e a palavra que nao sai
que fica presa na garganta
engasgada
estrangulada
cheia de tensão
que se dissolve no ar
porque é sólida
na ameaça
da faca
que corta
o fio da razão
faz-me um favor:
apaga a luz
rasga as cartas
paga as contas
desmonta a cama
deixe-me chorar
o que acabamos por não ser
por não dizer
por ficarmos parados
de lado
ao lado
aos teus pés
eu clamo:
fecha a cortina
encosta a porta
traz-me a garrafa
de água benta
de vinho tinto
e o livro
com as folhas amassadas
como a saia
de cetim
que arrancaste de mim
com a tua áspera sensualidade
e num arpejo:
composto
engulo teu gosto
desfaço desgostos
efêmeras escusas
recusas
nosso estado de desequilíbrio
etílicos
famélicos
procuramo-nos
no silêncio dos céus
da boca amarga
e no último suspiro:
num esforço cruel
sabor de amarguras
medo absurdo
como a fome
como a arte
como o corte
como a morte
escrevo em vermelho
e no luto
do esforço bruto
me faço teu abismo!
Aumenta o som, porque a música, é o/do Mule - Beautifully Broken: