terça-feira, 4 de agosto de 2020

no canto oculto da memória

“Em cada esquina te vais
Em cada esquina te vejo
Esta é a cidade que tem
Teu nome escrito no cais
A cidade onde desenho
Teu rosto com sol e Tejo
[...]
Nas manhãs de tua ausência
Tão perto de mim tão longe
Tão fora de seres presente”

Manuel Alegre, Balada de Lisboa, do livro “Babilónia”, 1983.

imagem: arquivo pessoal

aquela luz que reverbera sobre o Tejo
são as reminiscências dos seus olhos nos meus
que a tudo observa
e captura imagens evocadas pela angular do desejo

passeio pela beira do rio
num tempo de dissonâncias
murmurando por um fio quase silente
o teu nome a diluir-se com o vento

no fluxo e refluxo das águas 
se espraiando pelas pedras da Ribeira das Naus 
carregando comigo apenas o antes e o depois
na esquina oculta da memória

acompanho o curso da água
escutando um cantar clandestino
do ponto mais profundo do meu ser
com toda a força dos meus ossos

uma saudade materializada
na solidão pré-outonal
se amplia na fluidez do Tagus
que deságua em mim

abandono-me neste destino fatídico
que me equilibra eras sem fim
cumprindo essa indesejada sina
a sua diáspora de mim

--

Lisboa, IV - IX - MMXIX

Nina Simone, Just Like a Woman



3 comentários:

  1. Que lindeza...

    A vida é feita de momentos...
    E estar aqui está sendo um momento especial...
    Já estou seguindo e voltarei sempre que puder...
    Se quiser, dá uma passadinha no meu também...
    Quem sabe não gosta e segue também...



    http://cristalssp.blogspot.com

    Beijos

    Ani

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  2. Viagem pela memória, onde encontro recordações, lugares, emoções
    que quase identifico em mim.
    O Tejo, Tagus, e as histórias antigas, presentes e...futuras, uma corrente em que nos enleamos e, ao fim e ao cabo, nos une.

    Beijinhos, querida amiga.
    Tudo de bom te desejo.

    Olinda

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  3. Querida Amiga

    Comentei ontem e não consegui publicar, segundo creio.
    Se verificares o contrário, apaga um deles, pf.

    Com este tema surgem recordações, memórias, que dizem respeito ao passado com que nos identificamos, quase todos. O presente, esse, escorregadio faz par com o futuro. E nele cada um de nós perspectiva o vento que passa e vai-lhe atribuindo tons e sons conforme as emoções e experiências.

    Tejo, Tagus - e as Tágides, ninfas, a quem Camões pede inspiração para compor a sua obra épica, "Os Lusíadas".

    Belo momento poético, minha amiga.

    Beijinhos

    Olinda

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