
um rasgo no céu surgiu
sete anjos
desceram
com sete facas afiadas
as lâminas cortantes
avermelhadas
recobriram o mundo que ardia
quando tudo esvaecia
e o apocalipse eu vivia
nas terras negras
inférteis
tenebrosas e sombrias
por sobre as sete serpentes
bailarinas descalças
com movimentos pungentes
em invulgar harmonia
deslizavam os sete véus
que (in) devidamente escondiam
as sete cores da minha nostalgia
na travessia dos sete mares
no agito das ondas altas
princípio de ventania
meu canto de dor invadia
os sete dias da semana
inscrevendo na carne viva a minha agonia
das sete mil vezes sete
que todos os dias eu morria
e das sete mil vezes sete
que todos os dias eu (re)nascia
e ante a destruição
do que eu sequer sabia
que dos sete pecados capitais
gula
avareza
inveja
ira
soberba
luxúria
preguiça
sete mil bocas sorviam
ávidos sequiosos da minha sangria
e num inesperado clarão
como se fosse
o sol em combustão
estrelas de sete pontas
de ponta a ponta
com resplandecente luz
naquele dado momento
o canto das sete trombetas
laceraram o firmamento
e se fizeram ouvir
a ode triunfal das sete Marias!
Porto, 30 de junho de 2009
*Para Pina Bausch.