segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

minha mãe


minha mãe só consigo entendê-la de longe
de perto dói
minha mãe quando perto
fica longe

quando longe
fica perto
e nesse deserto
vago

e nesse vácuo
perscruto
e nesse silêncio
escuto

as dores de minha mãe.

minha mãe quando perto
sou filha
quando longe
sou mãe

e entre a distancia
e o gesto
seja longe
seja perto

vejo decerto
as alegrias de minha mãe.

----------

para a minha mãe, dona maria colares (pele de pêssego), pessoa ímpar, incansável, hoje completa 73 anos, 57 de casamento, 7 filhos, 22 netos e 4 bisnetos.

essa música lhe diz muito: dez anos - versão do bolero mexicano diez años, de raphael hernández, por lourival  faissal, com a gal costa.

domingo, 22 de janeiro de 2012

a vida espreita em cada esquina

"Eu tenho a vida
partida
em mil pedaços
cola-os tu com dois abraços"

a vida espreita em cada esquina
com seus olhos de escárnio
e convites sombrios
entre estupefata e resiliente
desvio

a vida espeta em cada esquina
com suas garras afiadas
tentáculos em inoxidável aço
e dessa dureza diária
com pequeninos passos
desvio

a vida insiste em cada esquina
cheia de fome,  insaciável 
escancarando a boca da noite
de tragar suspiros 
de engolir sonhos
e devolver rascunhos
retintos

a vida persegue em cada esquina
abouejando o tempo
obstaculizando caminhos
e perdida entre as memórias
em meio às minhas ruínas
e escombros, sem desvios
lhe re-encontro

-------

 XV - X -  MMXI

djavan, esquinas

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

poema-gaivota

"Se uma gaivota viesse
trazer-me o céu de Lisboa
no desenho que fizesse,
nesse céu onde o olhar
é uma asa que não voa,
esmorece e cai no mar"


e aquele sonho  voou na asa de uma gaivota
errático, errante, rasante
carregando a brutal ilusão
deixando a saudade que ninho noturno
se acomoda soturna
estado de  introspecção
suspiros lucífugos
nas notas de uma canção

daquele voo distante
nunca mais a gaivota retornou
não se sabe de asa quebrada
não se sabe de prisão
se perdeu o rumo, a direção
- ou se o sonho morreu em qualquer estação -
ou voa plangente pelo mundo
sem consolo ou esperança

para um taciturno coração!

o poema gaivota, do alexandre o´neill, entre outras situações, mudou muito de/em mim. li-o desde sempre com o coração na boca, depois dele, nada mais foi igual para mim, nunca mais! ficou tatuado na minha alma, na minha carne, associado a isso, uma certa presença, por mais que se ausente, mas o vácuo é também a existência, e nesse átimo de segundo, ficou o para sempre. surpreendentemente vivi esse poema ao extremo. e tudo nele, e o que vibra dele é essencial como o ar que eu respiro ou como a água que bebo. não sei como existi antes deles. esse poema agora é o eixo de tudo, eternizou-se, eternizou-me, eternizou-te!

------

XII - I - MMXII

sónia tavares, gaivota, do o´neill

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

os dois

"Vamos viver o amor
vamos viver o amor e nada mais
Só o amor. Sem os efeitos colaterais".
Claufe Rodrigues


giorgio de chirico - the duo
os estilhaços demonstravam
o estrago fora feito
e pacientemente ela esperava
a reconstrução

varreu os cacos do chão
depois colaria a alma
resguardara-se com calma
vivera a expiação com resignação

uma purificação é tarefa divina
tem que esperar o sopro do céu
esgotar todos os grotões da existencia
e entender de  unguentos

porque sentir faz parte da cura
e sentir nem sempre é silencioso
e o inimaginável
é terapêutica  trama

e a atitude
e a quietude
e a plenitude
e a amplitude

ensimesmada olhando o teto
já sabia o que viria
porque havia no desvio do foco
um já lugar

dentro do outro
naquele largo olhar
já havia um lugar
naquele outro

sem maiores explicações!

-------

XXI -  XI - MMXI

luiz melodia  magrelinha

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

você tem que acordar é por dentro!

"Onde cê tava? Tava sumida, morreu?"
E a gente com aquela cara de fantasma moderno,
de expersona falida:
- Não, tava só deprimida".
figura: max ernst

Um belo dia você avista o mundo pela janela, sol irradiante, canto de pássaros, cheiro de pão assado, a chaleira avisando que a água ferveu, o café que exala da cozinha do vizinho.
A constatação que o dia amanheceu.
Carros, apitos, buzinas, gente que grita. Uma cantoria ao lado anuncia que alguém está debaixo do chuveiro. Um cão que late, a cidade que desperta. Um choro de criança vindo não sei de onde.
E acontece o insight: você tem que acordar é por dentro, e não deixar a vida simplesmente acontecer aqui fora!

-----

III - I - MMXII

na primeira manhã - alceu valença

b17

Os cães não ladraram  os anjos adormeceram  a lua se escondeu. Dina Salústio em   Apanhar é ruim demais imagem colhida na internet, d...