terça-feira, 22 de maio de 2007

"Fallin'..."


Às vezes eu te amo. Às vezes eu te odeio. E essa dualidade causa um redemoinho. No entreabrir da boca e dos olhos, tudo se evapora, e na asséptica brancura do papel os sentimentos e os versos arrebentam. Arrebento-me. Você que é a minha poesia, se faz e me faz; se fez e me fez em risos, riscos e rabiscos: na pele, no tempo.
O que a materialidade da palavra pode dizer por mim, por nós? Em todas as instâncias, entrâncias e reentrâncias teu verbo se faz em mim, carne. Em mim na carne. Em minha (tua) carne.
Sempre sedenta de ti serei, como na primeira água que bebi, e do sabor não esqueci; nossas duas águas confluindo num movimento de/em celebração restituindo-nos do estado pedra, para a fruição.
Não é de mim que o mundo sai, não é em mim que desemboca o mundo, mas de ti, em ti que me decifrou. Não mais indagues os meus olhares, é para te eternizar em minha íris, em minhas curvas, em meus seios, em meu sexo.
Multiplicas-me a cada dia, e em todos eles não me vejo menos que tua; não tenho passado, não tenho presente, futuro não terei se subtrair-me o alicerce das tuas pernas, teu olhar castanho e teus abraços que me acolhem quando busco-te refúgio meu, ainda que as linhas teimem em dizer não.
Se mil palavras num murmúrio minha boca confessar, nenhuma outra será senão o tanto de amor que eu tenho pra te dar.


“I keep on fallin’... In and out... With you... Sometimes I love ya... Sometimes you make me blue... Sometimes I feel good
At times I feel used... Lovin' you darlin’... Makes me so confused...” Alícia Keys conseguiu traduzir o que não tenho condições de dizer...

11 comentários:

  1. A entrega tem sabor que vai além paladar.
    Cadinho RoCo

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  2. Que bom vir aqui e conhecer os teus textos... antes você não tinha blog, não é? Beijo

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  3. Vc canta bem a paixão, a densidade, o arfã, o tudo e o quase nada... É lindo como todos somos tão diferentes, mas tão maravilhosamente dependentes da completude que o outro nos proporciona. Eu, por exemplo, anseio a sua densidade e por isso, também, sempre gostei de te ler, você tem o que dizer e diz bem. Já, quando eu pretendo dizer algo, sou o cotidiano da vida, das esperas, das esperanças, do trivial, das inconsistências desapercebidas. Isturdia rabisquei uma letra que, sem querer, ou na querência mesmo, se aproximou da atmosfera da composição (veja bem, não me refiro à qualidade do produto, mas do mote de composições... que fique claro!..hehe) do último álbum da Marisa Monte (Infinito Particular). Sou assim, cotidianamente incompleta e feliz. E vc tb o é, mas quando compõe... mergulha em algum lugar um pouco além das rochas e dos lençóis freáticos, vai até o magma e nos coloca quase de cara com o núcleo, e aí é cada um por si, alguns correm o risco de se queimarem, outros fugirão, mas todos terão oportunidade de conhecer a Gaia em seu íntimo, em seu desnudo mundo, o submundo do ser paixão. Adoro poder, o poder que você me dá ao te ler. Um enoooorme beijo da
    Zinha.

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  4. O canto da sereia é isso que é..
    Mas não a sereia que nos arrasta ao fundo do mar e lá nos abandona, mas o mergulho no fundo do mar por opção, pela profundidade, pela profusão de beleza..
    Bjs..

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  5. (Trazendo do blog antigo, comentários e afetos)

    Que tanta beleza. Tá bonito isso, hein? Beijos.

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  6. Belíssimo! Cada vez mais impressionado.

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  7. "Não é de mim que o mundo sai, não é em mim que desemboca o mundo". Val, você anda lendo o Murilo Mendes? Estranhamente eu peguei um livro dele pra ler esse final de semana, e justo o livro que originou a nossa conversa nos corredores lá do CAC, quando você foi procurar o Giusti, lembra? Coincidência menina, uma feliz coincidência. E o texto tá bonito, apaixonado, amoroso embora triste? Saudades de você querida Val.

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  8. ... flutuas. Leve, mas com lastro. :-) Indagar o olhar alheio é artimanha para esconder um pouco de si mesmo? Dar tempo de trancar-se, em ato reflexo? Ou de esmorecer-se e entregar-se? - Questões que me parecem distantes de algum direito presumido. :-)) bj

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  9. uau! fiquei sem saber o que dizer.
    bj.

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  10. Profundidade, intensidade e entrega
    Lindo texto
    :)

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  11. Sensualíssima, querida!
    As palavras e as intenções.
    O espaço e todas as imagens.
    Belo lugar pra se visitar.

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