e a palavra que nao sai
que fica presa na garganta
engasgada
estrangulada
cheia de tensão
que se dissolve no ar
porque é sólida
na ameaça
da faca
que corta
o fio da razão
faz-me um favor:
apaga a luz
rasga as cartas
paga as contas
desmonta a cama
deixe-me chorar
o que acabamos por não ser
por não dizer
por ficarmos parados
de lado
ao lado
aos teus pés
eu clamo:
fecha a cortina
encosta a porta
traz-me a garrafa
de água benta
de vinho tinto
e o livro
com as folhas amassadas
como a saia
de cetim
que arrancaste de mim
com a tua áspera sensualidade
e num arpejo:
composto
engulo teu gosto
desfaço desgostos
efêmeras escusas
recusas
nosso estado de desequilíbrio
etílicos
famélicos
procuramo-nos
no silêncio dos céus
da boca amarga
e no último suspiro:
num esforço cruel
sabor de amarguras
medo absurdo
como a fome
como a arte
como o corte
como a morte
escrevo em vermelho
e no luto
do esforço bruto
me faço teu abismo!
Aumenta o som, porque a música, é o/do Mule - Beautifully Broken:
Perfeito tudo que disse aqui hoje...
ResponderExcluirSabe? meus desenhos estou mostrando agora, são coisas intimas, que poucas pessoas conhecem, mas é linda a ideia que vc me deu, seria otimo dançar com os dançantes, o casal de bailarinos que paulatinamente me remetem a mim mesmo. Seria otimo dançar com eles, imagina 3 metros de altura?
Queria saber mais de você, me adiciona no msn: diogo_dariogenes@yahoo.com.br
Errou.
ResponderExcluir"rasga as cartas
paga as contas
desmonta a cama
deixe-me chorar
o que acabamos por não ser"
É meu trecho escolhido... talvez esteja me retratando especialmente hoje, mana.
Lindo, como sempre. Faca afiada, mente desnuda, palavra sentida e cantada.
Ainda lembro que nem queria ter blog... Olha só o desperdício!!!
belo poema, parceira, emparedado, kafkiano, porque sabe que no estado de exceção em que vivemos o que é necessário, a liberdade, o que é indispensável, o amor, o que é vital, o encontro, o que é singular, a expressão, está vendado, porque os imbecis, com suas armas diversas, dominam a cena.
ResponderExcluirbeijos
luis de la mancha.
Valeu, Poeta Eterno, vamos dialogando, obrigada pela visita! Mas pensei em dimensões menores, coisa de 30cm? ;)
ResponderExcluirmAna, é facto, o seu dia estava para este, mas a partir de agora, desconfio que se fosses escolher, seria aquele, hã? Que tem o sabor da ironia, da vida, da força e da alegria, tudo ao mesmo tempo, como tu! Um abraço bem apertado, claro que subirei na cadeira, afinal, 2m de mulher pra uma baixotinha que nem eu... Mas nem todos os nossos encontros do mundo, mata a saudade que eu tenho de ti.
Sim, parceiro, as tuas análises sempre são certeiras, mas especialmente nesse, havia uma atmosfera sufocante, estrangulante, emparedada que me impulsionava a transbordar. Feito!
Beijos pra vocês.
Olá Canto da Boca :D!
ResponderExcluirQue imagem linda!! Bom gosto!
Que cadência, que andamento musical tem o teu poema! Rápido como o trovão do fim, cutilante como a dôr da separação, vermelho como o sangue que fervilha de sentimentos contraditórios (amor/ódio, raiva/paz, desejo de viver/de morrer etc).
Parabéns, minha linda!!
Beijinhos
Belo, doce e áspero dizer de bocas que parecem já não mais selar-se... Belas palavras de poemas a fundo, num blogue no mínimo maravilhoso (digo isso por não entender a restrição do blogspot quando cá aportei...)! Enfim, voltarei e em breve! Abraço e parabéns pelo seus cantos perdidos numa grande e tragável boca prestes a engolir qualquer desavisado!
ResponderExcluirMais um instante de encantamento este que experimento agora.
ResponderExcluirEsse abismo bastante que se instala,pronto para nos arrastar.O corpo efêmero e precário,pleno de desejos afligidos,esquece a 'ameaça da faca que corta o fio da razão' e se contempla no abandono.
Há sempre um transbordamento de emoções em seus escritos,Boca.Tudo muito contagiante.
Beijos
estamos sempre à beira de um abismo ou no limiar de uma escalada, pois a vida é feita muito mas de saltos do que de continuidade. Belo poema :)
ResponderExcluirEstou agora tetando escrever contos, pois adoro contos, mas nunca me senti bem os escrevendo, talvez por conhece-los melhor do que aos poemas. Talvez um tanto de ignorância nos dê mais coragem. Por isso resolvi deixar adormecido meu super-ego, pelo menos nos momentos que eu invento meus contos (se bem que, é claro, a realidade está sempre presente de alguma forma na ficção).
Beijo
vermelho no preto, o resto é mar
ResponderExcluirPuxa...
ResponderExcluirdelícia de ler e guardar
no silêncio da só gente
"em vermelho e no luto do esforço bruto me faço teu abismo!"
Bjins entre sonhos e delírios
Max,
ResponderExcluirNós, nossa natureza conflitante, cnflituosamente humana, no sentido "nietzscheano", sombriamente "kafkaniano", e rápido como a vida! Obrigada pela sempre inteligente e elegante presença.
Beijos carinhosos e um domingo ensolarado.
;)
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Dilberto,
Adorei a análise, um resumo cheio de qualidades, acerca de escritos tão descomprometidos, mas sempre atenta, pra aBocaNhar, no bom sentido, claro, os desavisados que aportam sua nau, no meu portoCanto!
Ótimo domingo, e obrigada pela visita, volte sempre!
;)
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Amarísio,
Sim, às vezes a vida se-nos-configura momentaneamente em absimos, espamos, e indefinições, e o pensamento se expande em deambulações, mas sempre existe o fio inquebrantável da razão, é tênue, quase invisível, mas que nos mantêm presos ao algo, ou "alguéns". Mas a emoção é meu elemento que nunca falta, risos.
Prazer imenso ter você aqui, viu?
Um domingo criativo e muito feliz!
Beijos.
;)
Benno,
ResponderExcluirParece que a vida é um eterno desafiar-nos, desfiar-nos. Ora estamos ladeira abaixo, ora estamos ladeira acima, mas em constantes movimentos, isso é também nosso alimento. Ainda bem que deste uma chance ao seu super-ego, de descansar e ficar adormecido um pouco, ao menos nos deste o privilégio de lê-lo contista, já sabes a minha opinião.
Um ótimo domingo pra ti, os teus e as tuas. É sempre um grande prazer tê-lo no Canto.
Beijo.
;)
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Quincas B.,
"São coisas que eu sei contar..."
Se tivesses escrito, "O Vermelho e o Negro" (Jesus, salvai almas! Que audácia a minha), eu dir-te-ia, que igual ao Julien Sorel, são as paixões, que me levam à ruína, risos.
Eu curto seus comentários, sempre e excessivamente profundos.
Um domingo bem lindo pra ti.
;)
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Catiaho,
Às vezes somos o abismo dos outros, não é, minha linda? Além de construir os nossos... Mas a reflexão é o nosso álibi e a desculpa nossa palavra-porta, abre e escancara todas as trancas.
Leia e guarde no coraçao, na alma, na retina.
Um domingo cheinho de alegrias, e um beijinho, obrigada por estar aqui e deixar suas sensações, emoções que transbordantes, me deixam envaidecida.
;)
Cara, muito bom!
ResponderExcluirDenso, consistente, intenso.
Adorei, MESMO!!!!
Veloz e certeiro como uma flecha.
ResponderExcluirde uma beleza estonteante.
ResponderExcluirbeijos...
BoBoca do meu coração! Que poema mais delicioso, este! Embora o travo de tristeza, as palavras descrevem uma alma apaixonada e apaixonante. E descrevem lindamente o encontro de bocas e tempos que ainda não se perderam, né?
ResponderExcluirE escrever em vermelho é sempre a chegada! rs...
Beijoconas, moça-poeta!
Belo o poema.
ResponderExcluirFatal, por vezes, a atracção do abismo.
Bj
Ahh 30 cm? Não!
ResponderExcluirSe fosse assim seriamos maiores que eles, quando a ideia é sermos nós o chão onde flutuam os bailarinos...
Tem desenho novo no blog.. estou inaugurando uma "sessão" só de desenhos meus.
Ju, obrigada pela visita e por ter sentido a força do poema... Volte sempre que quiser, prazer te ter aqui.
ResponderExcluirBeijo!
;)
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Curto gento de coragem, "Anonimo", isso quer dizer que assmuir a máscara do anonimato não é pra qualquer um/a não.
Obrigada pela visita, com ou sem "impressão digital" no documento, volte qdo quiser.
Um beijo!
;)
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Mulher na Janela, prazer grande ter-te também aqui nesse Canto. Sem vocês essa "beleza estonteante" não faria sentido. Obrigada pela vinda, a casa é sua.
Um beijo!
;)
LoBoBona!
ResponderExcluirAlegria danada te ver aqui... Tentei nesse poema, registrar um momento de "denúncia" desse desenfreado sistema que nos rege e que regemos igualmente, e que nem sempre reagimos a ele. Da mordaça que nos cala, quando queremos gritar sonoros nãos à alienação que nos cala; que nos embriaga e adormece, e então somos sempre Abismos, nossos, dos outros, afinal estamos todos interligados, somos interdependentes, e nem sempre as bocas podem em uníssono emitir o mesmo som, ou provar do mesmo beijo. Enfim... Impregnada pela tese, entende?
Monte de beijos procê!
;)
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Ana,
É sempre uma grande alegria ter-te no Canto. Sim, é facto o Abismo a nos chamar, e ou nós a chamá-lo... Obrigada pela visita, o Canto é seu!
Beijo!
;)
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Poeta Eterno, oi!!
Então, então és o senhor do destino das estátuas, façamo-las gigantescas, pensei agora uma alameda ladeada por uma centena delas, um caminho sinalizado para flutuações, delírios e criações, ou o que se-lhe-nos apetecer!
Sempre grata pela sua visita!
Beijo!
;)
Menina, que lindas imagens!!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirAcredito que a sua inspiração poética esteve presente o tempo todo junto de você durante essa viagem por lugares tão maravilhosos como Veneza.
Beijos e obrigada pela visita.
Puta que pariu! Que poema mais lindo. Dez pra ti minha Linda!
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