Canto da Boca
terça-feira, 7 de junho de 2022
rosé
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022
imóvel
fixada num tempo
que não se movia
nada se movia
não havia transição
sinal de avanço
passagem
ou transformação
não havia nada
a não ser o nada que havia
e a ambiguidade de um relativo silêncio
que tudo falava mas nada dizia
a vida reduzida a um amontoado de palavras
que de novas não tinham nada
todas elas desgastadas
usadas, apagas e reescritas milhões de vezes
não tinha nenhum sonho
nenhum retalho de poesia para costurar
linha para cerzir
também não existia
mas sobravam: saudade, ilusão e melancolia
terça-feira, 11 de janeiro de 2022
avassalador
a vida inteira nesse instante agora
quarta-feira, 10 de novembro de 2021
prolongada hora do ocaso
teu nome é um segredo que carrego entre os dentes
mastigo a tua ausência todos os dias
engulo quilômetros de desejos
fincando as marcas do tempo nos grãos de areia
que se dissipam com a luz do sol
teu cheiro é uma cobiça que carrego embrulhado entre as
pálpebras
que se desdobra e se espalha a cada bater dos cílios
espreitando o lençol rugoso das águas agitadas do mar
revelando o insensato gesto de oblivion
tua voz chega como um animal selvagem
que se debate entre os fios
dos meus cabelos
como um bicho enfurecido recém-capturado
e eu prisioneira das vontades tantas
transito entre as feras da paixão e da saudade
que me devoram por dentro e por fora nesta prolongada hora
do ocaso
---
O., X – XI- MMXXI
terça-feira, 14 de setembro de 2021
intransponível
segunda-feira, 28 de junho de 2021
o outro lado do mundo
segunda-feira, 21 de junho de 2021
estação quatro cantos
quarta-feira, 12 de maio de 2021
maio
sexta-feira, 30 de abril de 2021
"o fim do mundo não vai chegar mais"
num cálice de vinho tinto
e deixar a esperança se estilhaçar
como se fosse os fragmentos do cristal quebrado
eu preferi guardar o desespero
na gaveta da cômoda do quarto da bagunça
a mesma bagunça que agitava meu coração vermelho
todas as vezes que o sino da igreja badalava as horas da espera
e aquele cansaço que pesava a alma
que vergava o corpo
que enrugava a esperança
que amargava o céu da boca
que apagava as estrelas
que borrava a lua
que fechava o céu
e insistia em dizer:
"que o fim do mundo não vai chegar mais"
--
Olinda, XXX - IV - MMXXI
Renato Braz, Quero ficar com você
domingo, 25 de abril de 2021
idas e vindas
quarta-feira, 31 de março de 2021
Ditadura nunca mais!
Há 57 anos – dia 31 de março de 1964 - o Brasil escrevia uma das mais tristes páginas da nossa história recente, marcada por uma extrema ferocidade.
A ruptura com a legalidade e a democracia, foi instalada no país, com o golpe de 1964 e a ditadura militar um regime brutal e violento.
Os militares estavam acima do povo e das leis, segundo Chiavenato (2014, p. 108) "sem o apoio do povo, o regime militar teve de suspender eleições, fechar o Congresso e desrespeitar o judiciário".
Apoiados pelo capital financeiro externo, pela elite econômica brasileira e os U.S.A., que respaldavam os políticos de direita, os militares foram meros executores do golpe.
O cenário era terrificante, nos primeiros meses, os militares detiveram cerca de "50 mil pessoas, aproximadamente". Empreenderam o que eles chamaram de "operação pente-fino", que consistia em ir de "rua em rua, de casa em casa", buscando "suspeitos, livros, documentos, qualquer coisa que ligasse os acusados ao governo anterior ou à 'subversão".
Não importavam qual o papel, ou quem era a pessoa detida, mas estes tinham que provar sua inocência, ainda que não fossem culpados de nada. Naqueles idos, raras foram as lideranças "sindicais e estudantis" que "escaparam da repressão", prossegue Chiavenato (idem, p. 183).
Após a renúncia do presidente Jânio Quadros, João Goulart (de ascendência açoriana), um político gaúcho, conhecido como Jango, assumiu a presidência em um cenário de grande crise política, econômica e social. Seu governo compreendeu o período de setembro de 1961 a abril de 1964.
Gestou-se uma grande conspiração em torno do governo de Jango, cujo conciliábulo, dispunha inclusive de financiamento do estrangeiro. Usaram da prática de aliciamento de intelectuais brasileiros e contou com amplo apoio da imprensa nacional entre eles os "Diários Associados" (já extinto), "Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, O Globo, Jornal do Brasil, Correio da Manhã e Correio do Povo" (este do Rio Grande do Sul).
Escritores, jornalistas e redatores também compactuaram com esse triste episódio, consoante Chiavenato (2014. p. 55), "hoje, a divulgação dos nomes desses escritores e jornalistas causariam espanto à desinformada opinião púbica brasileira", o historiador traz uma relação surpreendente dos colaboradores do Ipes (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais, dirigido pelo General Golbery do Couto e Silva), que era um "núcleo de conspiração golpista com agenda política própria", e um dos principais órgãos de maquinações contra o governo de Jango.
No rol estão o "poeta Augusto Frederico Schmidt, o jornalista Wilson Figueiredo, as escritoras Raquel de Queiroz e Nélida Piñon" (esta última era secretária do Instituto, na ocasião). Chiavenato (subidem), diz ainda que "o escritor José Rubem Fonseca", era "um dos líderes intelectuais do órgão" e tinha "entre outras tarefas, de autorizar o financiamento de documentários, selecionando cineastas e sugerindo roteiros".
Chiavenato (idem, p. 45) releva que "embora a administração de João Goulart encontre-se entre as mais investigadas na história do país", nenhuma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), encontrou "a existência de um sistema de corrupção instalado em seu âmago".
Qual a acusação então?
Foi taxado de subversivo! Além do que, a simples existência do seu governo incomodava as elites sociais e econômicas. Para o autor, "tornou-se necessário criar um clima ideológico que o apresentasse como subversivo e impatriótico". E assim foi feito, "com métodos científicos e muito dinheiro", continua. O curioso é que Jango, queria implementar as reformas para o capitalismo.
Jango teve como principal marca, "as tentativas de reformas". O Brasil era (e continua a ser), um país de miseráveis, privilegiando eternamente as elites econômicas. Não muito diferente dos anos 60.
O que era a Reforma de Base?
Era um plano de mudança que iria abarcar "quase toda a sociedade". Uma remodelação nas "áreas eleitora, administrativa, tributária, urbana, bancária, cambial, universitária e, certamente mais polêmica, a agrária", concorde Chiavenato (2014. p. 23).
Para Miguel Arraes, segundo Rozowykwiat (2016. p.110), "o golpe militar verificado no Brasil em 64 foi resultado de uma articulação internacional, promovida para assegurar o controle do processo político em países onde se observava uma intensa mobilização popular".
Era o povo acordando ao mesmo tempo em que se organizavam em associações, ligas, havia uma intensa movimentação popular... E isso era inadmissível para os poderosos.
Arraes, "não tinha dúvidas de que a motivação do golpe foi, predominantemente externa, resultando da aliança do capital internacional, das elites econômicas nacionais e dos militares, meros executores da intervenção", prossegue a jornalista.
Não há o que se comemorar, no 31 de março, data em que foi instituído golpe de 64 e a ditadura militar no brasil. Ocasião em que muit@s brasileir@s foram torturados, mortos, ou desaparecidos.
A Comissão Nacional da Verdade relatou ao menos 30 tipos de tortura(s), cada uma mais cruel e chocante que a outra. Entre elas, a introdução de baratas vivas, na vagina das mulheres, ratos vivos no ânus.
Os "presos políticos foram expostos aos mais variados tipos de animais, como cachorros, ratos, jacarés, cobras, baratas, que eram lançados contra o torturado ou mesmo introduzidos em alguma parte do seu corpo".
O cenário era aterrorizante em todo o território nacional.
De acordo com Chiavenato (2014. p. 105), "os militares no poder degradaram as regras políticas [...] ao 'perder a identidade', os militares subverteram o conceito de nacionalidade".
A violência e o grotesco "golpe militar em Pernambuco foi cruento".
O então governador Miguel Arraes, uma das maiores lideranças políticas desse país (e de ressonância mundial), um dos mais perseguidos pelo regime, defensor da legalidade e da democracia, sempre resistente à ruptura que se instalava, não se submeteu ao golpe e recusou veementemente a apoiar o regime, condição para que ele permanecesse no cargo.
Naquele último dia de março de 64, havia uma intensa movimentação de militares, muitos armamentos bélicos, nas cercanias do Palácio do Campo das Princesas (sede do governo de Pernambuco), apontados para a residência oficial.
Informado pelo coronel Dutra de Castilho, que ele estava deposto, Arraes lhe respondeu:
- "o senhor não tem autoridade para me depor. Sou governador do estado, eleito pelo povo de Pernambuco e somente ele pode me depor. Ou então, o senhor quis dizer que estou preso e isso o senhor pode fazer pela força".
Arraes dizia que "a herança que deixaria para os filhos, seria a dignidade"!
Ditadura nunca mais!
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Brasil, XXXI - XXX - MMXXI
Bibliografia
CHIAVENATO, Júlio José. 2016. O Golpe de 1964 e a Ditadura Militar. São Paulo : Moderna, 2014.
CAVALCANTI, Lailson de Holanda; COLARES, Valda. 2015. Magdalena Arraes: a dama da história. Recife: CEPE Editora.
ROZOWYKWIAT, Tereza. (2016). Arraes. Recife: 2016. CEPE Editora.
Disponível em:<https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/DoRSparaPoliticaNacional/Iniciacao_politica> Acesso em 31.03.2021.
Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Instituto_de_Pesquisas_e_Estudos_Sociais#:~:text=O%20Instituto%20de%20Pesquisas%20e,ativamente%20das%20articula%C3%A7%C3%B5es%20que%20culminaram>
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