quinta-feira, 23 de maio de 2013

as flores de frida kahlo

                                                                           "O céu, para mim, era aquela cauda de puro brilho
                                                           que atravessa o céu azul, aquela fusão fria além de toda cor".

Marguerite Duras in O Amante. p. 89



joguei fora as flores de frida
as flores de frida kahlo
estavam já sem vida
desbotadas
amassadas, cores desmaiadas
amanhecidas, desalinhadas

joguei fora todos os sonhos
junto com as flores de frida
todos os sonhos
de todas as matizes
descolori os dias
tudo feneceu

e desde então todas as cores desistiram
amontoaram-se em sépia
até a noite era sépia
sépia como tu não gostas
sépia como a vida
que passa desbotada

morna
e mora entre o horizonte
e a líquida distância
da saudade
da ausência
cristalizada 
que se esconde atrás  do céu rasgado

espalhada entre as nuvens
que se movem tristonhas
esquecidas
no céu em sépia
sonhando reter um dia
as cores de frida kahlo!


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Olinda - XX - IV - MMXIII

adriana calcanhoto canta, esquadros
 

22 comentários:

  1. E ao som da Adriana fui lendo e olhando para os meus sonhos....não se jogam fora Canto.

    Beijinho e bom fds

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    1. Nem sempre eles são realizáveis, nem sempre valem a pena, têm sonhos de toda modalidade, rs. Entretanto, sonhar é o que mobiliza a vida, nos mobiliza. Algumas vezes é preciso rever os sonhos, retomá-los... Mas não esqueças, "o poeta é um fingidor", nem tudo que está escrito é real, pode ser inverossímil, ou não...

      Beijo, JP, obrigada pela presença. O final de semana foi espetacular, cheio de shows, como eu gosto, espero que o seu tenha sido maravilhoso também!

      ;))

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  2. Flores,cores mais ou menos vivas podemos sempre substituir,os verdadeiros sonhos esses nunca,quanto muito adiados.
    Lindo poema Val

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    1. Será, Carlos? Para mim todo sonho é verdadeiro, mesmo aqueles que nos causam dores, decepções, foram sonhados, foram sentidos, desejados, mas enfim, é só mais uma opinião...

      Obrigada pelas palavras e pela presença!

      ;))

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  3. denotando um certo desalento o poema é firme mas, os sonhos nunca se deitam fora.
    mas e se assim acontecer, podem ser sempre renovados e reinventados com novas cores e sabores.
    uma boa semana.
    um beijo

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    1. Sim, acredito nisso, na reinvenção, na renovação, pois a vida não é mais que isso.

      Boa semana para ti também, Piedade, obrigada; assim como pela presença e o carinho.

      Beijo!

      ;))

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  4. Me gusta mucho tanto las flores de Frida como el poema. Son magníficos.
    Saludos.

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    1. Gracias, por sus palavras y por su estada aqui. Yo tengo una gran pasión por Frida, y una gran admiración...

      Saludos!

      ;))

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  5. Os tons frios do verso
    E a indiferença da cor neutra

    O horizonte nunca é o caleidoscópio que o poeta sonhou.

    Bjo.

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    1. Não é, mas vamos pincelando com as cores que podemos.

      Obrigada pela presença, Filipe!

      Beijo!

      ;))

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  6. Piedade, não sei o que fiz, mas seu comentário "sumiu", desculpe, entretanto, claro que podes publicar, o que desejares, risos.

    ;)))

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  7. Na verdade é sempre possível pôr ordem

    na desordem de cores dos jardins

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    1. Acredito que sim, depois das cores e flores desbotadas, elas hão de surgir outra vez!

      Obrigada pela presença, Eufrázio!

      ;))

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  8. E flores
    e cores
    ...
    E no jardim a vida se refaz, sempre.

    Saudades de você... saudade de passear pelo mundo blog. Ainda voltarei a ter o tempo necessário. Abração.

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    1. Sempre! Talvez o que faz a vida e o jardim serem lindos, seja exatamente a condição de cíclicos.
      Maravilhoso lhe rever aqui, amiga, não se preocupe com o tempo, sei que nem sempre podemos tê-lo como desejamos.

      Saudades também, e das nossas farras e bagunças com a Loba Euza.

      Abração!!

      ;))

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  9. Olá!Boa noite!
    Aprecio a arte de Frida e as suas cores quentes! Com a imaginação fértil de poeta tudo se consegue...até esbater as cores das flores de Kahlo!
    Gostei do poema. Bom domingo.
    M. Emília

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    1. Olá, Maria Emília, boa noite!

      Sou uma fã e admiradora mais que confessa do trabalho de Frida, um resultado direto da sua vida. Essa mulher forte e frágil ao mesmo tempo, que foi "criadora de sua própria personagem, tema de sua própria obra". Para mim ela faz parte dos grandes nomes e "artistas fundamentais da arte mexicana e mundial".

      Eu gosto imenso de uma das tantas declarações de Diego Rivera, sobre Frida, que diz mais ou menos assim: "quero falar de Frida não como marido, e, sim... como artista e admirador. Sua obra é ácida e frágil ... dura como aço e fina como a asa de uma borboleta... cativante como um sorriso... e cruel como as agruras da vida. Creio que jamais, até hoje, uma mulher depositou... tanta agonia e poesia nas telas”.

      Melhor e mais emocionante não poderia ser dito, não é?

      Agradeço sua visita, e suas palavras a (n)/este Canto. Volte sempre é um grande prazer tê-la aqui!

      Uma ótima semana e um beijo!

      ;))

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  10. Bom texto.

    Visitei a exposição de parte da sua obra no CCB há anos.

    Boa semana

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    1. Obrigada, São, pela visita e pelas palavras, e que privilégio o seu ter visto parte da obra de Frida.

      Boa semana igualmente!

      ;))

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  11. se eu souber onde foi que vc jogou esses sonhos fora, vou buscar, hein? tá lindo, Val, apesar da tristeza contida nele.

    bj

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    1. Metáforas, querido, tanto o sentido de desfazer-se, como os sonhos, coisa dessa gente que escreve, tudo pode ser inverossímil (ou não)!

      Beijo!

      ;)))

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Prazer tê-lo/a no Canto, obrigada pela delicadeza de dispor do seu tempo lendo-me. Seja bem-vindo/a!

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