terça-feira, 25 de janeiro de 2011

constantinopla

imagem recolhida na internet

cavalheiro andante e dama arfante
abertos à vida, ávidos
- livres, libertos -
dos suspiros aprisionados
viviam o sonho dos amantes enamorados
- destemidos -

cavalgavam plenos
num cavalo alado
- branco como a paz
branco como a neve
branco como as nuvens

alimentados pelo fogo da excitação
a guiá-los pela imensidão
a um só desejado destino
Constantinopla!

acordaram não ter metas
- nem temores
e um inviolável sentimento
nascido do nada
que fluía no movimento do vento

brincadeira do acaso
- nas noites indormidas
não faziam perguntas
não queriam respostas

queriam-se
buscavam-se
e seu lugar no mundo
Tsargrad!

imperador e imperatriz
enlaçados pela pureza da água
diluíam-se pelo Bósforo
seguiam inseparáveis
recriando diuturnamente aquele incontrolável desejo

viviam na iminência de partir
e nesse mundo à parte
expatriados
não queriam estar em outra parte
Miklagard!

maçã de prata
fome e pecado a um palmo da mão
sempre em risco
no riso do céu da boca
desejo exposto
dispostos
puramente sedução

não se importavam com a fragilidade de quase tudo
fiavam-se naqueles fios
- de seda, de aço
estendiam-se em abraços
sem perda de tempo
em poesia e prosa

refúgio dourado em cada anoitecer
realidade e ilusão
a sorte e uma sentença
um só olhar, a mesma porta
Constantinopla!

num retábulo bordado
cheio de luz e desatino
ora homem, ora menino
perdia-se em meio aquele caminho
- porque nela se encontravam
renegaram enfim
a solidez do marfim

saíram do ambiente sepulcral
em que se encontraram
um rasgo na retina
por uma pequena greta
o sol explodiu em clarão
todos os halos de luz no céu

e proclamou-se a beleza
despontou o encanto
e no limiar da explosão
com a voz melíflua a sussurar
numa sutil sedução:

sua beleza mais que um arco tenso
é a beleza incomensurável
de altivez e singularidade
em seus braços a me embalar

homem mais lindo do mundo
nesse eterno encantamento
vivamos esse momento
esse momento e nada mais
nosso singular encontro
sem os efeitos colaterais

não foi apenas ontem que aprendemos a amar
recebamos esse presente
à revelia de amanhãs
sem tropel e armadura
nem dissabores e agruras

flecha apontada
alvo definido
um só coração
caminho traçado

rumo à esquina do mundo
à cidade sagrada
e toda proteção
juntos em uníssono
entoando a mesma canção

a versejarem enlevados
desde agora e para sempre
uma invulgar história
viajeiros incansáveis
percorreriam uma só rota

acima do céu
abaixo do mar
no plano do altar
decantariam em oração
no interstício da paixão
solfejariam em poesia

constantinopla!

Ao som de um flamenco turco, Öykü Gürman ve Berk Gürman - Evlerinin Önü Boyali Direk, divaguemos, deambulemos....

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

no silêncio das coisas esquecidas

imagem colhida na internet

no silêncio das coisas esquecidas
se inseriu uma breve história
daquelas bem transitórias
guardadas apenas numa única memória

que se encastela confortável
por entre as nuvens de poeira
numa pesada leveza
que desliza

por entre as prateleiras
como esferas de chumbo
empilhadas num mundo
que ninguém mais viu

só ela em seu costumeiro desprezo
pelas coisas vãs
ligações temporais
a tudo que é banal

e no girar mundo
gerar fé
rolar dadinhos
digerir conflitos

rasgar confetes
lançar foguetes
engolir saudades
despertar para a vida

deseja agora
apenas guardar esse silêncio que ocupa a alma

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Faz dois dias que eu só escuto essa canção: Simple Man, Lynard Skynard. É, eu escuto a mesma música, várias vezes, muitos dias... Experimenta!



quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

imagem recolhida da internet

Minha laranja amarga e doce
meu poema
feito de gomos de saudade
minha pena
pesada e leve
secreta e pura
minha passagem para o breve, breve
instante da loucura
Minha ousadia
meu galope
minha rédea
meu potro doido
minha chama
minha réstia
de luz intensa
de voz aberta
minha denúncia do que pensa
do que sente a gente certa
Em ti respiro
em ti eu provo
por ti consigo
esta força que de novo
em ti persigo
em ti percorro
cavalo à solta
pela margem do teu corpo
Minha alegria
minha amargura
minha coragem de correr contra a ternura.
...

Meu desafio
minha aventura
minha coragem de correr contra a ternura



... é que quando o sentimento explode, só a poesia nos acode. Este é um poema-presente a fazer da vida um transbordamento de delicadezas.

Oiçamos a Rosa Passos, Eu não existo sem você - Tom Jobim e Vinicius de Morais. Oiçamos...


domingo, 9 de janeiro de 2011

me and you no more

imagem recolhida na internet


ouvi dizer que você anda sorridente

que canta sem motivo aparente

e seu olhar ainda que triste

tem um brilho diferente


e os passeios à beira do rio

já ficaram lá atrás

não tem mais passeios

não tem mais rio


não tem mais risos

não tem mais corridas

rumo ao incerto

nem as diversões inventadas no meio do nada

- nem a fome de madrugada -


nem lembra mais do peixe no aquário

nem do parque nos dias de outono

tudo virou pó

pó no sótão da memória


pó no álbum de retratos

pó de estrada

pela qual ninguém caminha mais

tudo agora é o absoluto


absolutamente inexistente

o que se instala nesse instante

é a eternidade do nunca mais

nunca mais nós dois


nunca mais

nunca mais

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Home - Michael Buble, David Foster, Bill Ross - com o Bublé, porque tinha que ser essa música, porque tinha que ser essa...


domingo, 2 de janeiro de 2011

everything has one end

le double secret - rene magritte


é em mim que

existes


em mim

e já não mais em ti

porque tudo que és

é uma invenção minha


prescinde a vida e a morte


assim desse jeito até banal

tua matéria

minha criação

teu fim só com o meu não


sim, decerto


pois decreto por fim

esse fim com um final extenso em mim


...


...É que nessas horas, só o blues... só o blues. Vamos aumentar o som que Jeff Beck - Brush with the blues - dá as notas.


b17

Os cães não ladraram  os anjos adormeceram  a lua se escondeu. Dina Salústio em   Apanhar é ruim demais imagem colhida na internet, d...