palavras

"Passante e avarandados entreolham-se.

O olhar trocou-se.

Não se trocou o cheiro".

Alexandre O´Neill in Manifestação, Poesias Completas . p.363

imagem: odilon redon

saí traçando no caderno palavras a esmo
palavras à toa
palavras tortas
palavras para encher páginas
palavras

palavras de toda e mais alguma lavra
palavras para guardar
sem aparentes sentidos
sem rimas
palavras sem propósitos

palavras côncavas, para encher de nexos
convexas, para lhe encontrar em alguma curva
de algum S desavisado
em algum canto descansando

mas as palavras ficaram presas
nas páginas frias do caderno
nas páginas em branco da nossa história
indiferentes
alheias ao sentimento que brota

que pulsa quente sem controle
incoerente, absurdo
abusado e surdo
como essa vertigem
que me toma quando escrevo teu nome

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E o Filipe Campos Melo, poeta e amigo que tanto admiro, traz para meu poema, seu sempre enriquecedor contributo.


Às vezes as palavras escrevem-se por si
Traçam o seu espaço entre espaços
Formam-se em diferentes formas

Nos seus significados e significantes
São vertigem
Invadem
Apossam
Evocam

O Nome 



Olinda - XXX - III - MMXIII

chico buarque e zizi possi, cantam, pedaço de mim

alucinação

"A minha alucinação

É suportar o dia-a-dia

E meu delírio

É a experiência

Com coisas reais"

Belchior

sandy skoglund - raposas

engole-se o choro

retrai-se coração

pupilas brilhantes

estado alterado

alucinação

na vastidão do mundo

olhares desiguais

eternas diferenças

dentro e fora dos muros

nas calçadas e sinais

exército(s) de brancaleone

farrapos, restos, desumanização

mendicância, fome, desolação

civilização (?)

somos nós quem construímos

esse mundo cão, mundo cão!

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XX - I - MMXII

belchior, alucinação

pétala d´água

"O difuso território de fronteira que separa o sonho da realidade

 é chão muito fértil".

José Eduardo Agualusa in Milagrário Pessoal. p. 35

lovers with flowers - marc chagall

uma pétala d´água
brotou do meu olhar
na tentativa de ser flor
em seu jardim

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E o Filipe Campos Melo, sempre ele, meu grande e querido poeta, diz:

um verso apenas
mas não apenas um verso

uma imagem na imagem sublimada
uma lágrima que murchando floresce

Talvez a poesia seja fronteira
Talvez o verso seja território


Olinda, XV - II - MMXIII
sem maiores delongas: chico césar, pétala por pétala