quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

o sol rasgando a escuridão da noite

"Erguia-se para uma nova manhã, 

docemente viva". 


Clarice Lispector em Perto do Coração Selvagem


imagem: arquivo pessoal

eu vi o sol rasgar a escuridão da noite
eu vi quando os raios laranjas atravessaram o ventre do dia
e as últimas estrelas sumiam na claridade solar
e as nuvens encobriam a lua minguante

que esquálida, fina
desaparecia por entre aqueles vapores condensados
que se movimentavam em vários sentidos formando todo tipo de imagens
enquanto eu tentava decifrar quem era quem

naquele mundão infinito:
cirrus, stratus ou cumulus
se lá em cima a atmosfera estava fria
cá embaixo começava mais uma indefinição diurna

enquanto centelhas de luz incidiam nos cristais de gelo
como espadas de luminescências cortando a claridade
e eu alimentava a minha pareidolia
múltiplos sons, cheiros e outras vozes que brandiam

anunciavam que já era hora de sair do transe madrugador
esquecer o indecifrável torpor
abrir as cortinas da vida
ouvir mendelssohn

despertar na alma a alva da manhã
regar as plantas
dar comida ao gato
meditar

fazer café 
alegrar-se em ver o estrear de um dia inteirinho novo
atravessar o que não faz sentido e
aproveitar o acaso(?)

Olinda, X - XII - MMXX

 Mendelssohn, Songs without Words Op. 19 No. 1 (Gortler)

4 comentários:

Prazer tê-lo/a no Canto, obrigada pela delicadeza de dispor do seu tempo lendo-me. Seja bem-vindo/a!

b17

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