"Assovia o vento dentro de mim. Estou despido.
Dono de nada, dono de ninguém, nem mesmo dono de minhas certezas,
sou minha cara contra o vento, a contravento,
e sou o vento que bate em minha cara".
Eduardo Galeano in A ventania, O Livro dos Abraços. p. 270
imagem: henri matisse
A vida é o que acontece enquanto esperamos o melhor tempo para viver, enquanto escrevemos nas entrelinhas, enquanto nos escondemos dentro dos parênteses, enquanto suspendemos uma alegria, enquanto costuramos uma alegoria.
A vida é esse inevitável espaço entre os dias e as noites, é o que retardamos, é o que não realizamos quando a oportunidade chega. É o sinal que fechou e perdemos a travessia, é o não quando deveria ser sim; ou o sim quando podia ser não. É aquela viagem inesperada, que jamais havia sido planejada.
A vida é aquele sorriso que não damos quando uma borboleta passou por nós, e não acompanhamos a evolução do seu voo e não nos admiramos das suas asas carregando as cores e os movimentos. É quando o telefone tocou e era uma ligação errada, quando derramamos sem querer o vinho na pessoa ao nosso lado, quando tropeçamos na calçada. É o esbarrão na esquina, é abandonar a agenda ao menos uma vez.
A vida é aquela canção que toca ao longe, aquele assovio ritmado que nos chega de algures.
É alterar o percurso conhecidopara ver novas paisagens, é fazer uma atividade nunca pensada, é a rotina odiada, mas é também o acontecimento inusitado.
É alterar o percurso conhecido
Viver é todo o tempo que temos e estamos perdendo,
ocupados com coisas e pessoas complicadas, sendo
felizes ou infelizes. Existe um tempo que corre e não espera por ninguém, à revelia de cada solidão, à revelia de cada ilusão.
Viver é aquela alegria negada,aquela ousadia abandonada, uma insensatez auto-permitida, um desatino consentido. Viver é aquele raio de sol que invade a fresta da janela logo cedo na manhã que nasce, e, para a qual fechamos a claridade com a cortina.
Viver só se aprende vivendo, não temoutra fórmula ou solução.
Viver é aquilo que acontece enquanto deixamos tudo para depois.
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Paris, XI - MMVIII
E o Filipe, um grande amigo e dos meus poetas preferidos, escusado dizer sobre o seu talento, grandiosidade e sensibilidade, sempre presente, nos dá um presente:
O tempo anoitece, traço a traço, ocultado
Enquanto a vida, rasurada, num sublinhado se traça
na insensatez de um verso escuro
na abundância da perda inesperada
Existimos dentro da inevitabilidade de um poema
abandonado
Enquanto a vida acontece
deixando tudo para trás
.....
E as contribuições talentosas continuam, eis a generosidade da Piedade:
A vida é um pião que de vez em quando nos salta da mão
E
Cai no chão
E
Nós com jeito ou talvez não
Levantamos do chão
Uma
Duas
Muitas vezes
A vida é cor, alegria é mar
É paixão
A vida é tudo o que
Nos faz viver
Com e sem razão
E é tâo bom viver
Viver é aquela alegria negada,
Viver só se aprende vivendo, não tem
-------
Paris, XI - MMVIII
E o Filipe, um grande amigo e dos meus poetas preferidos, escusado dizer sobre o seu talento, grandiosidade e sensibilidade, sempre presente, nos dá um presente:
O tempo anoitece, traço a traço, ocultado
Enquanto a vida, rasurada, num sublinhado se traça
na insensatez de um verso escuro
na abundância da perda inesperada
Existimos dentro da inevitabilidade de um poema
abandonado
Enquanto a vida acontece
deixando tudo para trás
.....
E as contribuições talentosas continuam, eis a generosidade da Piedade:
A vida é um pião que de vez em quando nos salta da mão
E
Cai no chão
E
Nós com jeito ou talvez não
Levantamos do chão
Uma
Duas
Muitas vezes
A vida é cor, alegria é mar
É paixão
A vida é tudo o que
Nos faz viver
Com e sem razão
E é tâo bom viver
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Norah Jones, The Story
Passei pra dizer que estive aqui e que ainda estou aprendendo tudo isto. Bem deves saber, no atual momento, o quanto a vida para mim tem falado (a morte é muda). Espero poder escutar tudo.
ResponderExcluirBeijos.
Magna
Sim, minha amiga, tens razão, a vida é tudo isso, o sim e o não, o positivo e o negativo, o fazer-se depressa e o deixar andar, a alegria e a tristeza, o amor e o desamor, um cenário intermitente (ou não) de luz e sombra.
ResponderExcluirE tu descreveste este nosso mundo físico e mental de uma forma que me comove, porque, a cada passo, temos essa experiência, essa vivência com o que é (ou o que poderá ser) e o seu contrário.
E por mais que façamos há-de ser sempre assim, a convivência obrigatória do nosso lado esclarecido e bom com o nosso lado lunar, seres que se confrontam diariamente com o anverso e o reverso da sua própria natureza:
"sou minha cara contra o vento, a contravento,
e sou o vento que bate em minha cara"
Beijinhos
Olinda
O tempo anoitece, traço a traço, ocultado
ResponderExcluirEnquanto a vida, rasurada, num sublinhado se traça
na insensatez de um verso escuro
na abundância da perda inesperada
Existimos dentro da inevitabilidade de um poema
abandonado
Enquanto a vida acontece
deixando tudo para trás
.....
Entrar na tua escrita e sair com versos
Acontece-me quase sempre em tua escrita
irrecusável
Bjo.
Olá,
ResponderExcluirsermos a própria cara do vento e contravento, é sinonimo de uma personalidade forte que atravessa todos os ventos e contraventos fortíssimos.
Abraço
ag
Olá,
ResponderExcluirNa verdade na vida acontece o que tem que acontecer, não conseguimos evitar o acontecimento quando este tema acontecer.
Abraço
ag
Tropeçando na vida, deixas que o poema aconteça.
ResponderExcluirSaio com vontade de ficar entre os teus versos de enorme qualidade.
Beijo.
Quanta coisa podemos fazer se não tivermos medo e nos lançarmos as coisas novas? Belo texto para reflexão e parabéns pelo seu blog e conteúdos encontrados. aqui.
ResponderExcluirJá estou te seguindo.
Abraços.Sandra
Olá Olinda!
ResponderExcluirA vida é tanta coisa boa e má, tanta oportunidade perdida, tanto acontecimento inesperado, tanta dor,tanta alegria,tanta luz, tanta sombra... "A vida é o dia de hoje, a vida é o ai que mal soa..." e que bem escreveu sobre a vida o nosso poeta João de Deus. Também aqui li um belo texto poético que me fez pensar na vida. Beijos.
M. Emília
A vida é um vagaroso instante
ResponderExcluirpor vezes um pássaro
que desenhamos no chão
A vida essa caixa de surpresas, uma vírgula entre suspiros.
ResponderExcluirA vida é um pião que de vez em quando nos salta da mão
ResponderExcluirE
Cai no chão
E
Nós com jeito ou talvez não
Levantamos do chão
Uma
Duas
Muitas vezes
A vida é cor, alegria é mar
É paixão
A vida é tudo o que
Nos faz viver
Com e sem razão
E é tao bom viver
E a vida é tudo aquilo que deixamos de fazer quando a vivemos na base do medo e não do amor. Vi que frequentas o blog da minha amiga Olinda, o Xaile de seda e pelo comentário que lá deixou pensei que valeria a pena vir cá. Gostei e já me fiz sua seguidora. Este seu post tem muito a ver com o que publiquei no Começar de Novo. A vida...sempre complexa porque nós a complicamos. Viver é simples! Beijinhos e obrigada por este belo momento.
ResponderExcluirEmília
A vida é um improvido com sentido...
ResponderExcluirAdorei ler (-te).
Bjo, Canto da Boca :)