"Com sua
disciplina indisciplinada, os amantes são seres diferentese o ser diferente é
excluído porque vira desafio, ameaça.
Se o amor na sua doação absoluta os faz mais
frágeis,
ao mesmo tempo os protege como uma armadura".
Lygia Fagundes Telles
ao mesmo tempo os protege como uma armadura".
Lygia Fagundes Telles
imagem: antónio domingues
Penélope via em Ulisses a personificação de todos os seus desejos, da humanidade à magia do improvável. A vida tinha um sabor nunca antes experimentado. Amava-o, ao mesmo tempo em que era apaixonada por ele, entre gozo e provocações lhe confessava:
- a
paixão é ampla, mas pode ser por um autor, por uma imagem, por um
livro, uma poesia, uma viagem... e até por alguém, mas não
necessariamente por alguém como imagem, mas alguém como ser que
deslumbra pelo todo, pela totalidade.
Ao que Ulisses respondia:
- Íbis, minha Íbis.Todos nós, sem excepção, buscamos incessantemente o amor e a paixão e
somos engolidos constantemente pela sofreguidão de sermos amados,
todavia temos receio da insegurança de amar. Deixa-nos de rastos.
Fragiliza-nos o medo do desconhecido.
- O que mais me dói é saber que eu e você nunca seremos nós. Oh tristeza...
- O que mais me dói é saber que eu e você nunca seremos nós. Oh tristeza...
Penélope sangrava, quando a ironia se estabelecia entre ambos, doía mais que as impossibilidades que os afastavam. E quando Ulisses percebia aquela tempestade de tristeza nos olhos dela, suavizava e dizia-lhe o que ela queria ouvir:
- Ontem, vá lá saber porquê, sonhei com os espaços abertos,
com os lençóis de água... e voava; depois sonhei q fotografava os
trabalhadores da cana do açúcar, na sua labuta amarga alternando entre o
Ansel Adams e o Sebastião Salgado. Sabes interpretar sonhos?
Ansioso pelo próximo eclipse, mando-te mil beijos.
Ansioso pelo próximo eclipse, mando-te mil beijos.
Já restabelecida da moléstia que adoecia seu coração, Penélope flutuava entre o limbo e o portal daquela janela que os aproximavam, e caía outra vez em seus abraços, de olhos fechados, voz macia e pausada, pronunciando todos os "enes" e "agás", misturava-se ao sotaque que só o amor conhece, desconsiderava as ausências necessárias, se existiam, tinham sua razão de ser.
Com o brilho nos olhos e a boca incontida em riso dizia ao amado:
- Eu tenho uns gostos diferentes, daí cada um ser único em seu jeito, em sua forma, em seu íntimo. Mas
antes: oi, bom dia, acordaste bem? Andam estranhando o seu estranhamento - aquilo que parecia uma conversa sem pés nem cabeças, para eles não careciam explicações, o diálogo foi construído no entranhamento, na ancestralidade, conheceram-se antes de nascer o mundo - (?)
Por aqui cada um carrega um ponto de interrogação no olhar, aproximam-se com a mesma velocidade com que se afastam, guardam uma ambiguidade comportamental, porque dizem que ando também ambígua, achas isso, "bêibi"?
Por aqui cada um carrega um ponto de interrogação no olhar, aproximam-se com a mesma velocidade com que se afastam, guardam uma ambiguidade comportamental, porque dizem que ando também ambígua, achas isso, "bêibi"?
Mamãe disse que isso tem um nome, e dizia o seu.
(E fiquei pensando cá com meus botões: as mães sabem das coisas).
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São Luís, IX- I - MMXI
Gustavo Santaolalla, De Usuahia a la Quiasca
"buscamos incessantemente o amor e a paixão e somos engolidos constantemente pela sofreguidão de sermos amados". Como Penélope e o seu Ulises...A insegurança de amar pelos perigos da vida.E eles nunca foram eles.
ResponderExcluirBeijinho
Siempre es complicado el mundo del amor. Tú lo representas muy bien con el tiovivo, pues algo de eso tiene, cuando nos sumergimos en él, giramos, giramos y giramos...hasta que se acaba.
ResponderExcluirAbrazos.
Boa noite,
ResponderExcluirEncantado com os seus sonhos e sua criatividade.
Abraço
ag
Val, minha querida
ResponderExcluirObrigada pelo carinho da tua presença na minha «CASA».
As tuas palavras elogiosas fizeram muito bem ao meu ego, que foi lá para as alturas! :)))
Continuação de uma óptima semana.
Até sempre
Beijinhos
Sempre gostei de Penélope e Ulisses. Até, num arremedo de poema que escrevinhei, os citei :)
Ah! E as mães sabem das coisas, simmmmmmm.
Na verdade
ResponderExcluirUm texto (simultaneamente descritivo e etéreo)
ResponderExcluirque parte de uma referência mitológica (devidamente enquadrada)
e se distende numa interrogação intemporal
Sim, todos nós procuramos incessantemente o tempo desconhecido
Bjo.
Campo de questionamentos e de ansiedade que desconhece mudanças de tempo e de cultura. Bjs.
ResponderExcluirPara já deliciei-me com o texto (sei que o voltarei a ler - avariou-se a bateria do pc e só amanhã terei uma compatível).
ResponderExcluirMas a citação que colocaste no início é por demais significativa: ousar ser diferente é um desafio e, ao mesmo tempo, um encantamento, um enamoramento em si próprio.
Saio "enamorada"...
Bjo :)
Oi, 'bêibi' :))
ResponderExcluirReencontrei Penélope e Ulisses aqui nas tuas cartas...(serão os mesmos?)
Cumplicidade que não necessita de conversas lógicas. Um sorriso, uma ou mais palavras aparentemente sem nexo, tudo é percebido e revelado e relevado. E o amor manifesta-se assim também. E também na insegurança de amar. E no medo do desconhecido. A alma humana se renova nestas inconstâncias.
Eu também me renovo, lendo os teus poemas e os teus textos.
:)
Bj
Olinda
Voltei, como prometi, pois não pude ler o texto como queria...
ResponderExcluirSaboreei-o e acrescentei-o à minha compreensão do que é amor e as razões de o perseguirmos seja em que aspeto for...
E como partilho o que está subjacente no texto!
Bjo :)