"A palavra sangra
seu cântico de pó. Peixe
de sombra
mordendo as estrelas".
Casimiro de Abreu
As tentações de Santo Antão (detalhe) - Hyeronimus Bosch
não era abstrata
a tentação tinha forma
tinha fome
nome e ondulações
quanto mais se impunha distância
mais a tentação se aproximava
quedas abissais
profanação do templo
no tempo enquadrado
naquela gaiola de loucos
ruptura de acordos
louca tentação
no ardor do pecado
a (des)construção do caos
chamas e paixão
numa insana ode à tentação
a noite resistia
em meio à tanta desordem - se sabia -
mas ainda assim o sol se abria
o dia amanhecia
e
no centro inviolável do incendio
se jogou um oceano de lucidez
e a tentação, a tentação
esse pecado mortal
essa labareda que brota
do centro da terra
lava de vulcão
incendiou um coração
que desatinou de vez
em estado de alucinação
ainda quis agarrar-se à tentação
mas foi engolido
pelo feixe de luz
enquanto voava com o peixe
que mordia as estrelas
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XXII - X- MMII
Esse oceano de lucidez,
Tenho não,
Quem dera.
De onde estou,
Porque deixei de ter mar,
Aquele a quem confessava pecados originais,
Fico entregue às emoções,
mergulho fundo nesse poema
e me vejo do avesso,
massa de água
em constante movimentação,
tocando
lá ao fundo
no céu
onde vagueia um peixe
engolindo estrelas
e ganhando luz própria
Guma Kimbanda
......
Não há tentação sem pecado,
Dor sem saudade,
Noite sem lua.
Não há sede sem água,
Ódio sem mágoa,
Praça sem rua.
Não há como não ter desejo
Diante de tua pele nua.
Dimas Lins
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eric clapton - old love