"Quero responder, não me chegam as palavras.
Repentinamente perdi a fala,
apenas um rouco farfalhar me sacode o peito."
Mia Couto in A Confissão da Leoa. p .83
O relógio marca 00h00, 01h:00, ah, o relógio marca, marca além das horas, um tempo que passou, um tempo que passa, um tempo que nem se sabe, existirá. O relógio é um escravo do tempo.
Não há barulhos, uma madrugada tranquila, com exceção dos sons dos sinos de vento - eu adoro esse som de sinos de vento - e da música que está no repeat há 30h... Uma música que a priori não faz sentido nenhum, se não fosse Freud, afirmaríamos. Mas e daí quem vai teorizar a essa hora? O que se passa nem São Xico Sá explica, quanto mais Freud. Certas situações e sentimentos, só vivenciando. A vida não está chata, tudo está no seu lugar (será?), nos conformes (será de novo?), indo, ora amarga, ora doce, ora salgada, ora sem sal, ela vai, a vida vai correndo, e parando de acordo com as exigências... Indefinições.
Mas o que há de novo nessa inexplicável sensação do nada? Não vá me dizer que é síndrome de ano novo, que ainda não caiu a ficha, que tudo está se encaixando, que eu não acredito nessa conversa mole, minha senhora. Então explica essa cara de entojo, esse ar blasé, essa resiliência desnecessária e essa preguiça de mundo?
O que será que há por trás desse vai e vem à cozinha, da presença dessa "fruta amiga" de abacaxi e a falta de concentração na leitura do livro do Mia? Indefinições. Ninguém sabe, ninguém viu, mas essas coisas do coração, não foi uma invenção de Lilith, nem tampouco de Eva. Só resta escutar de novo Roberto Carlos - pela zilionésima vez -... Quem?! Isso aí que a senhora leu, Roberto Carlos, porque por mais que seu conhecimento musical seja vasto e infinito, minha senhora, não tem quem se compare ao Rei, na hora de cantar o amor e uma certa dor de cotovelo, emoldurada por uma saudade sem fim...
E você, a quantas anda o seu coração, conte aí a sua história...?
Roberto Carlos canta, De tanto amor