domingo, 22 de março de 2020

da transição

"a cada cinquenta e dois anos o universo acabava, 
morriam os deuses, 
os templos eram destruídos, 
cada coisa celeste ou terrena mudava de nome"

Italo Calvino em Sob o sol-jaguar. p. 41

imagem: el toro, painel 5, pablo picasso

pelos caminhos labirínticos corriam
os mamutes
os touros
os bisões
os porcos-espinhos
e todas as feras desconhecidas
que habitavam a caverna
da minha memória,

uma caverna platônica
cheia de projeções
imagens
de tempos ancestrais
de tochas de fogo
bandeiras tremulantes
refletindo o brilho de todas as estrelas,

sonhos estendidos

como roupas nos varais.

alheios e indiferentes

às eminências
aos deuses
ao tempo
ao carvão
ao caos
à mudança das coisas

de besta à criatura

os animais seguiam trotando.

--


Granada, IX, MMVII


Lenine, Tubi, Tupi

10 comentários:


  1. Adorei seguir-te nessa viagem, querida amiga. Dos tempos ancestrais, à antiguidade clássica e às mudanças que a vida vai operando a cada momento que passa. Tantas e tão drásticas por vezes. E o importante, a sobrevivência da nossa condição humana.

    Beijinhos
    Olinda

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    1. Às vezes nem nos damos contas dessas mudanças tantas, que amiúde nos deixam tontas. Que não nos falte nunca a nossa humanidade.

      Obrigada, querida Olinda, beijinhos!

      :)

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  2. Será que por esses labirintos também circulava a fera...Homem?

    Gostei muito do trocadilho de palavras que formam o poema

    Uba boa semana

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    1. Provavelmente... A fera homem metaforizada no Minotauro, quiçá?

      Obrigada, pela visita e pela interação.

      Boa semana.

      :)

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  3. "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades..."
    Soberbo, o poema. Para nos curvarmos ante o poema e às mudanças...
    Abraços,

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    1. Talvez por também termos mudado ao longo desse percurso...?
      As mudanças são inevitáveis, à revelia da nossa vontade, não é?

      Obrigada, abraços.

      :)

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  4. gostei muito, excelente poema

    ... e bem se sabe que a besta e a força bruta permanecem
    ... e a Gruta de Platão se apresenta hoje bem mais sofisticada

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    1. Obrigada, prezado Manuel Veiga.

      Pois se permanecem, mais indiferentes que nunca...
      Quanto às projeções imagéticas, de fato, são tantas as cavernas hoje...

      Abraço.

      :)

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  5. Tudo vai mudando
    o tempo
    as vontades
    as crenças

    e a história segue seu rumo

    beijinhos

    :)

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    1. Sim, à revelia da nossa vontade, penso que isso seja bom, até mesmo as pedras mudam. Será?

      Beijos.

      :)

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