"Que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim
me sinta como estivesse plena de tudo".
Clarice Lispector
imagens: arquivo pessoal
ninguém, nada
coisa alguma
não confesso que amo
as flores e
a primavera
eles não gostam do amor
não gostam da beleza
do riso farto
não confesso que amo
a vida
a Filosofia
não confesso que amo
a música
a poesia
eles não gostam da alegria
não gostam da luz
que clareia o dia
não confesso que amo
a metafísica
e o voo dos pássaros
eles não gostam dos pássaros
não gostam da liberdade
da paz que envolve a cidade
eles aprisionaram o azul do céu
nos porões das suas inseguranças
e do medo das cores
Porto, VIII - V - MMXIX
Leonard Cohen, Treaty
ResponderExcluirOlá, Canto da Boca
Andas por cá, minha amiga? (Porto, Lisboa...)
Não dei pela publicação anterior. Virei lê-la, com mais vagar.
Linda a citação de Clarice Lispector. Ter a humildade e a elevação de alma de aceitar o "Nada" como se fosse "Tudo": Sublime. Grande Clarice que nos soube deixar legado tão bom.
O teu poema colocou-me uma questão de interpretação bastante difícil. Aos poucos fui me afeiçoando ao seu ritmo e musicalidade. A "negação" que afinal não o é, e o confronto entre "eu" e "eles" coloca-o naquele patamar que nunca descuras na tua poesia.
E esta magnífica chave de ouro explica-me tudo:
"eles aprisionaram o azul do céu
nos porões das suas inseguranças
e do medo das cores"
Bom fim de semana.
Beijinhos
Olinda
Olinda, querida, olá! Tudo bem? Sim, ando por cá outra vez.
ExcluirEstou no Porto e também a pegar gosto pela escrita no blog.
Me ausentei muito tempo daqui, a vida e as vicissitudes, mas estou de volta e pretendo ter uma assiduidade.
O poema tem a ver com o que se passa lá no Brasil, a minha forma de abstrair é extravasar (parece contraditório, mas é como é).
Obrigada pela sempre amigável visita.
Ótimos dias, beijinhos!
:)