sábado, 21 de setembro de 2019

não confesso que amo

"Que eu saiba ficar com o nada
 e mesmo assim 
me sinta como estivesse plena de tudo".

Clarice Lispector


                                                       imagens: arquivo pessoal

não confesso que amo
                      ninguém, nada
                      coisa alguma

não confesso que amo
                     as flores e
                     a primavera

eles não gostam do amor
                    não gostam da beleza
                    do riso farto

não confesso que amo
                     a vida
                     a Filosofia

não confesso que amo
                    a música
                    a poesia

eles não gostam da alegria
                    não gostam da luz
                    que clareia o dia

não confesso que amo
                    a metafísica
                    e o voo dos pássaros

eles não gostam dos pássaros
                    não gostam da liberdade
                    da paz que envolve a cidade

eles aprisionaram o azul do céu
                    nos porões das suas inseguranças
                    e do medo das cores

Porto, VIII - V - MMXIX

Leonard Cohen, Treaty




2 comentários:


  1. Olá, Canto da Boca

    Andas por cá, minha amiga? (Porto, Lisboa...)

    Não dei pela publicação anterior. Virei lê-la, com mais vagar.

    Linda a citação de Clarice Lispector. Ter a humildade e a elevação de alma de aceitar o "Nada" como se fosse "Tudo": Sublime. Grande Clarice que nos soube deixar legado tão bom.

    O teu poema colocou-me uma questão de interpretação bastante difícil. Aos poucos fui me afeiçoando ao seu ritmo e musicalidade. A "negação" que afinal não o é, e o confronto entre "eu" e "eles" coloca-o naquele patamar que nunca descuras na tua poesia.

    E esta magnífica chave de ouro explica-me tudo:

    "eles aprisionaram o azul do céu
    nos porões das suas inseguranças
    e do medo das cores"

    Bom fim de semana.

    Beijinhos

    Olinda

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olinda, querida, olá! Tudo bem? Sim, ando por cá outra vez.
      Estou no Porto e também a pegar gosto pela escrita no blog.
      Me ausentei muito tempo daqui, a vida e as vicissitudes, mas estou de volta e pretendo ter uma assiduidade.

      O poema tem a ver com o que se passa lá no Brasil, a minha forma de abstrair é extravasar (parece contraditório, mas é como é).

      Obrigada pela sempre amigável visita.
      Ótimos dias, beijinhos!
      :)

      Excluir

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