sábado, 8 de junho de 2013

quiro mantéia


"No entanto, o intemporal em vós sabe
 da intemporalidade da vida.
 E sabe que ontem é apenas a memória de hoje
 e o amanhã é o sonho de hoje."
Khalil Gibran in O Profeta. p.80-81

  imagem: ismael nery

"a estrada é longa"...
assim disse a cigana que leu a minha mão
existem muitos desejos, sonhos e alucinações
em cada traçado
curvo ou entrecortado

obscuro ou sinalizado
seja na linha  da vida, da cabeça -  da razão
mas quem decidirá sou eu
esse é o destino

senhora das (próprias) decisões
porque os montes
a direção e os ventos
mudam com o tempo

a arte advinhatória também
no intricado mapa
impresso na palma, estão as indicações
anunciando a quem interessar possa

que o futuro não existe
é coisa de profeta
nem vidência alucinatória
nem a saudade, nem a dor, nem a solidão

só o gosto daquele beijo
- e uma forte intuição - 
e aquela linha reta
aquela que é chave

para se entender o coração

------

E  o Filipe (quem, senão ele) grande e querido poeta, retraça minhas tortuosas linhas assim:

 Talvez a crença num destino
(autónomo e incontrolável)
seja apenas flagrante fraqueza
(uma pretexto de conformada inércia)

Assim o diz a razão (assim o digo também)


Mas
que dizer dos sinais (que vejo)
que dizer dos obscuros ventos (que sinto)
como definir os caminhos em verso (que escrevo)

Como entender todas as impossibilidades que o tempo tem?

(divagações de um pseudo-poeta
que "na utopia se diz profeta")

O futuro não existe enquanto não se faz passado

Só o beijo
E o verso

-------

Olinda - VIII - VI - MMXIII


rita lee canta, menino bonito  (escute o piano é demais de lindo!)



20 comentários:

  1. O coração conhece sempre a chave...:)))

    Beijinho

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    1. O coração é um "comboio de chave"...


      Beijo, JPoeta, muito grata pela sua presença, sempre!

      ;))

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  2. O futuro existe assim como a saudade,dor e solidão.
    Cabe a cada um de nós também decidir,contribuir para obter essa chave para o futuro que desejaríamos.

    P.S.Val obrigado por tuas visitas em meu blogue e um bom fim de semana

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    1. Tudo existe, se acreditarmos nisso...

      Quem agradece sou eu, Carlos, e ademais sou apreciadora do belo, e suas fotos traduzem belezas que me emocionam!

      Bom final de semana para ti também!!

      ;))

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  3. o coração sabe das coisas e vc tb

    bj, Val

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    1. Será, Rodrigo? Socraticamente eu digo: "só sei que nada sei".

      Beijo!

      ;))

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  4. Minha amiga

    Um poema lindo que implica tudo, passado, presente e futuro. Um tema para reflexão, um tema que me faz estremecer perante a sua magnitude.

    Passado, Presente, Futuro: Uma trilogia avassaladora.
    Pensando bem, parece que o que existe é apenas o passado, e o presente é 'este' instante apenas que já passou.

    O futuro,coisa volátil, poderá estar aqui na letra que eu teclar a seguir. Também poderá ser o 'sonho de hoje'e as marcas que me deixar no coração, nas minhas decisões e indecisões... e daí, talvez a chave de tudo.

    'a estrada é longa', concordo, um caminho que se vai fazendo segundo a segundo, a milésimas de segundo ou nem isso, em que a razão e o coração se confrontam. E quem sairá a ganhar? Talvez o coração e 'aquele beijo'.

    Como vês, eu hoje estou assim um pouco amarga e, quem sabe, algo incoerente...

    Vamos à parte lateral do teu blogue: Tens aí ao lado umas re-leituras preciosas. Das leituras, destaco os dois livros sobre Cabo Verde, que eu não conhecia. Hei-de ir à procura deles. :) Sobre 'Os Filhos da Terra e do sol' : há um autor chamado António Carreira (conhece-lo?) que também trata o mesmo tema em 'Cabo Verde-Formação e Extinção de uma Sociedade Escravocrata'.

    Amiga, desejo-te um bom domingo. Por cá temos um fim de semana alargado, que vai até 2ª feira, inclusive.

    Beijinhos

    Olinda

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    1. A vida será sempre um grande mistério para mim, a sua magnífica simplicidade é de uma complexidade inextinguível, e um tema indelével, de acordo comigo.
      Costumo brincar com isso de quiromancia porque remonta à (minha) infância e os meus temores provocados pela minha mãe, para eu não sair de casa, nem tampouco me aproximar dos ciganos que acampavam na cidade, amiúde (coisas da memória que é sempre recorrente). E também porque eu não acredito em destino (no máximo, no imponderável, no inexorável, para não ser radical), mas na construção do futuro, no planejamento, e ainda assim sem nenhuma garantia de absolutamente nada, não temos garantias de nada, Olinda, só de produtos eletro-eletrônicos e olhe lá, e mesmo assim com temo limitado (e lá se vai eu voltar ao filme, aqui no Brasil se chama: Blade Runner o caçador de andróides), todos somos chipados (ainda que metaforicamente), todos temos um tempo de vida...Só sei que façamos o melhor que pudermos por nós, para nós, para termos uma passagem saudável em todos os campos...
      Seu comentário é de uma profundidade e reflexão, que todos deveríamos ter, se possível. Como vês, não se trata de amargura, mas de um ponto imprescindível na vida, na vida de todos nós, e quase nunca falamos sobre o tema, pelos mais variados motivos.

      Super agradeço suas palavras, sua presença, seu carinho, e, sobretudo, sua amizade.

      Um beijão e que o domingo seja tranquilo e feliz!

      ;)).

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  5. Quién lo puede saber lo que nos depara el futuro...?
    Una pregunta complicada.
    Un abrazo.

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    1. Pues, quién? Nosotros, quizás? Creo que ni con todo lo planeamento, aun asi no lo tenemos respuestas... Solamente existe una salida: vivir hoy...

      Un abrazo, Balamgo, gracias por su presencia!

      ;))

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  6. Val, Gibran sempre me coloca num lugar meio divino. Foi alguém muito especial, pois praticava o que escrevia.
    Assim, tua citação me levou primeiro a este lugar e prossegui nele a pensar sobre o destino e este futuro que não saberemos nunca, a não ser pelo presente que construímos e escolha que fazemos.
    Maravilha de poema. Tua escolha por lembrar da linha da mão foi brilhante.
    Beijão bem grandão.
    Magna

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    1. Desde a minha pré-adolescência que eu leio Gibran, ficava maravilhada com toda essa sabedoria. De modo que ele continua referência.
      E Magníssima, a vida para mim é um mistério insondável, desisti de qualquer explicação, decidi apenas viver, o melhor que eu possa. Talvez a única coisa que a vida me explique, e que eu entendo, foi o que passou e não porquê se passou daquele jeito... Despida de toda memória passada, apenas passou, olho para trás e nesse plano entendo que passou...

      Obrigada, pelas palavras e pela presença, sei bem das suas demandas.

      Beijão bem grandão (e repare na sua agenda se podemos almoçar juntas essa semana, ao menos tu, Fabi e eu?), e que pena que não fui ontem ao lançamento do livro da Fabi, voltei do meio do caminho, muita chuva por aqui...

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  7. Magnífico poema, Boca, sério e profundo, e não é sempre que encontramos uma poesia que trata desse assunto.


    Beijo.

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  8. o coração por vezes perde a chave e a razão....

    :)

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    1. Quando isso acontece, é um perigo!

      Obrigada pela presença, Piedade!

      ;))

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  9. Olá Canto...
    És um encanto que a cigana deve ter lido na palma da tua mão. Rara sensibilidade, arte e engenho no pensar e no escrever sobre o ontem , o hoje e o amanhã...
    Também eu me interrogo sobre o mundo em que vivemos , as contradições que existem no ser humano...enfim! Fico-me por aqui.
    Um beijo.
    M. Emília

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    1. Olá, Maria Emília!

      "Toda palavra guarda uma cilada", é preciso muita atenção à leitura da cigana, rs
      Acredito que essa trilogia é um tema que em algum momento da nossa vida, nos cinge de interrogações, reflexões (e tantos desejos)... E vamos vivendo como podemos, algumas vezes nem é como queremos, ou gostaríamos, esses percalços que a "linha da vida", traça, retraça e "destraça" ao longo da nossa existência, enfim...

      Sua presença aqui muito me alegra, grata por isso!

      Um beijo!

      ;))

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  10. Talvez a crença num destino
    (autónomo e incontrolável)
    seja apenas flagrante fraqueza
    (uma pretexto de conformada inércia)

    Assim o diz a razão (assim o digo também)


    Mas
    que dizer dos sinais (que vejo)
    que dizer dos obscuros ventos (que sinto)
    como definir os caminhos em verso (que escrevo)

    Como entender todas as impossibilidades que o tempo tem?

    (divagações de um pseudo-poeta
    que "na utopia se diz profeta")

    O futuro não existe enquanto não se faz passado

    Só o beijo
    E o verso


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    1. Talvez inércia, talvez cultura, talvez desistência, e a razão desconfiando...
      Como conf(r)or(n)tar, o que a emoção desenha, insufla, e provoca? Quem dera o tempo e as impossibilidades fossem as pontes, e as fontes desse amanhã que queremos hoje, ou desse hoje que explode urgências em todas essas querências? O Poeta, o Poeta (com pê maiúsculo mesmo), verseja na resiliência do beijo; ou beija na eternidade do verso. E entre profeta e utópico sinaliza esse futuro, breve passado.

      Nossa Filipe, quem muito divagou agora fui eu, tua escrita é assim: pro-vo-ca-do-ra!

      ;))

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Prazer tê-lo/a no Canto, obrigada pela delicadeza de dispor do seu tempo lendo-me. Seja bem-vindo/a!

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