quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

dos sentidos

"[...] Num País sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua".

Sophia de Mello Breyner Andresen em Ausência



                                            imagem: bride with a fan (1911) marc chagall


viver às custas dos sentidos
faz sentido?
como acreditar neles?
e se num rompante
os sentidos se rebelarem
e burlarem
o que cada sentido nos faz sentir?

posso beber com os olhos?
se repentinamente eu engolir com os ouvidos?
pode o meu olfato escutar sons?
acaso é proibido tatear com a língua?

tudo é convenção
até a própria convenção.

tatear é a materialidade do toque (?)
como eleger (os) sentidos
se todos somos plenos de sentidos
se o mundo e suas representações
nos assaltam
singular e
pluralmente?

todo o tempo
o tempo todo
somos
poros
ossos
carne
órgãos
sentimentos

tremores
odores
respiração
gotas de suor 
e quase sempre de partida.

---

Pernambuco, I - XI - MMXVII

Chet Baker, Leaving
 

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