Se alguém tinha alguma dúvida sobre a importância e a magnitude do evento, pode enfiar a viola no saco, a Fliporto é um sucesso, os números estão aqui, para quem gosta disso! Entretanto "Pernambuco têm uma coisa que em nenhuma outra terra tem" (será?), e nao é apenas frevo, meu bem, é também literatura! A feira homenageou o sociólogo pernambucano, Gilberto Freyre (sim aquele de Casa Grande & Senzala).
Foi bonito ver a população (e claro os olindenses), o povo, prestigiando o evento, para mim isso é a grande força, que não se compõe apenas das "autoridades" políticas e dos grandes autores que dela participaram, ao todo foram 46 debatedores (entre jornalistas, escritrores, escritoras), sim, são importantes, longe de mim negar isso, mas a presença das gentes de Olinda, do Recife, de Pernambuco, de outros estados e países, foi o maior ganho!
imagem colhida na internet
Mas por que Fliporto se a festa nao é mais em Porto de Galinhas? De acordo com os organizadores, a mudança do nome seria um componente complicador (e em "time que está ganhando, não se mexe", grifo meu). Óquei, era, foi, e já não é mais, algumas edições se deram apenas para escritores convidados, sem a presença das pessoas fora do ofício de escrever (um absurdo, eu diria!), e a sacada de "transformá-la" em aberta para o grande público foi genial, tanto quanto transferi-la para Olinda, um exemplo de lucidez. Uma vez que o acesso à cidade, é bem mais fácil, e o local escolhido para a sua realização, a Colina do Carmo, não poderia ter sido mais perfeito!
Emocionante perceber a meninada interessada, participando nas contações de histórias, na tenda Fliporto Criança, ou nos jogos matemáticos, Malba Tahan também foi homenageado na grande festa literária, Fliporto Nova Geração (para novos e jovens autores), EcoFliporto, Cine Fliporto, Fliporto Gastronomia e Fliporto Digital. Mas confesso que senti falta de uma sessão destinada à música e à fotografia (uma Fliporto Música, e Fliporto Fotografia), mas aí é querer demais, e é a minha vontade e não dos idealizadores...
Por onde se andava, a participação da comunidade era intensa, um espetáculo! O que coloca por terra a idiotice mítica de que o Brasil nao é um país de leitores, nao é uma ova! Um fato interessante me chamou a atenção (aliás nao fui a única a perceber isso, um amigo também comentou comigo) as crianças faziam questão de participar ao seu modo, carregando um prospecto sobre a feira, um livro, um cartaz, o que fosse, qualquer coisa que dissesse, que estivera naquela comemoração, a Fliporto passou a ter um sentido para elas.
Grandes nomes passaram por lá, mas não posso deixar de mencionar a mesa que de fato pegou fogo, pois se tratava de autores e experiências sobre Cuba, um deabte entre Fernando Morais ("A Ilha" e "Os Últimos Soldados da Guerra Fria"), Samarone Lima ("Viagem ao Crepúsculo", com relançamento de nova edição mais ampliada e outras imagens, para breve) e Leandro Nardoch (Guia Politicamente Incorreto da América Latina), onde três visoes distintas da ilha de Fidel, se confrontavam, "a América Latina: para além do bem e do mal". Só faltou chamarem os bombeiros para apagarem o incêndio. podem conferi-la:
imagem colhida na internet
Samarone Lima, Vandeck Santiago (mediador), Fernando Morais e Leandro Narloch
Os três jornalistas, "com posições bastante adversas, promoveram uma das mais polêmicas mesas de debate durante a VII Fliporto. A escolha dos convidados não se deu por acaso: todos possuem uma relação estreita com o continente, principalmente, com a ilha de Cuba".
"A presença de nomes como Joumana Haddad", autora do livro, Eu matei Sherazade; Tariq Ali (escritor, jornalista, cineasta e militante paquistanês), "que não economizou palavras ao tratar da relação das grandes potências ocidentais e o mundo árabe", quando foi apresentado ao público, pelo jornalista Silio Boccanera, no painel "Paquistão-Afeganistão - equívocos na guerra ao terror". Tarik, é um incansável "crítico dos sistemas neo-liberais que" promovem e "priorizam o poderio econômico em detrimento de sociedades democráticas"; Abdel Bari Atwan, "considerado um dos 50 árabes mais influentes do mundo, e que entrevistou longamente Osama Bin Laden", com coerencia e sensatez, "deixou de lado ideologias e paixões, Abdel frisou a importância da “Primavera Árabe” para a evolução política da região, sobretudo no que tange a democracia. “Sem dúvida, essa é uma das melhores coisas que aconteceu nos últimos 100 anos no mundo árabe, que estava impregnado de corrupção e ditadura, além de estar extremamente atrasado", deram à esta edição o caráter de a "mais política da história da festa".

Deletei-me com o painel no qual participou Alice Ruiz, onde falou sobre a sua estreitíssima relação com o haikai, a poesia em letras de músicas, a poesia poesia, e suas parcerias entre outros, com José Miguel Wisnik, Alzira Espíndola, Zélia Duncan e o saudoso "Nego Dito",Itamar Assumpção. Discorreu um pouco sobre o seu processo de criação, a estética do haikai, além da sua relaçao com seu companheiro Paulo Leminski (que era também haikaísta), e destilou doçuras e delicadezas.
Em algumas obras, Gilberto Freyre faz referência à árvore, ela também foi estrela da festa. Convém informar que fora do continente africano, é no Recife (e na Austrália), que se encontram o maior número de baobás, apesar da árvore existir também em ourtros países americanos, e nada como uma feira de literatura e arte para "plantar" uma consciência ecológica nas pessoas, e a importância dos baobás. Podes apreciar um resumo da ópera aqui. Infelizmente nem tudo são flores, "bebê" (aliás, Cristiane Torloni, também compareceu à festa de literatura, dentre outros famosos globais), alguns mediadores, sinceramente, eclipsaram o brilho da festa, para a próxima prestar atenção em quem convida para tal função.
Alguns autores que participaram da feira:
Deepak Chopra (abertura): “Cura, transformação e consciência”;
Frei Betto, em conversa com Bia Corrêa do Lago:“O processo da criação literária”;
Derek Walcott, Prêmio Nobel de Literatura, conferência: “O Viajante Afortunado – uma noite de poesia com Derek Walcott";
Silio Boccanera, em conversa com Geneton Moraes Neto:“Terrorismo real e fictício, antes e depois do 11 de setembro”;
Mamede Jarouche, Ioram Melcer e Edwin Williamson, com mediação de Rogério Pereira:“As 1001 noites (d)e Jorge Luis Borges".
E como ninguém é de ferro, no encerramento, fomos tomar uma gelada, para aliviar o calor. Essa é por você também, Rui Pires!
meu amado Itamar Assumpção e Naná Vasconcelos - Fim de Festa