segunda-feira, 26 de novembro de 2012

escuta o silêncio

"Estava desempenhado, de alma e corpo ocupados:
 tecia os delicados fios com que se fabrica a quietude. 
Eu era um afinador de silêncios".

the blue violinist - marc chagall

escuta, escuta bem
o silêncio
e esta palavra  dada
- inaudita -
a essência manifesta
ante à perplexidade

escuta, escuta bem
o dito é nada
é a efervescência enclausurada
o êxtase secreto
sentimento disfarçado
destino incumprido

escuta, escuta bem
a lonjura dos mundos
simulação da indiferença
uma contenção da alegria
a escolha do verbo
que não se pronuncia

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É dele, do Filipe, um mestre da poesia, um mago das emoções, e que sabe como ninguém esculpir meus poemas e  dá tantos outros sentidos a minha poética. Irresistível, obrigada! 

A palavra escrita é pronunciada no silêncio

(A leitura é um acto íntimo 
uma sujeição submetida à subjectividade,
interpretação, advento e perplexidade)


O silêncio não é dizível

(O silêncio é reduzível 
reproduzível como escrito,
à redutiva palavra, 
à porção que a excede
que se escuta no que ficou por escrever

(a essência manifesta que não se pronuncia)


xxiv - xi - mmxii

miles davis - flamenco sketches



segunda-feira, 19 de novembro de 2012

despedaçada

"Quanto mais me despedaço,
                                                                                                             mais fico inteira e serena".
                                                                                                                            Cecília Meireles

                                           
frida kahlo

é preciso entorpecer o corpo
para  libertar as dores da alma

é preciso rasgar a escuridão da noite
para  nascer o azul do dia

é preciso apagar as estrelas
para o sol nascer outra vez

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e a Piedade Araújo Sol traz o poema  (re)nascido dessa forma:

para o sol nascer outra vez
é preciso apagar as estrelas

para nascer o azul do dia
é preciso rasgar a escuridão da noite

para libertar as dores da alma
é preciso entorpecer o corpo


 x- xi - mmxii

luiz melodia canta, do cazuza - codinome beija flor

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

pedra

“O silêncio é a mais perfeita expressão do desprezo”.
Georges Bernard Shaw

galatéia de esferas - salvador dalí


extraíra da pedra  sua força e seu silêncio
e o mineral fragmentou-se
mas não perdeu sua natureza ignis
no complexo processo de solidificação
preenchia fissuras
conservava ranhuras
e a composição:
transparente gema
estranha  ao fogo 
complexa e ambígua
nacarada e brilhante

de          con              nu           ção
    s                    ti               a

composto reacional
entre tantos acidentes
corrosões e colisões
contabilizava  o tempo
um aliado
em diversas  ocasiões
e no torpor da mudez
fossilizou as emoções

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E o Filipe Campos Melo, sempre proporciona esse diálogo, traz ouro-poema, pedra-poesia e nos multiplicamos:

Líquida lágrima de pedra permanece pendente
Silente silêncio invade vago espaço
Fragmentado fogo no verso fissurado
Reagente entreposto em tempo decomposto
PETRIFICAÇÃO
Poema fossilizado



XX - X - MMXII

snow patrol - you could be happy




terça-feira, 6 de novembro de 2012

novena

"Diante do crucifixo
eu paro pálido tremendo
´Já que és o verdadeiro filho de Deus
Desprega a humanidade dessa cruz"!
Murilo Mendes in  A Tentação

self portrait - bridget tichenor

não desfio o rosário
não tateio as miçangas
não conto o terço
tampouco canto incelências
salmodio meus mortos em silêncio

não entoo antífonas
vou esgarçando meus rosários
conta a conta
esfiapadas como a esperança
ressequida nos olhos da ilusão

em comedida reverência
ante a penitência
ex-votos enfileirados
na poeira perfilados
sonho a sonho realizados

recomeça(mos) a novena!

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xxx - x - mmxii

quinteto armorial - romance de minervina  (romance nordestino do século xix)

b17

Os cães não ladraram  os anjos adormeceram  a lua se escondeu. Dina Salústio em   Apanhar é ruim demais imagem colhida na internet, d...