quinta-feira, 31 de maio de 2007

Flores de Maio.


Enfrentaram as chuvas, os ventos, as pancadas, as tempestades.
E o sol por fim lhes sorriu.
Dum céu azul em risco anil
Que dourava as manhãs e
E em vivo escarlate
(D)escrevia as tardes
Paradoxalmente do antagonismo
Que os uniu.

Amam-se. Isso é fato.
Desejam-se. Isso é fato.

Enfrentaram.

Encontraram-se.
Renderam-se.

Conceberam o infinito
Escreveram seus versos mais bonitos
Mergulharam em doce mar
Oceanos a desbravar
Cântico de sereia a entoar
(enfeitiçado se entremear)
Para num doce remanso desaguar
Sebes caramanchões cercas-vivas
Flores de maio
A vida enfeitar.


Estou tomada pela voz, pela interpretação, pela emoção da Camen McRae, a música é Here, There And Everywhere (Paul McCartney e John Lennon), mas experimentem ouvir com a Carmen, experimentem...“To lead a better life... Need my love to be here... Here, making each day of the year... Changing my life with a wave of her hand... Nobody can deny that there's something there... There, running my hands through her hair... Both of us thinking how good it can be... Someone is speaking but she doesn't know he's there... I want her everywhere... and if she's beside me I know I need never care... But to love her is to need her... Everywhere, knowing that love is to share... each one believing that love never dies... watching her eyes and hoping I'm always there... I want her everywhere... and if she's beside me I know I need never care... But to love her is to need her...”

terça-feira, 22 de maio de 2007

"Fallin'..."


Às vezes eu te amo. Às vezes eu te odeio. E essa dualidade causa um redemoinho. No entreabrir da boca e dos olhos, tudo se evapora, e na asséptica brancura do papel os sentimentos e os versos arrebentam. Arrebento-me. Você que é a minha poesia, se faz e me faz; se fez e me fez em risos, riscos e rabiscos: na pele, no tempo.
O que a materialidade da palavra pode dizer por mim, por nós? Em todas as instâncias, entrâncias e reentrâncias teu verbo se faz em mim, carne. Em mim na carne. Em minha (tua) carne.
Sempre sedenta de ti serei, como na primeira água que bebi, e do sabor não esqueci; nossas duas águas confluindo num movimento de/em celebração restituindo-nos do estado pedra, para a fruição.
Não é de mim que o mundo sai, não é em mim que desemboca o mundo, mas de ti, em ti que me decifrou. Não mais indagues os meus olhares, é para te eternizar em minha íris, em minhas curvas, em meus seios, em meu sexo.
Multiplicas-me a cada dia, e em todos eles não me vejo menos que tua; não tenho passado, não tenho presente, futuro não terei se subtrair-me o alicerce das tuas pernas, teu olhar castanho e teus abraços que me acolhem quando busco-te refúgio meu, ainda que as linhas teimem em dizer não.
Se mil palavras num murmúrio minha boca confessar, nenhuma outra será senão o tanto de amor que eu tenho pra te dar.


“I keep on fallin’... In and out... With you... Sometimes I love ya... Sometimes you make me blue... Sometimes I feel good
At times I feel used... Lovin' you darlin’... Makes me so confused...” Alícia Keys conseguiu traduzir o que não tenho condições de dizer...

Faísco.


Enquanto pelos olhos: a gula
a beleza e a verdade
(e cunho na pele tanto desejo)
Divido-me entre a vontade e a saudade...

Enquanto vejo nascer a crença e a fé
Flagelo-me.
Espero-te.

Como fogo ateado crepitando ao vento
Em mil centelhas
Faísco.

Ainda que tão longe,
Sonhamos
Tua presença se faz viva.

É viva.
Vivo.
Vives.

Num grito pontiagudo
Vocifero
Meu canto

De ti.
Em ti.
Por ti.

Restando em mim
O amanhã.
O porvir.

O teu vôo
Por mim.
Para mim.
Em mim

... A explodir tuas sementes.


“Depois de ter você...Para que querer saber que horas são? Se é noite ou faz calor...Se estamos no verão... Se o sol virá ou não... Ou pra que é quer serve uma canção como essa? Depois de ter voce poetas para quê? Os deuses, as dúvidas? Para que amendoeiras pelas ruas? Para que servem as ruas? Depois de ter você...”
A explosão se completa com essa música que agora também mora em mim: Depois de ter você: Adriana Calcanhotto

"Construção."


Quando em sorrisos se mostra
Rasgos de emoções a envolvem
Como lua vazia à espera de encher-se
Ele vem e preenche-lhe todos os espaços...

Tudo que existe nela está explícito
Ele do nada, por nada lhe desentranha:
O beijo, os segredos, o gozo e os desejos.
Num rasgo, num recorte, pára o tempo,

E contemplam-se...
E provocam-se...
Por uma janela do mundo
E criaram, recriaram o seu.
Vencidos, vencedores

Há algo de irreversível no ar
Há uma promessa nova no ar
Há desenho de futuro no ar
Há o tempo presente e basta

Bastam-se.
Naquele infinitesimal segundo
Uma paralisia n'alma
Plenos, profundos.
São dois e são uno

Não é primeira emoção
Não é a última
Mas sonham com o porvir
... Ele cita uma canção
“Escuto Chico, Construção”
Acaso,
Coincidência?
Destino?
Não!
É aproximação.

... Caminhos percebidos desde o arco do sol.

Fácil, muito fácil... Por nós, por tudo, ouço Construção. Um verbo que me acompanha até a eternidade...

“Amou daquela vez como se fosse a última... E atravessou a rua com seu passo tímido... Subiu a construção como se fosse máquina... Ergueu no patamar quatro paredes sólidas... Tijolo com tijolo num desenho mágico... Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago... Dançou e gargalhou como se ouvisse música... E tropeçou no céu como se fosse um bêbado... E flutuou no ar como se fosse um pássaro... Bebeu e soluçou como se fosse máquina... Dançou e gargalhou como se fosse o próximo... E tropeçou no céu como se ouvisse música...”

Preciso dizer mais?

Do frio & da solidão...


Enquanto contas do frio
Da dor, da solidão
(mas não falas das lágrimas que sei)

Mostro as que tenho e
Rasgo em mil pedaços
Essa tormenta que me causas

... E os lábios ressecados
Pela fria ausência dos teus
Toco-os com teus imaginários dedos

Enquanto regride criança
Ao colo da mãe
E finge uma alegria que conforta
Emudeço emoção

... E conto o tempo
... E cato sonhos
E os dias se vão.


Minha companhia dessa hora além dos sentidos teus, todos; Lizz Wright me consola:
Hit The Ground - "Hit the ground, babe... It´s alright now... Hit the ground babe... Take your veil down... See your eyes in mine... Leave the rest behind... Hit the ground babe... Cause I want to love you now... Hit the ground, babe... I said is alright now... Hit the ground babe… You´re gonna make it somehow... Babe, why so lonely?..."

Nada a declarar, apenas a escutar… Escuto sem parar essa canção...

"Soy Infeliz..."

(imagem da net)


....O lugar era escuro, um tanto lúgubre, fumaça de cigarros, cheiro de uísque de terceira, um pardieiro meio fétido... Uma atmosfera marginal...
Casais dançavam sem sair do lugar, acariciavam-se, “naquela escuridão ninguém observava mãos ousadas, procurando ninho”, não se importavam com o fato de estarem sendo observados pelas pessoas... No balcão, homens e mulheres desacompanhados perdidos em seus pensamentos, mergulhados em suas solidões e em seus restos, bebiam tequila, cubra-libre, margarita* e alguns drinques coloridos. Uma radiola de ficha emitia a canção, Soy Infeliz – Lola Beltrán.
Ela bebericava uma dose de dry Martini [não queria ficar de porre, apenas degustar com vagar, se perder e se achar em suas lembranças], e fumava uma cigarrilha [Davidoff], alheia ao derredor... Imersa nas lembranças... Desde a noite em que se fizera dele mulher, até a fatídica tarde em que o encontrara aos beijos com outra...Um surdo furor lhe envolveu, é acometida por um ódio mortal, apaga a cigarrilha nas coxas roliças e brancas, e deixa cunhada a marca da raiva, uma lembrança em carne, brasa e dor... Num salto, põe-se de pé... E vai sozinha, à pista de danças daquele féerie... E como se uma entidade, estranhamente tomasse conta do seu corpo, começa a dançar... Movimentos frenéticos e sensuais, um sorriso entre misterioso e irônico, se instala em sua boca... Suas mãos parecem ter vida própria, acaricia o pescoço, o vão dos seios, com o corpo meio desnudo oferece-se aos olhos de quem quiser vê-la. Os cabelos longos, esvoaçantes, como em cascatas caíam sobre seus ombros. Os quadris num requebro diabólico convidavam aos jogos eróticos. O corpo explodia em desejos, o suor escorria, e ela lambia-o, gotículas salgadas no canto dos lábios... Era só luxúria naquele momento. Úmida entre as pernas, cada vez mais aumentava a vontade de meter as mãos debaixo da saia, encontrar a carne palpitante, desejosa, e acariciar-se... Ainda que por cima da calcinha minúscula, branca, de renda francesa... Ria, e crispava as unhas bem feitas, pintadas de esmalte vermelho, no próprio dorso... Abraçando-se, como se, se bastasse. Em segundos toda a sua vida é revista como num filme...
Como que por encanto, sente a presença de alguém, abre os olhos e depara-se com ele. Ele! Parado à sua frente, encaminhando-se, em sua direção com o andar de um leopardo, a diminuir o espaço de sua presa. Ele, o predador.
E ela revia os momentos passados, tremia e ficava mais excitada, ao pensar em seus corpos nus, entrelaçados. A boca estava seca, entreaberta, arfava, ofegava... Ela acendia, ficava em brasa, na presença do seu homem. Àquele homem sabia explorar cada cantinho, cada recôndito de seu corpo. Como um especialista, uma técnica invejável, conseguia laçá-la ao mais alto céu do prazer. Era habilidoso, experiente, vivido, calejado na arte de proporcionar prazer. Não podia negar. Aquele cafajeste era tudo o que ela precisava. Viciara-se nele. Sua droga mais pesada.
Quem ousou mudar a música?
Cúmbia Villera – Yerba Brava. Na radiola de fichas... E ele... Bailando e rindo desavergonhadamente em sua direção, motivo suficiente para entrar em conflito e sair do torpor, do transe. No fio da navalha caminhava: entre o amor e o desejo; a raiva e as lembranças. Ela chegara a um ponto crítico, já havia tentado de tudo para abandoná-lo, esquecê-lo. Inútil. Ela o amava. Simplesmente o amava. A simples aproximação dele, somente uns poucos centímetros de distância, causava-lhe àquele entorpecimento juvenil, àquela inundação de sentimentos que a enlouquecia, daquela loucura toda que a envolvia, a amedrontava, e àquela confusão monstruosa que vivera quando o encontrara aos beijos com outra. Era avassalador.
Ele a envolvia sem tocá-la. Tocava-a com os olhos, com os demais sentidos. E se perguntava quem errou mais? Por que não fora até ele e a moça e questionara tal cena? Isso não importava agora. Só sentia a presença imponente dele. O que importava o beijo dado, n’ outra? Sabia que sem ele não sobreviveria. Mais que atração, mais que paixão, amava-o verdadeiramente em qualquer situação. Sentia em cada fibra do seu ser que era ela que ele queria. Beijar outra fora um acaso fortuito. Porque a mulher, a mulher escolhida para a cama, para todos os lugares e dias, era ela. Os olhos, o corpo dele confessava que... Isso... Foi o instinto machista. O desejo primitivo de beijar uma fêmea que o levara a experimentar os lábios de outra.
Pé de ouvido, sussurros, palavras baixas porque os corações estavam próximos e o mundo fundia-se em desejos. Eles serenos como quem se perde e se acha, encontravam-se nos beijos gulosos dados no centro do salão. O corpo esbelto dela ligava-se ao dele, como um amálgama, eram um só. Entravam de novo no ritmo do que era certo, do que os mantinham juntos. O mundo já não mais existia, beijavam-se, abraçavam-se, tocavam-se, desejavam-se, usufruiam-se; suspiravam, gemiam, deliravam. Reencontraram-se. Ela reencontrara o seu homem. Ele, a sua mulher. Mais que expectantes, eram braços em repouso, aguardando que chegasse a hora de sumirem dali e deitarem-se sem nada, sem nenhuma barreira entre eles. Os abraços não mais bastavam, precisavam sentir-se. Dentro. Entre. Sobre. Corpo entrelaçado entregue à paixão que os dominavam.
E renasceriam para sempre assim, um no outro.

Enquanto brincava com as palavras e os desejos, ouvia seguidamente as canções: Soy Infeliz, da mexicana Lola Beltrán e Cúmbia Villera – Yerba Brava...

SOY INFELIZ - Lola Beltran

“Soy infeliz porque se que no me quieres para que mas insistir... Vive feliz si el amor que tu me diste para siempre resenti... Soy infeliz porque se que no me quieres, piensas que morir... Que me sirvan otra trago con dinero yo los pago pa' calmar este surfrir... Vive feliz en tu mundo de ilusiones... No pienses mas en tu amor y tus traiciones...”


*Amore mio, gracias pela retificação...


"O Seio Nu..."

(imagem da net)

Entre tantos erros passados presentes
Haverá futuro?
Um dia
E é como se nada existisse
Nem o antes nem o depois
Apenas o [re] encontro
Novo engano?

Mas nos olhos um olhar novo
Novamente
Transita entre indecente comovente
E volta o desejo antigo
Ardente [in] tangível
Desenhando o percurso
Por entre as retinas castanhas
Olhar difuso confuso
Arfante peito entrega avisa convida

A emaranharem-se nos pelos
Pernas
Desejos
Um
Parte do outro que partiu
Um à parte
No mapa que se percorre
O tempo voa corre
E não segreda a ausência...

... E a fina alça da camisola de seda
Preta
[Mais despia do que cobria]
Escorregava macia
E à mostra
A translúcida palidez de um ombro nu
Convidava indolente
A engolir despudoradamente
Com cobiça
O seio exposto ali...

Nina Simone, quem mais? Enquanto nos engolimos, a Nina nos embala... Eternamente.
The Other Woman : “The other woman finds time to manicure her nails… The other woman is perfect where her rival fails… And she´s never seen with pin curls in her hair… The other woman enchantes her clothes with french perfume… The other woman keeps fresh cut flowers in each room… There are never toys thats scattered everywhere…”
30/11/2006
Definição.

Portas & Mares

(imagem da net)


Ao sonharmos
Dividimo-nos entre a vontade e o agora
E a apertar, a saudade...

Ao passo mesmo que
Esperarmos nascer a crença e a fé
Flagelamo-nos...

Nas conversas de antes
Tínhamos n’ alma
Nos olhos: o desejo...

E no corpo do ansiado
Como se caudaloso rio fosse
Tu navegador a percorrer minhas curvas

Alargando-me as margens
Embrenhando-se profundo
Neste que agora te ofereço: meu pequeno mundo

A [tua] boca, porta d’alma
Minha língua serpente
Invadindo docemente o comungar ardente

Engolimo-nos, sedentos
Eu: despudorada, desnuda, oferecida,
Enrosco pernas, braços, diluída...

Tu: em riste, rígido, tensão
Invade portas, mares
Somos um só: tesão...


Ando sorrindo ao vento, entre ficar na fímbria, no beiral, portal, janela... Lancei-me ao mar desconhecido... E nada como uma bela canção pra acompanhar essa inusitada navegação... Pra um sambista encantador, uma música que já é nossa, nossa cara:

Pressentimento: Elton Medeiros e Hermínio Belo de Carvalho, ando escutando-a com a Roberta Sá...

“Ai ardido peito... Queira entender o meu segredo... Queira pousar em seu destino... E depois morrer de teu amor... Ai mais quem virá... Me pergunto a toda hora... E a esposta é o silêncio... Que atravessa a madrugada... Vem meu novo amor... Vou deixar a casa aberta... Já escuto os teus passos... Procurando o meu abrigo... Vem que o sol raiou... Os jardins estão florindo... Tudo faz pressentimento... Que esse é o tempo ansiado de se ter felicidade.”

Palavras...


Mergulhar nas chamas das tuas palavras
Labaredas que engolem:
A confiança, a cumplicidade e a saudade...




Enquanto essas três frases se formavam em mim, comecei a escutar e a cantar incessantemente, Valsa Verde [1931], Lourenço da Fonseca Ferreira - Mestre Capiba - e Ferreyra dos Santos... Interpretada de forma magistral por Paulinho da Viola, e Raphael Rabello ao violão... Linda, linda, linda!

“Não sei bem quem és... Mas sei que entraste em meu olhar... Como na sombra, entra uma réstia, de excelsa luz, pelos meus olhos tristes nunca percebida... Não sei quem és e te recordo, e te desejo tanto, pra ilusão de minha vida... Não sei bem quem és... Mas sei que entraste em meu olhar, como na sombra, entra uma réstia, de excelsa luz que o meu sonho de amor, de verde iluminou, depois, o anseio que em mim ficou... E a minha vida desde então, se transformou pela ilusão do teu olhar... Foste a quimera que fugiu... Deixando em mim como um perfume, de um amor cruel... Que, no meu tristonho coração, fez palpitar a canção verde, dessa ilusão que eu quis compor, pensando em ti, pensando em ti, no meu amor, sim no nosso amor...”

... Olhar!


Perdida!
Eis-me completamente perdida, mas não são nos emaranhados vicinais da grande metrópole... Perdida dentro dos sentidos que me extasiam e me deixam infantilmente encantada.
Que belo e inexplorado complexo é o coração. Tão capaz de mudar sentimentos e o fluxo dos pensamentos...
Sem ter planejado, tenho um alvo. Por ter planejado, tenho um alvo, aqui à minha frente. Olhar atento às leituras: do livro, do derredor, da minha alma – exposta na minha íris – do sorriso irresistível no canto da boca. E ele. Aqui em mim; eu, nele; nós, em nós. Há fronteiras, mas não é [e é] ao mesmo tempo, tangível. Extraordinário sentir, existir... Somos duas ilhas, interligadas por pontes e fios (in) visíveis que nos conduzem, seguram, unem, prendem, seduzem. Caminhantes, cada um em seu passo, compasso; ao encontro, ao lado, em direção. Coração.
Belos mosaicos, vários fragmentos, miríades sem-fim; ora fortes, ora explosão. Tudo à flor da pele, olhares, sabores, texturas, toques, odores, desejos, suores. Caminhantes rumo ao inesperado...
... E o olhar?
Os olhares... Capturadores, aprisionadores e as palavras... Palavras?
Buscamo-nos e todos os códigos entram em desuso...
O que nos rege: a emoção e a entrega, cega....


Volto e meia, volto ao Wisnik pra não esquecer como sou, sobretudo quem sou... Enquanto cá estou escrevendo essas prosaicas linhas, reescrevo minhas emoções com a canção do Mestre José Miguel Wisnik: Mais Simples...

"É sobre-humano amar... 'cê sabe muito bem... É sobre-humano amar sentir doer... Gozar... Ser feliz... Vê que sou eu quem te diz... Não fique triste assim... É soberano e está em ti querer até... Muito mais... A vida leva e traz... A vida faz e refaz... Será que quer achar... Sua expressão mais simples... Mas deixa tudo e me chama... eu gosto de te ter... Como se já não fosse a coisa mais... Humana... Esquecer... É sobre-humano viver... E como não seria?... Sinto que fiz esta canção em parceria... Com você...”

"Infinito Particular."


Quando me pegas
E me aperta pra si
Toma meu seio esquerdo e o engole
Com gula
Contorço-me serpente
Entrego-me amante
E faço-me tua
Docemente...

Quando me abraça desejo
Em riste espada
Com o olhar indagas
Por que não me entrego tua
Amada
Quando o sou
Ora certeza, ora vaga
Deslizo em teu corpo
Senhora
Tu: minha tranqüila morada.


A música é da Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Brown, no entanto, desde que me foi presenteada - apresentada, não sai de mim, ouço-a incansavelmente, e cada frase, nos diz em particular e o infinito que nos tornamos...

“Eis o melhor e o pior de mim... O meu termômetro, o meu quilate... Vem cara, me retrate... Não é impossível... Eu não sou difícil de ler... Faça sua parte... Eu sou daqui e não sou de Marte... Vem, cara, me repara... Não vê, tá na cara, sou porta-bandeira de mim... Só não se perca ao entrar... No meu infinito particular... Em alguns instantes... Sou pequenina e também gigante... Vem cara, se declara... O mundo é portátil... Pra quem não tem nada a esconder... Olha minha cara... É só mistério, não tem segredo... Vem cá, não tenha medo... A água é potável... Daqui você pode beber... Só não se perca ao entrar... No meu infinito particular...”


E Ele veio...



... E ele veio
Permanece ebanamente entranhado
Quando aperta a saudade
Vôo nas asas da poesia
E...
Estendo o braço a tocá-lo!


Enquanto matava a saudade, e o cristalizava dentro de mim, uma canção se fazia presente: Angel Of The Morning [C. Taylor], docemente cantada pela Nina Simone, e todo o sentimento mais uma vez [e sempre] redivivo...

“There'll be no strings to bind you hands… Not if my love can bind your heart…And theres no need to take a stand… For it was i who chose to start…I see no reason to take me home… I'm old enough to face the dawn…Just call me angel of the morning (angel)... Just touch my cheek before you leave me (baby)...”

Dia de chuva...



Dia de chuva
Neblina
Minh ' alma se aninha

Dia de chuva
Gotas d ‘ água
Em musicalidade:
Minh ' alma

Dia de chuva
Assisto em quietude
Cair em minh ' alma
Pingos de saudade

Dia de chuva
Minh ' alma
Sonha amiúde
Que meu abraço seja teu regaço

Dia de chuva
Silêncio no olhar
Para em minh ' alma
O espaço-tempo-ausência logo findar

Dia de chuva
Minh ' alma calada tenta desvendar
Entre o cinza e o preto
Uma cor para o nosso mundo alegrar

Dia de chuva
Minh ' alma reflete na vidraça
Imagens de esperança
Que a volta traga a bonança

Dia de chuva
Minh’ alma sussurra com mansidão
Tu, para a eternidade
Guardado em meu coração!



Desde ontem chove em minha cidade... Adoro dias chuvosos, faço coisas como: ler, ouvir músicas, ou simplesmente ficar quietinha sob as cobertas... E de pronto, como as gotas que batiam nas vidraças das janelas do meu quarto, esse poeminha, escorreu pelas pontas do meu dedo... E veio parar aqui...

E uma música do Bonfá me acompanhava:
“Eu quero olhar ao meu redor... E ver além do que meus olhos podem ver... Além do céu além do mar... E ter certeza de que vou te encontrar... Olha pra mim... Nosso rumo certo fica em outra direção... Há tempos eu sei que eu não sei viver sem teu carinho... Não me deixe esquecer de todas nossas vidas sempre juntos... E o futuro é aprender a ler aquilo que não está escrito... São pequenos sinais nas nuvens nas estrelas... Quanta coisa amor vimos se perder... E quantas coisas encontramos pra alegrar o coração..."

http://www.marcelobonfa.com.br/barcoalemdosol/depois-chuva.htm [especialmente pra Elzi, clica aí... ;-) ]

Seu caminho: meus braços....

(imagem colhida na internet)

seu caminho, sua reta, seu traço:
meus beijos
meu gozo
meus braços...


Embalada com a canção Sophisticated Lady, cantada pela Billie Holiday.





Despertar entre os loiros fios de cabelos....


Um dia que poderia ser simples
Acordar com o barulho do telefone tocando
Responder
Sentir as mensagens
Laços que se firmariam

Braços que acolheriam
Mãos se tocariam
Explosões inevitáveis
Na pele se dariam
Em ondas ficariam

Mas onde está agora
A intensidade que os envolvia(m)
O sentimento que nutriam
Rebentação na memória
Em que grotão perdeu-se

O despertar entre os loiros fios de cabelos
Corpos nus entrelaçados
Tocar a maciez da pele
Lençóis espalhados ao chão
O dia azul lá fora
E o mundo em gozo cá dentro

Entremeados em si
Alojados
Por que vêm agora
Tantas lembranças num repente
Quando triste está um mundo
E tudo agora é tão longe...?

O terreno por mais que se conheça
Tem sempre um desconhecido
À revelia da nossa vontade
Melhor cedo que jamais...
Por assim o ser: ceder, ceder, ceder...
E deixar o amor morrer.


Rabiscando essas linhas ao som de Maybe Tomorrow – Stereophonics... O pensamento vagando por aí, até cansar... Domir... Amanhã talvez seja outro dia?

“I've been down and I'm wondering why… These little black clouds keep walking around with me, with me… Waste time and I'd rather be high… Think I'll walk me outside and buy a rainbow smile but be free, be all free… So maybe tomorrow… I'll find my way home… So maybe tomorrow… I'll find my way home…”

Flor pisoteada, logo ali, a um palmo da mão....


Entre incertezas e silêncios
Cala-me
Cala-te
Renega-me...

E como galhos secos
Postos ao fogo
Crepita em labaredas
A ausência...

É lenha em brasa
É carne em sangue
É saudade que arde
É folha que voa...

Das cinzas fazem-se histórias
Rabiscadas na pele
O coração que se entregara afoito
Agora clama misericórdia e morte...

À toa na escuridão
Permanece um sonho
Pé ante pé
Rodeando a noite e a solidão...

Quantas vezes mais
A morte perseguirá
Flor quando quiser ser flor
Chão quando quiser ser chão
Não quando quiser ser não
Caminho quando quiser caminhar
Sonho quando quiser sonhar
Flor pisoteada, ali, a um palmo da mão....

Escuto Cartola desde cedo... E Labaredas [Cartola e Herminio Bello de Carvalho] repetidamente....
“Vou me desacovardar dizendo não... A um coração que fez só desagasalhar... Quem o abrigou... Profanou, sem se importar... E destruiu, sem mais pensar... O essencial de mim... Me atiçando um fogo em mim... Mas pode um incêndio alastrar-se ao coração...Que as labaredas nem vão sequer provocar um só perdão... Quantas pedras não terá para atirar de novo em mim?... Me subestimar, prá quê? Não vou! ... E quando o remorso invadir seu sono, então... Meu coração não vai nem sequer se vergar à sua dor... Debelar o incêndio vai ser impossível só porque... Quem brincou com o fogo foi Você.”
Sei o que sinto, por quem sinto e porquê sinto... Uma saudade que corrói... Algo tão fora de compasso...

... E eu saí.


Maio nem acabou
O amor chegou
... E eu saí.


Caminhando pelo mundo e ouvindo a canção One for My Baby [R. Williams] cantada pela Dianne Reeves... Nossa! Toda a trilha sonora do filme [Good Night, and Good Luck] é perfeita e ainda tem a voz dela... Di-vi-na!

“It's quarter to three… There's no one in the place… Except you and me… So set em' up Joe… I got a little story… You oughta know… We're drinkin' my friend… To the end of a brief episosde… “

O Jazz me toma… Sempre!

Mel, sangue & vinho... Ou canção do desafeto...


Cansada de tanto viver
Farta de tanto morrer
Avara em seus afetos
Aborrecida com o amargo
Ocre
Êxtases da vida
Despede-se
Como flores machucadas
Após tempestades...

Os tais jogos dos sentidos
Palavras
Rimas
Canções
Semântica
Imprecisões
Parecem agora grinaldas
Jogadas sobre lápides...

A alegria diária
Virou estrela que cai do céu no escuro da noite
E nesse manto negror
Perde-se no mar...

Era deleite ou dor?
O coração sem sentido
Ferido de morte
Uma sorte [ ? ] inesperada
Indaga em balbucios...
Sem vocábulos versos
Canção do desafeto
Acordes sombrios
Sua explícita delicadeza
A paixão no rosto
Nos gestos
O olhar diluído
Perdeu-se na voragem do mundo...

Deixando na Boca
Uma mistura de sabores:
Mel, sangue, vinho,
A lembrança do beijo perdido
E o grito de saudade...


Perdi a noção do tempo, e das vezes tantas que escuto a mesma canção: A Taste Of Honey [ Bobby Scott e Ric Marlow ], cantada pela Lizz Wrigth...
Perdi algo hoje... O lamento de não reencontrá-lo, grito aqui... Expurgo uma dor que eu não sabia, mas desconfiava...
A chuva logo passará , e o sol me acenará outra vez no [do] céu...

"Cold winds may blow... Over icy seas... I'll take with me... The warmth... A taste of honey... A taste much sweeter than wine... I'll leave behind… My heart to wear… And may it ever… Remind you of ... A taste of honey… A taste much sweeter… Than wine… I will return… I will return… I'll come back… For the honey… And you..."

Linda!

Sol, estrelas, lua e canções...



Qual a explicação desta agitação, não sei
Apenas sei que respiramos a primavera do universo
Desse universo
Que criam, e recriam
Os seres em encantamento...

Que universo é esse alumiado de estrelas, astros
E constante risos, não sei
Desse riso
Que estampa flores
E refaz amores...

Que riso é esse que sugere lascivos deleites, embriaguez
Longos e desejados suspiros
Gozo interminável
Insensatez
Herança de mil nações
Dos erros todos os perdões
Entre nossos olhares
Toda amplidão
Um mundo em comunhão
Eternizando nas linhas da emoção
[M]Eu
O mundo que necessitas:
Sol, estrelas, lua e canções...

Enquanto me transportava e transbordava nesse poemeu, escutava Careless Love [Bessie Smith] , que me corta inteira, pela Bessie, e agora por Madeleine Peyroux , cuja voz tem um timbre que lembra muito Billie Holiday... E o pensamento longe, longe voa... Quem sabe sobre o Atlântico?

Elzi, mui grata pela apresentação... ;-))



Careless Love - “Love, oh love, oh careless love… You' ve fly though my head like wine… You've wrecked the life… Of many a poor girl…And you nearly spoiled this life of mine… Love, oh love, oh careless love… In your clutches of desire… You've made me break a many true vow… Then you set my very soul on fire…”

"Caixa de Pandora"


imagem colhida na internet
Na alma a sensação de leveza... Que se alastra por todo o corpo... Sinto-me livre! Leve como uma pluma... Como se eu não tivesse passado, e não sei sobre o futuro. Sou o hoje, como se apenas o agora, me outorga a vida, o direito de viver... Tenho o mundo em minhas mãos, como se ao imaginar algo, ele se materializará tão logo eu o queira. Um poder que não é humano. Algo que transcende a matéria, algo que não me pertence[pertencia], mas agora é meu. Um infinito e possibilidades. Como se não existissem tramas obscuras, como se não houvesse o mal... Um momento [e]terno em palavras, doçuras, canduras, sorrisos, descobertas e maravilhamentos...
Um movimento circular, que não tem começo e nem fim... Apenas se/me move e me [e]leva em direção ao mar, ao céu azul, ao cosmos... Sem amanhãs, sem talvez... Como se fosse um reflexo do divino... Como se o espelho dessa noite eterna, fosse para sempre o que sinto agora... Algo, algo que se desloca sem pisar o chão, em várias direções, sem um exercício brusco, um ser multiforme, multicolor, carregando na mesma face o sonho e a sombra; o dia e a noite; o sol e a lua; o doce e o amargo; a prisão e a liberdade; a ficção e a realidade; fogo e água; o salto e a queda; o medo e a segurança; o perdão anulando toda sentença passada...
Todas as dores, expostas nas crateras da alma e do corpo, todos os punhais que um dia sangraram-me o peito, tudo que era atroz, feroz, raivoso transformou-se em glória e gozo. Como se um alquímico de mim se apoderasse à revelia da minha vontade... E a guerreira que outrora comandou batalhas, que conquistou fama e medalhas... Que se ergueu contra o mundo e erigiu muralhas, deixasse atrás de si o peso do mundo, de um mundo que a aprisionou na masmorra de uma angústia que agora não existe mais... Como o alívio que acompanha um novo amanhecer... Uma esperança temporã, uma aceitação alegre do que o destino sempre ofertou... Como o encerramento de um tempo que não há de existir mais... A carne esquecendo seus pesares e extasiando-se diante de um mundo novo, um ‘admirável mundo novo’ que se preparava para mim... Mas não na esfera do terreno, do humano... Mas tudo traçado como um filigrana, lá no plano do divino... Como se os dias de cores rosa-pálidos fossem serenamente substituídos por vermelho-escarlate e azuis - Monet...
Tudo ficou pra trás... Tudo me disse adeus... Absolve-me das trevas de um tempo morto, dessas tais dores, um verde-vida, com a variedade de suas cores e enfeita o meu jardim, fazendo brotar as mais belas flores...
Sinto-me a própria Pandora, mas sem o ódio, sem os rancores, sem tarefas impossíveis a serem cobradas, mas focada na esperança e na ressurreição. Sinto-me renascida, talvez seja o que sintetize meus sentimentos de agora...
Interessante os meandros da vida, enquanto tento traduzir meus sentimentos em palavras, escuto Pandora – Cocteau Twins, e a suavidade da voz da vocalista Liz Frasier, parece cantar, parece dizer, dizer por mim, nesses “arranjos etéreos e celestiais”, o que eu estou sentindo e não consigo expressar...

“(I'm in love with hers)… Our room, a hot and big and kick and lie a boogie adaga dab yo… (I'm in the lights with him)… I feel I'm cheating night and shudder…

Vasta noite...


Quando te vestes de meu imperador
Eu tua imperatriz e senhora de todos os sentidos
E desperta em mim todos os desejos contidos
Tuas mãos magicamente a contornarem as minhas curvas
Percebemos sem pudor
Que todo o meu corpo é um poema em que jamais foi escrito
Tão belos versos de amor...

Quando te vestes de meu rei
Eu tua soberana rainha
Na vasta noite nossa sublime cúmplice
E te embrenhas em meus seios
Engolimos todos os anseios
Somos os que sonham
Sonhos vãos que nunca se dissipam com as manhãs
E nascemos a cada pôr-do-sol como um veio...

Quando tu Teseu
Eu Ariadne
A passar o fio e a espada às tuas mãos
Que eu centro do teu universo
Conclamo-te em desejos e lábios murmurantes
Que seja o tempo mero expectador
Do labirinto que agora nos rodeia
Que não percamos nosso secreto cosmos
Nem deixemos ao léu
As estrelas que me destes
Para brilharem eternas nos olhos meus...


Sempre estarei revestida do som de Led Zeppelin: Since I've Been Loving You, deliciosamente... Após o vôo rasante, protegida por teus braços aconchegantes e confiáveis... Talvez tenha sido a mais saborosa água de coco que jamais tomei em toda minha vida... Apesar da fumaça dos cigarros, que me trouxe[ram] tanta náusea... Pouco importou... Estávamos juntos isso nos basta... E bastou.

Since I've Been Loving You - Led Zeppelin"Working from seven to eleven every night… It really makes life a drag, I don't think that's right.. I've really, really been the best of fools, I did what I could… 'Cause I love you, baby, How I love you, darling, How I love you, baby…“

"Stairway to Heaven"...


Quando chegas, e sobes desavisadamente
Me cegas...
Já não sou eu quem me governa
Mas o desejo em mim

Empertigo-me da razão
Que em nada me auxilia
E em louco descompasso
O ressoar do coração

Fabrico coragem polidez
Invento artifícios
Como a desviar dos olhos
A fingida sisudez

Inútil tal estratagema
Com argúcia e delicadeza
Mergulho sutileza
Constatas o brilho de estrelas a fugir dos olhos meus

Em tua imprecisa oralidade
Mas sempre uma bela paisagem
A querer que adivinhem
Fantasia e a realidade

Somos perto longe
Um sonho inesperado
A fincar em doçuras, versos
O que não pode mais ser calado

E como hera viçosa em muros
Com desalinho natural
Solto, presenteio-lhe a selva
Para seu deleitar madrigal

Ante o temor da simples lembrança
Trazendo em cada fio o medo
Do embrenhar-se em sua mata
E mostrar sua pujança
É muito mais o desejo de afogar-se
Na sua maciez selvática
E perder-se dias e noites
Sem nunca ter um sentido o fim

A deixarem de lado por vez
Esquivas astúcias momentos
De certo que estão bem próximos
No mesmo movimento

Em duas, três, mil faces se cercam
O lugar em que se encontraram
A vida já não morava
E o amor de tristeza morria

Já não são apenas palavras
São olhares impregnados
Da mesma pura essência
Que os fazem vasos flores doçuras e querença

Sem se buscarem se encontraram
Nas curvas da imprudência
Dispersos em luzes noturnas
A provocarem insolências

E o que era cinza se [des] fez
Imprevisível compasso
Clarividência lume
Azuis, vermelhos, regaço.


Estou [sou] num momento Zeppelineana, desde a semana passada que ouço a minha banda de rock preferida: Led Zeppelin... Dentre tantas músicas que me fazem, refazem, e me acompanham desde a adolescência, Stairway to Heaven – Led Zeppelin, ocupa uma lugar especialíssimo em minha história de vida... Mas hoje, ela tem um motivo novo, e refez-se soberana como sempre foi, senhora de minhas emoções... Talvez hoje, ela me traga de novo, um novo brilho aos olhos [meus], faróis de estrelas, a seguirem teu olhar, teu coração e pontuarem com delicadeza uma leve pulsação, e lhe darem de presente, uma paisagem com um dia e uma nova cara: um sonho em vermelho...

É esse clássico, essa imortal canção que ouço agora, enquanto escrevo esses sentimentos que me provocas... Obrigada pela versão por mim desconhecida...

“There´s a lady who´s sure all that glitter is gold… And she´s buying a stairway to heaven… And when she gets there she knows if the store are closed… With a word she can get what she came for…"

Teu olhar perdido... A encontrar-se em mim...


Em minha superfície, plana
Tateio silenciosamente
E toco teu instrumento que me procura
Em mares, silente navegante...

Minhas mãos desconcertadas
Prendem-te
Com a argúcia dos meus dedos
E minha Boca...

Em sofreguidão
Com o desejo latente
E precisão astuta
Penetra-me...

Então te vejo como sempre foi:
Meu
Humildemente me coloco como sempre fui:
Tua...

Em delírios e delícias nos retemos
Entre línguas beijos falo sexo
Permanecemos
Retinas em ouro dilatamos...
Em mim te guardo
Estandarte em festa
E tua letra escarlate
Em minhas paredes te inscreves...

Agora sem brumas e incertezas
Desabas
Alimentando todas as promessas
De um sonho que nascera inusitado...

E nesse gozo incontido
Além muito além dos sentidos
Sem temor, esquiva
O verbo se faz em nós vida...

Tua vogal de espuma
Deságua
Fonte inesgotável
Dos desejos tanto[s], que se [re] faz [em] em nós...




Enquanto rabiscava esse sentimento, escutava What is And What Should Never Be - Led Zeppelin, que há tanto mora em mim, e nos renova em sonhos, prosa, versos e desejos... Ainda tenho o sabor dos teus beijos e teu olhar perdido, a escutar as canções que são sempre as mesmas: as nossas...

“And if I say to you tomorrow… Take my hand, child, come with me...It's to a castle I will take you, where what's to be, they say will be…Catch the wind, see us spin, sail away, leave today, way up high in the sky… But the wind won't blow, you really shouldn't go, it only goes to show That you will be mine, by takin' our time…”

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Em tempo de "bem-me-quer"...


O tempo escasso fugidio volátil
Corre por entre os dedos e os traços
Uma inesperada sensação
Alterando rasgando transformando
Trazendo euforia e modorra
Incertezas confusão...

O tempo em compasso de espera
Atiça enfeitiça invade
Com esmero quimera
Alternando humores odores respiração
Um frêmito tremor transpiração
Vozes desejos sedução...

O tempo que dispara inclemente
A finitude das gentes num precipício letal
Morre renasce se esvai volta e sai
Como se fora senhor do peito em desalinho
Oferendas beijos flores provocações desatino
Um misto de homem menino
Enreda prende solta amarra
Volta em genuína entrega
Um momento fugaz
Sem temor da vida jamais...
Leve livre solto como o vento
Uma tentativa vã de varar o pensamento
Não se sabe o que fazer mais
Noite dia são redondos círculos que se completam
Até quando estará esta porta aberta
Para o livre regressar?
Em cores ornadas brilhos luzes a enfeitar
Não há absolvição do céu para aquele que renega
De a vida saborear
Porém não se pode
Com a verdade faltar
Encobre descobre recobre nada mudará
Olhar através das coisas
É de se esperar
Quem impedir vai
De um vermelho coração sonhar?
O tempo pode passar
Trazer levar toda a rota mudar
Mas a nitidez da retina
Amarela em girassol
Amêndoa cajá
Nunca se apagará
Pois carrega nesse olhar toda a beleza e dor
Do constante malmequer e do sempre bem querer
A prática que a vida lhe [nos] deu
Foi a dos sentidos
Teu
Meu
E esse eterno entregar...


Ainda [e sempre] impregnada pelo show, ou dueto da Ná Ozzetti e do André Mehmari, que faz do piano o que quer... E a Ná com aquela voz? Voz? Pensei que fossem notas musicais. E são. Vozes são notas sonoras.

Escuto todo o cede “Estopim”, e por alguma força do além, do aquém, não sei de quem, a música que toca é justo a que dá título ao cede: "Nada é tão fácil no início... Nem no percurso nem no fim... Nada é tão natural... Nada é tão trivial... Nem uma flor... Nem todo jardim... Amor que é simples se complica... E todo amor vai ficando assim... Um faz algum sinal... O outro já interpreta mal... E o que era banal... Vira um estopim..."
Uma bela parceria do Luis Tati e do Dante Ozzetti, mas tem a voz da Ná... Há a voz da Ná... Ah! A voz da Ná....



"High."


Sobre si a luz alaranjada
Emoldurando sonhos de uma noite inteira

Atrás de si o despertar do dia
E o emaranhado de sensações n’ alma

Dentro de si um desejo se faz morar
Sempre impossível

Ao redor de si sensações tensões e intenções
Falas que não querem calar

E a vida se arrasta
Alastra
Provoca
Motiva
Impulsiona
E conclama...

Tudo se torna difuso
Confuso
Misturam-se os espaços
Os passos a pele os pelos
Na individualidade dos corpos o apelo...

Um caminho que levou ao outro
[Ainda que vicinal e inesperado]
Caminhantes que se entre fitaram
Tocaram-se com a retina
Com o verbo
E criaram um rumo
Uma rima...

O que era provocação
Desejo
O que nunca foi coincidência acaso
Similitude
O que era desmantelo
Construção
O que era silêncio
Respiração
O que era movimento do corpo
Lassidão
O que era gesto
Certeza de que caminhar os levaria além
E a vontade de ambos do toque ao alcance da mão
Apesar da distancia...

É engraçado como as coisas chegam até nós, há tanto mistério na simplicidade que eu até tenho medo...
Escuto nesse instante uma música danada de bonita: High e quem canta é um cara chamado James Blunt...

“Beautiful dawn - lights up the shore for me... There is nothing else in the world… I'd rather wake up and see (with you)… Beautiful dawn - I'm just chasing time again… Thought I would die a lonely man, in endless night… But now I'm high; running wild among all the stars above… Sometimes it's hard to believe you remember me...”

... Estás em [dentro de] mim.


imagem da net


Nos olhos todos os desejos expostos
Nascentes
Nascedouros
Os dedos que tocam
O vão dos seios
Permeiam
Perversos
Contornam a boca [carmim]
O sexo...
Os poros umedecem
Transbordam
Pelos eriçados
Bicos dos seios hirtos
Pele quente
Lábios que sugam
Língua que penetra
Azáfama
Serpenteando
Caminha
Entra
Entre – pernas
Fendas, funda
Fluindo
Abandonados
Em nós ficamos
Nada há para conter
Contar
Tudo converte
Permite
Entrega
Busca as entranhas
E se faz morar
No ventre o segredo:
... Estás em [dentro de] mim.



Delicio-me, emociono-me com a voz, a música e o texto do Chico César... Um dia Padrim...
“Todo o ouro que um rei tiver... Não é como as estrelas que terei... Se um dia você vier... Mesmo o mundo, o céu, a terra, e a imensidão... Cintilações são sem você... E eu então o que serei? Uma bala de alcaçuz... Longe, longe anos luz de Deus....

Alcaçuz – Chico César... Linda demais.....

A vida também pode ser amarela... E bela...


Quem pensa que sabe muito
De nada sabe
Quem acha que já foi amado
Ainda precisa saber
Quem diz que é feliz
Até pode ser...
Pensar achar ser ter fazer dizer viver sentir
Não são apenas verbos...
Conhecer: esse é o maior feito
O grande fato
Prazer presente
Embelezando a vida com laços de fita amarela
Para torná-la ainda mais bela...



“A lua é branca o sol tem rastro vermelho e o lago é um grande espelho aonde os dois vão se mirar... Rosa Amarela quando murcha perde o cheiro... O amor é bandoleiro pode até custar dinheiro, pois é flor que não tem cheiro e todo mundo quer cheirar... Deu meia-noite a lua abre um claro, eu assubo nos ‘aro’ e vou brincar no vento leste... Aranha tece puxando o fio da teia, a ciência da ‘abeia’ da aranha e da minha muita gente desconhece...”

Essa é a música desse preciso e precioso momento, chama-se: Na Asa do Vento – Luiz Vieira e João do Vale... Mas escuto-a com Ednardo... Que a canta como ninguém... O melhor é cada um ouvir, sentir e se deixar levar pelos sonhos na Asa do Vento...

Memórias & Canções...



O lago estava adormecido…
Não refletia nem mesmo a sombra de alguma estrela desavisada
Descansavam todos os pássaros
Nas asas dos sonhos perdidos

Dum passado longínquo
Chegam lapsos e sussurros
Vindos na voz do vento
Um canto nostálgico

Na memória uma velha canção
Que supunha parte de um réquiem
A envolver os dias como se ontem fosse nunca mais
E jamais voltaria a ser

Mas a vida grata e plena
Traz inusitada presença
Doce voz um soar menino como notas de um violino
A encantar amistosa e mansamente
Um coração que passava horas, horas a escutar
Melodias que fizeram um dia
O sentido pleno do divagar...

O que eu escutava quando rabisquei esses sentimentos em forma de palavras?
Ando num mergulho pretérito... Trago em mim um tempo redivivo que contabiliza uma adolescência em que eu corria atrás dos bumbas-meu-boi, nos bairros e ruas de São Luís... E cantarolava não apenas as toadas do Boi de Axixá, Boi de Pindaré, e recentemente, Boi Barrica, Boizinho de Corda... Também trazia na ponta da língua o que cantava um dos grandes "cantautores" e percussionistas do Maranhão, Papete.
Ah, Papete... Se você soubesse o que a sua percussão, a sua música, a sua voz causavam [causam] em mim naqueles doces tempos em que tudo eram poesia e sonhos...

“... Quá! Eulália, esse boi me leva
[...]
E eu não fico pra dormir
[...]
Vou ter
Com a madrugada
Me espalhar em qualquer dia, Eulália...
Hoje mesmo eu não fico...
Pra dormir nesse país
Que não amanhece
[...]”

Eulália
- Sérgio Habibe –
Eternizada na voz de Papete...


Dias vadios...

(imagem da net)


Tardes noites, noites tardias
Encontros no meio da tarde
Noites vazias, vazias noites
Dias vadios
Desejos pulsando
Carne
Bocas
Sedução sensualidades
Provocações
Cheiros suores sexo tesão
Primitivismo
Humano instinto
Latente premente
E o querer das gentes
Que vai além...

Um toque...


Um toque e o mundo inflama
Em lavas vermelhas incandescentes
Vulcão tremor erupção
Fogo a correr-lhes nas veias
Tensão desejo tesão...

Um toque e rompe-se o sagrado silêncio
Entre gemidos e sussurros
Prenúncio de explosão
Em frêmito movimentos
Corpos suados excitação...

Um toque e já não mais se governam
Olhos que se engolem
Mãos a tornearam as coxas
Pernas que se entrelaçam
O vai-e-vem dos quadris
E o perfeito encaixe
E o segredo exposto no cetim do lençol...

P.S.
A vida é sempre uma grata surpresa pra mim... [Re]Descubro novas [?] sensações... Novos sons... Um mundo me circunda... E eu o enfrento, vasculho, transgrido... Vivo...
Ando ouvindo um certo Jack Johnson... Tem um quê de melancolia na voz dele, que muito me agrada...
Sitting, Waiting, Wishing - I was sitting, waiting, wishing… You believed in superstitions… Then maybe you'd see the signs… But Lord knows that this world is cruel… And I ain't the Lord, no I'm just a fool… Learning loving somebody… Don't make them love you… Must I always be waiting, waiting on you…

Contemplando o nada...


À noite me pegou
Postada na esquina da vida
Contemplando o nada...

À noite me pegou
Pesando entre a solidão e o vazio
Que nada preenche...

À noite me pegou
Sonhando com a outra metade de mim
Que em suas palavras “ocas, frias e sem cor”
Trouxe um sopro gélido pra esse mundo tão envelhecido
De saudades e dor...


P.S.
Enquanto rasgo a entranha, ouço Solitude - Black Sabbath... Mas nada faz essa dor parar... Nadinha...

"… Oh where can I go to and what can I do? Nothing can please me only thoughts are of you… You just laughed when I begged you to stay... I've not stopped crying since you went away… The world is a lonely place - you're on your own… Guess I will go home - sit down and moan… Crying and thinking is all that I do… Memories I have remind me of you…"

Há agora apenas silêncio em mim...


Há agora em mim um silêncio no qual som algum pode existir
Apenas uma voz: a da saudade
Que traz em sua frieza sul a lembrança do beijo teu
O silêncio de certa forma tem seus méritos
Ouço-me
E só te escuto...


Há agora em mim um silêncio no qual estendo essa dor como se fossem lençóis a tremularem ao vento
E acenam um adeus que deixou escorrer um amor por entre os fios de uma tênue e opaca esperança
E fez-me um anjo pálido
A voar soturno a buscar em vão uma voz que não canta mais


Há agora em mim um silêncio que antecede uma cruel sentença
E um desejo audaz que o destino nos ouça
Não haverá paz
Onde o amor não existe igual
Só pode haver vida em plenitude se for assim
Eu por ti e tu por mim


Ontem... Hoje... Amanhã... Lágrimas vertem dos meus olhos sem fim
Por mais que me ames, eu te amo ainda mais
Pois no silêncio da noite envolvente
No esplendoroso mistério que anelou nosso desejo ardente
Espero que venha por fim em meus ais...


P.S.
“O quê que eu vou fazer pra te esquecer... Sempre que já nem me lembro... Lembras pra mim... Cada sonho teu me abraça ao acordar, como um anjo lindo... Mais leve que o artão doce de olhar que nem um adeus pode apagar... O quê que eu vou fazer pra te deixarsempre que eu apresso o passo passas por mim... Tão doce de olhar que nem um adeus pode apagar... Em que espelho teu... Sou eu que vou estar, a te ver sorrindo, mais leve que o ar... Tão doce de olhar que nem um adeus pode apagar...”

Pra te Lembrar – Nei Lisboa... Rasga-me a carne e a alma... É tão único... É tão meu... É tão simbólico... É tão real... É tão teu... É de quem ama...

Em urros de dor, se faz de novo um mundo em mim...



De saudades são as horas
Em que me acolhias nos braços teus
Do chamado à espera
E os encontros...

De lembranças são os dias
Em que me beijava a boca
Vermelha desejosa
Da língua tua...

De esperas são todas as tardes
Em que eu sussurrava no ouvido teu
Que sempre haveria amanhãs
E céus azuis, e luas cheias, e pássaros voando
Abraços, sorrisos, esperanças, sem nuvens de metal, sem girassóis ressecados...

Em urros de dor se faz de novo um mundo em mim...



Já não conto mais, as vezes tantas que escuto e grito incansavelmente, Child in Time – Deep Purple...
Perdi-me dentro dos meus sentimentos, e eles me acharam recheada de saudades e dor...

“Sweet child in time you'll see the line… The line that's drawn between the good and the bad… See the blind man shooting at the world… Bullets flying taking toll…”

Esse líquido estado de nós dois...


Surges das curvas impuras do meu desejo
Move-me arrebata-me
Surto dentro do beijo teu
Emerges inundado da minha vontade
Rompendo o portal dos meus sonhos
Gravado no sulco da minha saudade

Da voraz necessidade de tê-lo saciado
Em repouso sereno dormindo no seio meu
Leva-me tão somente
A pensar nas vezes tantas dos tantos meses esperados
Que para sempre aqui ficasses
Trazido pelos ventos dessa verdade

Por quantas fomos invadidos
Por tantos quereres sussurros e pela volúpia devastados
E por mais uma e outra mais desaparecemos
Perdemo-nos na poeira de tantas lembranças
Pensávamos nunca (jamais) nos reencontrarmos
E nos mistérios insondáveis da bem-aventurança
Do céu altura fulguroso universo
Recomeçamos a nossa dança

Transcendência êxtase luxúria
Ofertas generosidade abundância
Lábios Bocas línguas
Corpos em plena fúria
Delírio
Quebramos em retumbante silêncio
Rompemos o frágil elo
E se transforma em limalha
Tudo que fugiu da rota um dia traçada
Das pequeninas águas que irromperam todas as calhas
Desse líquido estado de nós dois...


P.S.

Estou tomada por Take a look at me now – Phil Collins... Canto, como quem não quer lembrar que amanhã existe... Canto, como quem deseja se livrar da maior dor do mundo... Grito! Escorro o desejo em cada palavra dessa canção... Ao pensar que daqui a pouco amanhece e com o novo dia, parte da saudade vai embora...

“How can I just let you walk away, just let you leave without a traceWhen I stand here taking every breath with you, ooh.. You're the only one who really knew me at all... Take a good look at me now...'Cause I'll still be standing here... And you coming back to me is against all odds... That's the chance I've got to take…”

"Heaven."


imagem retirada da internet

… O quarto estava na penumbra, como ela gostava... No criado-mudo, uma garrafa de Veuve Cliquot, cachos de uvas – roxas e verdes, morangos, ameixas frescas, kiwis, pêssegos e duas taças de cristal de Murano, descansavam numa bandeja de prata...
Nu, ele a esperava, ansioso, deitado na cama, o olhar [castanho] de lince, não perdia um detalhe da cena, captava tudo...
Olhava-a: pele branca, macia, uma textura delicada, longilínea, pernas compridas, nada fazia lembrar que o ventre já havia guardado outras vidas... Seu olhar de encantamento e gula passeava embevecido no corpo da mulher que amava... Enxergava minúcias, partículas que só podem ser vistas a olhos amorosos...
Sempre que ela num meneio de corpo virava-lhe as costas, ele entreabria a boca e soltava um gemido de desejo, as nádegas dela, redondas, lisas, eram-lhe irresistíveis... As costas e os ombros foram feitos para receber suas carícias e seus lábios calientes... Mas se detinha particularmente no colo, que ele achava perfeito, e nos seios, ah! Os seios... Os seios dela, um dos seus recantos preferidos, no vão deles ele respirava, bebia, deixava registrada a sua plena satisfação... Adorava(m) ver aquele líquido viscoso, quente, escorrer por entre os seios dela... Nos seios dela, suas mãos esculpiam o prazer que ambos sentiam, que ambos proporcionavam-se; sempre enchia suas mãos com os seios dela... Ela por sua vez, não perdia uma gotícula do gozo dele, quando teimava em escorrer-lhe pelo canto da boca, com a língua sorvia e capturava tudo... Ele era a sua maior gula...
Lá vinha a mulher que ele amava, quanto mais a olhava mais seu coração transbordava de amor, de ternura, de desejo, de paixão, de tesão. Um era a razão do outro... E a desrazão também... Ele perdia-se entre as pequeninas pintas do seu corpo, achava-as apropriadas para os seus beijos...
Seu andar indolente acrescentava-lhe um tremendo charme, andava como uma gazela; vestia uma minúscula calcinha de renda francesa, branca; um soutien meia taça, completava o restante da indumentária que ele logo tiraria com sofreguidão e pressa...
Um melindroso colar de pérolas adornava-lhe o pescoço comprido; fazendo um belo conjunto com os brincos que estavam em suas orelhas...
Ela adorava sandálias altas, de tirinhas. Dizia-lhe que era a mais feminina das peças: uma sandália de salto fino, alto, e de tirinhas...
Ao som de Heaven [Rolling Stones] ela ria, dançava, jogava-lhe beijos, seduzia...
Seu corpo era regido pelo desejo e pelas notas da música, movimentos sinuosos, insinuantes, braços levantados no ar, desenhavam mandalas imaginárias, a cada passo, era como se ele fosse uma presa e ela espreitava o momento oportuno para fisgá-lo... Engoli-lo... Parecia uma serpente saindo do cesto de palha, cuja mobilidade dependia do êxtase dele... Aproximava-se sorrateira, em passos leves como uma bailarina e ofertava-lhe para o beijo, a barriga, o ventre, o sexo... Ele, enlouquecido, lambia-lhe inteira... Deixava-o vidrado e preso na cena em que ela era a protagonista, ele, a única pessoa para a qual ela queria e se exibia...
Estavam apaixonados, amavam-se com uma intensidade jamais imaginada por eles...
Ela dirigia-se à cama, e o provocava, soltava a alça do soutien, dava-lhe as costas, e ele a puxava pra si... Beijavam-se, abraçavam-se, tocavam-se, e ela desvencilhava-se dele... Pura provocação... Adorava provocar-lhe... Ele amava ser por ela provocado... Ela em solfejo dizia cada letra do nome dele... Com a voz rouca, sensual e cheia de lascívia...
Ele enchia as taças com champanha, mas apenas o primeiro gole era sorvido nelas... Sempre derramavam o delicioso líquido, no corpo um do outro... E bebiam-se, sorviam-se, amavam-se... Era no cálice sagrado do corpo de cada um que eles tomavam o champanha, o cheiro do desejo de ambos misturava-se com o cheiro da bebida e os sentidos deles embriagavam-se com o amor em estado puro, era explosão e gozo...
Amavam-se primitivamente, naquele momento apenas eles dois e o amor de ambos existiam, não havia mundo, não havia obstáculos, não havia impedimentos, nada havia, apenas o que sentiam...
A fluidez líquida tomava lugar: o champanha, os suores e o gozo... Ambos sentiam-se diluídos no corpo um do outro... Ela: oceano. Ele: barco navegando ansioso dentro desse oceano, singrando os mares dela... Um mundo escorrendo por entre as pernas da mulher dele, ela era a mulher dele: se fez dele, para ele; ele a fez dele... E se fez dela. Ela o fez dela: era seu homem, seu amor, seu amado, sua vida, seu anjo, seu menino... Por ela, todas as armaduras dele caíam por terra... Era também seu anjo, sua mulher, sua menina linda, sua vida, todas as nuvens azuis do céu...
Estavam entranhados pra sempre um no outro... Ela era a alma dele; ele era a alma dela...
Aquele cenário tão íntimo era o único a testemunhar tão imensurável amor, dormir e acordar um dentro do outro, essa fora a fórmula escolhida por ambos para findar e iniciar os dias...
Repousar no peito dele, cujas cãs eram-lhe excessivamente atraentes, era seu favorito programa; sentia prazer em tudo... Dormir com ele grudado às suas costas e suas pernas cabeludas sobre as dela; ser enlaçada por suas mãos, grandes e carinhosas... Ter a alva pele marcada pela barba dele, quando estava por fazer; ou simplesmente pelos toques e beijos...
Deitar a cabeça em seu ventre. Ah! Como isso lhe dava paz, era a sua redoma contra os males e as dores do mundo... Nunca nenhum outro colo fora jamais aconchegante, e amoroso como o dela... Ali era seu conforto e ungüento das dores diárias...
Despertar no mundo deles, era como continuar a sonhar, pois ambos em seu infinito desejo de permanência, souberam criar e manter o que para sempre os uniu: aquele ‘inauferível’ amor...

Heaven - Rolling Stones

“Smell of you baby, my senses, my senses be praised… Smell of you baby, my senses, my senses be praised… Kissing and running, kissing and running away…"

Assim, sem você...


É como um corte que sangra até a morte
É como um talho que expõe o corte
É como a morte que liberta
É como a dor que aprisiona
É como o rasgo na carne que dói e não tem cura


É como o braço que busca o corpo
É como o corpo que sente a falta
É como a falta que deixa o vazio
É como o vazio que nunca enche


É como o quarto sem janela
É como a vida presa numa tela
É como a treva
Na calada da noite


É como o grito que não sai da garganta
É como o choro que nunca cessa
É como lesar o santo e não pagar a promessa
É como não existir


Assim, sem você...


P.S.
Acho que eu sou a única pessoa do mundo que escuta Black Sabbath, baixinho... Enquanto rabiscava no word, “It’s Alright”, ia ficando riscada na minha pele, na minha alma....

”Give it all and ask for no return... And very soon you'll see and you'll begin to learn… That it's alright, it's alright…”

Sinestesia....


Inevitáveis sensações
Que uma a uma
Planam nesse coração
Tão vermelho
Sinto um enorme desejo
De viver
De arriscar
A vida flui ao longo do meu epitélio
Sinto
Vejo
Quero
Desejo
Capturo
Com a Boca
Com os olhos
Com os braços
Com as pernas
Com os sentidos
Com vontade
Esse mundo admirável
Que se abre pra mim
Nada sei dele
Do que me circunda
Sinto que expurguei
As dores
Os medos
As amarras
Lanço-me nesse desconhecido
Que me acena
Sedutoramente
Num jogo de provocações
Concessões
Convida-me
Envolve-me
Enreda-me
E eu aceito
Cegamente
E nem questiono as regras
O que me rege
Comanda-me
Coordena-me
Mantém-me nele
É esse inesperado
Esse não saber de nada
O desconhecido
Que baila ali
Logo ali
Na próxima esquina
Num indeterminado tempo
Darei meu salto
Não sei se para o alto
Mas colecionarei
Nuvens
Estrelas
E a lembrança do cheiro na pele...


P.S.

Os sonhos e os desejos, embalados pela canção belíssima do Zeca Baleiro e da Vanessa Bumagny: Radiografia... ‘Se você fizer uma radiografia da sua vida... Verá com certeza quem sabe, com um certo espanto... Eu apareço, estou gravado, cravado... Na sua espinha dorsal...’
Linda demais, do cede ‘De Papel’, da Vanessa, com a participação do Zeca Baleiro...
Sei que eu estou...

"... Pelas ruas que andei..."


Tenho comigo uma sede de descobertas que não ficou perdida apenas nas lembranças da infância, carrego ainda esse desejo de desbravar o mundo, o micro e o macro; o pessoal e o geral; conhecer não para sobrepor-me à vida, mas para entendê-la e a mim também. Gosto de espiar e escutar o derredor, há momentos em que prescindo do ambiente para mergulhar nele, sou ao mesmo tempo: expectadora, narradora, autora e personagem da cena que observo/vivo...
Assim é sempre quando caminho pelas ruas da minha cidade, da minha quinhentista cidade. Gosto de andar a esmo por ela, sair sem saber onde vou chegar; caminhas pelos becos estreitos, com casinhas uma quase dentro da outra e olhar por entre as frestas dos portões os seus jardins e respirar o indefectível e insubstituível cheiro de jasmim, e de quando em vez cometer um ‘jasmincídio’... Tenho esse gesto vil: de arrancar um jasmim de seu pé e sair cheirando-o. Já enviei muitos 'jardins olindenses', em envelopes locupletados de afeto, por esse Brasil e mundão a fora...
Gosto de sentar-me nos banquinhos de madeira e ferro, nas praças de nossa histórica e bela cidade e olhar os transeuntes e a partir de seus gestos e trejeitos inventar-lhes um mundo, uma história...
Assim sendo, na tarde do domingo passado, subi a Sé... E fiquei como sempre maravilhada com a vista que a minha vista alcança: barracas com seus cheiros, cores e sabores; gente fervilhando pela rua que se estreita ante a quantidade de pessoas caminhando; as próprias gentes com seus cheiros, suas cores, suas origens distintas; suas falas, linguagens, indumentárias, a tentativa óbvia de se passarem por ‘locais’, suas particulares histórias e todas desembocando no mesmo espaço: Alto da Sé de Olinda.
Pedi um caldo de cana e fiquei a bebericar, sentada num banco de madeira, as pernas esticadas sobre o parapeito da pracinha... E diante de mim a vastidão do oceano... O encontro das duas cidades: Recife e Olinda. Uma funde-se na outra, desde o mar a terra; desde o céu azul aos sonhos...
Crianças corriam ao meu redor, senhoras conversavam risonhas, namorados beijavam-se. Havia uma sinfonia no ar, gritos, risos, música e a paisagem que nunca sai da minha íris. Nem os desejos que nunca desaparecem de mim, fiéis companheiros de uma vida inteira, vivida e por viver. Ah! Como há coisas a viver...
À minha direita, o observatório astronômico [restaurado e agora podendo ser visitado], o primeiro da América do Sul fazendo ponto com o Museu de Arte Sacra que nunca abre aos domingos... Nunca entendi isso... Esse fechamento à visitação, e ao mundo... Logo mais abaixo, a galeria de arte do Thiago Amorim, ‘As quatro Galeras’ e suas belas esculturas, ainda com toda a ‘carga’ de Tracunhaém...
À minha direita ela, a imponente e soberana Igreja de São Salvador do Mundo [ou a Igreja da Sé], o padroeiro da provinciana cidade. Com suas duas torres sineiras e o corpo central... A nave do centro, com seu traçado original quinhentista, resgatado séculos após ser incendiada pela fúria e desejo de poder dos holandeses, no século XVII .
É composta de três belíssimos altares, sendo o central ou altar-mor ricamente construído com fios de ouro e madeira entalhada. O teto da nave central é em forma de arco, com pinturas que lembram a Capela Sistina e a criação do mundo... Colunas em estilo coríntio, quase tudo lembra esse estilo, desde o pórtico da entrada aos capitéis dessas colunas... Compridos bancos de madeira com pés de ferro, dispostos em duas filas, para acomodação dos fiéis ficam entre as colunas; do lado direito da parte interna da igreja, imensos sinos de ferro, descansam; um grande tapete vermelho estendido no corredor central, que leva até ao altar principal; cheiro de incenso; imagens de santos e santas dispersas por toda ala completam o cenário. Entrando pela lateral da igreja temos um pátio em estilo mourisco que faz-nos crer que estamos diante de um mundo recém-criado: o oceano atlântico à nossa frente, o céu azul emoldurando a paisagem e folhagens verdes de toda espécie balouçando despreocupadas ao sabor do vento [norte]... Estamos diante do paraíso, penso...
Tenho guardado comigo cartas [cópias, evidentemente] que são verdadeiros tesouros paleográficos, em que o Bispo dessa Sé pedia ao rei de Portugal, dinheiro, para a compra de ornamentos, paramentos e reformas da igreja, o ano? 1622... Portanto, oito anos antes da invasão holandesa, era uma igrejinha de taipa e barro, mas estilosamente quinhentista.
Nossa Sé passou por quatro grandes reformas:
A primeira data de 1654, restaurada após o incêndio capitaneado pelos invasores holandeses ainda no ano de 1631, um ano após chegarem a Pernambuco;
A segunda deu-se em 1911, estilo Neogótica;
A terceira aconteceu em 1936, estilo arquitetônico: Neobarroca;
A quarta, e última restauração em 1974 – 1984, a Sé como temos hoje, um estilo Maneirista, resgatando o traçado original quinhentista...
Saio da Sé, como quem nasce de novo, pois cada vez que ali vou, renovo-me e entro num plano sagrado que transcende o humano, é também ali, quando em atitude genuflexa, encontro-me diante do Criador, que nos possibilitou [e possibilita] viver num mundo fraterno, mais humano, mais feliz e esperançoso; cantarolo uma canção em que invoco todas as forças da natureza e visto-me de fé e esperança, carregando na alma o impossível para muitos: a paz, a alegria e a certeza de que novos amanhãs sempre virão.



P.S.
Hoje estou impregnada de Olinda, minha olindens[C]idade se fez extrapolar hoje, desde cedo escuto Alceu Valença e seus hinos de amor à nossa cidade. Nesse exato momento, ouço:
Marim dos Caetés - “Não chore menina bonita, se Deus quiser te vejo na Marim guerreira dos Caetés, de novo pra subir ladeira, te dou meus pés, Olinda Marim tão bonita dos Caetés... Vamos embora cabra, cabriola, tá chegando a hora da gente arribar, vamos embora já fui caipora, no jogo da sorte sempre dei azar... Vamos embora sei do itinerário por ali passamos, por aqui passou, uma la ursa da fita amarela fazendo janela para o nosso amor...

Especialmente pra minha maninha Ana Cláudia, envio pelo meu olhar, um pedacinho da nossa cidade...

Um vôo sul...

Sinto-me livre
Tão livre quanto um pássaro solto da gaiola
Uma febre de riso
Fogo incandescente
Correndo sem controle
Nas veias
Abertas
Pelo inesperado
Uma languidez
Explícita
Um torpor invade
Fico em transe
Cheia de desejos
Dos beijos
Dos toques
Do pulsar
Interno
Quente
Latente
Na entranha
Num gozo antecipado
Encontro de corpos
De almas
A pele queimando
Lembrança viva
Do último encontro
Do último contato
Que permanece
No ar
No tempo
No corpo
No vento sul...



P.S.
Estava ouvindo a divina canção: ‘Subir Mais’ – Paulo Leminski e José Miguel Wisnik...
‘Subir... Num raio de uma estrela, subir até sumir... Subir até sumir num brilho puro... Subir mais... Subir além... Subir... Subir num raio de uma estrela... Subir até sumir... Num brilho puro... Além de toda treva... De toda dor... Além de toda treva... De toda dor... De toda dor deste mundo... Até chegar aqui...'

b17

Os cães não ladraram  os anjos adormeceram  a lua se escondeu. Dina Salústio em   Apanhar é ruim demais imagem colhida na internet, d...