o trinco, a porta o prego, o pão
podem esperar, mas o poeta não
o poeta tem a urgência da vida
que pulsa em cada poema que explode no papel
o telefone quebrado
o pneu a ser trocado
aquela janela emperrada
que insiste na triste melodia indelicada de um não-madrigal
numa cantilena noturna
dobrando notas enferrujadas como as dobradiças atravancadas
que não sustentam mais o peso da madeira
do carvalho envelhecido
que já dão sinais de cansaço
de meta cumprida
tempo vencido
e que (não) alimentam o poeta
porque para o bardo o real infunde
a dor é matéria
a tristeza é o tempero
e a solidão a autopoiesis cobiçada
ah, poetas que se despem
nas palavras
e se deixam enlinhar
letra a letra sacrificando todas as almas que têm
quando nasce uma poesia
morre a inspiração do poeta, todavia.
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Olinda, XVIII - III - MMXX
O branco da página precede a criação, e a palavra o vazio a preencher a sombra a iluminar instaurando um mundo novo, tal como concebido neste poema.
ResponderExcluirUm abraço,
Nem Sartre diria melhor!
ExcluirObrigada, um abraço!
:)
Bem vistas as coisas, pouco importa o que o poeta sente, mas sim aquilo que transmite. Aí, sim, as palavras ganham nova vida sob a batuta de quem as lê. Porque tudo se pode transcender à luz de quem cogita, nos desenhos de quem, por impulso, arquitecta.
ResponderExcluirUm beijinho, Canto :)
"O poeta é um fingidor"... Impossível não recuperar o poema, Psicografia.
ExcluirÉ interessante também saber o que o leitor leu, viu, sentiu...
Um beijinho, AC.
:)
quando nasce uma poesia
ResponderExcluirmorre a inspiração do poeta, todavia.
eu direi!
quando nasce uma poesia
o poeta renasce para outra a seguir
gostei bastante do poema
beijinhos
:)