sexta-feira, 30 de abril de 2021

"o fim do mundo não vai chegar mais"

"E é glória do saber querer
Com longa história
Pra frente e pra trás"

Caetano Veloso

imagem: arquivo pessoal

eu preferi diluir aquela saudade incômoda

num cálice de vinho tinto

e deixar a esperança se estilhaçar

como se fosse os fragmentos do cristal quebrado


eu preferi guardar o desespero

na gaveta da cômoda do quarto da bagunça

a mesma bagunça que agitava meu coração vermelho

todas as vezes que o sino da igreja badalava as horas da espera


e aquele cansaço que pesava a alma

que vergava o corpo

que enrugava a esperança

que amargava o céu da boca


que apagava as estrelas

que borrava a lua

que fechava o céu

 e insistia em dizer:


"que o fim do mundo não vai chegar mais"

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Olinda, XXX - IV - MMXXI

Renato Braz, Quero ficar com você

domingo, 25 de abril de 2021

idas e vindas

"[...] A mim me fotografo nuns portões de ferro
Ocres, altos, e eu mesma diluída e mínima
No dissoluto de toda despedida".

Hilda Hilst em Amavisse

imagem: arquivo pessoal, Rua da Aurora - Recife

E a vida de vez em quando vai ficando assim: entre os escombros, envelhecida, cariada, desbotada.
Um aglomerado de situações mal resolvidas, inexplicadas, intrincadas, obscuras.
Idas e vindas.
Sentimentos imbricados, escondidos, ansiados.
Vai-se vivendo a roleta russa da emoção.
Brincadeira de roda, ciranda, passando o coração de mão em mão, experienciando o sentimento alheio.
Falcatrua emocional!
No devir - todos os dias -, uma inquietação, aquele desejo sem controle, de que em alguma esquina surja uma resposta, uma explicação, um sentido, a esperança de um milagre - se existisse -.
E os dias seguem, descoloridos, cheios de ferrugem, corroídos - e corroendo - e, vamos tropeçando no pensamento.
Se observarmos o entorno, ao emergirmos desse mergulho interior, até vislumbraremos alguns passantes, caminhando no passeio, alheios ao que em nós se passa, nem desconfiam do passado...
Para o silêncio, talvez só mais silêncio e resignação.

Resiliência e (in)compreensão.
A vida por vezes é tão ininteligível!

Recife, XXV - IV - MMXIII

    Eric Clapton, Can’t Let You Do It

    

b17

Os cães não ladraram  os anjos adormeceram  a lua se escondeu. Dina Salústio em   Apanhar é ruim demais imagem colhida na internet, d...