Há 57 anos – dia 31 de março de 1964 - o Brasil escrevia uma das mais tristes páginas da nossa história recente, marcada por uma extrema ferocidade.
A ruptura com a legalidade e a democracia, foi instalada no país, com o golpe de 1964 e a ditadura militar um regime brutal e violento.
Os militares estavam acima do povo e das leis, segundo Chiavenato (2014, p. 108) "sem o apoio do povo, o regime militar teve de suspender eleições, fechar o Congresso e desrespeitar o judiciário".
Apoiados pelo capital financeiro externo, pela elite econômica brasileira e os U.S.A., que respaldavam os políticos de direita, os militares foram meros executores do golpe.
O cenário era terrificante, nos primeiros meses, os militares detiveram cerca de "50 mil pessoas, aproximadamente". Empreenderam o que eles chamaram de "operação pente-fino", que consistia em ir de "rua em rua, de casa em casa", buscando "suspeitos, livros, documentos, qualquer coisa que ligasse os acusados ao governo anterior ou à 'subversão".
Não importavam qual o papel, ou quem era a pessoa detida, mas estes tinham que provar sua inocência, ainda que não fossem culpados de nada. Naqueles idos, raras foram as lideranças "sindicais e estudantis" que "escaparam da repressão", prossegue Chiavenato (idem, p. 183).
Após a renúncia do presidente Jânio Quadros, João Goulart (de ascendência açoriana), um político gaúcho, conhecido como Jango, assumiu a presidência em um cenário de grande crise política, econômica e social. Seu governo compreendeu o período de setembro de 1961 a abril de 1964.
Gestou-se uma grande conspiração em torno do governo de Jango, cujo conciliábulo, dispunha inclusive de financiamento do estrangeiro. Usaram da prática de aliciamento de intelectuais brasileiros e contou com amplo apoio da imprensa nacional entre eles os "Diários Associados" (já extinto), "Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, O Globo, Jornal do Brasil, Correio da Manhã e Correio do Povo" (este do Rio Grande do Sul).
Escritores, jornalistas e redatores também compactuaram com esse triste episódio, consoante Chiavenato (2014. p. 55), "hoje, a divulgação dos nomes desses escritores e jornalistas causariam espanto à desinformada opinião púbica brasileira", o historiador traz uma relação surpreendente dos colaboradores do Ipes (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais, dirigido pelo General Golbery do Couto e Silva), que era um "núcleo de conspiração golpista com agenda política própria", e um dos principais órgãos de maquinações contra o governo de Jango.
No rol estão o "poeta Augusto Frederico Schmidt, o jornalista Wilson Figueiredo, as escritoras Raquel de Queiroz e Nélida Piñon" (esta última era secretária do Instituto, na ocasião). Chiavenato (subidem), diz ainda que "o escritor José Rubem Fonseca", era "um dos líderes intelectuais do órgão" e tinha "entre outras tarefas, de autorizar o financiamento de documentários, selecionando cineastas e sugerindo roteiros".
Chiavenato (idem, p. 45) releva que "embora a administração de João Goulart encontre-se entre as mais investigadas na história do país", nenhuma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), encontrou "a existência de um sistema de corrupção instalado em seu âmago".
Qual a acusação então?
Foi taxado de subversivo! Além do que, a simples existência do seu governo incomodava as elites sociais e econômicas. Para o autor, "tornou-se necessário criar um clima ideológico que o apresentasse como subversivo e impatriótico". E assim foi feito, "com métodos científicos e muito dinheiro", continua. O curioso é que Jango, queria implementar as reformas para o capitalismo.
Jango teve como principal marca, "as tentativas de reformas". O Brasil era (e continua a ser), um país de miseráveis, privilegiando eternamente as elites econômicas. Não muito diferente dos anos 60.
O que era a Reforma de Base?
Era um plano de mudança que iria abarcar "quase toda a sociedade". Uma remodelação nas "áreas eleitora, administrativa, tributária, urbana, bancária, cambial, universitária e, certamente mais polêmica, a agrária", concorde Chiavenato (2014. p. 23).
Para Miguel Arraes, segundo Rozowykwiat (2016. p.110), "o golpe militar verificado no Brasil em 64 foi resultado de uma articulação internacional, promovida para assegurar o controle do processo político em países onde se observava uma intensa mobilização popular".
Era o povo acordando ao mesmo tempo em que se organizavam em associações, ligas, havia uma intensa movimentação popular... E isso era inadmissível para os poderosos.
Arraes, "não tinha dúvidas de que a motivação do golpe foi, predominantemente externa, resultando da aliança do capital internacional, das elites econômicas nacionais e dos militares, meros executores da intervenção", prossegue a jornalista.
Não há o que se comemorar, no 31 de março, data em que foi instituído golpe de 64 e a ditadura militar no brasil. Ocasião em que muit@s brasileir@s foram torturados, mortos, ou desaparecidos.
A Comissão Nacional da Verdade relatou ao menos 30 tipos de tortura(s), cada uma mais cruel e chocante que a outra. Entre elas, a introdução de baratas vivas, na vagina das mulheres, ratos vivos no ânus.
Os "presos políticos foram expostos aos mais variados tipos de animais, como cachorros, ratos, jacarés, cobras, baratas, que eram lançados contra o torturado ou mesmo introduzidos em alguma parte do seu corpo".
O cenário era aterrorizante em todo o território nacional.
De acordo com Chiavenato (2014. p. 105), "os militares no poder degradaram as regras políticas [...] ao 'perder a identidade', os militares subverteram o conceito de nacionalidade".
A violência e o grotesco "golpe militar em Pernambuco foi cruento".
O então governador Miguel Arraes, uma das maiores lideranças políticas desse país (e de ressonância mundial), um dos mais perseguidos pelo regime, defensor da legalidade e da democracia, sempre resistente à ruptura que se instalava, não se submeteu ao golpe e recusou veementemente a apoiar o regime, condição para que ele permanecesse no cargo.
Naquele último dia de março de 64, havia uma intensa movimentação de militares, muitos armamentos bélicos, nas cercanias do Palácio do Campo das Princesas (sede do governo de Pernambuco), apontados para a residência oficial.
Informado pelo coronel Dutra de Castilho, que ele estava deposto, Arraes lhe respondeu:
- "o senhor não tem autoridade para me depor. Sou governador do estado, eleito pelo povo de Pernambuco e somente ele pode me depor. Ou então, o senhor quis dizer que estou preso e isso o senhor pode fazer pela força".
Arraes dizia que "a herança que deixaria para os filhos, seria a dignidade"!
Ditadura nunca mais!
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Brasil, XXXI - XXX - MMXXI
Bibliografia
CHIAVENATO, Júlio José. 2016. O Golpe de 1964 e a Ditadura Militar. São Paulo : Moderna, 2014.
CAVALCANTI, Lailson de Holanda; COLARES, Valda. 2015. Magdalena Arraes: a dama da história. Recife: CEPE Editora.
ROZOWYKWIAT, Tereza. (2016). Arraes. Recife: 2016. CEPE Editora.
Disponível em:<https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/DoRSparaPoliticaNacional/Iniciacao_politica> Acesso em 31.03.2021.
Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Instituto_de_Pesquisas_e_Estudos_Sociais#:~:text=O%20Instituto%20de%20Pesquisas%20e,ativamente%20das%20articula%C3%A7%C3%B5es%20que%20culminaram>
Um acontecimento trágico para o Brasil, já que não há nada que justifique uma ditadura.
ResponderExcluirE, por isso, também digo "DITADURA NUNCA MAIS".
Continuação de boa semana e Feliz Páscoa (dentro do possível), querida amiga.
Beijo.
Ainda é um nervo exposto o período da ditadura no Brasil.
ResponderExcluir21 anos de sol ausente. Ainda que vivamos momentos sombrios hoje,
Ditadura nunca mais.
Um abraço, Canto
É bom recordar estas coisas, principalmente para tentações presentes. É que há erros que se pagam muito caro.
ResponderExcluirUm beijinho, Canto :)
Minha querida amiga
ResponderExcluirVenho aqui hoje e encontro um tema por demais importante
para o Brasil como também para o mundo inteiro.
Ditadura nunca mais!
Li com muito interesse e atenção o texto.
As torturas abjectas fazem arrepiar. A que ponto chega o Homem em maldade!
Beijinhos
Olinda