" a linguagem não é a tradução de um texto já formulado,
mas se inventa a partir da experiência indistinta,
toda palavra é sempre apenas uma ‘maneira de falar’:
poderia haver uma outra".
Simone de Beauvoir in Balanço Final. p. 131
nu - ismael nery
tampouco as trevas da noite
apenas um farol solitário
emitindo raios
alertando cruzamentos
de uma vida que pedia passagem
a todo momento
2. não era chuva
nuvem d´água ou
tempestade
apenas o vento sacudindo
as coberturas de zinco
levantando telhados
alertando toda a cidade
3. não têm um vazio
mas a silenciosa escuta
porque por dentro toda a fibra
vibra e grita e espera
auroras fecundas
como a chegada
da língua no sexo
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imany - you will never know
a Poesia enriquece todas as palavras expressas... mas muito mais, o "ser" do seu autor... o que lhe toca, o que transmite, a sua postura em atitude e sentimento.
ResponderExcluiraté
Bacana a sua percepção, Sérgio, o que fazemos com o que sentimos...
ExcluirAté!
;)
Saudades dos relâmpagos
ResponderExcluire das marés desgrenhadas
Talvez tenham atravessado o Atlântico, Eufrázio?
Excluir;)
Também eu tenho andado um pouco afastada por motivos óbvios...
ResponderExcluirPor isso estive dando uma olhada nos post anteriores, e só posso confirmar que a qualidade deste blog continua ALTA!
Agradecendo sua visita, deixo votos de boa semana.
Beijinhos
Obrigada, Mariazita, pelas palavras generosas e gentis, é sempre um prazer lhe ver por aqui!
ExcluirLogo mais irei ter contigo em sua página.
Beijinhos!
;)
embora muito sensual, gostei deste poema.
ResponderExcluirem jeito de comentário deixo aqui um poema de um poeta que gosto muito:
TANGO
O teu sexo na minha boca
é a flor que arde: a sua chama
explode táctil abre ruínas onde antes
cidades se erguiam habitadas.
Não tem medida a forma
com que as pernas
pontas abertas de uma estrela
se atiram no vazio deste quarto.
O teu sexo na minha boca
é um canto. Sonoros seus líquidos
abrem-me na língua um sulco fundo
que traz a luz que espasma na tua boca
noite a querer fechar-se lá por dentro.
Mas nem isso me aquieta
nem a sombra que cai nem esse grito
chegam para calar o meu desvairo.
O teu sexo na minha boca
é o meu sexo: o seu cheiro
acre que inundando
meu corpo o abre a todo o seu espanto.
de Bernardo Pinto de Almeida
Pi, obrigada pela presença sempre tão querida e pelo poema. Gosto muito dessa troca, dessa socialização do belo!
ExcluirBeijo!
;)
Três poemas que se interligam, se completam embora independentes, tem algo de diferente na sua escrita
ResponderExcluirBjs
Sim, são autônomos e independentes, mas tentei dar-lhes uma sequência temporal... Diferente, nego, consegues identificar essa diferença?
ExcluirBeijo!
;)
Poema de uma sensualidade à flor da pele que nos leva a imaginar momentos únicos,lindo.
ResponderExcluirBeijo
Imaginar, realizar, sentir, e aí a vida fica cada vez mais linda, rs.
ExcluirBeijo!
;)
Algo sensual. Algo real.
ResponderExcluirAs auroras são a descoberta da luz, o triunfo sobre a penumbra, o afastar de temores...
Beijos
SOL
Quem sabe outros, novos caminhos?
ExcluirBeijos!
;)
Obrigada!
ResponderExcluir;)
ResponderExcluirCanto da Boca
Tanta verdade se apreende da citação de
Simone de Beauvoir. A palavra, objecto volátil e contudo tão palpável na sua essência, agora se apresentando com umas vestes e logo a seguir transmudando-se completamente. Na persecução do seu sentido, 'real' ou figurativo, nas suas voltas de luz e sombra, viajamos nestas auroras que nos fazes pressentir. Seguimos um fio condutor que nos leva ao princípio da vida.
Belo!
Bom fim de semana.
Beijinhos
Olinda
A palavra é volátil, de fato. Ao mesmo tempo em que é frágil, e fugidia, é ambiguamente sólida; algumas vezes corta como uma faca; fere como um punhal e adoça como o mel...
ExcluirObrigada, Olinda, um beijo e uma ótima semana, querida!
;)
Minha querida
ResponderExcluirQue dizer quando o belo grita em cada palavra e a sensibilidade de quem os escolheu é poesia que a tua alma sente.
Parabéns...é apenas o que consigo dizer.
Um beijinho com carinho
Sonhadora
Obrigada, Rosa, é uma alegria quando sabemos que a poesia nossa, tocou alguém como tu!
ExcluirBeijinho, ótima semana!
;)
.
ResponderExcluirO cara não sai sem ela.
Vive por ela, mas quando
olha o que ela acha que
não deve, Jesus do céu!
O mundo vem abaixo...
Amanhã, no meu blog.
Espero você.
silvioafonso
.
(Só há "uma" saída, pois que ele a satisfaça, rs)
ExcluirObrigada pela presença.
Até!
;)
I.
ResponderExcluirDizem que tudo já foi escrito
Mas tal não significa que que tudo seja rescrição
II.
Existem características características da tua poesia (redundância intencional)
Por exemplo, as belas, profundas e muito interessantes citações com que, habitualmente, inicias os poemas,
Essas citações são muitas vezes mote,
às vezes são enquadramento,
outras vezes até justaposição
A citação que precede "Auroras" ilustra, literal mas também abstractamente, o que venho dizendo
"a linguagem não é a tradução de um texto já formulado,
mas se inventa a partir da experiência indistinta,
toda palavra é sempre apenas uma ‘maneira de falar’:
poderia haver uma outra"
A capacidade de reinventar, reescrever é um dos traços que define a (boa) poesia
III.
Todavia, afirmo-o, nem todo se mostra escrito
Assim como nenhuma palavra tem palavra igual
Assim também o espaço para a surpresa existe também, ainda e sempre, na tua poesia.
"Auroras", é exemplo.
A dispersão (escada sequencial) dos versos no papel
A absoluta autonomia e interdependente relação
de cada um dos 3 espaços (de versos) que compõem o poema
A respectiva estruturação (pensada e conseguida)
Por exemplo, observável na simetria dos dois primeiro espaços
não era a luz/ não era chuva/
tampouco as trevas da noite/nuvem d´água ou
tempestade
apenas um farol solitário emitindo raios/apenas o vento sacudindo as coberturas de zinco
Que se entrelaçam e se cruzam no terceiro espaço
Não têm um vazio
mas a silenciosa escuta
porque por dentro toda a fibra
vibra e grita e espera
auroras fecundas
IV.
Um belo, pensado e muito conseguido "trabalho poético de estruturação"
num todo (poema) que faz pensar e demorar na sua interpretação.
momento em que a minha interpretação se poderia seguir nesta análise,
mas não o será,
porque cada aurora tem o tom dos olhos que a vêm.
Bjo.
Filipe, querido, se algum dia eu ousar publicar um livro de poesias, gostaria que tu o prefaciasses...
ExcluirI.
Dizem, mas aí quando leio-te, desconfio desse tudo, porque a sensação e a emoção que sinto é primieva, sempre nascida naquele instante...
II.
E algumas vezes, provocação, noutras experimentação, estou num momento excepcionalmente experimentalista com as palavras e com sentimentos mais universais, parte dessa minha natureza transmutante.
III.
Filipe, desde o primeiro instante perscrutaste o subjacente da minha escrita, tens a capacidade de ouvir os sons das linhas que traço, aquilo que deveria ser inaudível, para ti retumba. Aquilo que nunca disfarçarei, atinges sempre o âmago, das palavras, dos sentidos e dos sentimentos imbricados... E vai além, não ficas apenas na análise do dito (e do não dito), passeias pela estrutura do poema, com a mesma autonomia que as palavras me escapam dos dedos; senhoras de si; dos meus sentimentos, e sais me decifrando, desvelando, os meus eus: eu-palavra; eu-sentidos; eu-sentimentos espalhados, estraçalhados, limitados, amontoados nos três espaços que construí, intencionalmente oscilantes, como a vida; essas subidas e descidas com as quais nos deparamos rotineiramente; as nossas escadas, para cima e/ou para baixo; para o céu ou para o inferno nosso de cada dia (estamos rodeados de poesia, basta prestarmos um pouco mais de atenção à vida). Sensacional tudo o que me dizes!
IV.
Não poderias ter um melhor desfecho que esse: "cada aurora tem o tom dos olhos que a vêm", eu desejo que as suas auroras sejam as mais belas possíveis!
Muitos beijinhos para ti, querido!
;)
"silenciosa escuta" é atitude das mais sábias que há!
ResponderExcluirAssim 'reorganizamos o caos', não é Tati?
Excluir;)