sábado, 24 de novembro de 2007

Tárraco.

(foto recolhida da net)



Tarragona me parece uma cidade triste, velha - e é, é a mais antiga cidade de Hispânia - cansada, com sua monocromática cor, desbotada. Até as árvores são ocre. A cor que predomina é a terracota; dizem que é por causa do frio, impede de entrar nas casas e nos congelar. Não funciona muito bem pra mim, porque mesmo bem agasalhada, sinto um frio imenso, daqueles de congelar a alma. Vai ver é isso, ando com a alma gelada, até adpatar com tudo, já vai estar na hora de voltar.
Tenho adquirido novos (ou retomado velhos) hábitos, caminhar a esmo pelas cidades. Foi assim em Granada, e é assim em Tárraco. Deparo-me com coisas curiosas e grandiosidades jamais pensadas.
Ontem à noite fui à Tárraco Romana, saí caminhando por uma dessas calles bem largas que tem na cidade, subi, desci rua, um estirão só, e quando absorta, levantei o olhar, deparei-me com uma imensa muralha de pedra, em pleno centro da cidade. Pasmei, era uma construção romana do século II, atravessei pela greta, e do outro lado, vislumbrei uma urbe, passado e presente convivendo harmoniosamente, por onde meus olhos passeavam, eu via o passado (da cidade e o meu), e uma sensação de conforto me aqueceu. Era como se eu tivesse encontrado naquelas pedras seculares e fortes, a minha própria fortaleza. Como se um quê de indestrutível me circundasse (e circula, meus sonhos são indestruíveis), e nada naquele momento me faria sofrer. Aqui, tem muito de arqueológico, até a matiz das folhas das árvores, são num tom areia, a impressão que se tem é que não há um motivo para colorir, a natureza colabora para o monocromatismo local.
(E há a sinfonia dos pombos, até seu arrulhar é melancólico, uma canção duma nota só. Tristes pombos. Que sem descanso algum cantam o dia inteiro para mim, na copa das árvores desbotadas que beiram a quadra de esporte, da escola ao lado da residência).
Na volta, andei pela Rambla Nueva observando as luzes e as imagens que se formavam; as construções antigas placidamente convivendo com o moderno; parei numa loja de conveniências e comprei um saca-rolha e chocolates. É, dei pra comer chocolate agora, ando adoçando a minha vida da maneira que posso, porque o doce que me alimenta não se encontra na Europa.
Mas estou preparada para tudo (mesmo?), não excluo quase nada, nem o mais enigmático, o não compreensível, estou me dando todas as possibilidades que eu possa me dar (excetuando trair meus sentimentos e as pessoas que eu amo), em dimensões maiores e menores, quero conhecer todas as paisagens da janela, quero movimentar-me nos espaços infinitos que criei, quero manter-me corajosa diante de tudo que parecer estranho, suportar todas as minhas tristezas, e não deixar fugir as coisas quietas. Porque essas são a minha bússola, o meu rumo. É essa quietude que me ordena, que me conforta, e que me mantêm ereta. Elas são a certeza que alimenta meu sorriso e dá brilho a cor amarelo-cajá da minha iris. Por enquanto, apenas conto e vivo todas as manhãs que se iniciam e o entardecer que anuncia o momento de encontrá-las e ratificar nosso inquebrabantável elo. Mas ainda tenho que viver as noites frias e os ventos (como lâminas cortantes) que sopram pelas árvores e a saudade crucial que me faz vagar entre as estrelas, na imensidão...


sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Sou só saudades.

(foto recolhida da net)


Olhei pela janela do avião, mas não podia tocar nas nuvens, as mais variadas formas. Senti-me tão pequenina e tão grande ao mesmo tempo, vagando e divagando ali, olhando aquela imensidão azul, salpicada de pontos brancos, com a sensação de primievo... Um céu grandioso e único...
De repente, das nuvens se fez um rio, olhava lá embaixo e vi o Tejo. A sensação de sobrevoar o Tejo foi bem solitária. É isso, vivi uma solidão olhando o Tejo, os barquinhos e seus pescadores. Chovia em Lisboa, e nem me dei conta, a não ser quando um pingo de chuva que caiu do teto do ônibus molhou minha vizinha de cadeira, e essa fez um comentário. E foi quando saí do transe e compreendi que não estava mais no Recife (Em Lisboa, desembarca-se do avião, toma-se um ônibus, circula-se pelo aeroporto, e chega-se no aeroporto???? ).
- Estás sozinha?
- Sim.
- É a sua primeira vez?
- Sim.
- Qual o país de destino?
- Espanha.
- Vais a trabalho?
- Não. Vou estudar.
- Ah! Sim?
- Doutorado.
- Bem, boa viagem!
- Obrigada.
Carimbada no formulário de imigração. Subi à sala de embarque.
Lisboa, de longe me parece uma cidade bonita, mas não desejei sair do aeroporto e passear por ela. Fiquei 7h10min., no saguão esperando a hora de embarcar para o próximo destino; enquanto isso passeava, olhava as vitrinas. Decidi comer algo, pedi uma fanta laranja, uma Ambrósia e depois um “pingado”, é um pingo mesmo de café no fundo da xícara e esse pingo, custa a bagatela de 1,15 € (com esse valor eu compro no mínimo dois pacotes de café solúvel, no Brasil), local cheio de fumantes, não há diferenciação, fumante ou não, o ambiente é o mesmo. Haja fumaça de cigarros, o número de fumantes na Europa é absurdo. Deve ser a solidão. Bengala para a solidão é um cigarro na mão.
Entediada até a raiz dos loiros cabelos, finalmente hora de embarcar pra Barcelona. Pedi pra fazer uma conexão larga, mas não tão larga assim. Com os vôos atrasados desde o Recife, cheguei em Barça, faltando exatamente 40 min para tomar o outro vôo. Desci feito bala, saí disparada pelo saguão e não encontrava meu portão de embarque. Já era noite.
O primeiro guichê que avistei, foi de uma empresa alemã: - Perdona, ayudame¿ Yo no estoy mirando el painel de llegada e salida dos vôos, puedes apuntarme¿¿
Segui o braço que a moça levantou. E não é que o painel estava exatamente atrás de mim?
Agora faltavam menos de 40 min. Nova correria até o portão 42. Ufa! Em menos de dez minutos embarcava pra Granada. A sensação foi a pior possível. Chorei. Ali, sentada, quieta, em silêncio. Me senti tão desamparada. Estava deixando pra trás pessoas e coisas importantes, aquietava meu coração dizendo: não chora, não estás indo à imolação (era exatamente o sentimento, sacrifício). A despedida no aeroporto no Recife, os amigos, elas com os olhos vermelhos, lacrimejantes, e nos braços a me dizerem, força! Aceitei a minha sorte e suportei (até quando eu não sei). Passou tudo na tela da minha memória.
Um tremor percorria-me a espinha dorsal, aquele avião da Spanair sacolejava muito, e tive medo. Mas a sensação de acolhimento que senti ao chegar no aeroporto Federico García Lorca, naquela distante e fria noite de outubro, nas presenças da Adri, Zé e Joãozinho, também compõem meus instantes de tenura.
Sou só saudades!

Gaza

                                      Gaza imagem colhida na internet (desconheço a autoria) A paz sem vencedor e sem vencidos Fazei Senhor ...