"Fico às vezes reduzida ao essencial,
quer dizer, só meu coração bate".
Clarice Lispector
imagem: arquivo pessoal
Nos iludimos pensando que o coração é do lado de dentro.
É nada!
Ele é mesmo é do lado de fora.
Grudado na gente como uma planta parasita.
Algumas vezes sangra em carne viva.
Como tem sangrado em muitos.
Uma inesperada Pandemia nos assola e trouxe consequências: distanciamento social, pânico, insegurança e ansiedade nas famílias de todos os Continentes.
Vivemos uma onda de oscilações, perdas e danos.
Estamos nos últimos dias de dezembro, de um anômalo ano, em que um vírus assustou o mundo todo.
Escrevo.
Escrevo como um registro do que se passa agora.
Escrevo como uma forma de expurgar o medo e o imponderável que nos rondam.
Não estou a ver as horas, porque não quero saber que horas são, mas penso que adentramos na madrugada, é o que me diz a quietude e o vento.
Talvez esse texto, no futuro, dirá melhor o que estamos a viver.
No meu país, já se anuncia o fim da primavera. Encontramo-nos às vésperas do natal, um natal jamais imaginado e diferente de tudo o que se pensou.
Um natal de afastamento, sem muito brilho e algazarra nas ceias, com as famílias isoladas, apartadas, entristecidas e sorumbáticas, mergulhadas em tensões e silêncios.
Muitas a viverem dias de dor, de luto, de tristeza e de despedidas inesperadas. O horror.
Mas o momento nos ensinou muito sobre solidariedade, finitude, simplicidade, o retorno à Natureza e a desnecessidade de planejamentos e excessos.
Além de nos lembrar que a vida é agora, é hoje, já.
Vivamos o instante!
Não deixemos o tempo nos arrastar por caminhos e estradas que não são nossas.
Amemos nossa família, nossos amigos.
Deixemos o coração se expandir rumo ao infinito, porque o mundo está um caos e, nós também.
Inventemos um solstício que nos deixe com dias longos cheios de luminosidade.
Cuidemo-nos e aquietemos o espírito, vai passar. Vai passar.
Pernambuco, XII - MMXX
Leonard Cohen, Famous Blue Raincoat
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