domingo, 21 de abril de 2013

tropeço

"Aquilo que amas bem permanece,
o resto é desperdício
O que amas bem não será arrebatado de ti
O que amas bem é a tua verdadeira herança"...
Ezra Pound in Cantos  LXXXI 
mulher adormecida sob a árvore - odilon redon

despiram-se
mas não tiveram intimidade
porque libertaram-se das vestes
mas não criaram laços

engoliram-se
com a boca, com os olhos
mas não quiseram ir além
tropeçaram na superficialidade

tatearam-se
percorreram caminhos
fizeram mergulhos rasos
nas águas que fluíam

a vida se tornou banal
cada um em seu canto
cada desejo apagado
e o riso silenciado

em meio ao sonho e a fantasia
entre tantas alegorias
delírios por todo lado
ficou o devaneio acordado!

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Olinda - XXVI - III - MMXIII

até pensei, chico buarque

domingo, 14 de abril de 2013

feitiço

 "[...]Foram os Deuses
Do sacrifício e das preces.
Nunca
Disse minha boca o nome de Altamira.
Foram muitas minhas formas e mortes[...]"
Jorge Luís Borges in O Advento

 
imagem: diego rivera

aquilo foi mandinga
feitiço, reza braba
coisa-feita
como se o nascimento
o ato

tivesse significação a partir daquele instante
ali naquele instante
porque o antes não existia
somente umidade e escuridão
um mundo para acontecer

aquilo foi feitiço
desde então os dias passaram a ter
uma forma
entre todos os sons
da vida, da cantoria de todos os pássaros

a mais bela melodia surgia daquele sorriso
cheio de feitiçaria
aquilo foi mandinga
não tem reza braba que apague
o fogo que queima, o desejo que arde

e todo o alarde sentido
quando meu corpo
esse altar sagrado
onde devoto minhas crenças
resguardo-me, bênçãos

oráculo & rituais
ornado com lírios
benditas águas
que informam convulsas
tua desejada chegada


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Olinda - XVIII - III - MMXIII


João Bosco, Quando o Amor Acontece

terça-feira, 9 de abril de 2013

nossa tragédia em cinco atos

"Que faria eu sem este mundo sem rosto sem perguntas
Onde o ser só dura um instante e onde cada instante
Transborda para o vazio o esquecimento de ter existido"



(protagonizamos com naturalidade, alheios aos sinais, uma tragédia em cinco atos)

1º ato


a espontaneidade do encontro

e as conversas à toa
as mais despreocupadas
tudo que a imaginação inventa

2º ato


as palavras traçadas

foram traçando vontades
provocando encantos
o muito ainda era tão pouco...


3º ato

a voracidade do verbo reverberando na alma

desejo rasgado
rabiscado em versos
riscado na carne

4º ato


por entre risos & bocas

beijos & vinhos
sôfregos, entorpecidos 
sob o signo da cobiça & embriaguez

5º ato


mas eis que numa quinta-feira singular

sem porquês, ou talvezes, num desses revezes da vida
abate-se sobre nós uma agonia, um silêncio de morte 
silente negror, cai o pano, o espetáculo acabou:

fim!



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Olinda - VIII - IV - MMX

a diviníssima nina simone canta (a-d-o-r-o essa música), feeling good 







Gaza

                                      Gaza imagem colhida na internet (desconheço a autoria) A paz sem vencedor e sem vencidos Fazei Senhor ...