quarta-feira, 27 de abril de 2016

da quebra

"Que eu chorei
Que eu morri
De arrependimento
Que o meu desalento
Já não tem mais fim"

the little deer - frida kahlo

Existem certas situações em que,  quando um determinado fio se rompe, a vida também se quebra - o coração e a carne sangram - e é necessário tempo para o conserto dessa quebra, dessa ruptura, dessa sangria.

Não é que tudo perca o sentido, mas é um momento onde a ilusão dá lugar à realidade e, essa é sempre muito mais cruel, menos romântica.

É preciso coragem e força para seguir adiante, olhar o horizonte com alguma partícula de esperança, é uma fase difícil, requer suportes, ajudas externas e uma grande sanidade mental, um controle emocional que muitas vezes não se dispõe, dado ao grau de envolvimento na determinada questão.

Romper paradigmas não é simples.

E é sofrido, é jogar fora todas as "certezas" até então, é um destroço com o estabelecido, uma desconstrução que desloca qualquer pessoa do seu eixo, mas apesar disso, o sol não deixará de nascer, nem a lua será um fato impermanente, dias e noites cumprirão sua natureza, a vida prosseguirá à revelia das suas dificuldades & dores, mas em você tudo terminará e nascerá outra alegoria de si, outra forma de olhar a rotina e, até de vivê-la.

Algumas vezes um certo ceticismo, um azedume inexplicável - forma de proteção -, uma necessidade de silêncio, a reconstrução. Carece uma dosagem extra de paciência, porque a espera é sempre longa e cansativa.

Entretanto, diante de alguma amargura, por vezes a indiferença, o distanciamento e o silêncio, são os melhores remédios. Aprende-se a caminhar com as flechas encravadas no corpo, quiçá, após esse cataclisma você ressurja mais tolerante, menos exigente, com menos expectativas, afinal, o outro também pode estar sentindo a mesma decepção...

Apagar tudo, passar a conhecida borracha do esquecimento. Embora na memória esteja tudo lá, alojado, guardado.

Resta aprender com tudo e decidir o que fará com a lição aprendida (se é que se aprendeu algo), sofrer em demasia por algo que aconteceu e que é imutável (o passado, o vivido tem essa carga de imimetismo), pois já foi, ontem não retorna,  que de acordo consigo, o que se devia fazer foi feito.
Só resta uma saída: prosseguir, le temps d' apprendre à vivre il est déjà trop tard...

Olinda,  XXVII - IV - MMXVI

Chico Buarque, Desalento

3 comentários:

  1. Canto da Boca, minha amiga

    Desculpa só vir hoje, depois da tua querida visita.
    O teu texto diz grandes verdades. Depois da alma ferida,
    quiçá também o corpo, continuar torna-se difícil e, por
    vezes, quase impossível. Tem-se de ir buscar forças
    no âmago do ser para continuar caminho.

    Daqui envio-te o meu carinho, com votos de momentos
    felizes.

    Beijinhos

    Olinda

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  2. Haja luz mesmo que se desmoronem as palavras

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  3. Romper paradigmas não é simples.
    É necessário rasurar a palavra
    e, renovando-a, prosseguir

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Prazer tê-lo/a no Canto, obrigada pela delicadeza de dispor do seu tempo lendo-me. Seja bem-vindo/a!

Gaza

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