domingo, 28 de maio de 2017

A linha

"There are things that I don't want to learn
And the last one I had
Made me cry".

imagem: arquivo pessoal

A pipa no ar e o peixe no mar, em algum momento terão em comum a linha: a primeira, do horizonte, aquele lugar tão distante onde só o sonho alcança; o segundo, do anzol que, quase sempre é morte certa e lenta.
Também nós algumas vezes a linha que nos sustenta pode nos levar além ou ao fenecimento.
É uma questão de escolha.
Entre o equilíbrio e o desequilíbrio existe também um  fio, que pode ser bambo, até que se encontre o tempo certo, o ritmo da passada e a respiração, para percorrê-lo com harmonia e firmeza.
Assim como em algumas circunstâncias, por obra do acaso (?) caminha-se no fio cortante da navalha que afiada, corta a carne.
Tudo na vida é um fio, prestes a se romper, a estrangular ou a cerzir a qualquer momento.
Façamos a melhor seleção possível.



Olinda, XXX - IV - MMXVII


George Michael,  One More Try,








segunda-feira, 8 de maio de 2017

Uma oração

"Om Bhur Bhuvah Svah
Tat savitur varenyam
Bhargo devasya dhimahi
Dhiyo yonah prachodayat"

imagem colhida na internet

Há momentos em que a única oração que conseguimos fazer é chorar.
Um choro sentido, daqueles que doem até o mais profundo do nosso ser.
Daqueles em que não pensamos em nada, não disfarçamos nada, apenas choramos na tentativa de desafogar o coração.
Choramos porque perdemos.
Choramos porque não conseguimos superar as dificuldades.
Algumas tão maiores que as nossas  pobres quimeras.
Choramos por termos tanta humanidade e não conseguirmos ultrapassar as barreiras que se interpõem diante de nós. Diante de tudo que desejamos realizar, viver e não conseguimos.
E então esse choro represado liberta em cada lágrima, a dor que machuca o coração.
Aquele choro que estava guardado, sem tempo para desaguar. 
Porque a vida anda tão exigente, que chorar passa a ser um luxo.
Choramos a perda de um amor, a privação de um sonho que acalantamos anos, dentro do peito. 
Choramos por um projeto que se extravia por não sabermos como executá-lo.
Aí só resta deixar o tempo curar a ferida, olhar para a frente, seguir o caminho escuro da frustração e aprender a recomeçar.
Compreender os sinais vitais, namaha!

Olinda, VIII - V - MMXVII

sábado, 6 de maio de 2017

Somos o instante

"Dorme comigo acordado e só assim poderás saber de meu sono grande
 e saberás o que é o deserto vivo."
Clarice Lispector em A Paixão segundo G.H.

o sonho de malinche - antonio ruiz

Parece ser da natureza humana planejar, organizar um futuro que a priori não existe.
Porvirá (?).
Vivemos como se não fôssemos finitos (materialmente).
Vivemos com a eternidade em nós.
Vivemos como se dominássemos o tempo. 
Nosso mundo é esse instante!
Um movimento que nos envolve e arrasta, algumas vezes, i-n-e-s-p-e-r-a-d-a-m-e-n-t-e, como uma onda que nos engole sem avisar.
Somos o instante, ancorado no passado.
Só temos o agora.
E apenas enquanto o vivemos. Pois tão logo acontecido, foi, passou, ficou para trás, se torna pretérito.
Reflito então que somos sistematicamente a lembrança de ontem e a espera de hoje.
Nos equilibramos nessa ilusão, nesse fio invisível que tece uma complexa engrenagem, nem sempre compreensível e explicável.
Somos subalternos ao tempo, com ele está a soberania. O comandante da história.
Tudo é transitório, estamos aqui de  passagem, somos ao mesmo tempo as partes e o todo de um mecanismo abstruso.
Tudo flui e nada permanece, tudo dá forma e nada permanece fixo
A todo sempre, somos sempre o devir.
Tudo é construído alicerçado em sonhos e fantasias, concretamente o que temos são os planos e as incertezas, até que se se prove em contrário, pois até que aconteçam, não os temos experimentados, gozados, vividos, eles não existem.
Mesmo depois de vividos eles também se tornam memórias. Nem sempre são táteis. (r)Existiram.
A vida e o sonho compõem as páginas de um mesmo livro. 
Essa leitura continuada que fazemos dele, é o que se chama vida real.
E por isso mesmo tão chocante.
A realidade (?) é espantosa!

Olinda, VI - IV - MXVII

Frederika Stahl, Pourquoi pas moi?

b17

Os cães não ladraram  os anjos adormeceram  a lua se escondeu. Dina Salústio em   Apanhar é ruim demais imagem colhida na internet, d...