Canto da Boca
quinta-feira, 18 de dezembro de 2025
O mar
segunda-feira, 13 de maio de 2024
Gaza
Sophia de Mello Breyner Andresen
vai
pega uma folha de papel em branco e escreve
escreve
até sobre a saudade que invade o teu coração
ah, não pode
não pode não
o mundo está em guerra
um horror
horrível
e por onde anda
a saudade que brotava dos teus olhos ingênuos
da cor de cajá?
e aquela natureza de rio calmo
sereno
coisa de interior
de gente que nem sentiu ainda a maldade do mundo
não
não pode não
o mundo está em guerra
não dá para falar da saudade da paz
nada de paz
a pombinha branca da paz
aquela
carregando um raminho verde no bico
jaz
ali entre os escombros
debaixo daqueles destroços
na Faixa de Gaza
mataram a pomba branca
e a paz
e as crianças
e as mulheres
e os velhos
mataram.
mutaram.
mataram.
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2024.
sábado, 25 de março de 2023
b17
quinta-feira, 23 de março de 2023
bebe-te a ti mesmo
"Eu sou o olhar que penetra nas camadas do mundo,ando debaixo da pele e sacudo os sonhos"
Murilo Mendes em Cantiga de Malazarte
terça-feira, 21 de março de 2023
não entendo de pássaros
Alexandre O’Neill, in De Ombro na Ombreira, 1969
domingo, 26 de fevereiro de 2023
da cor do girassol
"Eu tenho um pouco de girassol".
quinta-feira, 1 de dezembro de 2022
no núcleo da palavra saudade
- Meu Deus!
- Meu Deus!
Corri os ouvidos pelo o silencio
Ampliei a angular dos olhos
E não vi ninguém
Não havia nada para ver
Além da rua e da pista molhada
As casas fechadas
E as luzes apagadas
Percebi então
Que aquele grito gutural
Saído da quietude noturna
Rasgou meu útero
Tomou corpo
E em carne viva partiu
A clamar pela cidade
Vagando na neblina
A indagar em cada esquina
Quem és
Por que se escondes
No núcleo da palavra saudade?
Olinda I - XII - MMXXII
Oswaldo Montenegro, Aquela coisa toda
terça-feira, 7 de junho de 2022
rosé
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022
imóvel
fixada num tempo
que não se movia
nada se movia
não havia transição
sinal de avanço
passagem
ou transformação
não havia nada
a não ser o nada que havia
e a ambiguidade de um relativo silêncio
que tudo falava mas nada dizia
a vida reduzida a um amontoado de palavras
que de novas não tinham nada
todas elas desgastadas
usadas, apagas e reescritas milhões de vezes
não tinha nenhum sonho
nenhum retalho de poesia para costurar
linha para cerzir
também não existia
mas sobravam: saudade, ilusão e melancolia
terça-feira, 11 de janeiro de 2022
avassalador
a vida inteira nesse instante agora
quarta-feira, 10 de novembro de 2021
prolongada hora do ocaso
teu nome é um segredo que carrego entre os dentes
mastigo a tua ausência todos os dias
engulo quilômetros de desejos
fincando as marcas do tempo nos grãos de areia
que se dissipam com a luz do sol
teu cheiro é uma cobiça que carrego embrulhado entre as
pálpebras
que se desdobra e se espalha a cada bater dos cílios
espreitando o lençol rugoso das águas agitadas do mar
revelando o insensato gesto de oblivion
tua voz chega como um animal selvagem
que se debate entre os fios
dos meus cabelos
como um bicho enfurecido recém-capturado
e eu prisioneira das vontades tantas
transito entre as feras da paixão e da saudade
que me devoram por dentro e por fora nesta prolongada hora
do ocaso
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O., X – XI- MMXXI
O mar
Mesmo que eu morra o poema encontrará Uma praia onde quebrar as suas ondas Sophia de Mello Breyner Andresen (imagem colhida na internet, des...
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Gaza imagem colhida na internet (desconheço a autoria) A paz sem vencedor e sem vencidos Fazei Senhor ...
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''Ele leva uma vida plena, sem o vazio da minha. Não tenho nada porque não o tenho". Frida Kahlo . Hommage à Apolli...








