sábado, 4 de novembro de 2017

Poema da devolução

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Fernando Pessoa em Todas as Cartas de Amor
imagem recolhida na internet


Toma!
Pode levar tudo que não é seu
As cartas que não lhe escrevi
O poema de amor que não vivi
A canção que não escutei
E aquela rima feia, fria e triste
Que não cabe em nenhuma poesia.

Toma!
Não beba o vinho que não existe
Não chore lágrimas sem sal 
Não pense que a vida é um mar de rosas
Nem sempre a vida é mar
Nem sempre  a vida é rosa
A vida pode até ser saudosa, mas

Toma!
Esqueça o beijo que não pude lhe dar
Apague aquele coração desenhado de lápis azul no espelho do banheiro
Rasgue o nosso retrato em preto e branco
Mudo de espanto
Por não poder falar
As sete letras fatais: eu te amo.

Toma esse veneno!


Olinda, IV - XI - MMXVII

Leonard Cohen, Lover, lover, lover.

3 comentários:

  1. Olá, Olá!

    Adorei este seu poema. Uma devolução um pouco ao contrário, tendo como pano de fundo "Todas as cartas de amor são ridículas". Há uma canção, talvez um fado, que começa assim: "Cartas de amor, quem as não tem?" (Tony de Matos), o que, segundo parece, quer dizer que toda a gente já recebeu uma carta de amor. Presentemente, já é mais difícil receber uma carta, mas há outras formas e muito mais rápidas de fazer chegar juras de amor ao conhecimento de quem se ama (sms, e-mails...). Na hora da devolução como fazer? Talvez assim, seguindo este belo exemplo que nos apresentas: fazendo um poema.

    Bj

    Olinda

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  2. Olá, Olá, querida amiga Olinda!

    Pois sim, talvez copiando e colando, fazendo um print e mandando tudo em um arquivo só. Tempos estranhos esses!

    Mas ainda resta a esperança de que toda a gente já recebeu ou receberá uma carta de amor, seja no papel ou no e-mail, vamos torcer para que o Amor seja mais respeitado.
    Um beijão e obrigada pela sempre agradável visita!

    :)

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  3. E eu fico aqui querendo aprender contigo...
    Eita, quantas precisamos passar para aprender?
    Vai ver que é por isso, só por isso que precisamos viver.
    Lindo, Val!

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