domingo, 31 de maio de 2009

O Abismo

(imagem da net)


e a palavra que nao sai

que fica presa na garganta

engasgada

estrangulada

cheia de tensão

que se dissolve no ar

porque é sólida

na ameaça

da faca

que corta

o fio da razão


faz-me um favor:

apaga a luz

rasga as cartas

paga as contas

desmonta a cama

deixe-me chorar

o que acabamos por não ser

por não dizer

por ficarmos parados

de lado

ao lado

aos teus pés


eu clamo:

fecha a cortina

encosta a porta

traz-me a garrafa

de água benta

de vinho tinto

e o livro

com as folhas amassadas

como a saia

de cetim

que arrancaste de mim

com a tua áspera sensualidade


e num arpejo:

composto

engulo teu gosto

desfaço desgostos

efêmeras escusas

recusas

nosso estado de desequilíbrio

etílicos

famélicos

procuramo-nos

no silêncio dos céus

da boca amarga


e no último suspiro:

num esforço cruel

sabor de amarguras

medo absurdo

como a fome

como a arte

como o corte

como a morte

escrevo em vermelho

e no luto

do esforço bruto

me faço teu abismo!


Aumenta o som, porque a música, é o/do Mule - Beautifully Broken:


quinta-feira, 21 de maio de 2009

Essa palavra-pássaro

(imagem da net)


Essa palavra-pássaro

sempre em ponto de vôo

de asas farfalhantes

ora fundo ora rasante

essa palavra murmurante

de contorno azul na imensidão do horizonte



Essa palavra que seduz

que é banal

mas é diferente

que tem o movimento das marés e enchentes

que se rasga palavra

na bandeja de prata envelhecida


Essa palavra que exige investimento

que tem gosto de avelã

enfeitiça e desestabiliza

feito febre terçã

palavra fora de hora

sem justificativa temporã


Essa palavra desgastada

de brilho desbotado

de contorno pontiagudo

inquebrantável

fincada no cerne da palavra

registra o teu nome


Essa palavra que sei de cor

que se faz eloqüente

ainda que tímida e pudoradamente

encastelada

guardiã da palavra

me sabe amor


Eu gosto imenso da voz, das canções e das emoções que sinto ao ouvir a Mafalda, curtam!

Caprichem no sotaque luso e cantarolemos juntos:

"Sei de cor cada lugar teu/ atado em mim, a cada lugar meu/ tento entender o rumo que a vida/ nos faz tomar/ tento esquecer a mágoa/ guardar só o que é bom de guardar [...] Mesmo que a vida mude os nossos sentidos/ e o mundo nos leve pra longe de nós/ e que um dia o tempo pareça perdido/ e tudo se desfaça num gesto só..."

Mafalda Veiga: Cada lugar teu.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Banquete Imperial

(imagem da net)


Quando me desenhas
com teu desejo
fogo louco
exaltação

rabisco em teu corpo
minha fome de ti
meu banquete imperial
sedução

talhados em carne
e o tempero da paixão
sem segredos sem medidas
perdição

olhares devastadores
cadenciada movimentação
luxúria em cada ato
anunciação

e por fim tua língua ardente
saboreando-me lascivamente
num quase estado dormente:
a explosão!


A música? Deixe-a te devastar... Ouça a Candida Rose cantando That's All, mais uma bela voz de origem caboverdiana...


sábado, 9 de maio de 2009

Âmbar

imagem colhida da net

Vístula, Oder, Neva e Narva
aqui desaguam
dessa protuberância
e rasa profundidade

faço-me um Báltico
de onde um dia emergi
de extensão salobra
à doçura sucumbi

quando desprendi-me de mim
em teu escudo cristalino
vi minha face
que o vento em ondulação desenhou

como o ouro e a prata
em plena fusão
polimerização
me aqueces e me queima

insolubilidade e contradição
na terra azul
variação
princípio de tudo

duas palavras
entrega e capitulação
vulcânica temperatura
transformação

uma duas dez mil vezes
reformulação
da terra
e as montanhas do mundo

Andes Alpes Himalaia
e as escalas do tempo
fossilização
fluídica exudação

e quando tu teso
retém-te
em gotas de stalactites
sou tua Tabula Peutingeriana

estrada e segurança
translúcidos
cheios de pujança
és: minha rota do âmbar!


E queimem-se, incendeiem-se, apaixonem-se, vivam a intensidade dos sentimentos. Trago obviamente, a Bethania, com a sua voz e a sua interpretação que dispensa qualquer comentário, o Âmbar, da Adriana Calcanhoto:

Tá tudo aceso em mim/ Tá tudo assim tão claro/ Tá tudo brilhando em mim/ Tudo ligado/ Como se eu fosse um morro iluminado/ Por um âmbar elétrico [...]/ Aqui do outro lado/ Tudo plugado/ Tudo me ardendo/ Tá tudo assim queimando em mim/ Como salva de fogos/ Desde que sim eu vim/ Morar nos seus olhos...



b17

Os cães não ladraram  os anjos adormeceram  a lua se escondeu. Dina Salústio em   Apanhar é ruim demais imagem colhida na internet, d...