sábado, 6 de maio de 2017

Somos o instante

"Dorme comigo acordado e só assim poderás saber de meu sono grande
 e saberás o que é o deserto vivo."
Clarice Lispector em A Paixão segundo G.H.

o sonho de malinche - antonio ruiz

Parece ser da natureza humana planejar, organizar um futuro que a priori não existe.
Porvirá (?).
Vivemos como se não fôssemos finitos (materialmente).
Vivemos com a eternidade em nós.
Vivemos como se dominássemos o tempo. 
Nosso mundo é esse instante!
Um movimento que nos envolve e arrasta, algumas vezes, i-n-e-s-p-e-r-a-d-a-m-e-n-t-e, como uma onda que nos engole sem avisar.
Somos o instante, ancorado no passado.
Só temos o agora.
E apenas enquanto o vivemos. Pois tão logo acontecido, foi, passou, ficou para trás, se torna pretérito.
Reflito então que somos sistematicamente a lembrança de ontem e a espera de hoje.
Nos equilibramos nessa ilusão, nesse fio invisível que tece uma complexa engrenagem, nem sempre compreensível e explicável.
Somos subalternos ao tempo, com ele está a soberania. O comandante da história.
Tudo é transitório, estamos aqui de  passagem, somos ao mesmo tempo as partes e o todo de um mecanismo abstruso.
Tudo flui e nada permanece, tudo dá forma e nada permanece fixo
A todo sempre, somos sempre o devir.
Tudo é construído alicerçado em sonhos e fantasias, concretamente o que temos são os planos e as incertezas, até que se se prove em contrário, pois até que aconteçam, não os temos experimentados, gozados, vividos, eles não existem.
Mesmo depois de vividos eles também se tornam memórias. Nem sempre são táteis. (r)Existiram.
A vida e o sonho compõem as páginas de um mesmo livro. 
Essa leitura continuada que fazemos dele, é o que se chama vida real.
E por isso mesmo tão chocante.
A realidade (?) é espantosa!

Olinda, VI - IV - MXVII

Frederika Stahl, Pourquoi pas moi?

Um comentário:

  1. Quanta verdade neste teu texto, minha amiga.
    O tempo, essa entidade terrível, é que comanda o barco da vida.
    E ainda não demos um ai e já pertence ao passado, aspirando sempre pelo que há-de vir.

    Beijinhos

    Olinda

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