor do conjunto arquitetônico da Praça de Sao Marcos, não é o meu objetivo, existem inúmeros especialistas que tratam disso, aqui é só mais um relato, meu, com a minha ótica, sobre uma viagem cujo destino é o mais indelével em mim.

(Rialto)

Extasiamento quando saindo do Grande Canal em direcção ao Rialto, passamos diante da casa de Marco Polo. Confeso-lhes que à ida à Veneza, valeram cada um dos euros gastos; ter visitado a Praça de S. Marcos com a sua Basílica, Torre do Relógio, Campanário, Palácio Ducal, Ponte dos Suspiros, Ponte de Rialto, Igreja dos Santi Giovanni e Paolo, Igreja Il Redentore, Basílica de Santa Maria della Salute (e outras igrejas não tão famosas assim, em Giudecca), e o que mais se-lhe-nos apetecer. Andar a pé, misturar-se com aquela multidão ensandecida de todos os lugares do mundo, nas mais variadas línguas, é sem dúvida a melhor maneira de curtir e entrar na alma da cidade, da mais linda cidade do mundo (ao lado do Rio de Janeiro). Diluirmo-nos nas águas da cidade....

(Ponte do Rialto)

Espalhamo-nos pela cidade, misturamo-nos com as pessoas, descobrimos a vida que pulsa, que brota e que transpira e que passa em Veneza. Participei na fotografia de família de um casamento que acontecia na Praça de São Marcos, sem ser convidada, naturalmente, quando dei por mim, já estava na fita.

(na foto da família, em um casamento)

Sentamos em num café em Rialto e ficamos observando o trânsito das embarcações nos canais, um engarrafamento, em verdade. Depois, fomos a uma trattoria e nos deliciamos com uma pasta, de sobremesa, sorvete de pistachio, nham, adoro!

Uma caminhada até à Bienal de Veneza,

(Bienal de Veneza)

e quando não resistimos mais ao cansaço, sentamo-nos numa fonte, num centro de um mercado, e fomos comer morangos, vendidos ali mesmo, em copos descartáveis...

(Mercado em Rialto)

E ainda mais uma vez, fiquei a pensar em Marco Polo, e recuperei o diálogo entre ele e Khan, no livro do Italo Calvino, As Cidades Invisíveis:

«Marco Polo descreve uma ponte, pedra a pedra.

- Mas qual é a pedra que sustém a ponte? - pergunta Kublai Khan.

- A ponte não é sustida por esta ou aquela pedra - responde Marco,

- mas sim pela linha do arco que elas formam. Kublai Khan permanece silencioso, refletindo. Depois acrescenta:

- Porque me falas das pedras? É só o arco que me importa. Polo responde:

- Sem pedras não há o arco.»



E esse poste de ferro, aí embaixo? Nada não, é para matar as minhas saudades do meu Recife. Mas essa imagem, é Veneza, embora pareça com o Recife.


A música? Poderia ser outra? Venecia sin tí, com o Aznavour...







b17

Os cães não ladraram  os anjos adormeceram  a lua se escondeu. Dina Salústio em   Apanhar é ruim demais imagem colhida na internet, d...