"A vida é como um sonho; é o acordar que nos mata.“
Virgínia Woolf
Sentou-se em um banco, na praceta defronte à clínica, acompanhada da Virginia Woolf.
Optou por esperá-lo fora do consultório, até que atendesse a todo os pacientes.
Queria aproveitar a luz, o vento e o clima outoniço de Lisboa.
Com a chegada do outono, eles sabiam que haveria uma ruptura.
Viveram tudo com intensidade.
A maturidade é um tempo em que se compreende melhor as circunstâncias.
Tinham ciência da distância geográfica que se estabeleceria doravante e, dos projetos profissionais de cada um.
Mesmo com dor, abriram mão dos sonhos e fizeram daquele almoço, um banquete de despedida.
Tomaram um "Delas Freres Crozes - Hermitage Les Launes" (safra 2016), depois café, com "Madeleines" e “Tarte Citron”.
Presenteou-a com chocolates, tomaram água e saíram do restaurante, foram caminhar um pouco. Ainda tinha um sol forte, ele então retirou seu chapéu Panamá da cabeça e o pôs na dela.
Entrelaçaram as mãos e saíram pensativos, flanando pela esplanada, seguiram resilientes até à casa.
No percurso, catava algumas folhas do chão e lhe entregava - porque sabia da sua paixão por elas -.
Logo que entraram no apartamento, ela foi seduzida pela estante que tomava uma sala inteira.
Ficou ali passeando por entre os títulos.
Atento à ela, percebeu o brilho nos olhos quando olhou sua colecção de História da Arte, ouvi-na murmurar:
- Rubens!
Ao mesmo tempo em que deslizava as pontas dos dedos, naquele livro.
Ele então o retirou do meio da colecção e ofereceu-lhe.
Ambos se entreolharam, ela estupefata, ele entre divertido e admirado com a reacção de contentamento dela.
Abracaram-se e mais uma vez, esqueceram o mundo lá fora e o que viria depois desse dia.
Era chegada a hora da partida, pôs seu capacete, entregou-lhe outro, montaram na lambreta e seguiram rumo à estação de Santo Apolónia e ao "novo" futuro.
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Cascais, V - IX - MMXIX
Non Je n'ai rien oublié, Charles Aznavour
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