domingo, 26 de julho de 2009

Desliga a música...

imagem: lilya corneli


Faz-me um favor:

desliga a música

hoje

quero escutar apenas os meus sonhos!


Mas apesar do apelo ao silêncio, desde ontem, cantarolo e ouço: Take a Look At me Now, Phil Collins... Porque é essa a música do meu silêncio!




quarta-feira, 15 de julho de 2009

A vida na rotunda, na avenida...

(imagem colhida na internet)


A vida não passa sem nos trazer reflexões, ou nos deixar estarrecidos diante dos acontecimentos, que para alguns pode ser banal demais até. O que não é o meu caso, não sei se para o bem ou para o bom; para o mau, ou mal; mas certas situações me deixam estupefacta e pensativa.

Caminhando pela margem da rotunda da Boa Vista, apressada, porque o vento frio, apesar do sol, parece lâmina a cortar-me a carne, em mim na carne, a minha carne (nessas horas me pergunto como o ser humano pode ser tão adaptável assim?)… Não percebi de imediato a discussão que se dava ali entre duas mulheres. Escutei vozes alteradas mas não percebi de onde vinham concretamente, até que uma senhora (devia beirar os 60 anos), meio descompensada, partiu pra cima de outra (esta já passava dos 70 anos, seguramente), e as duas começaram a esbofetearem-se no meio da rua, para os transeuntes surpresos e surpreendidos como eu, a ação das senhoras, deixou-nos sem ação, porque parecia uma cena de um filme de quinta categoria (referenciado por mim) que se passava em câmera lenta…

Um garoto assustado, choramingava e dizia à sua mãe:

- Vamos, mamãe, vamos!

- Vamos filho, vamos!

- Alguém aí, faça alguma coisa, pá! Eu estou com uma criança e está assustada!

- Toda a gente só dá uma vista d’ olhos e nada fazem?

E ninguém fazia nada, enquanto isso as duas mulheres puxavam os cabelos uma da outra, falavam coisas sem nexo aos ouvidos de quem não as conheciam, chutavam ora o ar; ora a perna uma da outra. De repente, num golpe de sorte (?), a mais jovem estapeou a cara da mais velha, e o sangue jorrou, imagino que as unhas atingiram um vaso sanguíneo, e por ser um local mais sensível, começou a sangrar de imediato. As duas então deitaram ao chão.

- Deixa meu pai em paz, um senhor de 83 anos, têm filhos e netos!

- O que estás a dizer?

- Não sabes? Ah, sabes sim, sei que sabes! Quer aproveitar-se do meu pai, deixe-o em paz e vá cuidar da sua vida, ora pois! Vou mostrar-te do que sou capaz!

-Nada sei! Não sei do que estás a dizer!

Isso pronunciado entre os dentes, com um ódio que saltava das pupilas dilatadas dos seus olhos. A situação já se tornara impossível, até que quatro homens, certamente os mais corajosos e sensatos dentre todos os presentes, não suportaram mais ver aquela fábula deprimente, e tomaram uma atitude: foram separar as senhoras raivosas e cheias de infelicidade. Percebam: quatro homens fortes, tenazes e destemidos, tiveram dificuldade para impedir que as duas senhoras continuassem aquele triste espetáculo de agressão e violência. Não se dando por satisfeita, a mais jovem, mordeu a mão de um dos cavalheiros que a desvencilhava da senhora mais idosa, que por sua vez, puxava-lhe os cabelos a quase trazer o couro cabeludo entre os dedos…

Quando deu por si, e saiu do seu transe de ira, a mais jovem, notou enfim que não teria mais como dar vazão à sua destemperança, de um salto levantou-se, ajeitou a saia; o casaco; os cabelos; e saiu resmungando algo incompreensível. Enquanto a mais velha, lívida e transparente, limpava o sangue do seu rosto, sem emitir um sinal de emoçao (nunca vi tanta frieza diante de um ataque de fúria), ficou rente à parede, silenciosa. Alguns polícias chegaram e eu já estava a dobrar a Av. de França…

E fui andando até o Carvalhido, pensando, porque eu precisava pensar. Em mim, nelas, e em tudo que eu presenciara, além de coisas que não presencio, ou das que vejo e também emudeço.

Parece um enredo de alguma peça do Nélson Rodrigues (que por sinal, tem uma peça dele em cartaz aqui), mas não é, ou é, a vida real, latejando, pulsando e rompendo ódios e sentimentos outros guardados até a explosão. Um micro-mundo, que avança violento sobre outro, pela ação corrupta, impaciente e baseada no descontrole, na vitória do não diálogo, que não cede, não concede e nem busca uma negociação, um porquê, simplesmente agride. Será que a agressora tem algum distúrbio de personalidade; prediposição natural (?) à violência; desconfiança; competição? O que há no subjacente dessa história de agressividade, que jamais saberemos? Uma amostragem do macro-mundo, onde se perdeu completamente a via da comunicação, da negociação, e eclodem as guerras, as atrocidades imperialistas… Fiquei pensativa sobre o mundo.


E escuto o João Pedro Pais: Um Resto De Tudo, vamos escutar a canção do gajo e reflitamos sobre nós e o mundo que estamos a construir...



b17

Os cães não ladraram  os anjos adormeceram  a lua se escondeu. Dina Salústio em   Apanhar é ruim demais imagem colhida na internet, d...