domingo, 20 de janeiro de 2013

cantigas de acordar

"Sabia-se apenas que
 com sete notas musicais
 faziam-se todas as músicas que existem
 e que existiam e que existirão."

cantiques iv - marc chagall

para mariana tozetto

a manhã desabrochou iluminada
leve, suave
nenhum galo cantou no quintal

mas uma sinfonia de pássaros
cortava o ar com um canto intermitente
melodias para acordar

em outro ponto
bem-te-viavam sem parar
ah, manhã que rasga


o breu da noite
a copa das árvores
para o sol brilhar

nesse movimento de rotação
funda-se o princípio do mundo
há tantos renascimentos

urgência de salvação
nesse giro em redor de si
nasce o dia esse bem maior

lá no íntimo desguardado
um fiapo de fé
faz da vida esse encanto.

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xx - i - mmxiii

E o Filipe Campos Melo, um mestre na escrita, sempre me/nos emocionando:

O verso 
como movimento de rotação 
refundando o mundo

Talvez uma prece
Talvez uma crença
Talvez cantigas para acordar.



luiz tatit, sílabas





segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

a paixão

Mas já que se há de escrever, 
que ao menos não se esmaguem com palavras
 as entrelinhas.
Clarice Lispector in Mas já que se há de escrever. p 19. Do livro, Para não  esquecer.

adam and eva - marc chagall

redonda como uma bola
ligeira como uma bala
quente como o fogo
- contraditoriamente -

macia como uma pena
a paixão chega assim 

assim
fatal
- cega -

devastando
... e atropela!

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xvii - xi - mmxii

peggy lee -  i´m confessin´

domingo, 6 de janeiro de 2013

indefinições

"Quero responder, não me chegam as palavras. 
Repentinamente perdi a fala,
 apenas um rouco farfalhar me sacode o  peito."
Mia Couto in  A Confissão da Leoa. p .83


O relógio marca 00h00, 01h:00, ah, o relógio marca, marca além das horas, um tempo que passou, um tempo que passa, um tempo que nem se sabe, existirá. O relógio é um escravo do tempo.
Não há barulhos, uma madrugada tranquila, com exceção dos sons dos sinos de vento - eu adoro esse som de sinos de vento - e da música que está no repeat há 30h... Uma música que a priori não faz sentido nenhum, se não fosse Freud, afirmaríamos. Mas e daí quem vai teorizar a essa hora? O que se passa nem São Xico Sá explica, quanto mais Freud. Certas situações e sentimentos, só vivenciando. A vida não está chata, tudo está no seu lugar (será?), nos conformes (será de novo?), indo, ora amarga, ora doce, ora salgada, ora sem sal, ela vai, a vida vai correndo, e parando de acordo com as exigências... Indefinições.
Mas o que há de novo  nessa inexplicável sensação do nada? Não vá me dizer que é síndrome de ano novo, que ainda não caiu a ficha, que tudo está se encaixando, que eu não acredito nessa conversa mole, minha senhora. Então explica essa cara de entojo, esse ar blasé, essa resiliência desnecessária e essa preguiça de mundo? 
O que será que há por trás desse vai e vem à cozinha, da presença dessa "fruta amiga" de abacaxi e a falta de concentração na leitura do livro do Mia? Indefinições. Ninguém sabe, ninguém viu, mas essas coisas do coração, não foi uma invenção de Lilith, nem tampouco de Eva. Só resta escutar de novo Roberto Carlos - pela zilionésima vez -... Quem?! Isso aí que a senhora leu, Roberto Carlos, porque por mais que seu conhecimento musical seja vasto e infinito, minha senhora, não tem quem se compare ao Rei, na hora de cantar o amor e uma certa dor de cotovelo, emoldurada por uma saudade sem fim...
E você, a quantas anda o seu coração, conte aí a sua história...?

Roberto Carlos canta, De tanto amor

b17

Os cães não ladraram  os anjos adormeceram  a lua se escondeu. Dina Salústio em   Apanhar é ruim demais imagem colhida na internet, d...