quinta-feira, 23 de maio de 2013

as flores de frida kahlo

                                                                           "O céu, para mim, era aquela cauda de puro brilho
                                                           que atravessa o céu azul, aquela fusão fria além de toda cor".

Marguerite Duras in O Amante. p. 89



joguei fora as flores de frida
as flores de frida kahlo
estavam já sem vida
desbotadas
amassadas, cores desmaiadas
amanhecidas, desalinhadas

joguei fora todos os sonhos
junto com as flores de frida
todos os sonhos
de todas as matizes
descolori os dias
tudo feneceu

e desde então todas as cores desistiram
amontoaram-se em sépia
até a noite era sépia
sépia como tu não gostas
sépia como a vida
que passa desbotada

morna
e mora entre o horizonte
e a líquida distância
da saudade
da ausência
cristalizada 
que se esconde atrás  do céu rasgado

espalhada entre as nuvens
que se movem tristonhas
esquecidas
no céu em sépia
sonhando reter um dia
as cores de frida kahlo!


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Olinda - XX - IV - MMXIII

adriana calcanhoto canta, esquadros
 

quarta-feira, 15 de maio de 2013

fracasso

"...Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua."

 solitude - marc chagall

sem louros, flâmulas, medalhas
pódio de chegada
tampouco aplausos

não houve vitórias
mas grandes derrotas
fomos vencidos

não há vencedores
fomos atropelados na corrida da vida
no afã de conquistar o mundo

perdemos o passo seguinte
o abraço seguinte
o triunfo foi inimigo letal

uma glória vã
brilho fugaz
de quem não se satisfaz

com os simples encontros da vida
os fogos que explodiram
anunciavam o fracasso

do que um dia foi
gentileza, diálogo, compreensão
mas que chegue logo o tempo da paz

do amor e do perdão!

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E o Filipe Campos Melo, como sempre, vai além, enxerga tantas outras possibilidades...

Um triunfo vão
temporário
preso num calendário
uma incompreensão

E o verso que escreve a memória

amargamente
repetidamente
exaustivamente

como um eco que se prolonga na demora

...

Que venha o tempo agora


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Gosto muito da interação, da intertextualidade, e trago-vos o poema e a presença marcante da Piedade Araújo Sol, que pode ser vista e lida em seus dois blogues, vale a pena visitá-la: http://olharemtonsdeflash.blogspot.com.br/
e http://olharemtonsdemaresia.blogspot.com.br/

 
Vitórias inúteis
derrotas infiéis
amargas

Vencedores vencidos
amarrotados no silêncio
do mundo atroz.

Glória hipotecada
na derrota fria
com fim mordaz.

É assim a vida
por vezes sem nada
apenas o sonho.

Que ainda se faz.

Olinda - XI - XI- MMXII



Paulinho da Viola, Dança da Solidão



sábado, 11 de maio de 2013

silêncio de ícaro

"O sol dos sonhos
derreteu-lhe as asas.
E caiu lá do céu
onde voava,
ao rés-de-chão
da vida".

above the town - marc chagall

o fato
é que ainda somos silêncios
na tentativa

de sermos
pássaro
talvez seja o silêncio

a melhor forma
de  nos entendermos
de nos estendermos

de nos dilatarmos
enquanto fazemos
(juntos)

esse voo de ícaro! 

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E me emocionanando sempre, o Filipe Campos Melo, traduz assim:

somos silêncio
somos do silêncio
A tentativa
A hipotética via
O entendimento
"todo o voo anuncia-se na queda"
 

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Sempre muita atenta ao poema, Piedade Araújo Sol, reflete em/uma autopoiésis:

Talvez ainda eu consiga
Reverter a mitologia
E inventar voar no mar
Sem queimar as minhas asas
Talvez 


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Veneza - XVIII - V - MMIX

stereophonics - maybe tomorrow





sexta-feira, 3 de maio de 2013

"a mais divina de todas as coisas vivas"

"Amar é exceder-se a si próprio"
Oscar Wilde in O Retrato de Dorian Gray. p. 41

imagem: ismael nery

gosto de dar nomes às coisas
de brincar com as sílabas do teu nome
do sabor que me vem à boca
quando é por ti que chamo

de saber que decoras com o pensamento
todas as minhas curvas insolentes 
que tateias com as pontas dos dedos
a minha geografia

que me fazes teu caminho da paixão
labirinto sem pressa
êxtase e sedução
do prazer criado em nós

gosto de exceder-me em seus excessos
do poema que escreves
na minha pele nua
quando desejosos

minha boca cola na tua
e vivemos o duplo mistério 
a mais divina de todas as coisas vivas:
ser o início quando tudo parece o fim!

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Olinda - X - IV - MMXIII

juliette gréco, déshabillez-moi






b17

Os cães não ladraram  os anjos adormeceram  a lua se escondeu. Dina Salústio em   Apanhar é ruim demais imagem colhida na internet, d...