"encontro-me habitualmente entre estranhos,
porque enquanto sou arrastado por uns e por outros
não tenho tempo para magicar nas tristezas da minha vida".
F. Scott Fitzgerald in O Grande Gatsby. p. 73
escárnio - emil nolde
a inverdade é tão poderosa
na mesma proporção em que
alguma verdade
pode entre os escombros
persistir
é transitória como a vida
temporária como a eternidade
para quem serve a eternidade
para que serve o amanhã
para que tantas manhãs?
para que imortalidade
se teus dias são feitos de inutilidades
jóias em ouro, prata, escárnio e poder?
poder efêmero como a luz diáfana
da manhã desperta
no teu olhar difuso
na confusa rede
de tantas artimanhas
nessa enfadonha personagem
que já não te cabe mais
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E o meu amigo e grande poeta, generoso, farto em expressividade,
Filipe Campos Melo, que sempre sofistica minha tímida escrita, nos traz a sua potência poética:
Dizem que todas as verdades são, por natureza, transitórias
Digo, a inverdade, na sua desproporcionada proporção, é seguramente mais poderosa
Como se escreve
"a inverdade é tão poderosa
na mesma proporção em que
alguma verdade
pode entre os escombros
persistir"
A mentira subsiste às derrocadas, persiste entre escombros,
É arma - ofensiva -
É uma ofensa - que se arma difusa
quase eterno escárnio.
É um murro aparentemente inultrapassável construído na palavra que se faz pessoa personagem
(ás vezes até no verso - por incompatível que pareça)
Mas, no final do dias, talvez seja apenas engano
"Para que serve a imortalidade se os dias são feitos de inutilidade?"
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Olinda, XXV - IX - MMXIII
herbie hancock, alone and i