segunda-feira, 1 de julho de 2013

da minha escrita

Ninguém é capaz de prever o que possa vir a fazer 
uma pessoa que sofre dos males do desamor.



Escrevo para não ser estrangulada pelos acontecimentos diários. Não é uma fuga, mas uma maneira de me libertar das amarguras e angústias cotidianas. Escrever pode ser o real, o inverossímil - ou não - daquele instante,  é concreto porque perpetua os sentimentos em palavras. E depois de escritos, criam asas, vida própria, interpretações múltiplas; inverossímil, a ficção pode ser apenas na escrita. Mas são sentidos, sofridos, vividos, percebidos por outrem, de uma maneira muito particular; e podem vir a ter um cariz irreal, ou a face exata da emoção pontual de cada um que toma ciência dessa escrita, naquele momento. Porque passa pela identificação, é a voz que grita o que estava silencioso no peito, ou a mão que escreve o que estava guardado e derramou naquele texto.
Quando damos vazão ao mundaréu de emoções que nos revolvem por dentro, exteriorizando-os cá fora, deixando-os escritos e aprisionados no papel (ou no espaço virtual), parecem perder a dimensão que lhes havíamos dado, e aquela força que movia montanhas, se perde no vácuo. Escrever é uma maneira de nos reorganizarmos internamente, é o encaixe do puzzle, é uma forma de manter a sanidade mental; é uma tentativa de ressignificar a nossa existência. É a virada de página, a passagem para um amanhã que talvez nem chegue, dependendo do nível emocional, do equilíbrio ou da loucura de cada um.
Mas para que tanto drama com um amanhã que ainda nem aconteceu? E nem sabemos se acontecerá... E só está escrito aqui?

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*A tela está na horizontal, a original é na vertical, mas escolhi publicá-la assim.

Olinda - IV - I - MMXII

Amor Electro - A Máquina

24 comentários:

  1. Não te deixes estrangular.
    Eu preciso que respires para poderes escrever magníficos textos como este.
    Querida amiga, tem uma boa semana.
    Beijo.

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    1. Obrigada, Barcelli, muito gentil, como sempre. Obrigada pelas palavras encorajadoras, pela presença e pelos desejos. Que tenhas também uma ótima semana!

      Beijo!

      ;))

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  2. Olá, Canto
    Quando escrevemos transformamos em palavras o que nos vai na alma, no pensamento. E ao darmos a conhecer ao outro a nossa maneira de pensar, esta perde um pouco da sua densidade, esvai-se a importância anterior à escrita, tudo se torna mais leve, menos premente.
    Se procedermos a uma leitura posterior chegam a parecer-nos estranhas as sensações descritas.
    Isto porque, ao escrever, estamos a “alinhar” o que está desarrumado interiormente.
    Do mesmo modo, se hoje pensamos e planeamos um determinado programa para pôr em prática na próxima semana, arriscamo-nos a, lá chegando, não termos vontade de fazer o que, na semana passada, nos parecia tão aliciante.
    É a inconstância do ser humano (e a minha maneira de pensar, é claro!)
    O teu texto é muito bom, digno de reflexão.

    Muito obrigada pelo teu comentário na minha «CASA», de que gostei imenso.
    As tuas palavras fizeram muito bem ao meu ego… :)
    Um beijo GRANDE

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    1. Além de nos aproximar e nos mostrar que muitas vezes, estamos vivendo semelhantes situações.
      Disseste bem, somos tão inconstantes, assim como a vida também o é... Há tanto imponderável entre o correr das horas, dos planos, tens total razão, minha flor!

      Sou eu quem agradece o prazer e a honra da sua visita. Mas tu és uma exímia contadora de histórias, Mariazita, deve ser uma maravilha ouvi-la!

      Beijos!

      ;))

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    2. De cabeça para cima, ou de cabeça para baixo, para os males do amor... tanto faz!
      Beijinhos!

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    3. (De preferência que eles não existissem, pois não, Calado?)

      Beijos!

      ;))

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  3. Na escrita por vezes transmitimos em palavras todos os sentimentos e amarguras que nos vão na alma.
    Pode resultar desde que não nos deixemos levar ou estrangular.
    Belo este texto Val!!

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    1. Por vezes. E o exercício da escrita minimiza tudo, quando aprisionamos os sentimentos no papel, e nos libertamos deles (veja que contradição), perdem aquela dimensão que lhes havíamos dado (ao menos comigo funciona assim)...

      Obrigada, Carlos!!!

      ;))

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  4. Olá , boa noite!
    Bela escolha, apreciei imenso a tela de Lanhas.
    Um belo texto, muito reflexivo e para nos fazer dar voltas ao miolo. A escrita é um acto de de amor racional. Pode fluir palpitante como as águas de um rio, ou pode ser tempestuosa e escura como a noite.
    Não deixa de ser uma fonte inesgotável de cultura e prazer.
    Um abraço.amigo.
    M. Emília

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    1. Olá, Maria Emília, boa noite, querida!

      Alegra-me saber que gostaste do meu texto, e tua interpretação acrescenta e muito, é sempre uma mais valia a sua opinião, grata por isso, e ainda mais por estares aqui, apesar das vicissitudes.

      Abraço amigo igualmente (e um beijo)!

      ;))

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  5. O texto dá o que pensar, fala de coisas que eu nunca havia parado para refletir.

    bj

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    1. Que bom então que o texto lhe disse algo, Rodrigo, me alegra saber disso!

      Beijo!

      ;))

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  6. Se o silêncio sufoca (interiormente)
    Se escrever é respirar (profundamente)
    Se na palavra se arrisca (frequentemente)
    Se o poeta finge (metodicamente)

    "sentir, sinta quem leu" (Pessoa)


    Entre traços o traço de tua escrita

    Bjo.

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    1. Como não admirar essa sua capacidade analítica? Como não admirar esse olhar perspicaz, que ultrapassa a superfície e chega no âmago? Como não admirar essa poesia que esbanjas em cada comentário, Filipe? Como não admirar...?

      Beijo!

      ;))

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  7. Escrever é sobretudo um sentimento. Pois claro.

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    1. Pois sim, "Escrever é sobretudo um sentimento". Foste no cerne, Armando Sena. Um poeta como tu e com a tua carga poética, sabe fazer muitíssimo bem, leituras de mundo.

      Obrigada pela presença!

      ;))

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  8. quem não sofreu um desamor na vida, não sabe o que é de si, não sabe amar, não sabe superar, não se encontrou. Adorei o estilo. Um professor, elogiando certa vez uma resposta minha em prova, observou que eu apenas riscara uma única palavra. Achou significativo e disse que ali estava o raciocício que segui: primeiro, eu usara uma palavras de sentido mais estrito, mas, percebendo que a proposição podia ser generalizada, eu havia trocado por uma palavras mais geral. Então, a gente deixado o que foi riscado, pode-se analisar as dúvidas que sempre existem.
    Achei super seu texto e também o fato que saiu de lá do meu blog do jeito que disse. Eu tenho essa vontade de largar tudo e seguir com o vento e mais vontade ainda de carregar alguém comigo - gosto de fazer alguém sorrir :)
    E era bem isso que precisava o "eu" poético que descreveu essas angústias aí acima. Eu postei aquele texto novamente, pois estava me sentindo angustiado e fui procurar ele para reler e me sentir de novo daquele jeito;
    Beijo

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    1. Como seríamos nós sem esses desamores, esses desacertos, não é mesmo, Benno?
      Foste certeiro em sua análise, quis sair do particular e ser menos subjetiva, e foi um exercício gostoso de fazer, voltei aos meus tempos de faculdade e das aprendizagens acerca dos resumos, sempre me perco, sou loquaz demais, quis brincar com isso no texto.

      E fui andar à toa, depois que fiz aquela leitura magnífica que nos proporcionaste, mesmo... Fui bater no Sítio Histórico, sentei na Sé, tomei uma água de coco, e fiquei contemplando o mar e o céu. Tudo uma delícia, obrigada por teres contribuído para isso, rs

      Beijo, ótimo final de semana!!

      ;))

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  9. Um belíssimo texto. E tudo é verdade ...

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    1. Obrigada, Jorge, tentei ser fiel ao que sentia na hora em que o escrevia.

      Prazer lhe receber aqui.

      ;))

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  10. Como sempre, um texto interessante, Boca, e que mexe com a gente. Achei diferente essa coisa do riscado, gostei.

    Beijo.

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    1. Obrigada, Sylvia, fico contente em saber que o texto lhe disse algo. E o sublinhado foi um exercício que me deu prazer.

      Beijo!

      ;))

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Prazer tê-lo/a no Canto, obrigada pela delicadeza de dispor do seu tempo lendo-me. Seja bem-vindo/a!

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