
A vontade era de estrangular o meu telemóvel, calma, minha senhora e meu senhor, não sou uma pessoa violenta, mas convenhamos, 6:00h da madrugada, de um sábado propício para sequer abrir os olhos, imagina sair debaixo do edredão? 3º graus, a calefação a todo vapor, e o telemóvel-despertador histericamente gritando que estava na hora de levantar, após apenas uma horinha de sono? Pois, foi o tempo que preguei os olhos nessa viragem de dia; sou uma estudante aplicada (Deus sabe!), estava a estudar de facto, posto que estou no momento mais importante, ler, ler, ler; fichas e mais fichas; escrever, escrever, escrever; apresentação; enquadramento teórico; justificativa; contextualizar Brasil e Europa (Recife-Porto-Tarragona), não necessariamente nessa ordem, e outros quemais que vós sabeis muito bem... Mas "la nave vá" e eu dentro! E eu gosto!
- Tóc! Tóc! Vamos? Estás pronta? Giovanni e Paulina já estão a descer, e eu liguei para o taxista.
- Oi, Luciana, prontinha da silva, com os olhos cheios de areia, mas vamos, eu durmo na viagem...
Lá se vou eu rumo a mais uma aventura. Fomos numa excursão para os Alpes, os nossos Alpes: Serra da Estrela, queria ver a neve, imagina se eu não viveria isso?
Serra da Estrela, ou Montes Hermínios, mas como é intrínseco a mim e está imbricado em minhas vísceras, divaguei e vagueei mais uma vez na história... Montes Hermínios (como nominavam os romanos da antiguidade, e perdi-me a imaginar como sobreviviam os antigos, as batalhas. Dizem que aquí na Serra da Estrela, era a terra do líder lusitano, Viriato).
A viagem transcorreu tranquila, sentei-me na primeira poltrona vazia que encontrei nas proximidades do fundão, dei uma boa cochilada até chegar a primeira paragem, hora de comer algo, tomar um café... Tomei, tomei o café mais caro do mundo, nem em Paris era aquele preço, vô-te! Mas quem manda ser viciada em café? E depois, quentinho, e aquí (lá), um frio da moléstia, até a alma estava revestida em polar. Em Covilhã soubemos que o tempo não estava lá uma brastemp, teríamos que esperar um pouco, mudança de plano, de atividades, de tudo... Uma visita ao Museu do Pão, vendas e lojas da cercania. Em seguida fizemos um piquenique ao ar-livre, e bote livre nisso, porque tivemos inclusive a liberdade de varrer a espessa camada de gelo que cobria os bancos e mesas disponíveis para tal fim. Seguimos nosso destino, chegamos à poisada, quase noitinha, era aconchegante e limpa, o suficiente dentro das minhas exigências, fizemos o registro na recepção, entrega de passaportes e chaves... Afinal, dez horas dentro de um autocarro, acaba com o humor de qualquer um, eu queria mais era um banho quente e dormir. Mas antes, um reconhecimento do derredor, luzes difusas, opacas, no meio da neblina, neve por todo lado e eu feito criança, deslumbrada com aquela visão jamais vista em qualquer tempo, tudo branquinho, branquinho... Eu e Giovannito, começamos então uma guerra de bolas de neve, risos e quedas, e felicidade transbordante... Joguei-me na neve como quem se joga numa piscina, ela é sim gelada e branca, ê! Ficamos por ali a brincar, riscar na neve e a fazermos, ou melhor, tentamos fazer bonecos de neve.
Giovannito, eu, a neve e nossa alegria!
Na sala de convívio vislumbrei uma messa de ping pong, ô delícia! Alugamos por uma hora, e pude então fazer algo que não fazia desde a adolescência, ah, gente, eu adoro jogar ping pong...
Uma arrumada rápida, realçar os olhos e a boca com uma maquiagem leve, quase virginal, o jantar seria noutra cidade e não me apetecia lá chegar com uma cara de cansaço sem mais.
Hora de irmos para a discoteca, e o tempo não ajudava em nada, a guarda local informara que seria perigoso se fizéssemos mais de uma viagem na madrugada, a temperatura havia caído, e ainda o aumento de neve e gelo nas ribanceiras que ladeavam a estrada. Mais uma vez mudança de planos, teríamos que ir todos por volta das 03:00h para a poisada, por mim, eu estava morta de cansada, dois dias, e duas noites sem dormir, eu queria mais era a minha caminha quentinha e meu cobertor de pele de ovelha (sintética, gente, sou ecologicamente correcta)... E assim foi, fomos. O pequeno almoço será servido até às 10:00h e subiremos a serra por volta das 13:00h, pensei comigo: hum, vou lá, como e volto para dormir, não me demoro no banho e estarei pronta na hora certa. Dito e feito, uhu! Comi, dormi e banhei...
Eu quero voar no azul mais lindo...
Mas chega de deambulações, vamos às atividades: esqui, snowboard e coisa nenhuma... Pegar a instrumentação, receber orientações e pagar mico...
Os pagadores de mico, ou melhor, os craques...
E o cansaço? Que cansaço, é comigo que a sua pessoa está a falar? E eu lá estou cansada, depois de viver um dia intenso, e mais de 48h sem dormir, quem é que está cansada aí? Só que eu quero agora é um café com leite, bem quente, de queimar a língua. Fui à estância com a Paulinita, pegamos café e ficamos a filosofar, sentadas, com os pés enfiados na neve, mergulhadas nas nossas reflexões e saudades: de quem não está fisicamente conosco, de quem já esteve e de quem jamais estará... Os olhares a perderem-se e a encontrarem-se no pôr-do- sol, no horizonte, uma confluência com o azul do céu, o branco da neve e o alaranjado daquela bola de fogo que se esmaecia. Serra da Estrela, hei-de tê-la sempre em minha íris, alma e no vermelho do meu coração.
Pegando um fresco... Vai uma geladinha aí?Mas informo a quem interessar possa, não só há neve na Serra, apenas 1 km abaixo do início do paraíso branco, existe o paraíso verde. Chama-se Sabugueiro, talvez a aldeia mais alta de Portugal. Há uma cruel dúvida entre quem vai à Serra nas duas estações: se é mais bela no inverno, ou no verão...
Aqui embaixo, tem uma novidade, para quem quiser, é só clicar no play e ouvirão a música que ora me delicio e me envolve. Lenine - e uma saudade besta do Recife - , Hoje eu quero sair só. Sabe o que acontece? Às vezes tenho uma vontade de sair só, na verdade, nunca estou só, estou sempre comigo, mas sinto vontade de estar apenas comigo. Porque eu volto para os que amo, sempre!